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Ventura impostos e psd.png

O único deputado do Chega, André Ventura, fez um ultimato ao PSD em que se não aceitar dialogar sobre o projeto de revisão constitucional do partido, “todas as portas” se fecham em termos de negociações futuras.

Nas palavras de André Ventura, líder demissionário e recandidato do Chega, o partido não é de extrema-direita. Mas, por outro lado, ao encontrar-se com o italiano Matteo Salvini, presidente da Liga Norte de extrema-direita afirma que: “Eu e Salvini, de mãos dadas, é um sinal para o futuro de Portugal e Itália". Afinal em que ficamos?

Quem não sabe ao que vem o partido Chega fica a saber ao conhecer a proposta de revisão constitucional anunciada por aquele partido de extrema-direita. A proposta de revisão constitucional terá talvez o mérito de tornar mais claro aquilo que custe a ver aos que o apoiam. Numa das alterações propostas o partido propõe-se terminar com a progressividade do sistema fiscal, caminhando no sentido de uma taxa única de imposto (segundo dizem, de 15%) independente do nível de rendimento.

Mas afinal o que é isto da progressividade do sistema fiscal?  É uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário: tirar aos mais pobres para dar aos mais ricos. Como assim?, perguntarão os mais incrédulos.  A explicação do mecanismo é muito simples. Uma taxa única de rendimento seja por exemplo 15% de IRS, ou outra, faria com que diminuísse a receita fiscal o que agravava ainda mais a depauperação da escola pública, e do serviço nacional de saúde. O forte aumento da desigualdade seria inevitável, pois os mais pobres, que pagam menos de 15% de IRS, passariam a pagar mais impostos do que pagam, e os mais ricos, que em geral pagam atualmente mais de 15%, passariam a pagar muito menos, isto é, passariam também a pagar o mesmo que os mais pobres.

Nas eleições de 2019 Ventura já tinha avançado com propostas no sentido da eliminação das verbas pública para a saúde e educação, o Chega mostra claramente o que pretende.

É estranho como é que Rui Rio do PSD, tenha admitido como afirmou há umas semanas que “poderia negociar com o Chega se ele mudasse”, isto é, se o partido não se mantiver “numa linha de demagogia e populismo”. Será que Rui Rio ainda pensa “conversar” com o Chega se o partido evoluir para “posição mais moderada”? Será que é o PSD que vai mudar ou será o Chega que irá mudar? Não me parece ser esta a última hipótese.

Na maioria dos países do mundo o imposto sobre rendimentos (tipo IRS) é progressivo assim como no sistema fiscal português. O Chega propõe-se eliminar a progressividade do sistema fiscal, caminhando no sentido de uma taxa única de imposto que, dizem ser de 15%, independente do nível de rendimento, o que aumentaria fortemente a desigualdade. Desta forma os rendimentos mais fracos que pagam menos de 15% de IRS, passariam a pagar mais impostos do que pagam, e os rendimentos mais elevados, que atualmente em geral pagam mais de 15%, passariam a pagar muito menos.

Assim, para quem ganhasse um salário de 600 euros um quinto do seu rendimento, 120 euros, faz muito mais falta do que a quem ganhasse 6000 euros. Quem ganha muito estará, decerto, a favor de propostas deste tipo. Por outro lado, numa perspetiva mais sistémica, importa que a fiscalidade seja progressiva para minorar a desigualdade que é um mal em si mesmo.  A forma como a economia é gerida dá benefícios do crescimento a um grupo cada vez mais reduzido que se encontra no topo da escala social desviando alguma riqueza que antes ia para a base (Stiglitz, Prémio Nobel 2001, O Preço da Desigualdade, p. 85).

A proposta política do Chega não é uma surpresa, pois a extrema-direita sempre esteve historicamente alinhada com os interesses das elites económicas e financeiras, e isso justifica as formas de manter as desigualdades excessivas que são minimizadas através de serviços públicos universais e gratuitos; um mercado de trabalho forte e adequadamente regulado; impostos fortemente progressivos.

