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Os virulentos

por Manuel_AR, em 08.04.20

Virulentos-engraçadinhos.png

A TVI24 lançou para o ar no dia 6 do corrente no noticiário das 14 horas uma peça com laivos de falso humor com um cheiro a denegrir partidos, Governo e Presidência da República. Numa altura em que todos devemos estar unidos, apesar de não unanimistas, e confiar nas instituições nacionais a peça da autoria de um tal Victor Moura Pinto tenta denegrir a imagem de tudo o que são instituições democráticas.

A peça cujo autor deve achar-se muito engraçadinho, mas que eu considero ser um falso humorista, achincalha, neste momento de aflição, aqueles em quem, pelo menos por agora, devemos confiar, mesmo que com algumas falhas ou enganos, para que possamos lutar juntos contra esta peste do século XXI que nos destrói e à economia. Duvido que o momento escolhido para a ida para o ar fosse o mais conveniente.

Não devemos ficar sorumbáticos, mas um pouco de contenção às motivações políticas e talvez até ideológicas do seu autor não pecaria por excesso. A peça tem, para além de comentários pouco convenientes para o momento, um fundo musical e a letra de um grupo qualquer que assenta sobre mentira e que, no contexto da peça, insinua e impulsiona ao descrédito pelas pessoas e pelas instituições.

A peça não só pela sua extensão, mas também pela seleção de muitas das imagens que foram rebuscadas de reportagens sobre outros temas não são representativas do atual momento e que, do meu ponto de vista, é detestável para não utilizar um vocábulo mais forte.

O Sr. Victor Moura Pinto até pode ser um grande jornalista e um grande professor, mas na tentativa de fazer humor com a descredibilização das instituições, não me parece nada pedagógico para o momento que se atravessa.

E, para terminar, não é nas televisões que estes engraçadinhos, proliferam também pelas redes sociais os mentirosos de gema, produtores de notícias, mas também os engraçadinhos virulentos.  

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publicado às 18:49

Uma espécie de carta aberta a alguém

por Manuel_AR, em 30.03.20

Carta aberta.png

É curioso que até nesta fase das nossas vidas alguém protesta com tudo, diz mal de tudo, parece sugerir a desobediência, a revolução já. Denuncia erros do passado e diz que tem propostas que já apresentou, mas a que ninguém liga. Elogia uns, ataca outros, aponta o dedo a mais alguns, sejam pessoas, sejam governos, partidos e tudo o mais o que escolher como alvo. Normalmente quase ninguém lhe escapa. Nem agora abrandou face aos graves perigos para a saúde em que temos todos que estar em consonãncia em relação a este combate. 

Propostas? Que propostas? A sua finalidade é dizer sempre mal de tudo e de todos, exceto apoiar greves, quaisquer que sejam, mesmo em tempos de ansiedade e perigosos para o povo, para todos, enfim.

Os seus trabalhos merecem todo o mérito académico, mas são de diagnóstico e as soluções que diz apresentar são inexequíveis na prática, mesmo a longo tempo. São considerações teóricas baseadas em dados estatísticos que, apesar de tudo têm virtude esclarecedora. Todavia, as suas propostas, se as houvesse de facto com possibilidade de concretizar, decerto seriam de âmbito marxista. Isto é, nacionalizar, estatizar, destruir, reconstruir com uma base populista. Reconstruir a partir da terra queimada com uma revolução feita segundo a sua ideologia que ainda não vislumbrei qual seja, exceto a sua admiração e obsessão pelo marxismo e quiçá pelo leninismo mais radical.

O seu trabalho em investigação tem a segurança de quem trabalha para o Estado que tem o seu salário garantido, por isso pode achar tudo o que quiser sem correr riscos.  É tão bom falar quando se tem segurança e não estamos metidos no barulho, não é?

Diz que no programa da televisão onde participa teve há dias quase um milhão de visualizações, mas quem lhe diz que foi por sua causa e pelos seus pontos de vista no diz respeito às suas propostas para vencer a crise da saúde pública devida ao novo coronavírus? Presunção e água benta não lhe faltam...

Neste momento deve estar, como eu, a escrever os seus artigos em sítio seguro, e é tão bom falar em sítio seguro onde nada nos possa atingir! Talvez gostasse, com certeza, de ser convidada para deputada ou para uma qualquer pasta ministerial, qualquer que fosse, de um qualquer partido que estivesse no governo e ainda não foi. Isso dói-lhe!

Entretanto, vai procurando alguns argumentos, os mais simplistas, o que de si nunca esperava, para defender alguns dos seus pontos de vista que faço questão de não mencionar.

Parece ser uma constante a defesa de greves de camionistas, estivadores, entre outros, apesar das suas razões, seja em que circunstâncias for, mesmo que pudessem provocar instabilidade social acrescida à ansiedade provocada pela crise e, eventualmente, bloquear a chegada de bens essenciais às populações. Isto é revolucionário para a classe trabalhadora e operária por quem tanto zela.

Diz mal de todos os governos, sejam quais forem, mas, então, qual o tipo de governo e com que base ideológica tornaria viável, na prática, as suas ditas propostas e soluções? É isso que nos falta saber!

O mal é que aproveita esta grave crise para a saúde pública e para a economia que nos atinge a todos para fazer propaganda panfletária com os seus escritos. É pena!

Desejo-lhe boa sorte para as suas teses...  revolucionárias a aplicar em tempo de grave crise para o povo como eu já afirmei anteriormente.

Textos como os seus também os escrevi sucessivamente e em abundância no tempo de Passos Coelho, tipo obsessão compulsiva. Achei eu, depois, que talvez tivesse tido a síndrome do "coelho". Com o tempo acabei por me curar dessa síndrome, mas continuo a manter tudo o escrevi nessa altura sobre ele e a sua governação.

E, já agora, para que saiba, não sou marxista nem antimarxista, considero-me numa espécie de limbo destas duas teses o que me coloca numa posição de expetador crítico das duas posições. Uma espécie de não é carne ne peixe, posição cómoda para poder dizer o que está mal, mas, também o que está bem. A teoria política marxista relativa ao Estado e ao Direito incide sobre a necessidade e a inevitabilidade da ditadura do proletariado, como forma de Estado do período de transição do capitalismo para o comunismo. Assim, a essência revolucionária do marxismo tem, no que se refere à ditadura do proletariado, a sua expressão mais saliente.

As crises, segundo Marx, são acontecimentos que fazem parte do processo de acumulação capitalista, inerentes ao mesmo. As crises têm uma função essencial, necessária para que a reprodução capitalista se alargue, restaurando as taxas de lucro, como contrapartida da desvalorização do capital. Embora as crises tornem o capitalismo mais fraco, permitem, por outro lado, a criação de oportunidades para novo investimento e novos lucros, permitindo, também, a concentração de capital em grandes empresas e grupos económicos.

Claro que as crises a que Marx se refere são de outra categoria e não me parece que seja o caso desta crise causada pela pandemia destes novo coronavírus, mas quando as nações saírem deste pesadelo as pessoas irão abanar os neoliberalismos em todo o mundo, lá isso irão, ou talvez não…

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publicado às 16:17

André Ventura descobriu a stand-up comedy

por Manuel_AR, em 02.03.20

(Bárbara Reis, in Público, 28/02/2020)

Ventura JPúblico.pngA maioria dos antigos combatentes, como a maioria dos portugueses, não precisa de acção social. Ventura sabe que falar dos 370 mil ex-combatentes que recebem apoios à sua pensão não faz ninguém rir nem lhe dá votos.

No domingo, em Viseu, o deputado André Ventura divertiu uma audiência de apoiantes em registo de stand-up comedy. Fiquei espantada, ainda não tinha visto o novo estilo.

Desconheço se foi uma performance única ou se vai ser o tom da campanha para as presidenciais — este sábado, em Portalegre, Ventura oficializa a candidatura a Belém. É provável que o deputado o adopte. O estilo é eficaz: durante 50 minutos a audiência riu à gargalhada.

