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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O beijo de judas?
Um artigo de opinião escrito por Alexander Hagelüken, publicado no jornal alemão Süddeutsche Zeitung em junho de 2014 página 17, aborda a presidência de Durão Barroso na Comissão Europeia terminando da seguinte forma: "Há dez anos, a última vez que os chefes de governo conferenciaram para encontrar um chefe para a Comissão, afastaram todos os candidatos fortes e chegaram a acordo quanto ao menor denominador comum: chamava-se Durão Barroso. Mas, Barroso, não tinha competência para lidar com a crise. E um candidato do mesmo género também não teria competência para poupar a Europa a uma noiva crise."
É assim que os alemães veem em Durão Barroso, a incompetência personalizada para lidar com a crise escolhido como um mal menor que seguisse, com subserviência, os ditames que a Alemanha e os países do norte como a Holanda e a Finlândia exigissem. Mas parece que não foi suficiente.
O autor do artigo admite que os países da Europa atravessaram a crise de formas diferentes e aponta muitos países, especialmente os do Sul, que "se deixaram enganar pela taxas de juro excecionalmente baixas" ficando embriagados pelo artificialismo do crescimento da construção sem prestarem atenção à concorrência internacional derivada da globalização.
Como mau exemplo aponta os países do sul porque os bons exemplos encontram-os na Alemanha, Finlândia e Holanda onde se passa exatamente o contrário porque "reformaram os seus mercados de trabalho e os seus sistemas sociais em função da realidade da globalização".
Tanto quanto se sabe as reformas que se praticaram nestes países foram lentas e sem ou com pouca dor ao contrário do que impuseram aos países do sul como Portugal, neste caso também por culpa do atual governo que, aliado a Durão Barroso e aos seus chefes europeus do norte, quis ser mais papista do que o papa, mas parece que não o foi suficientemente.
Por outro lado, Hagelünken, no seu artigo alinha pela visão da severidade da disciplina orçamental apontando como bom exemplo os países do norte e critica os erros e o mau exemplo do sul e acrescenta que "chegou o momento de trabalhar em equipa, seguindo uma viagem comum".
As críticas apontadas são o "déja vue" que incidem sempre sobre os mesmos trabalhadores, e reformados. Os cidadãos (ele evita o termo trabalhador, e refere-se apenas "a alguns países") reformam-se tão cedo que os sistemas de pensões serão em breve impossíveis de financiar. Faço um parêntesis para recordar que, em Portugal, a antecipação das reformas foi fomentada pelo atual governo durante os três últimos anos. Os que estão empregados, esses bandidos, digo eu, gozam de tantos privilégios que as empresas não contratam jovens profissionais e o desemprego juvenil explode. A burocracia sufoca as iniciativas empresariais que poderiam criar prosperidade. Estas asserções são aquelas que temos ouvido nos últimos anos por Passos Coelho seus apaniguados e arautos do governo, seguidores exemplares de subserviência aos países do norte.
As advertências de Van Rompuy são salientadas pelo autor do artigo ao afirmar que "as perspetivas conjunturais da Europa são demasiado negativas para, a prazo, conseguir continuar a financiar os benefícios do Estado social, tão importantes para os cidadãos". Pode inferir-se que o problema está nos cidadãos que conquistaram os Estado social e o querem manter e, por isso, há que destruí-lo. Contudo não refere a questão da especulação financeira, dos offshore, das negociatas destruidoras da economia por alguma banca. O problema está sempre nos mesmos, portanto devido à competitividade e à globalização tem que se proceder a reformas que conduzam a prazo, reformas, para nos colocar a par de alguns países asiáticos em que o trabalho é pago a troco de umas moedas e uma tijela de arroz e sem direitos sociais. Isto apenas para alguns, os do sul, para que os do norte possam continuar a viver bem.
Portugal é o único país do sul que apoia as políticas que os do norte querem impor através de acordos sobre as reformas (apoiadas pela chanceler Merkel) já que, em França, na Itália e na Espanha não encontra aliados.
Considerando Durão Barroso fraco e um "menor denominador comum" que não foi um motor nem teve a dureza para impor uma política de reformas, termina aquele pregoeiro da austeridade para os países do sul dizendo que "Merkel tem todo o interesse em deixar as rédeas da Comissão a um homem forte, alguém como Jean-Claude Juncker, (eleito já depois da publicação do artigo). Só um homem com esta têmpera pode impor as reformas necessárias no sei da EU.
Se assim for estamos bem servidos com este e com futuros governos. Entretanto cá estamos para pagar com os nossos impostos os desvarios oportunistas e as trafulhices da banca como está a ser paradigmático o caso do Grupo Espírito Santo no qual se inclui o BES.
Sem qualquer vergonha este Governo continua a proceder a políticas divisionistas na sociedade e a colocar-se em conflito e confronto permanentes com os portugueses que o elegeram através dos deputados e que agora governa contrariamente ao que prometeu.
A forma como, para se poderem fazer as ditas reformas do estado (leia-se cortes), se promove a inveja e a mesquinhez na sociedade portuguesa contra os funcionários públicos é reveladora do carácter destes senhores que estão no poder. Lançam estigmas para a opinião pública, exploram sentimentos primários entre público e privado, entre empregados e desempregados, entre jovens e idosos, entre reformados do estado e da função pública numa cruzada sem fim, estimulando sentimentos que vão de encontro ao velho e egoísta “antes eles do que eu!”.
Será isto sentido de estado e de governação? Será para isto que os jovens que entram na política estão a ser preparados? Sem valores, ética moral ou respeito pelas instituições em que viveram e se formaram e que agora pretendem destruir e construir uma outra só para eles, não se sabe quando nem como?
Há décadas que Portugal não via nenhum governo provocar, tão despudoradamente, clivagens na coesão social portuguesa com o apoio do Presidente da República. Talvez não seja por acaso. O bom aluno da Alemanha da Srª Merkel está a cumprir os desígnios que lhe impuseram.
Ideias pro neonazis, com uma matriz mais subtil, não apenas racista e religiosa, mas incidindo já sobre outros grupos sociais e profissionais que convém destruir porque, segundo eles, são os causadores de todos os males. Esquecem-se, contudo, que mais tarde ou mais cedo lhes virá a acontecer o mesmo. Outros também virão no futuro que se encarregarão de os tentar eliminar ou oprimir. Tudo é um eterno retorno.
Mais uma vez refiro, como declaração de interesses que não sou funcionário público, nem nunca trabalhei para a função pública sob quaisquer formas.
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