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O grande apostador

por Manuel_AR, em 07.01.18

Santana_aposta.png

 Na convenção promovida por Santana Lopes no sábado passado coloca-se a Pedro Passos Coelho e diz ao partido que esteve sempre lá.  Passos Coelho, diz Santana, “não pôde fazer mais e fez um trabalho absolutamente excecional”.

A razão desta colagem, na minha opinião, faz parte da sua estratégia na campanha eleitoral à liderança do PSD. E porquê? Poderá perguntar-se. Primeiro, porque Passos Coelho ganhou as eleições em 2011 embora com maioria relativa pelo qual teve de se coligar com o CDS. Segundo, porque Passos Coelho também ganhou as eleições em 2015, perdendo votos, ficando com o CDS com minoria parlamentar face à esquerda. Assim, Santana Lopes acha que os “fãs” de Passos Coelho o verão, a ele, Santana Lopes, como um futuro e potencial vencedor nas próximas eleições legislativas. A estratégia de colagem a Passos Coelho por Santana pode ser a de vir a conseguir captar a direita mais conservadora que se afastou para o CDS, contudo, esta pode ser espada de dois gumes virando-se contra ele porque alguns consideraram que Passos e as suas políticas já não teriam futuro.

Após o frente a frente entre Rui Rio e Santana Lopes, um dos comentadores que analisou o debate, José Manuel Fernandes, afirmou, em determinada altura, que as orientações ideológicas do partido para as eleições não interessam nada porque as pessoas iriam votar em pessoas e não em ideologias. É, também neste ponto, que Santana se apresenta pensando que, quem irá votar, é uma espécie carneirada destituída de qualquer ideologia e que irá votar apenas pelo “look” do candidato. É nisto que Santana aposta. Aliás, parece que apostas são com ele porque aprendeu enquanto esteve à frente da Santa Casa da Misericórdia que, segundo parece, até desempenhou bem a função, exceto no caso da intervenção no capital do Montepio e foi ainda um dos motores para a abertura do Casino de Lisboa.

Para bom entendedor meia palavra basta. Se Santana Lopes ganha o PSD teremos um novo Passos Coelho, mas para pior, se, por mero acaso, vier a ganhar as próximas legislativas. E os neoliberais do PSD estarão nessa. Se, pelo contrário perder as eleições, o PSD bem pode pedir uma reforma de fundo.

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publicado às 17:25

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Um postal de Feliz Ano Novo.

Em 13 janeiro de 2018 vai haver eleições diretas para a liderança do PSD. Nos finais de ano e início do novo anos é costume desejarem-se felicidades e prosperidade. É, portanto, oportuno desejar aos dois candidatos à liderança do PSD as melhores felicidades que neste caso se devem traduzir no maior número de votos que permita a um, ou a outro, ficar na liderança do partido.

Desde o tempo em que o PSD mostrou ser, com Passos Coelho e a sua entourage, ser um partido que, apesar de direita, enveredou pelo caminho mais radical do neoliberalismo que tenho escrito sobre uma possível e desejável viragem para a social-democracia.

Até agora nem um, nem outro, têm mostrado que haja, de facto, uma viragem no partido. Rui Rio apenas lança slogans mais ou menos vagos sem dar a conhecer como o fazer. Lança frases como ″libertar o país da amarração à extrema-esquerda″; quer avançar com a reforma do regime com o PSD ″a fazer de motor″; quer reformar o regime e “colocar Portugal na primeira divisão do nível de vida”. Estes slogans parecem-me ser contraditórios. Tudo depende do que ele quer dizer com reformar o regime, libertar o país das amarras da extrema-esquerda, primeira divisão do nível de vida, etc., ao mesmo tempo que diz que PSD “não é um partido de direita, mas de centro”. A mim o que me interessa é saber como?

Por sua vez Santana Lopes vagueia por aí Santana Lopes e diz saber muito bem "onde é que está o PSD". Será à direita ao lado de Passos Coelho? Será ao centro-esquerda indefinida? Apenas ao centro? sabe-se lá onde estará de qual. Para ele o partido está em todo o lado, “do centro-direita ao centro-esquerda”, “reformista” e por aí fora. Por outro lado afirma que “o PSD precisa de se reencontrar consigo próprio para se reposicionar no lugar que é seu”. Certo? Certo...!

Para mim mesmo que Rui Rio ganhe a liderança nada poderá vir de bom. Se Santa ganha pior a emenda do que o soneto.

Porque Santana andará por aí!

 

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publicado às 20:43

Os zombies da direita

por Manuel_AR, em 13.12.17

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Hoje acordei virado para o lado da ficção de terror que atualmente está muito em voga, especialmente em séries televisivas só que, ao nível da política, infelizmente não é ficção.

O PSD, partido que nos últimos anos abandonou a social-democracia e passou a representar uma certa direita em Portugal, faz-me lembrar a série de televisão “Walking Dead” cujo enredo se baseia nos zombies que segundo o estereótipo popular são seres humanos dados como mortos que, após sepultados, são posteriormente reanimados por meios desconhecidos.

Esta direita zombie arrasta-se por aí, por todo o lado, sem rumo e sem projeto tendo como único propósito a assombração de tudo e de todos.

Com o auxílio de alguns media a direita vai desenterrando aqui e ali tudo quanto encontra e sirva para fazer oposição através de casos que os media lhe vão fornecendo, ou que ela vai fornecendo aos media. Estes zombies da direita têm alvos com prioridades estabelecidas e auxiliados pelas suas toupeiras no terreno.