Olhando para a sala, os apoiantes do jantar de Viseu parecem encaixar na categoria de “politizados, cépticos e urbanos” que, segundo o cientista político Pedro Magalhães, caracteriza os eleitores que votaram no Chega em 2019 e que têm intenção de votar no futuro.

O conteúdo do “discurso” de Viseu foi 100% político e ligado à actualidade — só acha graça às piadas quem vê notícias políticas. O humor é destemido e selvagem. Quatro excertos:

— “O Parlamento é uma palhaçada tal o ano inteiro que percebemos porque é que não funciona no Carnaval: quando chega ao Carnaval é tempo de parar.”

— “No debate sobre a eutanásia, quando estava o ouvir aquele tipo dos Verdes, que ninguém sabe quem é, e ele tinha 28 minutos… eu próprio tentei pedir a eutanásia: já não dava para mais!”

— “Este é um país que… nem a Venezuela seria assim. Os bolivarianos devem ver isto na televisão e pensar: ‘Que nunca sejamos como Portugal’. No Senegal, se alguém estiver a ver televisão, deve dizer: ‘Deus nos livre um dia ser como Portugal’. No Mali, em Omã, se calhar até na Síria, devem dizer: ‘Que nos aconteça tudo, ‘estado islâmico’, terrorismo, mas nunca, por amor de Deus, ser como Portugal!”

— “Viram o Marcelo Rebelo de Sousa dizer: ‘Temos de ter cuidado com o populismo’? Não quero dar exemplos desagradáveis, mas é a mesma coisa que um pedófilo dizer: ‘Cuidado com estas redes internacionais que andam a raptar crianças’.”

No meio de risos, palmas e frases como “não podemos continuar com a mexicanização de Portugal”, Ventura fez o seu exercício favorito: encher o debate público de nuvens e ampliar a excepção de modo a parecer a regra. O prémio vai para a frase: “Não podemos ter presos a receber subvenções e ex-combatentes do Ultramar que não recebem um centavo.”

Achei curiosa a preocupação do deputado do Chega. Em Janeiro e Fevereiro, Ventura não achou prioritário participar nos debates parlamentares sobre a defesa e os antigos combatentes da guerra colonial. Esteve ausente na discussão na especialidade do Orçamento do Estado de 2020 para a Defesa Nacional (22 de Janeiro) e esteve ausente na reunião plenária de discussão da proposta de Lei do Governo para o Estatuto do Antigo Combatente e dos projectos do PSD e do BE (14 de Fevereiro). Em ambas, teria direito a falar.

Na discussão sobre o Estatuto do Antigo Combatente falaram todos os partidos e dois deputados únicos (João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, e Joacine Katar Moreira, ex-Livre). A única excepção foi Ventura.

No site do Parlamento, está registado que o deputado do Chega apresentou uma “falta justificada”, cujo motivo foi “trabalho político”. A sua assessora Patrícia Martins Carvalho explicou por email que o deputado “estava em viagem para os Açores”. Qual o programa oficial da viagem? “Não teve propriamente um programa oficial. Houve reuniões com vista às eleições regionais e ao estabelecimento do partido no arquipélago.” Quanto à reunião de Janeiro, está apenas registada a falta, para já não justificada, mas a assessora não prestou esclarecimentos.

O que se disse nessa reunião é inútil para os comícios de stand-up de André Ventura: foi criada uma secretaria de Estado dedicada aos antigos combatentes; foi submetida ao Parlamento uma nova proposta de Estatuto do Antigo Combatente; o orçamento da Acção Social Complementar sobe 55% (de 5,5 milhões de euros para 8,5 milhões).

Há ex-combatentes que “não recebem um centavo” como diz Ventura? É possível. A maioria dos antigos combatentes, como a maioria dos portugueses, não precisa de acção social. Nos registos do Estado, há 372 mil antigos combatentes que recebem 48,2 milhões de euros em três subsídios: Acréscimo Vitalício de Pensão (51 mil pessoas), Suplemento Especial de Pensão (320 mil) e Complemento Especial de Pensão (1772 pessoas), um total de 372.858 antigos combatentes.

Mas não teria a mínima graça dizer em Viseu que há 370 mil ex-combatentes que recebem apoios às suas pensões. Até parecia que os nossos impostos, afinal, servem para alguma coisa. Dizer isso não faz rir e não dá votos.

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publicado às 11:10

Capítulo I - Sem título

por Manuel_AR, em 31.12.19

Conto de ano novo_1.png

Para o fim do ano abrandemos com a política com um conto de uma autora brasileira, Renata Shermann, que tomei a liberdade de transcrever para o português de Portugal. Descontraiam e divirtam-se com o conto se for caso disso, e tenham uma boa passagem para 2020 e que seja um ANO NOVO MUITO FELIZ e PRÓSPERO.

Conto de ano novo_2.png

Lara apagou do seu email o convite para a festa de sexta. Sentiu um frio na barriga, como se estivesse fazendo algo errado, mas não estava. Sabia que não estava. Tirou o pedaço de papel do bolso como se fosse um amuleto e o analisou como se nunca o tivesse visto antes:

No ano seguinte tudo iria mudar. Ela precisava que mudasse. Ela iria assegurar que mudasse. Afinal, ela tinha um plano! Retirou outra lista do bolso: o plano. Faltava muito para preparar, mas ela ia conseguir. Ela estava certa de não ir à festa.

O primeiro item da lista: Passar o réveillon num lugar mágico.

Tinha que ser numa praia, vários items da sua lista exigiam a presença do mar. Pegou no telefone para fazer um reserva e viu que tinha novas  mensagens no Whatsapp.

Fechada casa na serra!

Já comprei cerveja

Lara, não acredito que tu não vais!

Não respondeu. Precisava de achar um lugar mágico na praia. Ligou para alguns hotéis e descobriu o pacote de fim de ano, estava bem mais caro  do que tinha planeado. Ah, que se lixe! É por uma boa causa! Tirou algum dinheiro da sua singela poupança e fez a reserva.

Primeiro item? Check!

15 dias antes do 31 de dezembro 10 dias antes de viajar, passou a hora do almoço atrás de uma cuequinha multicolorida: vermelho para paixão, rosa para amor, amarelo para dinheiro, azul para saúde, verde para alegria e branco para paz. Ela queria tudo. Procurou por várias lojas, não encontrou, chegou atrasada ao trabalho. Durante a tarde pesquisou na net a tal cuequinha revolucionária mas acabou por imprimir um molde de corte e costura de lingerie. Saiu mais cedo para comprar tecido.

Segundo item? Quase check.

No dia D-14, foi atrás de uma roupa branca. Queria uma que emagrecesse, fosse sexy, não aparentasse que ela se tinha esforçado muito, fosse chique, mas com ar de praia. A hora do almoço não foi suficiente, ligou para o escritório dizendo que não estava a sentir-se bem. Faltavam 13 dias. Foi a uma costureira amiga da sua mãe e implorou que ela copiasse um vestido que ela tinha comprado em azul - não tinha branco, mas era lindo!!! - em branco. Não dava. Muito em cima da hora.

As suas costureiras assistentes iam ter de fazer horas extras. Sem problemas, ela pagava. Vestido azul + tecido + costureira tinham saído o triplo do que esperava gastar. Mas, era importante....

No dia seguinte, comprou um livro online sobre mitos e lendas do candomblé. Se ela ia dar um presente para Iemanjá, teria de ser “O presente”. Passou o dia fingindo-se compenetrada enquanto lia sobre a rainha do mar. Comprou todos os presentes que ela gostava: colares imita -o de pérolas, brincos prateados, pulseiras em forma de argola prateadas, pentes, escovas para cabelo, perfumes feminino e talco. As [ores compraria lá. Mais um item da lista concluído...

- Lara? Você fez o relatório que eu lhe pedi?

Não tinha feito. Prometeu entregá-lo no dia seguinte.

Agora só faltavam onze dias... Fez o relatório distraída com a receita de um pão de ano novo que se come na Grécia. Dá sorte. E deve ficar ótimo com lentilhas... Não era difícil encontrar os ingredientes! Enviou o relatório a seguir ao almoço e foi atrás da farinha, fermento e sementes.

