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A primeira página do Diário de Notícias de hoje noticia, na primeira página, que número de agressões, físicas e verbais, registadas em 2014 foi de 477, até outubro. Ministério Público já investigou 16 caso. Isto é revelador sintomático do que se está a passar nos hospitais. Para o ministro da saúde e para os seus secretários de estado está tudo a funcionar bem, e melhor do que antes. Para eles inserem-se no domínio dos casos pontuais.

A elevada carga de impostos que caíram sobre os portugueses não serviram para melhorar os serviços e muito menos o Serviço Nacional de Saúde, esvaem-se no pagamento da dívida e dos juros que são impagáveis.

A dívida pública subiu para 128,7% do PIB no final do ano. A ministra das finanças justificou o aumento da dívida pública em 2014 com o reforço do financiamento nos mercados, (a tão publicitada ida aos mercados cuja procura foi superior à oferta), no final do ano para antecipar os reembolsos ao FMI - Fundo Monetário Internacional. Foi positivo porque se pagam menos juros pelo empréstimo. Escusado seria andar a enganar, com subtileza verbal, quem a ouvia propagandear que tinha conseguido amortizar a dívida ao FMI sem dizer como e donde tinha vindo o dinheiro. Disse-o agora. Mais vale tarde do que nunca.

Relativamente aos problemas nos serviços de saúde e nos hospitais uma forma de os resolver parece ser o de chamar as atenções na praça pública para que alguma coisa se faça ou melhore. Vejam-se o caso de um doente com hepatite C que se indignou na Assembleia da República e as demissões de médicos nos hospitais. Nestas circunstâncias aparecem logo autorizações o dinheiro para tudo se fazer para calar a opinião pública. Com a aproximação do período eleitoral surge, miraculosamente, "elasticidade orçamental", para calar as vozes de revolta contidas. Devido ao ajustamento, culpa do passado diziam e ainda dizem, tinham que se fazer cortes em tudo quanto era serviço público a que Passos Coelho e o Governo deixando o cidadão comum a ficar sem serviços básicos.

O primeiro-ministro ficou deslumbrado com os cortes a que chamou na altura poupanças, e o desastre que provocou na saúde foi consequência da ideia devota de que, na saúde, os portugueses também viviam acima das suas possibilidades. Se é certo que houve alguma despesa desnecessária no sector da saúde, isso era devido à falta de controlo e de rigor, coisa que não resolvia sem a obsessão pelos cortes.

Em geral, para quem frequenta o SNS é notório o mal-estar endémico, contido, por vezes mal disfarçado, dos profissionais face ao doente que tem necessidade de recorrer aos serviços. As pressões são tantas que um certo receio se apoderou dos próprios médicos quando têm que fazer de prescrições de medicamentos e requisições de meios auxiliares de diagnóstico o que gera nos doentes uma desconfiança sobre o seu médico de família e o receio de falta de diagnóstico antecipado de suspeita de doenças graves. Há, portanto, um receio por parte dos clínicos de tomadas decisão que saiam fora dos parâmetros estabelecidos pela tutela e pelos diretores dos serviços clínicos.

Para aquela gente os portugueses têm que, obrigatoriamente, ter saúde e pronto. Se não a não tiver o problema é dela.

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publicado às 18:59

Injustiçado ou perda da razão

por Manuel_AR, em 20.11.13

 

 

"Esta crise é uma oportunidade de bondade,

de caridade, de solidariedade. Bendita crise 

que nos trouxe ao essencial."

César da Neves

 

 

 

Esta vítima da injustiça humana só pode ter perdido a razão…

Agora passarei a ser mais um inimigo que o condena não à morte, mas à tolice mórbida.

 

César das Neves entrou num estado de espírito que é dominado pelas emoções ou pelos sentidos com perda da noção da realidade circundante, quero dizer, entrou em êxtase. Para o confirmar basta ler o arquivo que escreveu no Diário de Notícias no dia 18 de novembro.