Na campanha eleitoral interna para eleição do futuro líder do PSD, quer Santana, quer Rio, talvez com o objetivo de captar os fiéis neoliberais de Passos Coelho, não têm apresentado nada de novo e recuperam as teses do ainda atual líder. Rui Rio, por exemplo, sem nada propor de novo, volta à tese do “com o consumo interno não vamos lá”. Poderá até ter razão, mas onde está a alternativa que não coloque novamente o país como Passos Coelho o deixou? Claro que devemos reconhecer-lhe algum mérito como Santana Lopes já fez. Contudo, quais são as propostas que os candidatos a líder da direita PSD têm apresentado ao partido e ao país? Será a evolução na continuidade à semelhança do que foi a primavera Marcelista, mas em democracia?

Quem se disponha e tenha paciência para suportar ler manifestos inseridos nos comentários que encontramos nos artigos e opiniões dos jornais online onde sentimentos de ódio e frustrações se misturam terá a oportunidade de se deparar com uma outra espécie de zombies que, escondidos no anonimato, saem das profundezas das redes para atacar tudo e todos os que não pensam como eles, uma espécie de protofascistas. Para estes, todos os que não são de direita são comunas. Todos o que não sejam ideologicamente de direita ou apresentem formas alternativas para governação são comunas. Estes mortos-vivos são os mesmos que lançam chavões ofensivos e “fake news” (notícias falsas) por todos os meios que estejam ao seu alcance. A constatação deste facto não se resume apenas à direita, há também os fogosos(as) da esquerda que, embora proliferem em menos quantidade, não deixam de exagerar na sua linguagem de baixo calão.

Estes mortos-vivos, especialmente os da direita que atacam tudo quanto seja a responsabilidade social do Estado e apregoam reformas (seja lá o que entendem por isso), são os mesmos que, sem se fazerem rogados e sempre que podem, atiram-se por todas as formas a tudo quanto possam sacar ao mesmo Estado, mesmo em prejuízo de outros. Estes grupos, espécie de “batoteiros”, sempre que podem sentam-se à mesa do orçamento do Estado recorrendo a subsídios, fundos europeus a fundo perdido e outros a que se julgam com direito numa perspetiva egocentrista. Por outro lado, sentem-se lesados quando se lhes acaba o regabofe e, daí, o seu sentimento de perda de poder, prestígio, revolta, agressividade e ódio que se revelam por comentários com que povoam as redes sociais e áreas de opinião dos jornais online num impulso de destruir adversários virtuais que apenas existem na sua mente.

Este tipo de zombies maltrata os outros pela linguagem que utiliza nos seus argumentos, mas não gostam que os maltratem a eles. Até políticos ditos responsáveis (deputados normalmente) verbalizam ofensas muitas vezes pessoais, mas indignam-se e levantam-se para intervir em defesa da honra pessoal ou da bancada. Não seguem a regra de “tratar os outros como queremos que nos tratem”.

A questão que se coloca é a de saber se será possível argumentar e comentar bem e com eficácia sem pesquisar nem compreender os meandros do fenómeno sobre o qual se comenta? Eu diria que sim, mas com alguma reserva. Esta reserva reside na moderação do comentário que passa a ser uma opinião e não uma crença absoluta. A crença em política é acreditar, sem margem para dúvida, que aquilo em que acreditamos é a nossa verdade; ou podemos, por outro lado, acreditar que essa coisa deve ser verdade sem o ser.

Quem faz comentário político nas redes sociais e nos comentários dos jornais online (eu incluído) não pode conhecer factos de forma completa, exata e em todos os seus detalhes; o que acontece é que os fenómenos vão chegando ao nosso conhecimento de forma fragmentada, incompleta e aproximativa, como se fossem dados por um GPS a que falta uma ou mais referência duma localização. Todavia existem pessoas que os conhecem de forma completa e exata.  Por exemplo, não é racional acreditar como um facto sem margem para dúvidas numa coisa acerca da qual temos apenas um conhecimento fragmentar e incompleto, por muito verdadeira que essa coisa pareça.

Os comentários a que me refiro são reveladores de sentimentos de fúria, raiva, frustração e outros, cujas lógicas são difíceis de compreender e, como tal, só podem ser limitadas a crenças tipo seita religiosa que movem as pessoas envolvidas e que nos parecem por vezes estranhas convertendo argumentos políticos em ofensas pessoais onde se fazem até descabidas e irracionais conotações.

Transcrevo apenas alguns exemplos desses comentários, que não são dos que utilizam linguagem mais ofensiva, tal e qual foram publicados exceto o itálico.

Entrevistado e entrevistador são ambos bolcheviques, um do bloco, o outro da soeiro pereira gomes. Louçã a preparar o terreno para a crise que se avizinha, com a despesa descontrolada pela pressão permanente dos partidos bolcheviques que, para mais, impedem qualquer reforma relevante.

Preparar o terreno para ele é acima de tudo ilibar a extrema esquerda de qualquer responsabilidade!

Quando este padreca leninista do Louçã diz que nunca há controlo das taxas de juro mente conscientemente e descaradamente, quando sabemos que o Banco central Europeu tem mantido as taxas de juro a um nível baixo, através das compras dos activos dos bancos. Compras que para a nossa banca desde 2015 ascendem a uns 30 mil milhões de euros!