D-10 era um sábado. Passou o dia a tentar costurar a cuequinha esotérica, perdeu todo o tecido, foi comprar mais, a conta estava negativa, tirou mais dinheiro da poupança, aproveitou e comprou brincos novos para a passagem de ano, fez a prova do vestido - em azul era mais bonito - e depois de mais 4 tentativas a cuequinha ficou pronta. Parou para descansar, olhou para o relógio, 1 da manhã! Tinha perdido a festa da empresa...

O dia seguinte foi dia de cozinhar o pão, comprar champagne - não queria espumante - e de fazer a faxina de fim de ano para receber as boas energias de ano novo.

Faltavam 4 dias para viajar. Nove para o final do ano. Com os preparativos Lara mal tinha dormido no fim de semana. Chegou ao trabalho cansada, ligou o computador, começou a procurar receitas de lentilha e lojas de fogos de artifício quando seu chefe a chamou ao seu gabinete: o relatório estava todo errado. Ouviu uma hora de repreensão sobre responsabilidade, sobre perda de confiança, sobre já não ter a certeza de ser ela era a pessoa certa para o cargo. O seu chefe sairia de férias naquele dia mas ficaria à espera do novo relatório no seu computador.

Lara voltou arrasada para a mesa, ligou o Facebook e viu uma fotografia de Marcos com as malas no carro partindo para a viagem de fim de ano na montanha onde ela não iria. Pensou em como sempre quis passar o fim de ano com Marcos. E isso deu-lhe mais ânimo para seguir o seu plano.

Lentilhas! Escolheu a receita. Fogos de artifício: já sabia onde e qual comprar.

D-7. Como o chefe não estava, Lara não foi trabalhar de manhã para preparar as lentilhas que levaria num tupperware para a praia. À tarde, ligou o computador, abriu o relatório, mas antes deu uma olhadela pelo Instagram: uma fotografia de Marcos, Sónia e Lia a tirar as compras na casa da montanha. Na foto tinha um saco de romãs. Como ela se tinha esquecido das romãs? Olhou para o computador... Ela podia fazer o relatório no dia seguinte.

Romãs? Check! D-6. No trabalho as pessoas despediam-se conforme iam saindo para férias, de retiro, de fugidinha do trabalho. Lara cumprimentava todo mundo e perguntava o que iriam fazer no fim do ano para dar sorte. "Comer 12 passas!" Ela tinha-se esquecido. Acrescentou à lista. "Entrar com o pé direito." Claro... "Colocar moedas no bolso". Ela não tinha bolso.... Saiu a correr, pegou no vestido e pediu para a tia lhe colocar um bolso. "não vai ficar bom..." Não importava.

D-5. Lara nem foi ao escritório. Arrumou as malas, comprou velas, passas, separou moedas, colocou uma panela na mala, embalou bem o champagne, as lentilhas e o pão grego, separou o seu papel de metas e o seu papel com o plano.

D-4. Passou o dia no aeroporto, o voo atrasou, viajou de noite.

D-3. Passou a madrugada em outro aeroporto. Apanhou um táxi, um autocarro, um barco, uma carrinha, chegou ao seu hotel paradisíaco. Faltavam dois dias para o réveillon. Olhou a praia, o seu lugar mágico, pensou em tomar sol, em dar um mergulho, em conhecer o lugar. Mas, ainda precisava fazer o relatório. Ligou o computador. A sua mãe chamou-a pelo Skype. Estava fula da vida porque ela tinha ido viajar sem se despedir. Então chamou o seu pai, uns tios que estavam de passagem, a vizinha que era quase da família. Já era noite. No Facebook, os seus amigos apareciam fazendo churrasco em volta da piscina, Marcos estava abraçado à Sónia. Lara pensou que no próximo ano seria ela.

Levantou-se para rever a lista.

Dia 30. Ligou o computador para escrever o relatório. Marcos estava a beijar a Sónia numa foto no Facebook. Escreveu algumas linhas com ódio. Marcos mudou o status do Facebook: em um relacionamento com Sónia. Fechou o computador com raiva. Saiu do quarto. Foi procurar alguém para fazer uma fogueira no dia seguinte e percorreu a praia em busca do local ideal para a sua noite mágica.

O dia D chegou! Dia 31. O último dia do ano. O dia que mudaria a vida de Lara. E ela estava exausta. E ainda havia tanto para fazer.

Foi comprar flores de Iemanjá, arrumou o barquinho, foi com o homem que ela contratou arrumar a fogueira, discutiu com o gerente do hotel: ali não poderia fazer fogueira. Procurou outro lugar mágico, não era tão bom, mas servia, deu uma gorjeta ao gerente para lhe arranjar taças de champagne - taças? para quantos? - para um. Só para ela. Pediu também para aquecer as lentilhas e o pão grego que já estava meio duro. Faltavam duas horas. Estava saindo para a praia com a mala cheia quando se lembrou das viagens: precisava dar a volta no quarteirão com uma mala vazia. Não havia quarteirão. A mala estava cheia.

Esvaziou tudo, deu um volta correndo no hotel enquanto outros hóspedes se reuniam em volta da piscina, encheu de novo e partiu carregando a mala pesada pela areia com o seu vestido novo, cuequinha colorida e uns brincos velhos porque se tinha esquecido dos que tinha comprado. Organizou o seu canto mágico: fogueira, velas, presente de Iemanjá, passas, romãs, panela, champagne, taça, fogo de artifício. Agora era esperar até... Não tinha relógio.

Tinha deixado o telemóvel no quarto para não ver mais a cara de Marcos. Ao sinal do primeiro fogo de artifício, foi pulando com o pé direito até ao mar comendo as passas, pulou sete ondas comendo romãs, voltou correndo, acendeu o fogo de artifício, comeu uma garfada de lentilhas, mordeu o pão duro, estourou a champagne, gritou Feliz Ano Novo, bateu na panela, colocou o papel com as suas metas no barco para Iemanjá, voltou a correr para o mar, colocou o barco, fez uma oração, voltou para…

Tinha areia nas lentilhas e o champagne tinha caído no chão. Ela estava exausta. Foi dormir. Dormiu durante todo o dia primeiro e noite pegou o avião. Estava morrendo de fome, pediu dois Big Macs, viu mais uma vez a foto de Marcos e de Sónia na piscina, chegou a casa, tentou apanhar um táxi para o trabalho, mas o telemóvel informou que não tinha saldo no cartão, encontrou o seu chefe, ela não tinha feito o relatório.

Moral da história:

Daqui a um ano irá desejar ter começado hoje ou,

Não aposte tudo em superstições...

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publicado às 13:51

Intervalando

Esta é uma época de pausa, a política abranda e entra numa espécie de sauna relaxante. O humor també

por Manuel_AR, em 24.12.19

PausaNatal.png

Esta é uma época de pausa, a política abranda e entra numa espécie de sauna relaxante. O humor também faz parte da política. Assim, aqui vai um conto de um grande escritor brasileiro do século passado, Machado de Assis. Com ele descobrimos que o tempo passa, o mundo transforma-se..., mas as pessoas continuam essencialmente as mesmas − com os sentimentos, as emoções e as atitudes que são, ontem como hoje, próprias do ser humano. Este conto, do meu ponto de vista pode ter, segundo cada um uma interpretação polissémica.

O prefácio do livro diz que, por maiores que sejam os avanços da informática e os recursos das telecomunicações, o livro jamais perderá sua importância, como uma das maiores e mais extraordinárias invenções do homem. Nele, resume-se toda a trajetória da espécie humana, dos povos da antiguidade ao mundo contemporâneo, das grandes navegações à era espacial. Se os computadores tornam mais fácil a pesquisa e mais rápida a aquisição do conhecimento, nada substitui o prazer de ler um livro, de folhear suas páginas, de “curtir” a beleza da capa, de sentir, até, o cheiro da tinta e a textura do papel.

