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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Tenho profundo respeito por quem professa uma religião e tem fé, seja la com base cristã ou não, quando a mesma assenta numa base sincera da sua crença e contribua para a formação de valores espirituais e sociais do Homem. Nada tenho contra quem, de forma ativa e militante, a vive e a pratica.
Em campo diferente mas de certo modo semelhante, situo os apoiantes e admiradores do desporto, nomeadamente do futebol, que, não fazendo parte do domínio da fé como a religião, é vivido pelos adeptos quando se mobilizam para apoiar os seus clubes sem que disso lhes advenha qualquer prejuízo ou vantagem a não ser o prazer de uma vitória ou o desgosto de uma derrota.
As multidões que se movimentam naqueles dois campos são imensas. Veja-se o caso de Fátima nas datas mais comemorativas das aparições para onde se deslocam, em peregrinação ou não, pessoas das mais diversas classe e estratos sociais procurando algo milagroso que cure os seus males espirituais e ou materiais. Numa atitude meramente de fé procuram algo que circunstâncias pessoais fizeram perder, ou a sociedade não lhes concedeu ou retirou, sem qualquer certeza de que, esse algo, venha a ser obtido ou concedido, julgando previamente que o que procuram não está nas mãos do Homem nem da sociedade, mas apenas numa crença que ultrapassa o domínio da razão.
Em contraponto, quando se trata da necessidade de adesão em massa para atos concretos que não sejam meramente de fé, cujo objetivo é reivindicar ou opor-se a algo que contribua para modificar uma realidade social vivida no domínio do concreto, mesmo que cada um se sinta prejudicado em particular, a capacidade de mobilização é menor. Num contexto social, a consciência político-partidária e grupal sobrepõe-se racionalmente, equacionando em cada um temores, incertezas, desconfianças, que condicionam uma participação que poderia contribuir, sem ser somente no domínio da fé, para modificar as suas vidas. A adesão a expressões públicas e coletivas de um sentimento, de um desagrado ou de uma opinião está muita aquém daquelas que são expressas no domínio da fé, do abstrato e do incerto.
Porque será que, no domínio do real e o concreto, a fé de muitas pessoas na sua própria voz deixa de existir?
Nós, portugueses, somos o melhor povo do mundo, mas estamos condenados ao inferno.
Há certas coisas em que temos que colocar a emoção de lado quando se fala ou se escreve, e não se deve sobrepor à razão mas, as às vezes, nem sempre é possível face às opções, discriminatórias que os governantes tomam.
O caso do IMI-Imposto Municipal sobre Imóveis é um deles. Já pensaram que os estádios de futebol e as propriedades da Igreja não pagam IMI e que ultrapassm os muitos milhões de euros? Compreendo que os edifícos que sejam templos de qualquer religião devam ficar isentos, mas e as outras propriedades e que são muitas? E o mesmo se pode dizer dos campos dos clubes desportivos.
Penso haver algum receio, por parte da igreja, na pessoa do Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, pelas manifestações que o povo faz na rua face a tudo o que se está a passar e ultrapassa as marcas do possível. Aliás isto não é novidade, porque a igreja foi sempre, através dos séculos, aliada do poder sempre e quando ele éera mais opressor, salvo raríssimas exceções.
A igreja sempre necessitou dos pobres para poder manter a sua influência, sem menosprezo das ações meritórias que pratica. Afinal de
que é o Sr. Cardeal tem medo? Há muitos católicos que se sentem no direito de se manifestar contra a pobreza que existe e que se agravará a muito curto prazo.
Assisti a semana passada na RTP Memória a uma retrospetiva sobre o ilusionista português Luís de Matos, detentor de vários prémios de entre os quais se destaca o Magician of the Year em Hollywood. Lembro-me de vários espetáculos apresentados na RTP e dos seus extraordinários truques de mágica.
De facto somos um país de mágicos e de ilusionistas pela forma como aparecem e desaparecem da opinião pública e da comunicação social muitos acontecimentos como se de truques de mágica se tratasse. Pensei apenas em alguns. O mais recente é o caso do ministro dos assuntos parlamentares, José Relvas e o caso das alegadas pressões sobre jornalista do Jornal Público e do caso das secretas. Assim como apareceu, também desapareceu. Nunca mais se ouviu falar em tal. Terá sido o europeu de futebol o truque de mágica que fez os desaparecer?
O caso da justiça, por exemplo, nos casos de corrupção e outros em que se encontram nomes conhecidos da política, dos bancos, pessoas com poderes e influência política e financeira que, quando são indigitados como culpados, as investigações duram até à exaustão aparecem e desaparecem dos canais de informação sem que se saiba depois o que aconteceu. Isto é, sabe-se, os processos prescrevem, as sentenças arrastam-se, de outros nunca mais se sabem as conclusões e a outros nada acontece… Sabe-se lá que mais! A nossa justiça não passa de uma ilusão muito bem orquestrada. Alguém conhece, de entre os nomes e casos mais sonantes e conhecidos, que tenha sido de facto condenado e preso? Não, não falo de preventivas com pulseira eletrónica nas suas mansões. Se conhecerem digam-me!
Nós, portugueses, sabemos de tudo isto e ficamos como que meio sonâmbulos com os passes de mágica que se desenrolam à nossa frente. Rapidamente tiram-nos desse palco de circo e levam-nos para os relvados de futebol e, então, maravilha das maravilhas, também por magia, esquecemos todas as agruras e tristezas. Tudo o resto não interessa desde que haja futebol E, para além do mais, diz o povo, que havemos de fazer!? Mas será queo futebol e o euro 2012 nos vai trazer emprego, mais economia, menos austeridade, mais exportações? Lá dinheiro gasto isso sim nos trouxe o euro. Enquanto os jogadores dos países com menos problemas do que nós ficam alojados em hotéis mais económicos nós, como somos grandes, vamos para hotéis de luxo. E quanto gastou a RTP na despedida do jogadores com o helicóptero a acompanhar o avião?
Mas o que podemos nós fazer, perguntarão alguns! Nada. Olhar passivamente para todos os truques e ilusões com que nos brindam neste espetáculo e esperar quatro anos para que os mesmos ou outros mágicos e ilusionistas venham ocupar o mesmo palco, não com novas ilusões e mágicas mas, quase e sempre com as mesmas, embora mudem os “partenaires”. Mas talvez comecemos a estar fartos deste espetáculo e dos mesmos mágicos e passemos a ter que contratar outros que nos mostrem os truques para não andarmos iludidos!
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