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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A conferência de imprensa de Passos Coelho após a reunião do Eurogrupo, provavelmente encomendada, foi mais uma manobra sem vergonha de manipulação da opinião pública portuguesa. Num olhar distanciado a conferência de imprensa foi fastidiosa por ser extensa e repetitiva. Foi mais uma forma de propaganda e de autoelogios ao Governo.
Quem se der ao trabalho de a rever com cuidado encontra-se perante uma confusão e repetição de argumentos e auto elogios, onde se misturam uma mesquinhez política e uma falta de sentido de Estado sem precedentes.
Explorando os sentimentos mesquinhos duma população pouco informada sobre o tema da Grécia, solta o que ele sabe fazer de melhor, explorar a mesquinhez e acicatar o divisionismo latente contra um país em dificuldades que é tão membro da U.E. como o é, e está Portugal. A redundância discursiva sobre a ajuda de Portugal à Grécia em mil milhões de euros aproxima-o das raias do ridículo.
Repetiu várias vezes que os portugueses já contribuíram com os seus bolsos para ajudar a Grécia, mas o que ele não completou é que a Grécia também contribuiu quando entrámos em situação de resgate em 2010, pois foi neste ano que Portugal contribuiu assim como outros países para ajuda à Grécia.
O que Passos e Cavaco Silva não explicam é porque Portugal, necessitando ele mesmo de ajuda, se propôs a ajudar a Grécia como dizem. Solidariedade? Não, não foi!
Mas ainda o mais evidente da manipulação engendrada foi que as perguntas colocadas por três dos jornalistas foram na prática cópias umas das outras dando a possibilidade a Passos Coelho de poder repetir e de salientar até à exaustão o que já tinha dito por várias vezes (terá sido combinado?).
Portugal participou no passado em empréstimos à Grécia e à Irlanda, com uma quota calculada de acordo com a sua participação no capital do Banco Central Europeu. Com a assinatura do seu próprio acordo de empréstimo, Portugal já não participa nesses programas de ajuda.
Passo Coelho e Paulo Portas com a ajuda de Cavaco Silva têm vindo a repetir que Portugal vai pagar antecipadamente parte da dívida para mostrar que Portugal não é a Grécia, mas apenas dizem metade da verdade e escondem a outra parte da realidade, valendo-se da falta de informação de muitos portugueses sobre este assunto.
O que acontece é que foram colocados no mercado títulos de dívida pública a um juro mais baixo do que aquele que estamos a pagar pelo empréstimo da troika. A dívida não diminuiu, o que acontece é estarmos a pagar juros mais baixos.
Se pedirmos a alguém, por exemplo, 10 milhões e nos cobram juros de 3,5% temos uma dívida de 10 milhões mais os juros. Se conseguirmos que alguém empreste 10 milhões a juros de 2,3% podemos pagar ao primeiro credor os 10 milhões que pedimos emprestados mas ficamos na mesma com uma dívida de 10 milhões a outro credor apenas com juros mais baixos, mas a dívida mantem-se no mesmo montante. Claro que se tira sempre a vantagem de juros mais baixos, mas apenas isso.
Foi isto que aconteceu, portanto, enganam os portugueses premeditadamente fazendo-lhes passar mensagens deturpadas da realidade.
Passos Coelho, mais uma vez, tentou deturpar o sentido das suas afirmações e mentiu ao afirmar que nunca tinha sido contrário à intervenção do BCE quando foi questionado sobre a medida anunciada por Mario Draghi para estimular a economia europeia nomeadamente através da compra de dívida. O primeiro-ministro não manifestou muito interesse nem deu muito relevo ao cas. Ora a verdade é que o primeiro-ministro disse esta sexta-feira que é "bem-vinda" a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar dívida pública e que espera que ela "seja tão eficaz quanto se deseja".
Contudo, a 16 de Maio de 2014, Passos Coelho tinha dito em entrevista à CNBC, afirmou na altura da saída da troika, que apesar do importante papel do Banco Central Europeu (BCE), “não era partidário de um mandato diferente” para esta instituição, que “contribuiu para a frágil, mas ainda assim recuperação na Europa”.