O conto é um apólogo, género alegórico que consiste numa narrativa que ilustra uma lição de sabedoria, utilizando personagens de índole diversa, reais ou fantásticas, animadas ou inanimadas.


Um apólogo

Conto linha e agulha.png

 Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

– Por que é que você está com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

– Deixe-me, senhora.

– Que a deixe? Que a deixe, porquê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.

Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

– Mas você é orgulhosa.

– Decerto que sou.

– Mas porquê?

– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

– Sim, mas do que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por si , que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

– Também os batedores vão adiante do imperador.

– Você imperador?

– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só a mostrar o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.

Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

– Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?

Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho. para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando6, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

– Ora, agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?

Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.

Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

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publicado às 15:39

Extrema direita inimiga do povo.png

Portugal, no conjunto dos países da EU e do Mundo, tem-se mostrado como sabendo viver em democracia, manifestando-se quando necessário em manifestações ordeiras e reivindicações orientadas por organizações sindicais e centrais sindicais.

Como já várias vezes tenho afirmado sou contra greves promovidas com objetivos políticos e sempre estive contra reivindicações radicais como o foram as dos professores com a Fenprof, a dos estivadores e dos sindicatos dos motoristas de matérias perigosas, este último constituído a partir de uma associação.  

Desde que a direita PSD-CDS saiu do exercício do poder proliferaram novos sindicatos que têm dividido o movimento sindical e são desligados de qualquer das centrais sindicais. A divisão, como é sabido, enfraquece o movimento dos trabalhadores. Quem os promove terá alguns objetivos tal será o caso  da colagem pública de partidos de extrema-direita ao Movimento Zero que pode ver aqui.

Este perigoso movimento, foi criado nas redes sociais em maio deste ano, na sequência da condenação de vários agentes da PSP por ofensas à integridade física e injúrias a moradores do Bairro da Cova da Moura. Foi criado por alguns elementos das forças de segurança e é preocupante, como afirmou o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT). São elementos da PSP e da GNR sob anonimato e que "tem significado, não pode ser ignorado e a tendência vai ser para aumentar".

Em agosto do presente ano nas listas do Chega para as legislativas de outubro encontrava-se o militar de GNR Hugo Ermano, que estava para ser cabeça de lista pelo Porto. Hugo Ernano esteve a ser alvo de um processo disciplinar por ter aceitado ser candidato independente nas listas do partido Chega e pode vir a ser expulso da GNR. Um parecer do gabinete jurídico da Direção Nacional da PSP, emitido em maio, dava conta na altura de que não era permitida a candidatura de agentes da PSP às eleições europeias, mas a Direção Nacional daquela polícia veio um dia depois contrariar o parecer.

Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da Polícia, e Pedro Magrinho, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos da Polícia, foram candidatos, como independentes, na lista da coligação Basta às eleições europeias de 26 de maio.

O presidente do Sindicato Unificado da Polícia, Peixoto Rodrigues, confirmou no Jornal das 8 da TVI de ontem 18 de novembro de 2019 que, de facto, foi convidado para integrar as listas do Movimento Basta mostrando-se, contudo, arrependido.

Desde o início de 2017 surgiram 24 novos sindicatos em Portugal. Só dois se filiaram na UGT e nenhum na CGTP, apenas 92% dos novos sindicatos estão fora das centrais.

A extrema-direita, por meio de promotores e intermediários que se velam na sombra, pretende que se mimetizem as manifestações inorgânicas de outros países, como por exemplo em França. Ao descobrirem que as redes sociais podem ser um meio ao seu dispor para mobilizações e com poder de força convocatória para movimentos e rebeliões, sem controlo nem líder, contragovernos democraticamente eleitos, sempre que se proporcione criam justificações falaciosas utilizando-as para denegrir instituições e desestabilizar a ordem pública dos estados de direito.

São movimentos orientados para que governos extremistas de direita tomem o poder em vários países aproveitando fragilidades sociais e ideológicas para voltarem ao controle dos poderes que, há muito, fugiu ao seu controle, e voltarem assim aos nacionalismos fundamentalistas.

Em Portugal alguns são apologistas de uma espécie do “orgulhosamente sós” contra todos. Não é por acaso que, por razões diferentes, movimentos da extrema direita fascizantes, mais do que outros extremistas de esquerda, estão a crescer em força debaixo da asa da democracia. 

 A temperatura das manifestações sociais espontâneas ou manipuladas por vários grupos extremistas tem subido, em vários locais do mundo, prevendo-se condições muito mais extremas provindas de fenómenos políticos atípicos.

Em Portugal alguns desses grupos inorgânicos atípicos já começaram a levantar a voz, talvez induzidos por grupelhos que se organizaram em partidos políticos que conseguiram eleger deputados pelo aliciamento de eleitores potencialmente inquinados pela intolerância social e étnica com recurso a narrativas populistas e inconsistentes que propagandearam e que são acriticamente absorvidas por cidadãos desarmados de ferramentas intelectuais e ideológicas. São exceção os fundadores desses grupos e os que, de facto, perfilham ideais de extrema-direita e de intolerância justificadas por razões mais aparentes do que reais.

O que aflige essa gente não é a governação seja de centro esquerda ou de centro direita que, governe o país. O objetivo é minar e destruir a democracia utilizando a própria democracia por meio de movimentos que pretendem insuflar na opinião pública a ideia do recurso à violência como forma de derrubar o poder democraticamente instituído que conduza, pela exaustão, à incapacidade de resposta às mais diversas reivindicações impossíveis de concretizar ao momento.

A direita e o centro direita se não se distanciarem destes modelos estarão a dar um contributo para que esses movimentos surjam com mais força.

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publicado às 19:03

Iniciativa Liberal e Aladino.png

A disparatada afirmação do deputado do IL, João Cotrim de Figueiredo, não merecia sequer tantas linhas e espaço no jornal, nem o trabalho da jornalista, nem, tão pouco, os “posts” nos comentários.

Ler alguns comentários sobre artigos de opinião nos jornais online, salvo raríssimas exceções, é o mesmo que ler colunas escritas em jornais humorísticos. Ler esses comentários é, por vezes, um passatempo. Exemplos do jornal Público, é o que hoje apresento, sabendo-se de antemão que também poderiam ser de outros jornais.

Antes de avançar com esse caso concreto devo informar que podem também incluir nesse rol o presente texto. Sobre ele haverá, com certeza, alguns leitores, ou melhor, muitos, que também o acharão digno de gozo e que o considerem um chorrilho de disparates. Se assim for ainda bem, é porque foi lido.

A democracia é assim mesmo porque dá lugar a poder haver várias opiniões, contrastantes, idiotas, disparatadas, sem nexo, imbuídas de fação, recalcitrantes, ocas, sectárias, incompreensíveis, desajustadas, reativas, reacionárias, de propensão totalitarista, racista, etc., etc. e a maior parte delas são provocadas por emoções à flor da pele. Algumas são manipulações intencionais impulsionadas por facciosismo. Outras há que tentam mostrar erudição na matéria lançam-se em explicações e apontam formas de se fazer, algumas sem fundamento e exequibilidade prática para o caso em questão.

Sim, podem incluir também este mesmo texto numa dessas categorias.

Caberá a cada um a seleção e a avaliação. Mas a prática da Internet que muitos creem ser o paraíso da liberdade de expressão, sofre de fragilidade democrática identificada através de muitos dos conteúdos publicados que propagam informação falsa e intencionalmente deturpada, incitam à violência e fomentam a radicalização cujos publicadores consideram ser a liberdade de expressão, porque, para esses, a é a oportunidade de se fazerem ouvir e a ter acesso a todos os conteúdos, incluindo os falsos. Para alguns a sua verdade é a única, é a verdade e a razão absolutas.  

Continuando. Vem tudo isto propósito das mentecaptas palavras pronunciadas na intervenção no Parlamento por esse estreante e debutante deputado do Partido Iniciativa Liberal (será PIL ou apenas IL?) ao dizer que “O PS sabe que mantendo um país amorfo e resignado tem um grupo de pobres, desesperados e dependentes do Estado que lhe irão dar o voto. A pobreza de muitos é o que segura o PS ao poder.” E de seguida que o PS só “existe para estar no poder, nunca irá resolver o problema da pobreza”, pois são os pobres que permitem ao PS “manter-se lá”.