Este comentário é sobre uma entrevista dada por Louçã ao jornal i a propósito de um livro que foi lançado em outubro por ele e por Michael Ash. Este economista afirma ao jornal Público que “uma nova crise financeira internacional, ao estilo da vivida há uma década é neste momento provável”, alerta. Michael Ash é economista norte-americano, professor na Universidade de Massachusetts e juntou-se este ano a Francisco Louçã, economista e ex-líder do Bloco de Esquerda, para lançar o livro “Sombras - A Desordem Financeira na Era da Globalização”. Nessa obra, traça-se um cenário pessimista em relação à forma como os mercados continuam desregulamentados e ensaia-se uma explicação para o facto de, mesmo depois da crise, pouco ter mudado.

O comentário mostra que, ou não leu a entrevista ou não sabe do que o entrevistado está a falar. A entrevista referia-se às crises internacionais que podem surgir a qualquer momento.

Francisco Louçã tem diversas obras publicadas sobre as causas das crises cíclicas, algumas publicadas com autores estrangeiros, é um economista reconhecido lá fora por esse trabalho. Que não se goste dele ou da sua ideologia, da qual não sou adepto, isso é outra questão, mas suponho que não terá nada a ver com uma conclusão desfavorável em relação ao que ele escreveu.

 

*****

Outro comentário:

Ó pateta, vai lá pedir um empréstimo ao banco e vais ver a taxa de juro que te cobram!

A (baixa?) taxa de juro do BCE reflete-se nos ganhos para a banca ou em ganhos para a economia, para o cliente? E se assim é porque mistéio é que arrotamos milhares de milhões todos os anos para pagar os tais 35 mil milhões mais juros e o mais que virá?

Este comentário nem vale comentário.

*****

Mais outro, este, provavelmente de esquerda:

 

Afinal pagamos o que não foi para o povo, mas que foi assumido como dívida pública.

O dinheiro não veio para tapar os buracos no Estado, aliás inexistentes dado o saldo primário anual de cerca de 7.000 milhões de euros. Foram para outros buracos bem privados e foram pedidos com a assinatura de Sócrates, Passos e do panasca, que constam no documento em Bruxelas.

Os comentários parecem ter vindo de seres que saíram das trevas para tentar captar alguém para as profundezas onde se encontram.  Servem-se da ofensa pessoal, atributo de fraqueza argumentativa, e destilam sentimentos de ódio e de estigmatização. Todavia outros comentários salientam-se pela sua sobriedade e clareza sem que isso signifique ser verdade, ou de quem os faz ter razão.

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publicado às 19:40

Um texto do Prof Galopim de Carvalho

por Manuel_AR, em 01.12.17

 

 

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Com todo o respeito resolvi colocar neste blog um texto da autoria do Prof. António Galopim de Carvalho que o próprio colocou hoje no Facebook e que subscrevo na íntegra.

Espero que ele não se importe de o divulgar aqui, por isso aqui vai a trancrição na íntegra.

DESILUDA-SE A DIREITA, ESTE GOVERNO ESTÁ PARA DURAR

Já vai algum tempo que não me meto na política nacional. Sempre que o faço, sujeito-me a comentários discordantes dos dois lados do leque partidário , o que é respeitável e bom, revelador de uma liberdade, apreciada, sobretudo, pela minha geração, que sentiu na carne a falta dela. Devo dizer que, pura e simplesmente, bloqueei os autores dos comentários desrespeitadores da boa educação. Eis, pois, o que hoje me ocorre dizer sobre a situação política nacional., depois de uma madrugada a preparar os textos que coloquei nesta minha página do FB. “Como nos aviões que, ao ganharem altitude, atravessam a espessa cobertura de nuvens e atingem o esplendor do céu e da luz, acabámos de sair desta escuridão em que, com excepção de uns tantos privilegiados, fomos levados a viver.” Escrevi, em finais de 2015, quando, caiu o governo de Passos Coelho, conduzido sem qualquer sensibilidade social, em submissão a uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram, e sob a conivência do então mais alto magistrado da Nação. Escrevi, ainda “tenho esperança que o governo agora presidido por António Costa vingue e desminta os maus presságios que uns, hábil e interesseiramente, e outros, convicta, alienada e ingenuamente, anunciam". Respirámos de alívio com o fim de uma governação de má memória que conduziu os nossos destinos entre 2011 e 2015, nos asfixiou e empobreceu, destruindo muitas das nossas valências económicas, a par de escândalos de corrupção descarada e impune e do aumento do número e da riqueza dos ricos. De então para cá assistimos ao ressurgimento da economia e à redução do flagelo de desemprego e ao estancar da emigração de uma juventude que a democratização do ensino qualificou a níveis nunca antes conseguidos. Alienados pela máquina do poder e ainda marcados por receios antigos, foram muitos os portugueses que não ousaram questionar um governo que lhes mentiu, os desprezou e maltratou. Porém, os legítimos representantes da maioria dos portugueses puseram fim a um pesadelo de quatro longos anos. Vitoriosa nas urnas mas sem maioria para governar, esta direita viu o seu programa reprovado no Parlamento, António Costa e os partidos à sua esquerda que, não obstante as grandes e respeitáveis divergências ideológicas, continuam a dar-lhe o inteligente e sábio apoio, têm sabido manter compostura democrática face aos ataques soezes que não cessaram de lhe serem dirigidos. O PS, o PCP, o BE e o PEV sabem bem que a direita não perdoa e que, ajudada pelas forças que bem conhecemos cá dentro e lá fora, têm tentado e vão continuar a tentar o possível e o impossível para derrubar o governo e minar os entendimentos conseguidos. Foi, por exemplo, no ano passado, a onda amarela, por ocasião do anúncio dos cortes de financiamento aos colégios privados, Foi, este ano, a vergonhosa, consertada e descarada oposição ao governo e ao primeiro ministro face ao drama e à tragédia dos fogos florestais, cujo número, intensidade e extensão permitiram, a muitos, suspeitarem terem sido o resultado de uma acção organizada. Foi o “roubo” de material de guerra em Tancos e o imediato aproveitamento político por parte da oposição. Foram as análises e recomendações (as “palavras duras”, como alguns se lhes referiram) do Presidente da República, quanto a mim necessárias e certeiros, que a direita aproveitou, procurando fazer dele um aliado, na luta política que a democracia, felizmente, consente. Mas enganou-se. Marcelo tem outros objectivos que não são difíceis de adivinhar e que eu, quase diria, outras certezas. Foi o caso da Legionella pneumophila e das mesmas vozes que logo se fizeram ouvir. Só falta acusarem o ministro Luis Capoulas Santos pela seca extrema que está a afectar gravemente a nossas agricultura e pecuária, e a Ministra Ana Paula Vitorino, pelo mau estado do barco que naufragou ao largo da Figueira da Foz, causando a morte de quatro malogrados pescadores. Todos sabemos que os tempos que se avizinham continuarão a ser difíceis mas, comprovadamente melhores do que os vividos entre 2011 e 2015. Não queremos voltar para trás. Estamos a viver com menos dificuldades e esperança de melhores dias, com um governo que nos respeita e nos tem vindo a restituir a dignidade.