O que este senhor amigo dos pobres, como se pode confirmar pela sua entrevista à TSF no dia 17 de novembro é um pregador, qual bispo da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) que foi predestinado para pregar a redenção das almas pecadoras, qual profeta enviado do reino de Deus se vê cruxificado.

Num dia afirma que "obrigar empregadores a pagar mais pelo trabalho é dificultar a vida aos desempregados com menores habilitações.". Aqui está uma subtil forma de colocar uns contra outros. Pois… Vejamos a ideia: vale mais ter menos ordenado e ter trabalho do que aumentar o ordenado mínimo porque beneficia os têm mais qualificações. Portanto… Tirem as conclusões que cada um quiser. Anda contra a corrente, inclusivamente dos parceiros sociais e da OIT (Organização Mundial do Trabalho) esta que apresentou um relatório onde aborda aquela e outras questões sobre o trabalho.

Se tinha dúvidas agora deixei de as ter, César das Neves é o eleito, e um mandatário de alguns setores do PSD e do governo para dizer aquilo que não podem ou não querem dizer publicamente.

 

Logo no dia seguinte uma explosão de confirmação do seu credo e profissão de fé (talvez para agradar ao D. Policarpo ex-cardeal de Lisboa). César das Neves considera-se o eleito pelo qual Deus, por Jesus Cristo, morreu para o salvar a ele, a vítima da humanidade. Claro que o artigo é suposto ser uma ironia aos que ele considera como inimigos.

Veja-se esta grande tirada irónica dirigida aos que o criticam a ele, o incompreendido:

 

"As razões da condenação acumulo-as a cada momento. Pequenas e grandes traições, mentiras e violências, egoísmo e mesquinhez; sobretudo a terrível tibieza e mediocridade em que mergulham os meus dias. De fora não se vê a podridão que tenho dentro. Nem os meus inimigos, que têm tanta razão nos insultos, nem eles sabem do mal a metade. Sou todos os dias muito justamente condenado à morte."

 

E mais esta:

 

Mas não sou eu que estou ali pendurado. É Ele. Ele, a única pessoa a poder dizer com verdade não merecer a morte, é Ele que está ali. "Jesus estará em agonia até ao fim do mundo" (Pascal , 1670, Pensées, ed. Brunschvicg n.º 553, ed.Lafuma n.º 919). Ele está em agonia, e a culpa é minha. E graças à morte d"Ele a minha tem remédio. A morte, em si mesma, é definitiva. Quem morre fica morto. Mas porque Ele quis morrer por mim, a minha morte tem saída. A minha morte pode ir para a vida. Se me agarrar a Ele, o único que voltou da morte.

 

Quem morre fica morto!!? Fez-me lembrar a Lili Caneças que uma vez disse, estar vivo é o contrário de estar morto.

 

Esta vítima da injustiça humana só pode ter perdido a razão… Agora passarei a ser mais um inimigo que o condena não à morte, mas à tolice mórbida.

A mistura de religião com política e com a economia passou a ser transcendente e, ao mesmo tempo servir para ironizar com o próximo. Ele esqueceu-se do primeiro mandamento que diz "não invocarás o santo nome de Deus em vão".

 

Em "post" anterior, sob o título "Os polémicos paradoxais", escrevi sobre os comentadores polémicos sem referir quaisquer nomes. Aqui está um, entre muitos, dos que poderiam constar. Penso até mais,ao escrever estas linhas, apesar dos meus poucos dotes para a escrita e um entre muitos desconhecidos, acho que lhe estou a dar a importância que nem sequer merece.

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publicado às 16:05

O caso do memorando mal desenhado

por Manuel_AR, em 17.03.13
Imagem de: http://sergeicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_10.html

Miguel Frasquilho ao comentar frente as câmaras de televisão o resultado da conferência de imprensa de Vítor Gaspar sobre a 7ª avaliação da “troika” proferiu publicamente o maior disparate ao dizer que tudo o que se está a passar com o memorando é porque ele foi mal desenhado no seu início. Desculpa mais inconsistente não poderia existir. O Deputado Frasquilho veio apenas demonstrar que tem memória curta e que a desorientação em que se encontram os deputados que apoiam o governo estão sem controle já que recorrem a argumentos insustentáveis. Embora já comece a não ter qualquer impacto estar continuamente a recorrer ao passado como desculpa para o presente, fazer afirmações como aquelas apenas comprometem o PSD e o CDS.