Antes de mais gostaríamos de saber qual é para o deputado e para o IL o conceito de pobre e qual a demonstração da afirmação que fez. Para um raciocínio ser correto as premissas devem ser verdadeiras e devem ser primeiras, ou seja, não têm necessidade de serem demonstradas, é o silogismo científico.

O conceito de pobre reduz-de, para o senhor deputado, apenas aos que ele diz votam no PS?

Se formos pela lógica e fazendo humor poderemos construir silogismos deste tipo:

Eu votei no PS, 

Segundo o IL os que votaram no PS são pobres e desesperados,

Logo eu sou pobre e desesperado.

Mais um:

A pobreza de muitos segura o PS ao poder,

Eu sou pobre,

Logo seguro o PS ao poder.

 

Senhor deputado do PIL, por favor, não goze com o povo!

Ora, dizendo-se o IL liberal a cem por cento, e diz apoiar a meritocracia e o acesso de todos ao empreendedorismo e supostamente à riqueza acessível a todos pela redução do peso do Estado, dos impostos, etc.., estamos a ver que, quando e se o PIL for governo, os pobres, os votantes no PS passarão a ser ricos, deixarão de ser desesperados e passarão a ser votantes no PIL.

Quem ler o programa do IL, pleno de demagogia, pode encontrar um conjunto de intenções e desejos. Tal como no conto de Aladino e a Lâmpada Mágica das “Mil e uma Noites” que, ao esfregar a lâmpada, são satisfeitos assim também o PIL (Partido Iniciativa Liberal) fará tudo acontecer. Isto é, tudo quanto lá se escreve vai no sentido de reduzir ou até eliminar a pobreza e dar a possibilidade a todos sermos todos ricos através da iniciativa e da meritocracia. O que não diz é como tencionam acabar com os pobres que, segundo eles, votam todos no PS.

É sobre este último ponto que a conceituada e experiente jornalista do jornal Público Bárbara Reis escreveu um artigo de opinião sobre as afirmações antes citadas de João Cotrim de Figueiredo, líder e único parlamentar do PIL que podem ler aqui. Na minha opinião a disparatada afirmação do dito deputado, não merecia sequer tantas linhas e espaço do jornal nem o trabalho da jornalista.

Foram escritos vários comentários críticos ao artigo de opinião de Bárbara Reis, poucos elogiando, outros atacando. Para quem tiver tempo e paciência para ler transcrevo-os a seguir na íntegra, sem qualquer alteração, mesmo a ortográfica, apenas os nomes dos que os publicaram foram omitidos.

  • 11.2019 00:53

As contas que foram feitas no final são completamente ridiculas e com o objectivo de atirar areia para os olhos dos leitores. O que interessaria saber seria como cada categoria profissional vota (e isto assumindo assim de repente que há categorias profissionais com mais pobres vs ricos). Interessava sim saber da categoria do operariado qual a percentagem que votou PS vs a percentagem que votou PS na categoria de empresários. Nem sequer sabemos a percentagem global de cada categoria no total da população, como podemos sequer fazer as contas de que percentagem votou no partido..enfim..isto é só para enganar quem quer ser enganado..

  • 11.2019 04:21

Não defendendo em circunstância nenhuma a retórica da IL, devo dizer que o que também não cola é a forma falaciosa como a autora tenta desmontar este discurso. Se o deputado da IL falou em "pobres" a autora não pode decidir comparar este termo com o esquema de classes de Daniel Oesch que não se refere a pobres, nem ricos, mas a categorias profissionais. Sabia que um arquitecto, professor, enfermeiro, e tantas outras profissões incluídas tradicionalmente no universo dos "não-pobres" chega a ganhar menos à hora que uma empregada doméstica ou um operário? Posto isto é lamentável que a autora tenha falhado redondamente a linha de raciocínio, sem confrontar quaisquer factos pertinentes, contribuindo apenas para mais desinformação.

  • 11.2019 21:17

Tanto trabalho a ler relatórios para fugir a uma evidência. Basta ver como e a quem são distribuídas as benesses em épocas eleitorais para saber onde estão os votantes que pesa

  • 11.2019 21:13

Tanto trabalho a ler relatórios para fugir a uma evidência. Basta ver como e onde são distribuídas as benesses em épocas eleitorais para ver que votos têm peso nos resultados eleitorais

  • 11.2019 19:34

Provavelmente o que Cotrim quis dizer a Costa foi semelhante ao que Palme disse a Otelo, quando este lhe disse que o 25 abril tinha sido feito para acabar com os ricos. Olof Palme respondeu que na Suécia estavam mais preocupados em acabar com a pobreza e os pobres. Se Costa fosse o alvo da pergunta de Palme, provavelmente responderia que Portugal cresce acima da média europeia. Ao que o culto e desconfiado Palme, depois de consultar uns números, perguntaria talvez porque razão o nosso país cai nos últimos 4 anos no rendimento per capita, descendo uma posição todos os anos e estando já em antepenúltimo lugar... não sei que resposta daria Costa/Otelo a Cotrim/Palme... A chatice são os números :-/

  • 11.2019 20:39

parece-me sensato iniciar-mos uma sessão conjunta de telepatia para apurarmos com precisão o que vai na tola sizuda do Cotrim....hemmm!??

  • 11.2019 19:34

Provavelmente o que Cotrim quis dizer a Costa foi semelhante ao que Palme disse a Otelo, quando este lhe disse que o 25 abril tinha sido feito para acabar com os ricos. Olof Palme respondeu que na Suécia estavam mais preocupados em acabar com a pobreza e os pobres. Se Costa fosse o alvo da pergunta de Palme, provavelmente responderia que Portugal cresce acima da média europeia. Ao que o culto e desconfiado Palme, depois de consultar uns números, perguntaria talvez porque razão o nosso país cai nos últimos 4 anos no rendimento per capita, descendo uma posição todos os anos e estando já em antepenúltimo lugar... não sei que resposta daria Costa/Otelo a Cotrim/Palme... A chatice são os números :-/

  • 11.2019 18:47

Senhora jornalista Bárbara Reis, como se atreve a escrever dois artigos a malhar no IL! Muito grato lhe ficaria, a auscultação dos tais cientistas, relativamente à caracterização dos pobres deste país. Pense nisto: temos pobres em Portugal, que só o são, porque vivem neste país socialista. É inadmissível que uma pessoa que trabalha oito e mais horas diárias, viva pobremente.

  • 11.2019 17:06

Esses Pobres são Incultos se soubessem Votar levavam o Cartão Vermelho

  • 11.2019 20:09

são os chamados pobres de espirito. desde que elegeram o illuminati Socrates que acredito no infindável bom senso do povo. outros portentos tb foram escolhidos, como Cavaco. mas é o povo quem mais ordena...isto é...45 % do povo porque os restantes 55% gostam tanto do actual sistema q nem sequer votam.

  • 11.2019 16:26

O Sr Figueiredo prestou homenagem à imbecilidade. Não é coisa pouca.

  • 11.2019 16:14

...o populismo combate-se com factos e argumentos sustentados neles...BR, como sempre muito lúcida, é um gosto lê-la.

  • 11.2019 16:10

Muito bem, Bárbara. Apenas gostaria que o sr. João Cotrim, nos falasse do milagre liberal no Chile, como exemplo de criação de uma sociedade sem pobres.

  • 11.2019 20:31

a Michele Bachelet é uma perigosa neo-liberal. é tão nice saltar uma geração ou duas.

  • 11.2019 20:56

O Chile foi transformado num "paraíso" neoliberal durante a ditadura de Pinochet. Foi tudo privatizado: educação, saúde, segurança social, tendo os trabalhadores perdido ficado sem quaisquer proteções laborais. Michele Bachelet não mudou nada. Foi totalmente conivente com o sistema instalado. Os chilenos estão fartos do seu "paraíso".