Quem no seio do povo ingenuamente apoia o Chega dada a exploração que faz apelando a sentimentos xenófobos e anti ciganos pode não se aperceber que está a pôr-se em risco. O Chega está ao lado da Iniciativa Liberal e ao lado dos interesses das elites que não precisam de serviços públicos para si e querem transformar esses setores numa mercadoria de serviços para assegurar lucros privados, dos ricos que querem pagar menos impostos e dos empregadores que pretendem mercados de trabalho ainda mais liberalizado.

A hipocrisia do Chega é de tal ordem que se torna caricato ao alegar que a progressividade do sistema fiscal penaliza “quem mais trabalha”. O Chega acredita, ou pretende fazer acreditar os incautos, que operários, empregados dos serviços, funcionários administrativos e auxiliares, agricultores, pescadores e muitas outras pessoas que auferem ordenados mais baixos e médios trabalham relativamente pouco, enquanto as elites económicas e financeiras trabalham muito. O que acontece é que os rendimentos mais elevados não são rendimentos de trabalho, são de capital. A estrutura de rendimentos do nosso país não reflete nem o esforço nem o volume de trabalho.  Não confundir salários elevados provenientes do trabalho em função das tarefas e responsabilidades.

O Chega é a ilustração da distinção entre os populismos de extrema-esquerda e o de extrema-direita. O primeiro coloca-se do lado das classes populares contra as elites económicas e financeiras e o segundo, exemplificado pela extrema-direita do Chega, que diz não o ser, propõe-se mobilizar o povo contra as elites intelectuais e políticas mas, ao mesmo tempo, coloca-se contra uma outra parte do povo que são os imigrantes, os mais pobres, os beneficiários de apoios sociais, etc. que, segundo ele, são os grandes culpados pela degradação da situação social, isolando as elites económicas e financeiras da contestação social e, ao dizer-se anti sistema, coloca-se na prática e ao mesmo tempo do lado do sistema.

O Chega, por mais que afirme o contrário, não é um partido de direita anti sistema é, de facto, um partido de extrema-direita e o seu discurso de ódio ao qual junta a boçalidade está alinhado com os interesses das elites dominantes.

Ler também: Expresso de 10/09/20

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publicado às 18:18


3 comentários

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De frar a 20.09.2020 às 23:50

