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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Hoje de manhã desloquei-me de táxi na cidade de Lisboa para uma distância relativamente curta. Como não era hora de ponta, não chovia, nem havia greve do metro não foi difícil mandar parar um.
Entrei, disse bom dia e indiquei ao taxista a localização para onde pretendia dirigir-me O rádio do táxi estava ligado para uma estação que me pareceu ser a TSF onde um dirigente duma associação de estudantes duma universidade falava com voz enrouquecida, talvez opela gritaria na manifestação do dia anterior..
Raramente converso com os taxistas que me transportam, sejam eles jovens ou idosos. Alguns são reformados cuja reforma recebida não chega para a sua sobrevivência. Outros fazem parte do grupo dos que trabalham ainda complementarem a reforma que lhes foi cortada. Quando deviam estar a gozar os últimos anos de vida despreocupadamente vêem-se na obrigação de arranjar um biscate, tirando lugar aos mais jovens.
Este argumento até parece o de Passos Coelho e do seu antigo ministro Relvas quando diziam aos que tinham ainda tinha trabalho que estavam a tirar a oportunidade de emprego aos jovens.
O meu ponto de vista é outro. Passo a colocá-lo sob a forma de expressão interrogativa.
Sou pelo envelhecimento ativo, mas se muitos dos reformados tivessem pensões que lhes permitisse viver condignamente estariam eles a tirar lugar aos mais jovens? Com grande probabilidade que não?
Tentava descortinar o tema que saía da rádio que me paraeceu relacionado com os estudantes que ontem, dia do Estudante, se manifestaram em Coimbra e em Braga quando o senhor taxista, sem que eu o solicitasse ou "provocasse", iniciou um monólogo sobre o assunto.
- Pois claro, disse-lhes para se irem embora mas agora diz-lhes para voltarem para e a outros para ficarem por que têm oportunidades aqui em Portugal.
A minha resposta foi o silêncio.
- Cortou em tudo - continuou o taxista - muitas famílias não puderam continuar a ter os filhos a estudar, retiram-lhes até as casas.
O meu silêncio foi a resposta.
- O que ele anda é a caçar votos. Pensa que somos todos parvos! Mas não somos!
Tinha vontade de encetar um diálogo mas isso iria contra a minha abstenção de falar com os taxistas que me transportam.
Voltou à carga.
- Anda a ver se consegue enganar as pessoas. Caçar votos é o que ele quer.
E eu nicles. O destino que lhe tinha indicado aproximava-se. O táxi começou a abrandar.
Como homem do povo ainda teve tempo para mais um desabafo sincero.
- Andou para aí a dizer que se lixassem as eleições…
Desligou o taxímetro.
- Ele anda mas é a caçar votos. O pior é que ainda há muitos que estão a ir na conversa dele. O que ele quer é votos!
- São 4,35 euros, se faz favor.
Era o que o taxímetro marcava.
Tirei cinco euros e entreguei-lhos.
- Fica assim - disse-lhe.
- Muito obrigado.
- Sabe o que lhe digo - respondi-lhe - o senhor tem toda a razão só não vê quem não quer.
Foi a primeira e a única vez que dei resposta a um taxista.
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