  • 11.2019 21:17

olhe que não, olhe que não!! quando o preço de cobre aumentou nos por volta de 2008, Michellet investiu os fundos dai resultantes de forma muito sensata: primeiro, criou um fundo almofada que permitiu ao Chile escapar á crise financeira global de 2008 e, além disso, investiu fortemente em pensões para os idosos, programas de assistencia social e um pacote de medidas para estimular o crescimento econóomico. ela reduziu o desemprego e a pobreza e melhorou dramaticamente a educação infantil. é por estas e outras razões que foi fenomenalmente popular... não diga mentiras. vários esquerdistas europeus elogiaram-na.

  • 11.2019 15:54

Vê-se que a Iniciativa Liberal já incomoda o PSV (Pinho, Sócrates e Vara) bem como a CS que os apoia, patrocina e catapulta.

  • 11.2019 15:49

Tenho a dizer que foi graças a alguns artigos da Bárbara Reis que votei IL. De facto, pode -se escolher algo com dois raciocínios: “se uma pessoa daquelas gosta , deve ser bom”. Ou: “se uma pessoa daquelas detesta, deve ser bom”. Percebida a minha situação, imagino que esta sua persistência já tenha arregimentando mais uns quantos potenciais votantes. Continue o bom trabalho.

  • 11.2019 15:38

De facto o PS não é o partido dos pobres, é o partido dos penduras. Pendura, em ciência politica, é aquele que, pobre ou rico, viva à custa dos outros.

  • 11.2019 17:28 Para a mentira ser segura ... tem que ter qualquer coisa de verdade

Nem mais.

  • 11.2019 15:22

Pobres? O socialismo nao acabou com a pobreza em Portugal? Ou quer é acabar com a riqueza?

  • 11.2019 14:56

Na politica não interessa a verdade mas sim o que se diz e o momento.O novel deputado da IL já aprendeu, depressa, a cartilha. O importante é dizer qualquer coisa para as TVs...

  • 11.2019 13:59

O PS não é o partido dos pobres, de facto. É principalmente o partido dos funcionários públicos e daqueles (em número muito maior) cujos rendimentos vêm directa ou indirectamente do Estado. Isto é um problema para a democracia, porque o PS é dominante na máquina do Estado, que deve supostamente ser imparcial. Quando o PS consegue dominar também a banca e a imprensa, como nos anos Sócrates, adquire um poder sinistro e praticamente sem controlo. [Escrevi este comentário há quatro horas, seria o segundo do dia por acaso, mas ainda não apareceu aqui, embora apareça no meu perfil. Um mistério.]

  • 11.2019 14:55

Fake News

  • 11.2019 12:27

Obrigada senhora jornalista por repor a verdade. Uns apresentam factos, outros frases bombásticas que no incêndio que agora se vive nos média e redes sociais até colam. Aliás a Iniciativa Lacoste deve grande parte da sua votação a esse tipo de frases feitas e em cartazes de puro marketing.

  • 11.2019 14:11

Aplaudo o escrutínio mas receio detentores da verdade.

  • 11.2019 11:31

Tenho um amigo que baralha qualquer análise sobre a propensão do voto. É Monárquico e leva um modo de vida aristocrático, veste-se a rigor para as refeições servidas em baixela de porcelana e copos de cristal por uma empregada e depois vota no Partido Comunista. Também conheço alguns pobres, Investigadores com grande capital social porque são Doutorados e estão no desemprego ou na precariedade e esses não votaram PS.

  • 11.2019 13:21

Não há ciência do particular...

  • 11.2019 11:15

Pessoalmente, acho que os pobres em Portugal não existem como suporte de qualquer dos partidos que têm estado no governo (PS e PSD). São, antes, uma consequência natural do tipo de governação imposta a esses governos por força da adesão à UE. Quando se sabe que a economia é mantida praticamente em "crescimento zero" propositadamente, com todas as consequências que daí derivam, então a pobreza em Portugal é um claro efeito secundário das políticas implementadas. Agora, se esse efeito secundário (pobreza) é aproveitado para beneficiar alguém, julgo que esse alguém poderia ser mais facilmente um qualquer partido de esquerda, mais defensor dos pobres.

  • 11.2019 11:08

Obrigado Barbara Reis, eu como votante na IL, venho agradecer-lhe a escalpelização - em sentido positivo - que em dois artigos dedicou á IL. A minha opção de voto na IL, identifica-se com os principios da valorização competitiva - quem organiza e controla eficientemente a sua actividade economica, perspetivando o lucro (não conheço empresas privadas que sobrevivam com prejuízos), adoptando uma politica de valorização dos seus colaboradores e remunerando em função da riqueza criada, pois hoje só sobrevivem empresas que tenham estes principios. Foi este tipo de exigencia que encontro no discurso da IL, o seu programa não sendo um primor nas referencias á organização da sociedade, tem bons principios e concerteza será melhorado pois reonheço-lhes capacidades para corrigir o que promova injust

  • 11.2019 15:20

Não conhece empresas privadas que sobrevivam com prejuízos?!... Ah, ah, ah! Boa piada! Basta olhar para as empresas que controlam os meios de comunicação social. E sabe, não sabe, porque não fecham mesmo a acumular prejuízos?... E também deve saber que a situação estaria ainda pior se não houvesse umas "empresas amigas" que lhes compram publicidade inútil. Tanta "ingenuidade"...

  • 11.2019 10:50

Não cola? Vamos então ao que este jornal publicou em 7 Outubro 2019: "Quem vota em quem? Breve análise ao perfil dos concelhos onde os partidos se destacam" 1. PS mais forte nos concelhos com menor poder de compra Os concelhos onde o PS obteve resultados mais altos registam um poder de compra inferior à média nacional, com um ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem de 950 euros (inferior ao valor médio registado no país, de 1108,56 euros). Têm também mais trabalhadores da administração local do que a média (por cada 1000 habitantes há 13,21 funcionários das câmaras ou juntas de freguesia, enquanto a média nacional é de 11,62 funcionários por cada 1000 habitantes). E ainda um número mais elevado de escolas, embora a escolaridade esteja abaixo da média." A realidade é esta

  • 11.2019 14:18

Mas hoje estava com vontade de mandar palminhas ao PS

  • 11.2019 10:46

E o argumento de que o Bloco central se alimenta da máquina do estado ?? Acho que isso já cola melhor !!

  • 11.2019 10:45

Então somos um país de eleitores filantropos! Obrigado pela revelação

  • 11.2019 10:39

O enviesamento do artigo demonstra-se na falaciosa pretensa aposta nos ricos para haver mais pobres quando a ideia é transformar os pobres em ricos, como dizia Lucas Pires e como demonstram os factos nos países que os emigrantes económicos pobres preferem como destino, sinal inequívoco do que realmente cola. Talvez estes últimos, pelo muito que sofreram nas suas controladas terras de origem, sejam mais listos a compreender os mecanismos da perpetuação da pobreza (dependência do estado e não do indivíduo) do que muitos jornalistas e investigadores.

  • 11.2019 10:22

Sendo benevolente, os "iluminados" da Iniciativa Liberal vivem num mundo completamente imaginado por eles, uma espécie de bolha de gente que nunca teve algum contacto de facto com a realidade em toda a sua extensão. Sendo mais realista, os "iluminados" da Iniciativa Liberal sabem que mantendo o país extremamente desigual, cultivando uma pequena minoria de bolsos cheios, enquanto o resto chafurda na miséria, irão ter o apoio dessa minoria. E aqui apoio não siginifica apenas votos, mas antes de mais lum lugar na teia de relações onde essa minoria se apoia.

  • 11.2019 09:46

Muito bem. Excelente trabalho jornalístico num espaço de opinião, que mostra que é possível sustentar opiniões com factos, sem achismos, “parece que” e pré-conceitos. Receio é que com a qualidade dos novos partidos que entraram no parlamento o Publico tenha de contratar uma equipa só para verificar as tolices que dali virão...

