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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Luís Montenegro não é mais do que uma versão 2.0 do modelo neoliberal de Passos Coelho. Se alguém está também a contribuir para destruir o PSD é Montenegro pela inoportunidade e orientação que pretenderá dar ao partido.
Rui Rio que completou no domingo um ano como presidente do PSD e no dia anterior foi desafiado à sua liderança por Luís Montenegro com um pedido de convocação de eleições diretas antecipadas. A justificação de Montenegro para esta tentativa de tomada do poder no PSD foi justificada pela degradação a que o partido chegou.
Quando Passos Coelho deixou a direção do PSD e Rui Rio avançou para liderar o PSD houve, para muitos, a esperança de que o partido retomasse a sua verdadeira vocação social-democrata. Com a eleição de Rui Rio que ganhou contra Santana Lopes a rede neoliberal deixada por Passos Coelho, contrariada, iniciou desde logo a estratégia para a tomada do poder no PSD, mas Luís Montenegro já tinha isso programado.
Rui Rio via-se a braços com uma bancada parlamentar que lhe era de certo modo hostil, mas que não podia substituir na íntegra por ter saído das eleições de 2015. As tensões internas agravaram-se devido ao afastamento de Hugo Soares da liderança parlamentar do PSD, cargo em que foi substituído por Fernando Negrão, eleito com pouco mais de um terço dos votos dos deputados.
Será apenas por acaso que Luís Montenegro, com a justificação da esperança de que “degradação” do partido se estancasse, diga agora que o timing só podia ser este e que mais tarde era impossível devido ao aproximar das legislativas? Como se explica que o ex-líder parlamentar do PSD no tempo de Passos Coelho desafie agora Rui Rio a ir a eleições muito antes de este terminar o mandato como líder? Em 4 de abril de 2018 Luís Montenegro assegurava que o seu desejo é que o presidente do partido (o então eleito Rui Rio) fosse primeiro-ministro em 2019, considerando "um erro colossal" colocar a hipótese de Rui Rio não terminar o mandato. Seria “um erro colossal colocar sequer a hipótese” de Rui Rio não chegar às eleições, afirmou em 4 abril de 2018. "O meu desejo é ver o Dr. Rui Rio primeiro-ministro dentro de um ano e meio", afirmava então.
O que terá mudado desde então passados apenas cerca de 9 meses? Não foi apenas a “degradação” que ele diz existir no partido. Não é apenas a perda de umas décimas nas sondagens. É, isso sim, a reocupação do partido pelos “sem lugar” do grupo neoliberal “passista”.
Aproximando-se a data das eleições europeias a escolha dos deputados seria feita pela atual direção cuja linha ideológica e estratégias se afastam da dos neoliberais agora reunidos à volta de Luís Montenegro. Para estes, interessa que todo o processo seja rápido para que seja o novo líder, se o for, e numa primeira instância, a ter uma palavra na escolha dos candidatos a deputados às europeias e, posteriormente, nas legislativas.
Montenegro ao salientar a degradação a que o partido chegou esquece-se de que, foi Santana Lopes quem iniciou a degradação, (assim como o partido, “Chega”, desse que se chama André Ventura), ao constituírem novos partidos que serão alimentados, na sua maior parte, por gente do PSD e das extremas-direita. A perda de votos pelo PSD verificada nas sondagens a isto também se deve.
Então vejamos com alguma margem de erro o que nos mostra a aritmética: segundo a Eurosondagem o PSD entre março/2018 e novembro/2019 veio a decair alguns pontos nas intenções de voto, de 28,4% para 26,8% ou seja, menos 1,6%. Em janeiro de 2019, mês em que o partido de Santana Lopes entra nas sondagens o PSD obteve 24,8%, menos 2%, do que em novembro. Esta perda pode ser justificada, em parte, pela entrada do Aliança que terá ido buscar parte das intenções de voto ao PSD e parte ao centro esquerda já que os restantes partidos subiram, embora de forma residual.
Deste ponto de vista a degradação do partido não se deve apenas a Rui Rio, mas a todos os que, internamente, têm contribuído para a sua deterioração e divisão. Montenegro afirma que Rui Rio não conseguiu unir o partido como tinha prometido, mas o facto é que Montenegro para isso terá contribuído, seja por ambição de poder, seja por qualquer outra razão. A decisão de desafiar Rui Rio levou a que Pinto Balsemão, um dos fundadores do PSD, e ex-primeiro-ministro, considerasse o desafio de Luís Montenegro como inoportuno e patético: "Eu aqui em Cabo Verde, à distância, só quero dizer que não me pareceu oportuno, quanto ao timing, e que me pareceu um conteúdo um pouco melodramático, ou patético".
É evidente a contradição ou a hipocrisia se comprarmos o que Luís Montenegro em abril de 2018 assegurava ao dizer que “o seu desejo é que o presidente do partido seja primeiro-ministro em 2019, considerando que é "um erro colossal" colocar a hipótese de Rui Rio não terminar o mandato.”.
No discurso que Montenegro fez para desafiar Rui Rio assumiu-se quase como candidato a futuro primeiro-ministro e falou em “galvanizar os portugueses”, resta saber para quê, e, num assomo populista, fala em “tempo de esperança”, (termo também usado pelo antigo líder Passos Coelho), para “os empresários que querem arriscar novos negócios, para os trabalhadores que aspiram a melhores salários e para os mais desfavorecidos”.
Luís Montenegro não é mais do que uma versão 2.0 do modelo neoliberal de Passos Coelho. Se alguém está também a contribuir para destruir o PSD é ele próprio pela inoportunidade e orientação que lhe pretenderá dar.
Montenegro disse hoje na TVI que se for líder o mínimo que considera ter nas eleições é cerca de 34% dos votos. Como este valor não lhe dará para governar sozinho é possível que no seu espírito esteja uma nova aliança com o CDS/PP, fazendo uma nova PaF, e “convidar” também o residual partido Aliança.
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