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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O que tem ultimamente tem acontecido na política não sei. Encontro-me no meio do nada e a televisão a ele se associa deixa-me respirar. Longe do palco da política em plena beira interior onde os jornais não chegam e a televisão é a única fonte de informação. Aqui a Internet ainda é para alguns, senão um luxo devido ao seu custo mensal, algo desnecessário e a resistência à mudança não facilita a adaptação e essa coisa das novas tecnologias que não enchem barriga.
Para a gente destes lados basta-lhes serem bombardeados diariamente com os noticiários das televisões que apenas lhes mostram as desgraças do mundo e sobre a política do país dizem apenas o mau e omitem ou tornam impercetível, para muita desta gente, o que houver de bom.
Estas gentes raramente falam de política, fogem dela como o diabo foge da cruz. População envelhecida, nascida, criada e vivida no tempo da ditadura salazarista ficaram-lhes bem vincados os receios de outrora. Todavia, a abertura das conversas em que a política aflora, vai-se timidamente mostrando. Ainda hoje, numa conversa entre vizinhas onde falavam de galinhas, flores, cultura e estado do tempo veio à baila, não sei como, a política. Falaram de Cavaco Silva não percebi sobre o quê e, no meio do diálogo, uma delas disse para a outra que o «António Costa está lá agora, mas já devia lá estar há muitos anos». Conversa terminada. Numa região cavaquista e conservadora pareceu ser uma luz no meio da escuridão. Oxalá ela não se engane, e eu também não para bem de todos.
Entretanto vim para aqui trabalhar, sim, porque aqui trabalha-se nem que seja para apanhar as folhas que o inverno deixou pelo chão e cortar as ervas que a primavera trás. Nos intervalos o sossego do espaço que nos envolve proporciona à reflexão, não apenas sobre política, embora esta esteja cada vez mais presente em todo o lado sem que nos apercebamos, mas sobre outros temas que alimentam o espírito.
Antes de vir revi algumas obras de escritores clássicos folheando aqui e ali as suas páginas motivado pela leitura do livro “A Vida Secreta dos Livros” que li recentemente. Os clássicos parecem estar na moda pois nas livrarias proliferam reedições dessas obras mergulhadas nas estantes que pareceriam esquecidas e agora tomaram novamente vida.
Deparei-me então com uma descrição sobre como Júlio Verne, um dos escritores de antecipação científica, escreveu alguns dos seus livros. Quando adolescente li algumas das suas obras duas delas adaptadas ao cinema como, por exemplo, as “Vinte mil léguas submarinas” e “A volta ao Mundo em oitenta dias”. Mas há uma obra pouco divulgada publicada anos após a sua morte, “Paris no Século XX”. Este livro encontra-se esgotado em Portugal tendo apenas conseguindo uma edição em francês na Amazone.
Por achar de relevante importância porque muitos anos antes faz uma previsão do futuro como seria de facto uma cidade como Paris, e do mundo dito civilizado. Transcrevo uma pequena passagem, traduzida do original francês, daquele livro em que Júlio Verne faz uma descrição do futuro feito por um personagem como se vivenciasse antecipadamente um presente visto do tempo em que em o romance foi escrito, o futuro em 1960.
“O que diria um dos nossos antepassados por ver essas avenidas iluminadas com um brilho comparável ao do sol, esses mil carros que circulam sem fazer ruído por sobre as ruas de asfalto, as ricas lojas como palácios, onde a luz se espalha em brancas irradiações, essas vias de comunicação amplas como praças, essas praças vastas como planícies, esses hotéis imensos onde se alojam sumptuosamente vinte mil viajantes, esses viadutos tão leves; essas compridas galerias elegantes, essas pontes que cruzam de uma rua para outra, e enfim, esses comboios reluzentes que parecem navegar no ar a uma velocidade fantástica… Ter-se-ia surpreendido muito, sem dúvida; mas os homens de 1960 já não admiram estas maravilhas; desfrutam delas tranquilamente, sem por isso serem mais felizes, pois na sua atitude apressada, o seu caminhar ansioso, o seu espírito americano, sente-se que o demónio do dinheiro os move sem descanso nem piedade.”
(Hachette le cherche midi éditeur 1863, pág. 21).
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