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publicado às 18:11

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Raramente leio os artigos de opinião que João Miguel Tavares escreve no jornal Público, e, quando o faço, é porque algum sentimento de indignação que me compele a isso. Talvez por ele ser um liberal incondicional, e eu não, ele ser de direita, e eu não. Talvez por ele ser um liberal convicto seja levado a fazer oposição ativa à esquerda através da escrita de opiniões, defendendo sectariamente apenas um lado, o “seu”, procurando algo e só o que possa criticar no “outro”, apenas e porque não é o seu.

Hoje li o artigo de João Miguel Tavares, há sempre um dia em que a nossa opinião pode, ocasionalmente, mudar face a algum acontecimento. Encontro-me hoje nessa circunstância. Ter que concordar na íntegra com o que Miguel Tavares escreve no Público.

Fui professor em dois momentos, no ensino profissional e, posteriormente, no ensino superior. A minha mulher também foi professora do ensino público durante as dezenas de anos e depois na área pedagógica do Ministério da Educação vários anos, conheço bem o que foi o ensino por fora e por dentro apesara das alterações que se verificaram no tempo do “chamado ensino do Crato”. Ao contrário dos filhos de JMT que andam no ensino público, os meus netos, por uma questão de opção, e não porque a qualidade seja superior no privado face ao ensino público, até porque, alguns colégios privados, em alguns casos, deixam bem a desejar, e não digo nomes.

Deste modo, e por coerência com o que escrevi em “posts” anteriores opondo-me à greve reivindicativa do sindicalismo egoísta e umbilical, que mais parece uma corporação de professores liderada por Mário Nogueira, tenho que concordar com o que JMT escreveu hoje e faço das palavras dele as minhas, objetivamente e apenas neste caso, não confundamos nem misturemos as coisas.   De qualquer modo recomendo a leitura do artigo que pode ver aqui.

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publicado às 21:02

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A FENPROF e o seu líder Mário Nogueira têm razões para estarem satisfeitos com os apoios à luta reivindicativa para obtenção de mais dinheiro retroativo, (impossível de dar), e de regalias. Com o sindicalista Mário Nogueira está com a direita dos liberais e dos neoliberais, incluindo os que ditam, prescrevem e sugerem através de artigos de opinião que publicam na imprensa diária e comentam nos canais de televisão.

No jornal Público do passado dia 18, João Miguel Tavares no seu artigo de opinião é um dos que parece apoiar, pelo menos implicitamente, os protestos e as greves do pessoal de Mário Nogueira. E, este, claro, nas atuais circunstâncias agradece porque o apoio da direita é, apesar de tudo, bem-vinda.

Miguel Tavares através de um artigo de opinião e a propósito das reivindicações e greves dos professores justifica a vinda do diabo invocada por aquele de quem parece ser fã convicto, o eis primeiro-ministro Passos Coelho.

Depois de dissertar, mais uma vez, sobre as causas das intervenções do FMI diz João Miguel Tavares que “Logo abaixo das nossas lastimáveis elites e da sua vocação para a corrupção, há uma série de corporações poderosas, mais a grande massa dos trabalhadores do Estado e dos reformados, que foi crescendo ao longo do tempo por boas e por más razões. Esse Estado, sem profundas reformas, é insustentável. Ele pode ser alimentado durante alguns anos através do crescimento da economia, mas à primeira mudança de ciclo económico o país vai outra vez ao charco. Não é uma questão de “se”. É uma questão de “quando”.” Cá está o diabo ainda não veio está para vir qual oráculo de Passos Coelho.

E continua, “famoso diabo é, e sempre foi, isto: a profunda consciência das limitações do país e dos seus problemas estruturais, adicionado à paralisia reformista da atual solução de governo e à sua enorme tentação despesista.” E digo eu, afinal parece que o diabo que está para vir é devido a não continuar com as reformas sociais neoliberais iniciadas pelo anterior governo.

Raramente concordo com João Miguel Tavares, mas, em alguns pontos de vista, e por motivos diferentes, sou levado a concordar. Sabendo que é um liberal com alguns laivos de radicalismo nessa área ideológica, pelos artigos de opinião que habitualmente escreve tudo lhe serve para fazer oposição ao Governo. Nesta fase em que a oposição de direita do PSD está em grande agitação devido a estar em fase de eleições internas até dá jeito.