Explicou que discordava da compra de obrigações: “Este tipo de política não é normal para o BCE, que já dispõe, por exemplo, de mecanismos de intervenção para evitar a fragmentação financeira”.
À semelhança dos partidos do Governo que aproveitam sempre a oportunidade para recuarem ao passado também é agora a nossa vez de recordar o que em junho de 2012, no Parlamento, em resposta ao então líder do PS António José Seguro, Passos Coelho disse ao opor-se à compra de dívida por parte do BCE e explicava também porquê.
Leia-se o que ele disse naquela data na Assembleia da República:
Em síntese:
“Se o senhor deputado entende que o BCE deve atuar em mercado secundário com programas mais intensos de compra de títulos de dívida soberana dos diversos países; se é isto que o senhor deputado entende deixe-me dizer-lhe: não concordo e não preciso de pedir licença a ninguém - nem em Portugal, nem na Europa – para lhe dizer aquilo que penso. Não aceito essa visão porque em primeiro lugar não cabe ao BCE em circunstância nenhuma exercer um papel de monetização dos défices europeus”
Segundo o jornal Público, no seu editorial, também mostra que há menos de um ano, no Parlamento, o primeiro-ministro disse no Parlamento que seria "errado" o BCE comprar dívida pública o que seria "impossível, inconcebível"…
Por sua vez os partidos da coligação, ainda segundo o jornal Público, "não se manifestaram muito efusivamente com a iniciativa de Mario Draghi nem ao menos a ideia de poderem vir a potenciar os seus efeitos benéficos sobre a vida dos portugueses".
Como é sabido Angela Merkel não é nem nunca foi favorável a esta decisão de Mario Draghi e continua a dizer que as políticas até agora seguidas foram e continuarão a ser as melhores, ideias que são seguidas com rigor e submissão por Passos Coelho ao posicionamento da Alemanha contra estas medidas que designam intrusivas, e, pelos vistos, também, pelos grupos parlamentares da maioria.
Há um germanismo político seguidista e subserviente pelo primeiro-ministro, pelo seu Governo e pela maioria que o sustenta preferindo submeter Portugal em vez de o defender.
Nas próximas eleições também deveremos ter isso em conta.
Recordo as palavras de Jean Claude Trichet, antigo presidente do Banco Central Europeu, que afirmou em 14 deste mês que “No caso de Portugal e da Grécia, acredito que se o PEC tivesse sido aplicado muito rigorosamente teríamos evitado muitos problemas, muitos problemas, não digo todos os problemas”.
Um telespectador do programa Opinião Pública de sexta-feira passada, da SIC Notícias confrontou Nuno Melo com uma afirmação sobre o PEC IV que o deixou muito agastado, diria até irritado, o que o levou a dizer agora surgiu a narrativa do PEC IV, mas que antes já tinha havido um PEC I, II e III que iria haver um PEC V e mandou ler o documento e ver o que lá estava escrito (eu já o li e reli). E então que conclusões tira senhor deputado Nuno Melo?
O senhor deputado pode querer insinuar que muitas das medidas que lá estavam eram as que o Governo entretanto tomou. Assim sendo, porquê então a pressa e a necessidade de derrubar o governo de José Sócrates e do PEC IV? Que vantagens houve se lá estava tudo o que os senhores fizeram para pior? Pois é senhor deputado Nuno Melo pode lá estar muita coisa, mas ao ser aplicado não o seria a mata cavalos como o tem feito este Governo e o mais provável ser sem as consequências desastrosas e já sem remédio que provocaram no país.
Devemos estar atentos e de olhos bem abertos às armadilhas que esta direita nos está a lançar.
Volto a repetir: o que esta gente está a prometer a partir de maio é de facto o de um país da fantasia onde tudo é irreal e ao mesmo tempo absurdo. É uma espécie de engodo com açúcar para apanhar moscas incautas.
Devemos estar atentos e de olhos bem abertos às armadilhas que esta direita nos está a lançar.
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