Senão vejamos, cronologicamente, através da imprensa ao tempo das negociações do memorando, quem esteve envolvido nessas negociações e quem as reivindicou como tendo tido grande influência nas mesmas.

Depois de se lerem estas declarações não vale a pena fazer maios comentários. Cada um tirará as suas ilações.

 

12 de Abril de 2011

Jornal i

Passos Coelho disse ontem em entrevista à TVI que vai esperar que o governo assuma a sua responsabilidade de negociar com o FMI, mas deixou um alerta a José Sócrates: "Não há acordo sem o PSD."

Passos Coelho confirmou que será a equipa que está a preparar o programa de governo dos sociais-democratas, liderada por Eduardo Catroga, que irá depois negociar o acordo de ajuda externa a Portugal, que deverá passar por uma "verdadeira austeridade para o Estado, mas não mais para os cidadãos".


19 de Abril de 2011

Jornal i

A equipa do PSD que está hoje a discutir com o FMI, BCE e Comissão Europeia as condições do resgate financeiro de Portugal é composta pelos economistas Eduardo Catroga, Abel Mateus e Carlos Moedas, disse à Lusa fonte do partido.

A 'troika' do FMI, Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia chegou à sede do PSD cerca das 09:30.

 

3 de Maio de 2011

Jornal SOL

Catogra negociação foi essencialmente influenciada' pelo PSD.

 

O economista Eduardo Catroga afirmou hoje que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal «foi essencialmente influenciada» pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

Afirmou ainda que o PSD terá autonomia, se for Governo, para substituir eventuais «medidas penalizadoras para os portugueses» do programa de ajuda externa a Portugal por outras que cumpram os mesmos objetivos

 

3 de Maio de 2011

Jornal Público Economia

O economista Eduardo Catroga afirmou esta terça-feira que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal "foi essencialmente influenciada" pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

Numa declaração aos jornalistas, em nome do PSD, na sede nacional dos sociais-democratas, em Lisboa, Eduardo Catroga considerou que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" dos sociais-democratas.

Segundo Eduardo Catroga, o primeiro-ministro, José Sócrates, agora apresenta-se "como vítima e como vencedor de uma negociação que foi essencialmente influenciada pelo principal partido de oposição".

 

3 de Maio de 2011

Diário de Notícias


O economista Eduardo Catroga afirmou hoje que o PSD terá autonomia, se for Governo, para substituir eventuais "medidas penalizadoras para os portugueses" do programa de ajuda externa a Portugal por outras que cumpram os mesmos objetivos.

Numa declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas, na sede nacional do PSD, em Lisboa, Eduardo Catroga referiu ter defendido este princípio de autonomia junto da "troika" composta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), "independentemente dos objetivos que vierem a ser definidos para o período 2011-2014".

"E houve uma adesão a este princípio de que o PSD, se for Governo, fica com autonomia para propor um novo 'mix' de políticas, se por acaso aparecerem amanhã [quarta-feira] surpresas de medidas penalizadoras para os portugueses", acrescentou o antigo ministro das Finanças.

"Negociação foi essencialmente influenciada" pelo PSD

Eduardo Catroga considerou que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" dos sociais-democratas.

 

4 de Maio de 2011

Jornal Público


Eduardo Catroga, que lidera a equipa do PSD no encontro desta manhã com atroika, afirmou à entrada para a reunião que o acordo alcançado ontem entre Governo e a Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) “é preferível ao chamado PEC 4”.

Mesmo com a assinatura de um acordo, o economista sublinhou que não deixará de “fazer reservas técnicas” ao documento.