O PCP e os sindicatos a ele afetos, faltando-lhe o operariado, substituiu-o pelos funcionários dos serviços do Estado classe média atualmente bem paga e, por isso, quantos mais trabalhadores houver no Estado tanto melhor, porque pode servir de arma poderosíssima nas mãos dum partido que tem sempre à mão, sempre que lhe convenha, para paralisar todos os serviços. No que toca ao número de trabalhadores do serviço público é talvez o único ponto de concordância que tenho com JMT.

Claro que Miguel Tavares dá uma no cravo e outra na ferradura, mas mostra congratular-se com as reivindicações irrealistas porque o ajudam em pôr em causa as ideias e os projetos do Governo mas, ao mesmo tempo, acaba por defender o ponto de vista dos professores e  aproveita para dizer que, se já não há austeridade, então que se pague o que pedem. Ironia? Talvez não!

Analisemos então as seguintes passagens do artigo de João Miguel Tavares com a qual estou de acordo porque é uma questão de bom senso.  

Quando se fala na impossibilidade de arranjar 600 milhões de euros para contar todo o tempo de serviço dos professores, a objecção que se escuta com mais frequência é esta: “Não há 600 milhões para dar aos professores, mas houve 4,9 mil milhões para salvar o BES, e mais 3,9 mil milhões para salvar a Caixa.” Sem dúvida que houve. Contudo, mesmo sem entrar em discussões sobre as particularidades do sistema bancário, convém notar que esses 600 milhões, ao contrário da capitalização dos bancos, não são one shot — é um compromisso que fica assumido e que tem de ser pago todos os anos. São 600 milhões em 2018, outros 600 milhões em 2019, mais 600 milhões em 2020, e por aí fora. Ao fim de dez anos são seis mil milhões. Ao fim de 20, 12 mil milhões. E isto só para descongelar nove anos de carreira dos professores. Como seria de esperar, a GNR já veio dizer que exige o mesmo tratamento. E de seguida virão os polícias, o exército, os enfermeiros, os médicos, os magistrados, os trabalhadores dos transportes.

As pessoas que apoiam estas reivindicações colocam frequentemente o tema em termos de “justiça” ou “injustiça”. Lamento muito: o problema não é moral. Claro que o descongelamento das carreiras é mais do que justo. Claro que retirar às pessoas direitos adquiridos é profundamente injusto. Claro que os professores têm toda a razão em desejar que nove anos da sua vida profissional não desapareçam no ar. Mas isto não é uma questão do que é bom versus o que é mau. É uma questão do que é possível (ou responsável) versus o que é impossível (ou irresponsável). É uma questão de escolhas e de como utilizar os recursos — finitos, convém recordar — do Estado.

Como não há bela-sem-senão, posto isto, João Miguel Tavares aproveita para fazer oposição e atacar António Costa dando razão aos funcionários públicos: “a conversa do fim da austeridade foi orgulhosamente assumida por António Costa desde o primeiro dia. E assim sendo, as pessoas só estão a exigir nas ruas aquilo que o primeiro-ministro lhes prometeu quando estavam em casa. A irresponsabilidade destas reivindicações não é de Mário Nogueira. A irresponsabilidade é de quem prometeu o que não devia, e de quem anda há dois anos a cavar buracos…  

António Costa não cava buracos anda a tapar os que o seu antecessor cavou, quer nas finanças, quer ao nível social. O apoio às medidas de Passos Coelho estão implícitas no que JMT escreveu e, António Costa então deveria continuar com a mesma austeridade mantendo o país de rastos como fez o seu antecessor neoliberal piorando ainda mais o que herdou.  

Para JMT é isto o diabo que Passos Coelho anunciou jogando com o fator medo. A direita dá timidamente o apoio às reivindicações vindas dos sindicatos numa estratégia de fazer colapsar as finanças públicas para, a partir daí, passar a ter conteúdo para uma oposição com algum significado, deixando a mera oposição casuística.

Uma coisa é certa o sindicalista Mário Nogueira agradece.

Jogo baixo. Outra coisa não seria de esperar de JMT.

 

PS: Hoje no mesmo jornal Público JMT escreve um artigo com quem estou em pleno acordo. Para mim estar plenamente de acordo com ele era quase um exercício de impossibilidade. Hoje chegou finalmente o dia. Espero que haja mais.

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publicado às 16:25

Santana e Rui Rio.png

Alguns dias de silêncio foram-me úteis para acalmar alguns aspetos emotivos gerados pela panóplia oportunista da oposição que politicava com a gravidade dos incêndios que ainda vão dar muito que falar quando se debater o reordenamento florestal com a direita a querer deixar tudo como está com as justificações costumeiras.

O orçamento foi aprovado na generalidade apesar das catástrofes anunciadas pelas bancadas da direita. A oposição de direita tem sido um calhambeque que segue em contramão numa paisagem de desolação argumentativa confrangedora. Acompanham-na comentadores e economistas provenientes da sua área que debitam ou rabiscam opiniões, mais parecendo jericos que olham sempre na mesma direção, e improvisam argumentos com fundamento incipientes, cozinhados ao momento, servidos até à exaustão com um certo cariz de calúnia. Calha, aqui, a citação de Francis Bacon “Calomniez, calomniez, il en restera toujours quelque chose”.

Curioso é que até hoje os líderes e a sua trupe do calhambeque não conseguem fazer melhor do que rebuscar as mesmas críticas querendo passar um apagador pelo seu passado governativo sem apresentarem nada de novo. Mantêm a mesma estratégia do embuste, tão do agrado do por enquanto “amado líder” do PSD que tenta imputar a outros as responsabilidades que lhes coube enquanto foram Governo.