01.11.2019 10:50

  1. PS mais forte nos concelhos com menor poder de compra Os concelhos onde o PS obteve resultados mais altos registam um poder de compra inferior à média nacional, com um ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem de 950 euros (inferior ao valor médio registado no país, de 1108,56 euros). Têm também mais trabalhadores da administração local do que a média (por cada 1000 habitantes há 13,21 funcionários das câmaras ou juntas de freguesia, enquanto a média nacional é de 11,62 funcionários por cada 1000 habitantes). E ainda um número mais elevado de escolas, embora a escolaridade esteja abaixo da média. Jornal Público, 7 Outubro 2019

 

  • 11.2019 09:28

Excelente, Barbara. O jornalismo faz-se com fontes e conteúdos.

 

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publicado às 19:05

O aquecimento global não é só climatérico é também político

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos so

por Manuel_AR, em 05.11.19

Aquecimento político.png

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos sociais e a pessoas da política e fora dela. Utilizam todos os meios convencionais que têm ao dispor para alcançar esse objetivo e, falhado esses, são as redes sociais o seu meio preferencial.

A política não tem sido parca a esse fenómeno, nomeadamente os populistas de extrema-direita e também, em menor escala, a extrema-esquerda, cada um à sua maneira, que têm começado a ter cada vez mais protagonismo. Será este um dos males trazido pela exigência com que os mentores da mais e melhor democracia nos têm invadido como se a que temos já não chegasse? Os resultados, mascarados com a mais democracia, começam a ser visíveis na Europa e no resto do mundo.

 A temperatura das manifestações sociais espontâneas ou manipuladas por vários grupos extremistas tem subido em vários locais do mundo prevendo-se temperaturas muito mais extremas provindas de fenómenos políticos atípicos.

Justificadas por várias causas, quer remotas, quer próximas, com diferentes virulências e motivações específicas, estão a verificar-se conturbações e crispações sociais em várias nações. No Líbano, no Iraque, em Hong Kong, em Paris, Londres Barcelona entre outras. A estas vieram acrescentar-se recentemente e agora com mais vigor as lutas em prol do ambiente.

Todos parecem estar empenhados, negros, brancos, várias etnias e religiões, árabes, asiáticos, homens, mulheres ou crianças. Nesses países as palavras de ordem são semelhantes. Seja em castelhano, inglês, árabe ou qualquer outra língua, é surpreendente a semelhança dos cartazes e das palavras de ordem.

Nenhum dos protestos pode ser reduzido a uma só questão nomeadamente a económica. Muitos dos protestos desencadeados por indivíduos ou grupos que se distinguem pela violência e pelo alimentar do medo nas populações a forma de serem ouvidos e colocados nas primeiras páginas do jornais e aberturas da informação televisiva. E os noticiários televisivos dão-lhes cobertura e relevância porque o medo e a violência compram audiências.

As consequências destes movimentos inorgânicos ou organizados, alguns pouco democráticos demonstrado pelas suas atuações violentas, são a satisfação das exigências e a cedências às suas reivindicações feitas pelos governos. Mas, mesmo com a satisfação das exigências esses movimentos continuam com os protestos.

O que aparentemente desencadeia as manifestações com consequente violência desenfreada nas ruas é normalmente a pretexto de alguma coisa de concreto, como por exemplo a lei da extradição num território (p.e. Hong Kong), o aumento de preços dos combustíveis num lado, o custo de vida no outro, as prisões ditas políticas aqui, as desigualdades ali. São algo de concreto, mas são motivos que apenas servem para disfarçar outras realidades ainda ocultas, disseminadas, mas em estado mais do que embrionário prontas a emergir em qualquer momento. Os geradores destes embriões, os que os alimentam, não se conhecem exatamente quem são, mas andam por aí dispersos.

Todas estas manifestações já são mais do que isso, são insurreições, são o caldo de cultura virulenta que pode conduzir aos populismos e totalitarismos, soluções que muitos acham que poderão resolver o objeto do descontentamento.      

Coincidência, ou não, o crescendo da turbulência que já tinha sido semeada agravou-se com a política de desorientação, desvario e confusão resultante da eleição de Donald Trump nos EUA.

 A direita, e sobretudo a extrema-direita, mais do que a esquerda, têm nas redes sociais uma rede de gente cuja missão é a desinformação, a difusão de propaganda e notícias falsas de forma a descredibilizarem, as instituições democráticas e os políticos. Utilizam as liberdades democráticas para promover a erosão da confiança nas autoridades, encorajar a militância que nutra a raiva contra o sistema político através de publicações sobre assuntos como a raça, imigração, género, convocações de manifestações inorgânicas, etc. São uma espécie de departamentos idênticos aos que engendravam desinformação e conspirações no tempo do estalinismo soviético e do nazismo, mas que utilizam agora as redes sociais e a Internet como veículos de difusão. 

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publicado às 19:17

Ridículo e integrados

por Manuel_AR, em 28.10.19

Revista Ridiculos.png

Há coisas que, por mais que nos esforcemos, as explicações que no deem sobre determinados factos que ocorrem na vida política não se conseguem compreender e ficam no âmbito do ridículo. Já lá irei.

Houve um jornal humorístico bissemanário publicado antes de 1917, “Os Ridículos”, que atravessou toda a I República, o que já de si constitui uma proeza a sua terceira série, a série de ouro do jornal, começa em 1905 e só termina em 1963, em pleno Estado Novo. Teve ainda a particularidade de, após a implantação do novo regime, alterar o seu posicionamento político-ideológico, descobrindo-se nele uma “esboçante simpatia monárquica”. Durante a ditadura de Salazar, apesar de visado pela censura, publicava nas suas páginas, crítica política e social e sátira aos principais acontecimentos da época, temperadas com jocosos comentários que lhe granjearam uma enorme popularidade

Aquele título, com o passar dos anos, se tivesse sobrevivido e atualizado a sua disposição editorial teria material mais do que suficiente para um olhar crítico sobre a política que nos rodeia.

Caricato e risível, para algumas iniciativas que vieram do anterior governo e que já se prevê vão prolongar-se pelo que vai entrar em funções, são adjetivos que poderão circular pelas redes sociais e outros habituais distribuidores de informação mais ou menos deturpada vindos do lado de quem tudo critica, seja bom ou mau. Se razões não faltam ainda lhes dão mais algumas achas para a fogueira. E os que representam a extrema-direita rejubilam porque terão matéria para criticar já que o populismo de uns leva-os a apregoar o Estado mínimo, e o de outros a dizer que 100 deputados seriam suficientes.

Uma delas é a de um Governo, o XIII Governo Constitucional, com setenta elementos entre ministros e secretários de estado. Terá sido necessário para a eficácia e o trabalho durante a próxima legislatura ou será apenas para atribuir lugares prometidos ou, ainda, para no meio da legislatura serem forçados a demitirem-se por falhanços e incompetência? O que é ridículo não são os ministros, mas nomes dos ministérios. Isto merecia zombaria num jornal humorístico. E a despesa criada com estas pastas todas relativamente aos resultados e á eficácia a conseguir? Já disseram por aí que a despesa é pouco relevante. Será? É que não apenas os gastos com os empossados, mas com toda a máquina que os envolve.

Não há dúvida de que um governo com setenta pastas (se não forem caçarolas) não terá razões para se queixar de ter muito trabalho e vai ter tempo para planear e evitar asneirar.

A segunda que veio a público são os novos sinais de trânsito. Faço questão de fazer algumas citações de um artigo de opinião que Pacheco Pereira publicou no jornal Público que é elucidativo do ridículo.

«Um dos melhores exemplos é a utilização da palavra “climático/a”, que na sua origem tem uma expressão sem sentido, a da “greve climática”, e depois contagiou programas eleitorais nas últimas eleições, palavras de ordem em outdoors e, de um modo geral, uma submissão acrítica a conceitos ambíguos e politicamente radicais.»

“Temos agora um ministério “do Ambiente e da Ação Climática”, escrito nessa linguagem do anti-português que é a do pseudo-Acordo. O meu corrector de texto, ainda preso ao saudável e bom português, anuncia um erro no “ação”. Mas a luta pelo ambiente e pela ecologia não constitui também uma acção pelo clima? Pelos vistos não.»