Depois de conhecidas algumas das medidas que fazem parte do acordo de ajuda financeira anunciadas na noite passada pelo primeiro-ministro, José Sócrates, Eduardo Catroga afirmou que estas são melhores do que algumas das inscritas no PEC 4. “O modelo é preferível ao chamado PEC 4”, considerou, acrescentando que este será “um processo mais interessante do ponto de vista estratégico para a economia portuguesa, cujo principal problema o crescimento económico”.


4 de Maio de 2011

Diário Económico


Governo diz que conseguiu "um bom acordo". Catroga garante que posições do PSD foram cruciais para o resultado final.

Ontem, quando Sócrates anunciou o acordo com a ‘troika', começou por dizer que o governo tinha conseguido "um bom acordo." Minutos depois, Eduardo Catroga puxou para o PSD o resultado das negociações. "A negociação foi essencialmente influenciada pelo principal partido da oposição"


4 de Maio de 2011

Jornal Expresso


Eduardo Catroga disse que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" do PSD, sendo que o acordo entre o Governo e a troika é "melhor que o PEC IV"

O economista Eduardo Catroga afirmou que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal "foi essencialmente influenciada" pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

O antigo ministro das Finanças alegou que a "troika" composta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela Comissão Europeia (CE) percebeu a "estratégia diferenciadora" do PSD "quanto à qualidade da consolidação  orçamental, quanto à necessidade de virar agora a austeridade, não para as pessoas, mas para o Estado, quanto à necessidade de a austeridade ter mais justiça social".

"O Governo perdeu a batalha de querer convencer que as medidas do PEC IV eram as melhores para o país, de que a trajetória do défice o público era a melhor para o país, perdeu a batalha de não considerar conjuntamente com as medidas de austeridade do Estado", defendeu.

De acordo com Eduardo Catroga, as "informações gerais" que foram hoje conhecidas sobre o programa de ajuda externa a Portugal mostram que "o chamado PEC IV estava ultrapassado e que as medidas nele constantes eram insuficientes, na medida em que há um  reconhecimento de que o défice para 2011 é bastante superior".

"Como também se conseguiu demonstrar, como, aliás, o presidente do PSD em tempos já tinha dito, que era necessário rever a trajetória do défice que o Governo, inconscientemente, tinha acordado com Bruxelas", disse.

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publicado às 17:16

Mas que filme é este?

por Manuel_AR, em 26.01.13

Muitos nos lembramos como estávamos há 20 anos, e como tudo melhorou tão depressa

Fonte: Diário de Notícias de 21 de janeiro de 2013 , p.54

 

 

João César das Neves, economista, professor universitário da Universidade Católica, onde toda a sua formação e percurso académico se sucederam, ex-assessor de Cavaco Silva quando este era primeiro-ministro, escreveu no Diário de Notícias de 21 de janeiro do corrente ano um artigo, dito de opinião, denominado “Estão a ver o filme?”. Não nos podemos esquecer que foi no tempo daquele primeiro-ministro que se iniciou a destruição do nosso tecido produtivo e se construíram obras megalómanas e sumptuárias como, por exemplo, o edifício da Caixa Geral dos Depósitos e do Centro Cultural de Belém. Como algumas, que durante  o anterior governo se construíram,  mas de bem menor custo.

O artigo mais parece, em alguns pontos, um panfleto digno de partidos radicais e ofensivo para a maioria dos portugueses como se irá ver. Penso que, o autor, apesar de gostar de ser polémico não deve dar-se ao direito de ofender a maioria dos portugueses quando lhes atribui a causa principal da crise. Ser polémico pode ser uma forma de dar nas vistas e, como alguns dizem, não interessa que se fale mal de mim, o importante é que se fale.

Os comentários políticos são, por vezes, jogos de linguagem que variam de pessoa para pessoa, de acordo com pontos de vista que, neste caso, se fixam em repetições sucessivas seguindo a “voz do dono”. O artigo em questão não traz nada de novo a não ser as versões já conhecidas que o Governo e os comentadores afetos têm vindo, ao longo deste dois últimos anos a reproduzir da forma que atrás designei como a “voz do dono”, que mais parece uma cassete idêntica à do PCP no passado, mas em sentido contrário.

