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Lavadores

por Manuel_AR, em 03.03.17

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Lavador é uma palavra pouco utilizada em política. As investigações judiciárias utilizam uma palavra cuja raiz é a mesma mas aplicada quando se trata de lavagem de dinheiro.

Aqui prefiro utilizar o termo lavador quando se trata do comentário e da atualidade política. O significado de lavador é dado como aquele ou aquilo que lava. É, portando, o adequado para me fazer compreender.

Sempre que algo corre mal para a direita, (também pode ser para a esquerda), surgem os lavadores da imagem política. A direita tem andado verde de raiva, agora parece ter passado a vermelho de vergonha.

A direita sempre que pode gosta de fazer de dama virgem e ofendida. Refiro-me à intervenção

do PSD que se ofendeu com uma intervenção de António Costa sobre o caso dos 10 mil milhões de euros que passaram para offshores e negligenciados pelo filtro das finanças. Costa terá levantado suspeições sobre o anterior governo de Passos Coelho.  A suspeição foi lançada logo que o facto que gerou a notícia foi conhecido. E o facto noticiado aconteceu num tempo bem definido e quando os atores envolvidos se encontravam no exercício do poder. Passos reagiu considerando uma ofensa este ataque. Fez de virgem ofendida, que não é.

No seu comentário semanal na TVI24 também Manuela Ferreira Leite numa espécie de pré-lavagem achou mal a atitude de Costa. Como se o contrário não fosse usual e uma constante nos debates na Assembleia da República.

Surgem então os lavadores da direita para lavar o que, antes de o ser, poderá vir a ser sujidade. Face ao facto e a evidência concreta a negação seria uma atitude pouco sensata. Mesmo assim não se inibem de incluir na sua narrativa imensos “mas”, ou, então, mascaram o facto com outros elementos sem relevância com a finalidade de iludir a opinião pública. Funciona como uma espécie de detergente utilizado na lavagem. Nesta categoria coloco o jornalista António Costa do jornalEco na intervenção que fez na TVI24 num debate com Constança Cunha e Sá. Aquele titubeante jornalista viu-se quase obrigado com algum esforço a concordar com a evidência do facto. Todavia tentou minimizá-lo e reduzi-lo ao acessório em lugar do essencial centrando-se no problema de publicação e de ser uma estatística salientando este ponto como se fosse o tema central que não é.  São assim os liberais apoiantes da direita. É um dos lavadores da imagem da direita.

Mas, o mais espantoso, foi a líder do CDS Assunção Cristas ter necessidade de vir a público dizer na Rádio Renascença (tinha mesmo que ser) sobre Paulo Núncio, que está no centro do facto, que “Portugal deve muito a Paulo Núncio e que o antigo secretário de Estado demonstrou "elevação de carácter" ao assumir responsabilidades políticas no caso dos paraísos fiscais. Assumir todas as responsabilidades política para lavar a imagem dos ministros das finanças a que ele reportava na altura. Cristas é uma lavadeira e ele outro lavador.

Paulo Núncio não teve tanta “elevação de caráter” quando esteve envolvido no polémico caso das listas VIP dos contribuintes especiais e mediáticos, da área política, financeira e económica e até artística, a cujo cadastro terá sido aplicado um filtro que permitia detetar quem lhe acedesse. Estaria a fazer papel de lavador a quem lhe teria dado instruções.

Os lavadores da direita proliferam por aí e escrevem artigos de opinião em jornais. Quando não podem negar as evidências criticam-nas usando disfarces e arranjando argumentos para a desculpabilização. Flagelam-se e batem no peito em atos contrição hipócritas pelos que defendem. Neste rol está José Miguel Tavares que pega em “certos privilégios inaceitáveis de alguns trabalhadores do sector público” e, para fazer comparações, vai buscar subsídios aos motoristas para lavagem de carros do setor público com os offshores.

Como esta comparação era escandalosa que, para mim não passa de uma autolavagem tem o cuidado de dizer no seu artigo que “Agora peço-lhe só para esperar um momento, caro leitor, antes de gritar aos céus: “Como é possível que este tipo compare a gravidade de uma coisa com a outra?Não comparo. A gravidade é diferente.” É diferente, mas serve-se dela para o seu objetivo. Antes baralha o leitor com questões de morfológicas textuais acerca de conjunções copulativas e disjuntivas.

Ataca uns para defender outros? Não. Ataca ambos porque não tem alternativa ou, então, seria considerado um liberal que defendia os “offshores”. Assim, havia que procurar para o seu argumentário algo para o leitor não se centrar no facto essencial que critica, provavelmente contra sua vontade e que nada tem a ver como o caso. Num ato de inconformismo com o acontecido procura bodes expiatórios incomparáveis.

Este lavador liberal termina dizendo: “não gosto de offshores e não gosto de subsídios para motoristas lavarem os seus carros.”.

Fantástico! Vê-se que tem uma boa formação em lavador e fingimento.

 

Termino com Luís de Camões:

Oh! bem-aventurados fingimentos,

que, nesta ausência, tão doces enganos

sabeis fazer aos tristes pensamentos!

(Luís de Camões. Sonetos)

 

Porém disto, que o Mouro aqui notou,

E de tudo o que viu com olho atento

Um ódio certo na alma lhe ficou,

Uma vontade má de pensamento.

Nas mostras e no gesto o não mostrou;

Mas com risonho e ledo fingimento

Tratá-los brandamente determina,

Até que mostrar possa o que imagina.

(Luís de Camões. Os Lusíadas, Canto I)

 

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publicado às 19:08



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