Agora está em jogo a disputa pela liderança do PSD que se arrasta a meio gás. Cada um dos candidatos tenta chamar a si apoiantes e a coisa está feia devido ao estado ideológico em que Passos Coelho deixou o partido abandonando a social democracia para optar por uma orientação mais neoliberal. Ainda hoje o seu discurso é o do regresso ao passado e à perda do poder apesar de ter ganho as eleições com minoria.

No encerramento das jornadas parlamentares o líder do partido avisou os partidos que apoiam o Governo, como não se não o tivesse já feito, que não contam com o seu apoio em caso de uma eventual quebra dentro da 'geringonça' (foi uma das raras vezes que Passo utilizou esta palavra), como há muito não se soubesse.  A esquerda deve ter agradecido o aviso.

Substituiu o aviso do vem aí o diabo pela designação de morte lenta que “é uma coisa que às vezes demora imenso tempo, é penosa e tem custos elevados. Assim são os custos que a 'geringonça' nos está a deixar".

Passos Coelho parece continuar a não ter presente que, mesmo que continuasse, o seu governo estaria condenado a ser derrubado mais mês, menos mês. Ninguém esquece, a não ser os fanáticos da direita, que em 2011 Passos foi rápido na quebra de promessas eleitorais subindo a carga fiscal e levando a metade do subsídio de natal a quem trabalha entre outras “bem feitorias” aos portugueses quando apenas a população que o apoiava parecia dar vivas aos cortes que ele lhes causou nos rendimentos bebendo o seu discurso populista que era para salvar o país.

Prepara-se um novo ciclo para o PSD (será mesmo novo?) com dois candidatos a disputar a liderança.

Santana Lopes ao candidatar-se, mais uma vez, à liderança do PSD pretende recuperar a herança neoliberal que Passos deixou no partido só assim se percebe os elogios que lhe tem tecido justificando até muitas das medidas que foram na altura tomadas. A estratégia santanista é conseguir trazer para o seu lado a “mancha” neoliberal criada por Passos que se mantem viva e que não alinha com Rui Rio nem com a sua tentativa para reavivar a social democracia perdida. No dizer do próprio Santana "O PSD orgulha-se do trabalho de salvação nacional feito pelo Governo de Pedro Passos Coelho. Queremos um partido sem memória?" numa alusão aos sociais-democratas que se demarcaram do anterior executivo. Por outro lado, diz que pretende fazer tudo ao contrário do que fez Passos Coelho. Um partido, qualquer partido, deve ter memória, mas também deve fazer reflexão sobre essas memórias e fazer a autocrítica, digo eu.

Para além das divergências internas sobre a orientação ideológica que o partido deve seguir, há uma estratégia convergente de ataque ao Governo e ao seu apoio parlamentar. Ambos os candidatos fazem uma campanha interna para a liderança do partido e, ao mesmo tempo, e para o exterior, a campanha centra-se na oposição ao Governo potenciando a eventualidade de um deles vira a aceder no futuro ao cargo de primeiro-ministro. Aliás, nem outra coisa seria de esperar. Para disfarçar as divisões internas chamam as atenções para o que está fora.  

Santana Lopes, já sabemos, é um bom ginasta político dando cambalhotas sempre que lhe convém. A sua experiência como primeiro-ministro entre julho de 2004 e março de 2005, XVI Governo Constitucional, foi lamentável e caricata. Estava a deixar o país à deriva. Lembro a caótica confusão na colocação de professores em 2005 quando era ministra da educação Maria do Carmo Seabra.

Foi o auge da promoção de “santanetos” e de “santanetes” deixando pelo meio algumas tristes experiência governativas cujo realismo deixou muito a desejar. Face ao que ele tem afirmado por aí não se augura nada de bom se ele for eleito para líder do partido. Terão sido anticorpos de Rui Rio dentro do partido (talvez os da ala neoliberal de Passos) que moveram apoios a Santana.

Há vozes a criticar o almoço de Marcelo Rebelo de Sousa com Santana Lopes sendo visto como um apoio disfarçado. Talvez seja porque seja mais fácil lidar com ele do que com o assertivo Rui Rio.

Rui Rio parece estar empenhado em retirar ao partido a conotação de direita fazendo-o regressar à social democracia o que parece ser difícil devido à camada neoliberal instalada. De qualquer modo não prevejo que venham a verificar-se grandes mudanças. Contudo, poderá ser através dele o caminho mais viável para fazer oposição ao PS na legislativas de 2019.

A ver vamos como decorrem as diretas em janeiro de 2018.

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publicado às 18:46

A direita, o centro, e a esquerda

por Manuel_AR, em 14.10.17

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Tenho vários “posts” em que aponto Passos Coelho como causador do PSD ter abandonado a matriz ideológica social-democrata do partido ao avançar com um projeto neoliberal e de arregimentando os seus defensores que lá se encontravam encobertos.

Às portas duma nova liderança quem ficar à frente do partido tem que ter a noção das águas em que se moverá e a que correntes terá de resistir. Os comentários e opiniões que começarão a surgir sobre o que deverá ser o partido daqui para a frente serão espalhados pelos ventos da comunicação social e a tendência atual tentará fazer passar a sua mensagem.