Como já é conhecido, o tal relatório do FMI, denominado em português Repensar o Estado – Opções Selecionadas de Reformas da Despesa, foi encomendado pelo Governo com custos para nós contribuintes (não foi por certo gratuito) e, como tal, seguiu as orientações do seu programa político que não foi revelado aos portugueses na devida altura. Serve apenas como escudo para justificar medidas que sabem ser objeto de contestação. Aliás, soube-se agora pela comunicação social que um dos participantes no relatório era uma fraude.

Para o autor, os “direitos adquiridos” são o “outro nome da doença” mas “que há direitos básicos que o país tem de garantir a todos” não diz é quais. Será que restarão alguns porque, quase todos, estão a ser postos em causa de uma forma ou de outra. Os que se referem diretamente às necessidades dos cidadãos são considerados despesas supérfluas que têm que ser reduzidas e podem muito bem passar para iniciativa privada para que, apenas alguns, possam usufruir delas. Os restantes, a maioria, ficarão dependentes da caridadezinha e do assistencialismo.

Concordo com o autor em que as reformas já deviam ter sido “discutidas há décadas e sempre adiadas”. Todavia, querem agora que, à pressa, sejam executadas em alguns poucos meses. Será que os senhores especialistas acham, honestamente, que uma reforma tão importante como esta se pode executar em poucos meses? Tenham paciência! Quem não teve competência para redigir um relatório idêntico ao que compraram, não se lhe reconhece competência para o pôr em prática.

Mesmo os não especialistas que leiam o relatório e o comparem com os aplicados noutros países que foram intervencionados pelo FMI chegarão à conclusão de que a receita é a mesma. Cada país tem as suas especificidades e, mesmo que intervencionados, há que ajustar as medidas às suas realidades, à sua cultura. Não somos propriamente um país do terceiro mundo de formação recente em que nos querem transformar. O que se tem feito é o mesmo que alguém pedir dinheiro emprestado para comprar uma camioneta para os seu negócio e, quem lho empresta, diz que só lhe concede o empréstimo se comprar antes um carro, embora ele necessite de facto de uma camioneta e, para além disso, tem que reduzir as suas despesas com o negócio e fechar a loja que precisa para vender os seus produtos.

Os chavões, já mais que difundidos pelos comentadores pró-governo, continuam sem parar e, mais à frente, outro estafado argumento que é o de que “estamos ligados à máquina da ajuda externa para sobreviver” e que “temos uma grave crise grave e fundamenta que exige medidas profundas”. Quem não saberá isto? Penso que todos. Quem não estará interessado em resolver a situação? Volto à questão anterior. Fazer tudo em poucos meses?

O mais grave, no meu ponto de vista, é quando se afirma que, e passo a citar: “Muita gente está plenamente convencida que a crise se deve a um punhado de maus (corruptos, incompetentes, esbanjadores) e, pior, que basta eliminá-los para tudo ficar normal. Nas atuais circunstâncias esta fantasia é irresponsabilidade criminosa. Num momento tão decisivo e doloroso, acreditar em tolices dessas só aumenta sofrimento de tantos, prejudicando a urgente solução do problema”. É mais que evidente que ninguém pensa assim, mas há que denunciar. Implicitamente para o autor os que falam dos escândalos, não os escondem e os denunciam, são uns tolos e uns criminosos irresponsáveis. Aquele tipo de afirmações recorda a censura prévia no Estado Novo, que cortava tudo o que, no momento, era considerado como irresponsabilidade criminosa face às situações vividas na altura e ia contra o pensamento dominante.

Claro que “Não há corrupções, incompetências e desperdícios que cheguem para justificar uma coisa destas”, isto é, o ponto a que chegámos. Todos sabemos que a crise e a despesa pública não advieram daqueles que agora o autor parece querer purificar mas que para ela também contribuíram e bem, levando bancos quase à falência que foram recuperados com o dinheiro dos nossos impostos. Ou, não será isto, verdade? Basta recordar o caso BPN e outros, para o qual os nossos bolsos acudiram e ainda acodem para repor o que foi sonegado para benefício de alguns que agora andam apor aí impunemente. Será que o autor nega isto?

