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 No tempo de Sócrates várias vezes se disse que ele pensava estar viver no país da maravilhas, eu disse-o no blog antinomias, o tempo de Coelho transportou-nos para a queda  num buraco como aquele do conto de Lewis Carrol onde Alice caiu. Alice, no seu sonho, caiu pela toca do coelho debaixo de uma sebe. Ao seguir o coelho nem sequer pensou de como poderia voltar a sair.

 

 

 

Numa tradução do livro de Lewis Carrol, Aventuras de Alice no País da Maravilhas, pode ler-se:


A toca prosseguia a direito, como um túnel, por uma certa distância, para logo se inclinar subitamente para baixo, tão subitamente que Alice não teve um instante que fosse para pensar em travar antes de se ver a cair por um poço muito fundo abaixo.


Mais adiante Carrol escreve:


... ou o poço era muito fundo ou ela caía muito devagarinho, porque o certo é que teve imenso tempo para olhar em volta, enquanto descia, e tentar imaginar o que lhe iria suceder em seguida... De passagem, tirou um boião de um dos armários. Tinha um rótulo onde se lia «DOCE DE LARANJA», mas para seu grande desapontamento, estava vazio.".


Alice pensou ainda que, conforme escreve o autor,


"Depois de uma queda como esta, que importância posso eu dar a qualquer trambolhão por uma escada abaixo! E caía, caía, caía. Seria possível que aquela queda nunca chegasse ao fim?"


Ao reler o conto logo me ocorreu uma metáfora com o momento político. Alice, são todos quantos de nós portugueses se deixaram, e alguns ainda deixam, atrair por um coelho que em tempo atraiu as atenções e que, ao irmos atrás dele, nos levou à queda num poço com fundo interminável durante a qual, fascinados por um boião com doce cor de laranja que, afinal, contrariamente ao da história que estava simplesmente vazio, este ao ser aberto estava estragado e azedo.

Poderíamos encontrar neste magnifico conto muitas outras situações adaptáveis à nossa realidade. Não resisto a transcrever a passagem do diálogo com a Lagarta, após Alice ter bebido um frasco contendo um líquido que a fez encolher.

 

Estás satisfeita com o tamanho que tens agora? - perguntou a Lagarta.

- Olhe, senhor, eu gostava de ser um bocadinho maior, se não se importasse! - respondeu Alice. - É que, realmente, oito centímetros não é altura que se tenha.

- Pois fica sabendo que é uma altura ótima! - gritou a Lagarta, furiosa, ao mesmo tempo que se punha de pé (tinha precisamente oito centímetros de altura).

- Mas eu não estou habituada! - defendeu-se a pobre Alice em tom lamentoso. E, para consigo, pensou: "Quem dera que estas criaturinhas não se ofendessem tão facilmente!"

- Com o tempo, logo te habituas! - disse a Lagarta. E, pondo novamente o narguilé na boca, desatou a fumar.


Alice continuamos a ser nós o povo que, sem saber o que lhe aconteceu, está a pagar uma fatura de encolhimento involuntária e o que (o governo Lagarta) nos tem para dizer é que nos temos que habituar à míngua a que nos violentaram pela bebida amarga que, ao contrário de Alice, nos deram a beber obrigatoriamente. Somos um povo demasiado dócil que aceitamos tudo o que nos dão, por isso não temos que nos queixar.

Isto leva-nos à ordem da Rainha para que cortassem a cabeça à Alice:

 

Como é que eu poderia saber?", disse Alice surpreendida por sua coragem. "Não é da minha conta."

A Rainha ficou vermelha de raiva e depois de encará-la por um momento como uma fera selvagem, começou a gritar: "Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe...


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publicado às 22:01

Léxico do politiquês

por Manuel_AR, em 16.09.13

Marques Mendes na Revista Visão de quinta-feira defende a liberdade de escolha na educação que se prevê ser consubstanciada pelo governo num tal cheque-ensino ao qual nem sequer se refere, pelo menos enquanto conceito. Mas sobre este tema pode ler-se o blog seguinte.

O que achei espantoso, e apenas como um exercício de linguagem politica, foi o senhor propagandista em determinado momento do seu artigo de opinião se referir a uma coligação negativa de uma determinada direita burocrática com a esquerda mais conservadora. Espanto meu! Comecei logo a pensar em rever e reestudar toda a minha linguagem política. Estava perante uma autêntica revolução dos conceitos naquela ciência.

A literatura e jornalismo políticos sempre se referiram à direita como os conservadores (embora direita e esquerda não sejam fáceis de delimitar nos seus espectros políticos). Na Inglaterra há os Trabalhistas e os Conservadores, nos EUA os Republicanos, também denominados conservadores e os Democratas e, em qualquer dos países, segundo eles, os conservadores são assim chamados assumidamente com muita honra. Então fiquei baralhado.

A direita combate a esquerda por esta ser pelo progresso e pela evolução de uma política mais virada para o social em vez da manutenção das estruturas sociais mais clássicas e conservadoras.  Agora Marques Mendes chama-lhes conservadores. Para ele, com certeza, a palavra conservador, em política, adapta-se consoante os interesses do momento para confundir os patetas dos portugueses que este governo deve considerar mentecaptos. Pelo menos assim parece, de acordo com a baralhada das intervenções do primeiro-ministro, quer pelos termos utilizados quer pelo tipo de leis que manda elaborar e aprovar. Requalificação em vez de despedimentos, poupanças em vez de cortes, convergência em vez de cortes nas pensões, mobilidade especial em vez de deslocações forçadas… São tanta e tais que nem há paciência para escrever todas. Davam um dicionário de coelhês.

Já cá faltava também este com uma novilíngua como a do governo. 

 

 

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publicado às 23:16


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