No último congresso que reelegeu Passos Coelho o slogan era “Social Democracia sempre”. Rui Rio na apresentação da candidatura afirma que o PSD é um partido do centro, que vai do centro-direita ao centro-esquerda e que “não é nem nunca foi de direita como alguns o têm caracterizado”. Manuela Ferreira Leite tem afirmado o mesmo nos seus comentários semanais. Eu próprio tenho defendido a necessidade do PSD voltar ao seu estatuto de social-democrata. Quando defndia a ideia de que o PSD devia regressar à sua matriz social-democrata centrava-se na esperança de que o partido podesse vir a deixar de ser conduzido pelos neoliberais.

Mas será mesmo assim e irá haver de facto mudança com uma nova liderança?

A resposta, até agora, é não. O ideário político do PSD, na prática, sempre foi de direita, de liberalismo moderado, e a história tem-nos dado provas disso. Teve alguns pequenos desvios pontuais, com alguns episódios de tímida e ligeiramente à esquerda (relativa, diga-se) ou ao centro, para captar algum eleitorado consoante o andamento das circunstâncias políticas do momento. Aliás é frequente os partidos servirem-se desta estratégia. O certo é que a representação que se tem do partido, dada a sua prática, é a de ser conservador de direita. A prova está em que o PSD no Parlamento Europeu, juntamente com o CDS, faz parte da ala conservadora e de direita que pretensiosamente dizem ser de centro-direita. Ao Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas fazem parte o PS, juntamente com o SPD (Partido Social Democrata) da Alemanha e outros partidos socialistas e sociais-democratas.

Voltemos agora às candidaturas à liderança. Um dos que não se candidatou foi Paulo Rangel, que se fosse candidato teria muitas dificuldades em se desmarcar de Passos Coelho. Se ganhasse seria mais do mesmo com algumas nuances.

A mensagem que algum candidato à liderança do PSD quer fazer passar é que o espaço ideológico do partido é a social-democracia, mas este é o espaço do PS. Se assim for a direita fica na mão do CDS e Assunção Cristas tirará dividendos disso ficando com o espaço do seu antigo parceiro de governo.

Depois temos os neoliberais que nos últimos anos tomaram conta do partido e que tentarão evitar heresias ideológicas, mas outros, para garantirem os pequenos poderes, irão converter-se. O PSD para nos enganar a todos está a começar a fazer um tirocínio para ser social-democrata ou até socialista a menos que aparece mais algum que o queira manter à direita onde pertence. Sobre esta tese sou levado a concordar com Rute Lima quando escreve no jornal Público: “De uma forma, de outra ou até entrando André Ventura na corrida à liderança do partido, de uma coisa todos temos a certeza: o trilho, a ideologia, o pensamento e a prática politica do PSD sempre foi neoliberal e o país ainda sofre na pele os resquícios da sua governação conjunta com o CDS.

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publicado às 20:34

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Nas duas últimas semanas nos órgãos de comunicação têm dado relevo a protestos reivindicativos vindo de vários quadrantes profissionais: são os da função pública, da Fenprof, da ASAE, da administração local, da PSP, enfermeiros, etc. Os enfermeiros ávidos por regalias e estatuto esperam para ver. Uns manobrados pelo PCP outros por fações sindicalistas afetos ao PSD.

A minha memória leva-me ao passado recente do governo PSD/CDS quando foram cortados a estas mesmas classes profissionais salários, direitos e regalias e, salvo uma ou outra agitação infrutífera incitada pela esquerda remetiam-se para seu cantinho sem resultados práticos a não ser o protesto com significado político.

Passos Coelho conseguia impor-se pela manipulação das emoções populares através da ameaça e do medo. Ao mesmo tempo demonstrava que a responsabilidade da austeridade era imposta pela troica, o que posteriormente se verificou não ser totalmente verdade. Os que agora vêm para as ruas calavam-se então. Estranho o facto dos movimentos reivindicativos estejam agora centrados neste Governo que tem vindo dentro do possível a cumprir o que prometeu do que o passado governo da direita.

Quer se queira, ou não, estas manifestações reivindicativas são aproveitadas para o protesto político, pese embora o facto da justeza, ou não, das exigências a que chamam direitos que em tempo lhes foram retirados.  

Jerónimo de Sousa, após as eleições autárquicas, deu a tender que as populações só tinham a perder ao desviarem o seu voto e que não tinham dado o devido valor à luta que o PCP tinha encetado pela reposição e recuperação de salários e direitos atribuindo culpas a tudo quanto foi a oposição contra a CDU.

O comunicado emitido pelo Comité Central do PCP é esclarecedor quando diz: “No resultado da CDU fica evidente que muitas das pessoas que durante este período nos dirigiram palavras de reconhecimento pelo papel decisivo do PCP na derrota do governo PSD/CDS ainda não ganharam a consciência da contribuição decisiva do PCP em muito do que foi alcançado na reposição e conquista de direitos e que reside no reforço do PCP e do PEV, e não no PS, a possibilidade de assegurar que esse caminho prossiga e se amplie.”

Posição estranha esta, já que o PCP, tendo um saber político de experiência feito ao longo de anos, tenha desvalorizado durante a disputa da campanha eleitoral por lugares de poder autárquico em que não há amigos e que, por isso, cada uma das forças em presença faz por ganhar. Todavia, terá razão quando afirma que a campanha foi muitas vezes baseada em argumentos falsos e muitas vezes ofensivos. Mas isto é o que se passa em todas as campanhas eleitorais.

