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Os 29 Estados membros ficaram nos 50,5% de abstenção, a melhor votação dos últimos 29 anos, Portugal distinguiu-se pela negativa, sendo o país com o segundo pior registo de participação.

Responsabilizar os eleitores criticando-os pelo défice democrático ou pelos maus resultados é o mesmo que bater no cão que não fez o que o dono lhe pediu. Se a abstenção foi desesperadamente elevada e uma vergonha em comparação com a Europa quem deve ser responsabilizado são os próprios partido, todos, sem exceção, alguns com responsabilização acrescida.

Se há desinteresse dos eleitores pelas eleições para o Parlamento Europeu é porque durante os últimos cinco anos sobre política europeia e seus reflexos no país pouco se discutiu e falou. A comunicação social que se apressa a dar relevo às notícias da ascensão das extremas-direitas e agora à abstenção elevada em Portugal, fazendo dela o seu cavalo de batalha, levando à indução de que os ganhos ou perdas eleitorais dos partidos são a ela devidos. Mas abstêm-se a divulgar o quer que seja sobre o que se passa na Europa que diga respeito ao nosso país. O que nós defendemos o que votámos e quem e sobre o quê. Isso são temas de segunda ou terceira linha que não vende, nem rende! As televisões não dão relevância a questões tratadas no Parlamento Europeu com importância para o país. Aos partidos também não lhes interessa terem de prestar contas do trabalho dos seus deputados europeus devido a poderem ser postas em causa decisões tomadas, ficam-se por uma espécie de descomprometimento.

A RTP3 apresenta um programa com deputados dos diferentes partidos políticos representados no Parlamento Europeu, a partir da sede em Estrasburgo, mas cujo interesse para o comum dos cidadãos é irrelevante. Não se interessam porque são abordados os temas dirigidos a um segmento de população que se interesse sobre política.

O que sabemos, aqui em Portugal, sobre o que os deputados eleitos apresentados pelos partidos e que nos representam na U.E. fazem ou não fazem? E o que defendem ou não defendem?  

Se alguma coisa se conhece é quando há a recomendações emanadas do Parlamento Europeu que tenham de ser aplicadas em Portugal e, mesmo essas, pouco divulgadas a não ser as de pendor negativo.

Quando no Governo, os partidos que o apoiam preocupam-se mais em mostrar o contributo que deram para medidas que consideram positivas e que lhes possam dar créditos eleitorais. A oposição procura aqui e ali questões, por vezes irrelevantes, sem qualquer interesse para os cidadãos, chamadas de “lana caprina”, seja a que preço for.

Sobre o que se passa na Europa com o trabalho dos deputados, as decisões políticas tomadas que possam ter reflexo na nossa sociedade, os problemas importantes que lá se levantam para debater não é prestado esclarecimento satisfatório nem com clareza suficiente.

Ao longo dos cinco anos do mandato dos deputados europeus no media entram num silêncio quase absoluto. Os partidos, quer os de que apoiam o Governo quer os da oposição, salvo raras exceções, nem falam sobre tal assunto. Uns porque talvez não encarem isso como um investimento para obtenção de votos em futuras eleições, outros, os do Governo, porque pode prejudicar os votos futuros devido às leis que, por imposição de U.E., podem criar sentimentos adversos por serem desfavoráveis.

Os partidos mais à esquerda, PCP, BE e Verdes, arrastam-se em intervenções contra a U.E. para a qual, no entanto, estão dispostos a eleger deputados dizendo que a pretendem modificar por dentro. Esse discurso parece ser idêntico ao da extremas-direita.

Aqueles partidos esfalfam-se a dizer que vão fazer e defender na Europa os mesmos pontos de vista que defendem cá dentro, como se tal fosse irrealista face à composição do Parlamento Europeu. Os partidos europeístas, como o CDS, o PSD e o PS digladiam-se com questões sem importância sobre a Europa não apresentando aos potenciais eleitores propostas credíveis para defender Portugal junto do Parlamento Europeu. Viu-se como a direita PSD e CDS orientaram a sua campanha eleitoral, difamando, ofendendo, inventando, distorcendo factos, recorrendo a um passado cada vez mais distante, passeando-se lançando para o ar frases bacocas, sem impacto significativo, por vezes até agressivas, frases sem substância no seu conteúdo.

Os deputados andam por lá cerca de cinco anos sem prestarem contas aos seus eleitores do que fizeram ou do que não conseguiram fazer para que eles possam votar em consciência. Estabelece-se um vazio completo. Não há condições para que se escolham os deputados europeus em futuras listas. Os partidos apresentam aos eleitores os cabeças de lista que a maior parte dos portugueses desconhece o que vão fazer fizeram durante o seu mandato.   São apresentados do mesmo modo que são apresentados os deputados nos circos eleitorais para as legislativas.

Sobre a U.E. os media dedicaram-se nos últimos meses à questão do Brexit porque tinha impacto, logo eram notícias vendáveis, se assim não fosse, seria também um vazio sobre o assunto.

Quando chegam as próximas europeias voltam ao mesmo: os partidos debatem tudo menos o que se fizeram,  o que não fizeram e o que irão fazer no Parlamento Europeu.

Estas eleições talvez tenham servido de lição para futuras campanhas eleitorais dos partidos da direita. Os eleitores já não apreciam a chamada conversa da treta, preferem saber com o que contam no futuro, porque o passado já eles conhecem.

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publicado às 16:36



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