É evidente que não foi apenas isto que nos levou à crise. Mas o que podemos dizer, por exemplo a desregulação financeira mundial para a qual George Bush e outros nos trouxeram. Ou será que, a crise mundial e nacional nasceram de geração espontânea? Não, para o autor, implicitamente, o capital e a manipulação financeira em nada contribuíram para a crise, foi a “vida em comum e os hábitos dos cidadãos honestos a gerá-lo”. Isto é, os verdeiros culpados foram os cidadãos, os portugueses, conforme várias vezes, e por outras palavras, tem vindo a ser afirmado por Passos Coelho desde o início do mandato.

Se atentarmos na fotografia inserida no referido artigo que tomei a liberdade de incluir com a devida vénia, a legenda “Muitos nos lembramos como estávamos há 20 anos, e como tudo melhorou tão depressa” leva-nos a tentar pensar que a purificação e a redenção dos portugueses apenas se fará com uma austeridade que os faça regressar até ao tempo que a fotografia representa. Interpretação abusiva? Talvez, mas cada um fará a leitura que entender das entrelinhas, o que nem é necessário porque explicitamente afirma que “Temos de viver com as nossas possibilidades. Durante uns tempos até um pouco abaixo para aliviar as dívidas de se ter vivido demasiado tempo acima delas”.

A questão que lhe podemos colocar enquanto economista é como iremos pagar os empréstimos e vivermos de austeridade sem investimento, logo sem crescimento? Quantos anos são precisos, não para crescer apenas 0,1 ou 1%. Talvez 20, 30 ou mais anos?

Vamos esperar pelo investimento estrangeiro? Se assim for, teremos que, como popularmente se diz, esperar sentados. O investimento estrangeiro irá, sem dúvida, para países como por exemplo a Roménia, a Croácia, a Bulgária, a Estónia, Eslováquia, a Polónia, com os mais baixos PIB per capita  a U.E., mesmo que acabemos por ficar iguais ou pior do que eles. Estrategicamente a proximidade dos mercados consumidores é, atualmente, muito importante devido ao custo dos transportes. Nós, os portugueses, continuamos, quer queiramos, quer não, na periferia geográfica da Europa da qual estamos também a ficar cada vez mais distanciados como mercado de consumo não atrativo. Ah! O Turismo! A ver vamos!

Quanto ao investimento de capital português ele irá continuar a ser ao nível das pequenas e médias empresas familiares destinadas apenas ao débil consumo interno, o qual, irá continuar a degradar-se devido ao empobrecimento. Apenas em lojas destinada a uma classe social que, na sua essência, não será atingida e outra que virá de fora nomeadamente de Angola. Todo o dinheiro é bem-vindo para o investimento, o que duvido é que seja depois injetado na economia real. Por outro lado, dá menos trabalho e menos preocupações, a quem tem capital, investir em produtos financeiros mais rentáveis, se possível fora de Portugal.

Acho curioso que todos os que defendem a manutenção de uma austeridade agressiva e o empobrecimento podem fazê-lo porque, mesmo sendo afetados pelos impostos, não sofrem cortes nos salários e sabem, à partida, que não ficam sem emprego, que continuam a frequentar médicos privados, que continuam a poder viajar quando e para onde quiserem, etc.. Isto é, a crise não os afeta na substância, na mesma proporção que à maioria. Por isso, aconselham para os outros, quanto mais austeridade melhor, em nome da credibilidade de Portugal! Como a nossa produção e criação de riqueza são baixas e não são suficientes temos que recorrer à colocação de títulos de dívida pública nos mercados. Mas os portugueses não comem credibilidade dos mercados! Por mais que se elogie a nossa (deles) credibilidade junto dos mercados, os êxitos da colocação de títulos de dívida pública não vão criar empregos nem alimentar os portugueses, apenas nos trazem mais dívida.

Não, não estamos a ver o filme! Mas que filme o autor quer ver realizado?

Direita? Esta é que não! 

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publicado às 21:34


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