Mais à frente, o mesmo comunicado critica a tese neoliberal de empobrecimento enaltecido por Passos Coelho no tempo do seu governo de direita e diz que “A evolução mais recente da economia nacional derrota a tese que identificava o crescimento económico com medidas de agravamento da exploração e de empobrecimento que foram impostas ao povo português ao longo de anos, e dá sustentabilidade à necessidade de aprofundar ainda mais o caminho de reposição de direitos, de aumento de salários, das reformas, pensões e apoios sociais, de resposta a problemas mais sentidos pelos trabalhadores e a população.” O PCP não tendo ainda abandonado a sua visão centralizadora e deslumbrado por economias estatais defende em qualquer contexto tudo quanto sejam reivindicações como se os recursos financeiros fossem infinitos e o orçamento de estado um poço sem fundo.

O PCP ao acionar a correia de transmissão dos sindicatos que controla faz também o jogo de partido populista ao explorar emoções das classes profissionais utilizando para tal o aumento de rendimentos, de regalias e de direitos, sabendo que cada uma delas olha para o seu próprio umbigo. Por seu lado a direita quando não está no poder acompanha e apoia sempre que pode, mas com discrição, os movimentos da esquerda e dos sindicatos onde tem insipiente influência.

Quando a economia cresce um pouquinho, nem deixam assentar. Logo que lhes cheira a dinheiro preparam-se para toda a espécie de reivindicações. Todos querem comer à mesa do orçamento.

Quando depois se dá um a passo maior do que a perna volta tudo ao mesmo. É sempre o mesmo, quando está no poder um governo socialista. Sempre foi assim. Admiram-se depois dos ciclos de austeridade. Mas, quando uma qualquer direita o substitui no poder tudo fica de mansinho e tímidas manifestações surgem que logo se esfumam.

As últimas eleições autárquicas parecem ter demonstrado que nem sempre os partidos que reclamam os louros da recuperação de rendimento, direitos e regalias sociais não são necessariamente os mais favorecidos. Daqui que se pode inferir que não existe uma correlação direta entre os dois factos. Existem outras variáveis que complexificam o modelo de análise.  

Em alturas em que as populações valorizam a estabilidade social nem sempre veem com bons olhos a existência de movimentos reivindicativos excessivos e extemporâneos (que, para os sindicatos são infindáveis) tendo um efeito perverso porque, quando há eleições foi esquecida a fonte do movimento.

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publicado às 20:20

A brecha

por Manuel_AR, em 08.10.17

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O assunto do dia a dia é a substituição da liderança no PSD. Os que não são simpatizantes ou o que pensam que naquele partido nada tem a ver com eles estão muito enganados.

Dois dos potenciais candidatos já desistiram depois duma dita reflexão. E parece que refletiram bem. Abandonaram a hipótese de candidatura à liderança, cada um apresentando as suas válidas razões. Parece que até ao momento estão em campo dois potenciais concorrentes, Santana Lopes, Rui Rio o neorracista e populista André Ventura.

A tendência interna do PSD, pelo que tem saltado daqui e dali pelos órgãos de comunicação afetos aos neoconservadores do partido têm ilustrado rasgados elogios ao líder Passos Coelho e, consequentemente à clique que ele ajudou a construir e que consideram com antigos e obsoletos todos os que pretendem que o partido regresse à sua base social-democrata. Jovens impreparados, de cultura deficitária, cuja ideologia se centra apenas nos interesses pessoais, partidários deixando para segundo lugar os de Portugal.

A herança de Passos Coelho é a fermentação de uma “nova extrema-direita” ainda pouco radical, mas é tudo uma questão de tempo, que deixa o centro vazio que pode vir a ser ocupado pelo CDS de Assunção Cristas. Deixou uma brecha cavada por jovens fogosos que Passos Coelho ideologicamente conseguiu angariar e que terá de ser fechada sacrificando estes ou, então, será ocupada por outros que estão à espreita.

Será por isto que dois dos potenciais líderes deixaram de ser candidatos e os outros estão num dilema porque não saberão se conseguirão lidar com esta estrutura radical infiltrada no PSD.

O que acontece é que alguns dos tradicionais eleitores do PSD ainda não se aperceberam do que está a acontecer e outros ainda sonham com as ideologias passadistas do tempo do Estado Novo que quer reconstruir ao modo século XXI.

O PSD, com a ajuda dos seus órgãos de comunicação social, está a seguir numa direção de direita radical e a combater o recentrar político do PSD facilitando a ocupação desse lugar, possivelmente para o CDS.   

O PSD está a ficar nostálgico da fase em que dizia ter que ir para além da troika dos tempos de Passos. Que provas há? São a quantidade de artigos que glorificam a sua dignidade e as suas virtudes e que, segundo eles, apresentam como tendo sido o melhor primeiro-ministro de sempre.  Para esta gente é o PSD o partido que pode continuar a política agressiva que corresponde a uma ideologia próxima do populismo de Trump, versão à portuguesa. Uma política agressiva que corresponda em primeiro lugar aos seus interesses à sua visão neoliberal do mundo.

Sobre a deriva do PSD para a direita radical escreveu hoje Pacheco Pereira no jornal Público:

«Eles sabem o que é importante, como a nossa alt-right sabe que sem Passos e com um PSD menos controlado ficam reduzidos a um pequeno grupo extremista, ou então tem que se dedicar ao CDS, que é um fraco instrumento, ou tentar fazer um partido “liberal” que, com um sistema político bastante bloqueado como o português, é uma tentativa de muito pouco sucesso previsível. Acresce que a direita tipo do PNR não lhes serve para nada, visto que é o exercício do poder político que lhes interessa e não a ortodoxia política, nem mimetismos das “frentes nacionais” europeias. Como tiveram a sorte grande, agora não lhes basta a terminação.»

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publicado às 11:22


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