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Ridículo e integrados

por Manuel_AR, em 28.10.19

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Há coisas que, por mais que nos esforcemos, as explicações que no deem sobre determinados factos que ocorrem na vida política não se conseguem compreender e ficam no âmbito do ridículo. Já lá irei.

Houve um jornal humorístico bissemanário publicado antes de 1917, “Os Ridículos”, que atravessou toda a I República, o que já de si constitui uma proeza a sua terceira série, a série de ouro do jornal, começa em 1905 e só termina em 1963, em pleno Estado Novo. Teve ainda a particularidade de, após a implantação do novo regime, alterar o seu posicionamento político-ideológico, descobrindo-se nele uma “esboçante simpatia monárquica”. Durante a ditadura de Salazar, apesar de visado pela censura, publicava nas suas páginas, crítica política e social e sátira aos principais acontecimentos da época, temperadas com jocosos comentários que lhe granjearam uma enorme popularidade

Aquele título, com o passar dos anos, se tivesse sobrevivido e atualizado a sua disposição editorial teria material mais do que suficiente para um olhar crítico sobre a política que nos rodeia.

Caricato e risível, para algumas iniciativas que vieram do anterior governo e que já se prevê vão prolongar-se pelo que vai entrar em funções, são adjetivos que poderão circular pelas redes sociais e outros habituais distribuidores de informação mais ou menos deturpada vindos do lado de quem tudo critica, seja bom ou mau. Se razões não faltam ainda lhes dão mais algumas achas para a fogueira. E os que representam a extrema-direita rejubilam porque terão matéria para criticar já que o populismo de uns leva-os a apregoar o Estado mínimo, e o de outros a dizer que 100 deputados seriam suficientes.

Uma delas é a de um Governo, o XIII Governo Constitucional, com setenta elementos entre ministros e secretários de estado. Terá sido necessário para a eficácia e o trabalho durante a próxima legislatura ou será apenas para atribuir lugares prometidos ou, ainda, para no meio da legislatura serem forçados a demitirem-se por falhanços e incompetência? O que é ridículo não são os ministros, mas nomes dos ministérios. Isto merecia zombaria num jornal humorístico. E a despesa criada com estas pastas todas relativamente aos resultados e á eficácia a conseguir? Já disseram por aí que a despesa é pouco relevante. Será? É que não apenas os gastos com os empossados, mas com toda a máquina que os envolve.

Não há dúvida de que um governo com setenta pastas (se não forem caçarolas) não terá razões para se queixar de ter muito trabalho e vai ter tempo para planear e evitar asneirar.

A segunda que veio a público são os novos sinais de trânsito. Faço questão de fazer algumas citações de um artigo de opinião que Pacheco Pereira publicou no jornal Público que é elucidativo do ridículo.

«Um dos melhores exemplos é a utilização da palavra “climático/a”, que na sua origem tem uma expressão sem sentido, a da “greve climática”, e depois contagiou programas eleitorais nas últimas eleições, palavras de ordem em outdoors e, de um modo geral, uma submissão acrítica a conceitos ambíguos e politicamente radicais.»

“Temos agora um ministério “do Ambiente e da Ação Climática”, escrito nessa linguagem do anti-português que é a do pseudo-Acordo. O meu corrector de texto, ainda preso ao saudável e bom português, anuncia um erro no “ação”. Mas a luta pelo ambiente e pela ecologia não constitui também uma acção pelo clima? Pelos vistos não.»

«Por exemplo, temos agora um ministério e uma secretaria de Estado da “Economia e da Transição Digital”, nome que nos vai sair caro, no papel e em árvores, com a necessária mudança de centenas de milhares de impressos, deste e dos outros ministérios mutantes. Eu sei o que é a “transição digital”, ou pelo menos o que eles pretendem que seja, mas a ascensão ao nome do ministério esconde os inúmeros problemas… analógicos da nossa economia. Por exemplo, nenhuma secretaria de Estado neste ministério “digital” tem no seu nome a indústria, que está a definhar na economia e no vocabulário. Pelo contrário, o Turismo, o Comércio, os Serviços, estão lá. É esta a realidade da desindustrialização? É, mas vão explicar a “transição digital” aos têxteis, ao calçado, à indústria que sobra, onde trabalham milhares de portugueses que, pelos vistos, são invisíveis face ao modismo e ao brilho mediático do “digital”.»

«A “descentralização” está num ministério, a “coesão territorial” noutro, a “valorização do interior”, outro nome cheio de empáfia, numa secretaria de Estado. Por aí adiante».

Sobre os sinais de trânsito quem sabe de inspiração do PAN:

«Já os sapos e os linces ibéricos passaram a ter um sinal próprio, o que é um sério upgrade para os linces que se contam pelos dedos da mão. Quantos sinais para os linces vão ser colocados no país? Um, dois? E com os sapos está muito bem, as estradas portuguesas são atravessadas por

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multidões de sapos e, com o novo sinal, pode acontecer que algumas senhoras (convém fazer vénia ao politicamente correcto, e alguns senhores) podem parar para beijar o sapo na esperança que ele se torne num príncipe, ou princesa encantados. Na verdade, devia ser proibido atentar contra a animalidade dos anfíbios, mas disso o PAN tratará. Tenham juízo.»

E sobre a zonas residenciais!

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«E depois temos as zonas residenciais ou de “coexistência”. O que é isso da “coexistência” que não cabe nos sinais de trânsito já existentes? E uma criança a jogar a bola na rua com um adulto a ver, não deveria ter também um sinal de “é proibido jogar a bola na rua”? Como devia ser proibido “coexistir” muito junto das estradas. Já há sinais para tudo isto. Tenham juízo.»

 

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publicado às 19:29


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