«Por exemplo, temos agora um ministério e uma secretaria de Estado da “Economia e da Transição Digital”, nome que nos vai sair caro, no papel e em árvores, com a necessária mudança de centenas de milhares de impressos, deste e dos outros ministérios mutantes. Eu sei o que é a “transição digital”, ou pelo menos o que eles pretendem que seja, mas a ascensão ao nome do ministério esconde os inúmeros problemas… analógicos da nossa economia. Por exemplo, nenhuma secretaria de Estado neste ministério “digital” tem no seu nome a indústria, que está a definhar na economia e no vocabulário. Pelo contrário, o Turismo, o Comércio, os Serviços, estão lá. É esta a realidade da desindustrialização? É, mas vão explicar a “transição digital” aos têxteis, ao calçado, à indústria que sobra, onde trabalham milhares de portugueses que, pelos vistos, são invisíveis face ao modismo e ao brilho mediático do “digital”.»

«A “descentralização” está num ministério, a “coesão territorial” noutro, a “valorização do interior”, outro nome cheio de empáfia, numa secretaria de Estado. Por aí adiante».

Sobre os sinais de trânsito quem sabe de inspiração do PAN:

«Já os sapos e os linces ibéricos passaram a ter um sinal próprio, o que é um sério upgrade para os linces que se contam pelos dedos da mão. Quantos sinais para os linces vão ser colocados no país? Um, dois? E com os sapos está muito bem, as estradas portuguesas são atravessadas por

Transito 1.png

multidões de sapos e, com o novo sinal, pode acontecer que algumas senhoras (convém fazer vénia ao politicamente correcto, e alguns senhores) podem parar para beijar o sapo na esperança que ele se torne num príncipe, ou princesa encantados. Na verdade, devia ser proibido atentar contra a animalidade dos anfíbios, mas disso o PAN tratará. Tenham juízo.»

E sobre a zonas residenciais!

Transito 2.png

«E depois temos as zonas residenciais ou de “coexistência”. O que é isso da “coexistência” que não cabe nos sinais de trânsito já existentes? E uma criança a jogar a bola na rua com um adulto a ver, não deveria ter também um sinal de “é proibido jogar a bola na rua”? Como devia ser proibido “coexistir” muito junto das estradas. Já há sinais para tudo isto. Tenham juízo.»

 

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publicado às 19:29

Esquerda_direita.png

PARTE III

Após as considerações traçadas nos “posts” anteriores (Parte I e Parte II) que vantagens e ou desvantagens poderemos tirar das maiorias absolutas ou das maiorias relativas no atual contexto político partidário português?

Quer para a direita, quer para os partidos à esquerda do Partido Socialista a proximidade perigosa de uma maioria absoluta deste partido leva-os a orientar uma campanha eleitoral a reduzir aquela proximidade e evitá-la por qualquer via.

A nossa democracia, sendo representativa pelo sistema proporcional, tem a capacidade de poder dar respostas a várias soluções governativas. Uma primeira resposta, a mais simples, parece ser a de dever governar quem obtiver uma maioria nas eleições que seja convertida, através dos votos, numa maioria de mandatos que são os deputados eleitos o que se traduz geralmente em maiorias absolutas de um só partido na Assembleia da República.

Em 2005, o PS obteve uma maioria absoluta de lugares no parlamento com cerca de 45% dos votos. José Sócrates chega ao poder a 20 de fevereiro de 2005 pondo um ponto final num ciclo de turbulência política desencadeado com o anúncio da opção de Durão Barroso pela presidência da Comissão Europeia, deixando então Portugal a ter de encontrar um novo primeiro-ministro enquanto vivia uma conjuntura económica complicada.

Várias são as teorizações que os comentadores e artigos de opinião nos media sobre as quais se lançam a dissertar, quer quando um partido obtém uma maioria absoluta, quer quando tem maioria relativa.  Se um partido governa com maioria relativa queixamo-nos pelos cantos das consequências da instabilidade. Se simpatizamos com o partido do governo somos admiradores da maioria absoluta, se simpatizamos com a oposição no caso de perdermos as eleições preferimos a maioria relativa.

O partido que espera ganhar as eleições só vê vantagens na maioria absoluta, mas vão ter de aturar a oposição. Os que perderem as eleições desejam que o adversário ganhe apenas com maioria relativa na espectativa e com a probabilidade de que a legislatura termine com a queda do governo causada pela instabilidade política e social que será desencadeada pela esquerda e pela direita.

Para partidos como o PCP e o Bloco de Esquerda, o pior que pode acontecer é que uma maioria absoluta do PS faça com que a legislatura acabe, e se o governo governar bem, então, estão mesmo perante uma desgraça.

Para as oposições e para os sindicatos o ideal é sair um governo com maioria relativa. A chantagem da instabilidade, das manifestações e das greves funciona às mil maravilhas nos processos negociais, dirigentes sindicais como os da Administração Pública quase se comportam como secretários de Estado. Até jornalistas, “boys” dos partidos da oposição, apreciam mais as maiorias relativas do que as maiorias absolutas porque a instabilidade política gera mais notícias.

Embora com menor instabilidade governativa uma maioria absoluta do Partido Socialista terá sempre desvantagens para o próprio. Se tal acontecer, partidos à sua direita e à sua esquerda envidarão esforços por dificultar um governo maioritário que venha a sair das eleições. Especialmente o PCP e BE irão promover e desencadear formas de contestação social com pretextos de problemas laborais através dos sindicatos com a finalidade de fazerem oposição ao governo.

Apesar de António Costa dizer que poderá fazer acordos e estabelecer diálogo com qualquer partido assente na Assembleia da República, dependendo das circunstâncias, a maioria absoluta tem a vantagem de deixar de ficar unicamente dependente dos partidos BE e PCP, como foi na legislatura que irá terminar. Não é por acaso que aqueles dois partidos estão a combater contra uma maioria absoluta do PS tentando captar votos à esquerda e o mesmo está a tentar a direita.

No caso de um governo minoritário, se não houver consensos ao nível parlamentar, a instabilidade governativa será maior e o derrube do governo será sempre uma possibilidade a considerar. Não seria a primeira vez que esquerda e direita se unem para derrubar um governo seja pela não aprovação de orçamentos, seja pela apresentação de uma moção de censura.

Com uma maioria relativa do PS e considerando a hipótese de um governo de coligação, geralmente resultantes de negociações entre os partidos, a identificação pelos eleitores das alternativas e das decisões tomadas pelo governo é menos clara, assim como é mais difícil responsabilizar os partidos quando há vários a ter responsabilidade no governo. Como aconteceu no governo anterior PSD+CDS em que assistíamos a medidas apontadas a um e a outro partido.

No caso de coligação com partidos à esquerda do PS torna-se ainda mais difícil devido a certos pontos que fazem parte da sua matriz ideológica e que, por serem mais radicais, não são sequer passíveis de negociação.

Chega-se ao absurdo de Catarina Martins querer voto útil no BE e faz conotações extravagantes ao expressar críticas aos outros partidos parlamentares e acusar o PS de ter cedido à extrema-direita na formação da nova Comissão Europeia. E então, Catarina, onde coloca no espectro político senão à extrema-esquerda?

“Margem disponível” é uma expressão que o Partido Socialistas usa que simboliza um travão para medidas que, se forem mais longe, podem colocar pôr em causa o equilíbrio das contas e, com isso, deixar o país à beira do abismo: e isso os portugueses não querem.

Há um slogan de António Costa que faz todo o sentido como resposta aos exageros de gastos defendidos pelos partidos da oposição que é não podemos dar passos maior do que a perna. Uma maioria absoluta do Partido Socialista poderá ter vários inconvenientes para as oposições, mas terá, com certeza, vantagens se a sua governação se demitir de radicalismos estéreis de esquerda ou de direita e se mantiver no centro de um “socialismo liberal” o que poderá agradar à população que, no caso, será a maioria dos eleitores.

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publicado às 19:05


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