EUROPEU DO SISTEMA = VENDIDO À ABUNDÂNCIA DE MÃO-DE-OBRA SERVIL
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Em diferentes séculos, em diferentes locais, o europeu do sistema é igual:
- vende-se à abundância de mão-de-obra servil... e destila intolerância para com autóctones não interessados em negociatas de abundância de mão-de-obra servil.
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URGE O SEPARATISMO/RUPTURA COM O EUROPEU DO SISTEMA
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LUTA PELA LIBERDADE DO PLANETA = SEPARATISMO IDENTITÁRIO
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O europeu do sistema do século XXI::
- não gosta de trabalhar para a sustentabilidade... e vende-se àqueles que investem no caos para ocupar e dominar novos territórios.
[nota: este pessoal é fornecedor de abundância de mão-de-obra servil]
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Mais:
- estes europeus badalhocos (não gostam de trabalhar para a sustentabilidade) procuram impor uma Ditadura Anti-Identitária... pois, as Intenções Identitárias prejudicam as suas negociatas:
- acesso a mão-de-obra servil de baixo custo;
- acesso a salvadores da demografia;
- alugar casas a trabalhadores estrangeiros/naturalizados;
- vender tudo aquilo que puder a estrangeiros/naturalizados endinheirados.
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--» Os ‘globalization-lovers’, UE-lovers, etc, que fiquem na sua, desde que respeitem os Direitos dos outros, e vice-versa: SEPARATISMO!
(separatismo-50-50)!
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-» Os Separatistas Identitários não estão interessados em ‘tiques-dos-impérios´, mas sim, em LIBERDADE (a liberdade de terem tempo de prosperar ao seu ritmo) isto é:
– todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta: inclusive as de rendimento demográfico mais baixo, inclusive as economicamente menos rentáveis.
[http://separatismo--50--50.blogspot.com/]
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I.
O problema dos africanos, e de outros aspirantes a donos da demografia, não são Direitos Humanos, mas sim, ganância/tiques-dos-impérios:
- possuem imensos territórios ao seu jeito... pois mas... eles vêem nas Intenções Identitárias um obstáculo aos seus tiques-dos-impérios;
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II.
O europeu-do-sistemaXXI (em conluio com aspirantes a donos da demografia):
1- falam nos problemas climáticos... não para que exista respeito para com os povos autóctones de pequena pegada ecológica interessados em prosperar ao seu ritmo... mas para que seja institucionalizado o ódio/intolerância para com esses povos de pequena pegada ecológica com a argumentação de que "o problema climático é um problema global";
2- acusam de «RACISTAS» a mão-de-obra servil que protesta afirmando o óbvio:
- "num planeta aonde mais de 80% da riqueza está nas mãos dos mais ricos, que representam apenas 1% da população, quem deve pagar a ajuda aos povos mais pobres é a Taxa-Tobin e não a degradação das condições de trabalho da mão-de-obra servil de outros povos";
3- acusam de «RACISTAS» os povos que não estão interessados em corridas demográficas:
- ou seja, os povos que investem em filhos no sentido que eles tenham boas condições de trabalho, quer trabalhem (ou não) como mão-de-obra servil;
- ou seja, os povos NÃO interessados em receber a abundância de mão-de-obra servil que os aspirantes a donos da demografia estão disponíveis para fornecer.
4- Condenam a exploração de escravatura e o colonialismo, situações protagonizadas pelo nacionalista europeu, em simultâneo, evocam o legado/herança 'tiques-dos-impérios' do nacionalista europeu (nomeadamente o seu trabalho anti-Identidades autóctones) no sentido de destilar intolerância para com os Identitários Separatistas;
5- etc.
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P.S.
Ao contrário dos africanos, e de outros aspirantes a donos-da-demografia, os Identitários não estão interessados em ‘corridas demográficas’... no entanto, estão interessados em sustentabilidade demográfica; nota:
—» Promover a Monoparentalidade (sem ‘beliscar’ a Parentalidade Tradicional, e vice-versa) é evolução natural das sociedades tradicionalmente monogâmicas!
Leia.se:
– urge dar incentivos à disponibilidade emocional do indivíduo… isto é, a SEXO, ORIENTAÇÃO SEXUAL, ESTADO CIVIL É IRRELEVANTE, importante mesmo é a disponibilidade emocional do indivíduo para criar/educar crianças!
[exemplos: acesso a barrigas de aluguer, acesso a bancos de óvulos, creches municipais 24 horas por dia, etc]
[blog: http://tabusexo.blogspot.com/]
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De Manuel_AR a 21.09.2020 às 19:59

Publiquei esta verborreia mental para que, quem a leia, veja que não tem lugar a qualquer contra argumento, de tal forma é a confusão de conceitos e de ideias que ninguém percebe nada, a não ser aqueles que o escreveram...
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De Kruzes Kanhoto a 22.09.2020 às 22:13

Desconheço a proposta do Chega relativamente à questão do IRS. Mas a taxa plana - proposta pela IL - parece-me razoável. Os rendimentos até 650€ estariam isentos e tudo o resto acima desse valor seria taxado a 15%.

Se implementado gradualmente não me parece que o impacto na receita fiscal fosse significativo. Até porque não estou a ver que alguém com um ordenado de mil euros fosse deixar no banco os 60 ou 70 euros que pouparia mensalmente. Seria mais dinheiro na economia com as vantagens fiscais daí decorrentes.

Seja como for a injecção de dinheiro na banca - pública e privada - sobraria de muitos anos de aplicação da taxa unica de irs...

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