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Não há trabalho sem empresas

por Manuel_AR, em 01.05.18

Dia do trabalhador.png

Hoje festeja-se o 1º de maio, dia do trabalho e dos trabalhadores. Por todo o lado sindicatos e organizações de trabalhadores juntam-se e manifestam-se mostrando que podem ser uma força quando unidos. Mas, apesar de tudo, o trabalho não existe sem empresas, sejam elas privadas ou estatais, ambas só sobrevivem se tiverem viabilidade e derem lucro. O mesmo se passa no caso das empresas estatais. Quando estas últimas dão prejuízos será o Estado, através dos impostos pagos pelos trabalhadores, que os irão cobrir. Quando dão prejuízos sucessivas não há investimento e não crescem, entram num marasmo. É um círculo vicioso. No caso das empresas privadas, estas acabam por fechar e lançar trabalhadores no desemprego. Em ambos os casos não há almoços grátis.

Partidos como BE e PCP, que se afirmam como a verdadeira esquerda, não confiam em democracias liberais onde há livre iniciativa privada falam das empresas e dos patrões como sendo coisas dispensáveis e exploradores do trabalho.

De facto, a exploração da mão de obra barata continua infelizmente a ser, num mundo onde o objetivo é a obtenção do lucro máximo no mínimo tempo é a atitude de muitas empresas, sobretudo as pequenas e médias.

O objetivo de qualquer empresa privada, quando é criada, independentemente da atividade a que se vai dedicar, é a obtenção de lucro. Para tal, uma das reivindicações das associações patronais é a desregulamentação do mercado de trabalho, justificada com argumentos, muitas das vezes falaciosos, com a contrapartida da criação de postos de trabalho como foi durante no anterior governo de direita. Comparo este tipo de argumentos às de um sujeito insaciável que vai comendo até rebentar. Quero com isto dizer que, por mais desregulamentado que fosse o mercado de trabalho, empresas e patrões irão querer sempre mais. Os sindicatos com reivindicações salariais fazem o mesmo, mas em sentido inverso. Não raras vezes têm contribuído para a destruição de empresas para as quais não apresentam alternativas nunca mais voltando a laborar.

Quanto às empresas e aos patrões, felizmente a minoria, seria uma espécie de solução final que transformasse o trabalhador num ente sem proteção, numa mão de obra dócil que conduziria a uma pré escravatura. Isto é, trabalho com a remuneração mínima que fornecesse apenas as necessidades energéticas e outros bens essências para a sua subsistência para poder continuar a trabalhar. Uma Revolução Industrial atualizada e adaptada ao século XXI, como a do início do século XVIII na Inglaterra durante a qual “as cidades ofereciam condições deploráveis aos seus habitantes, transformando-se em locais propícios à difusão de doenças. As fábricas exploravam os trabalhadores, numa tentativa obsessiva de produzir a maior quantidade de produtos possível ao menor preço, recorrendo à mão-de-obra mais barata: mulheres e crianças. Estes seres, tentando equilibrar o orçamento familiar, sujeitavam-se, em conjunto com os homens, às longas horas de trabalho, à rotina, aos baixos salários, à falta de segurança e de condições de higiene. Efetivamente, os resultados humanos desta revolução foram catastróficos.”, como pode consultar aqui.

A exploração de mão de obra barata, próxima da verificada na Revolução Industrial inglesa, existe no nosso século, como por exemplo no Bangladesh onde existem condições precárias de trabalho e onde a indústria têxtil internacional beneficia dos custos de mão de obra mais baixos do mundo. Caminha-se para uma Revolução Industrial atualizada, melhorada e adaptada ao século XXI com outros ingredientes. Poderão dizer alguns que estas teses são de inspiração marxista. Não, não são, são históricas e factuais.

Todavia, a regulamentação do trabalho pode sempre travar aquele potencial caminho, mas não será hostilizando empresas e patrões o objetivo mais eficaz. As formas de pressão para a obtenção de melhorias das condições de trabalho são várias e estão nas mãos das organizações de trabalhadores através da negociação. Os interesses de classe que em terminologia marxista se denomina por luta de classes existem apesar de a direita o querer esconder o sol com a peneira. É tudo uma questão de semântica.

Já estamos muito longe das políticas dos socialismos radicais praticadas no início do século XIX e XX e não será previsível que a tal se volte. As ameaças hoje vêm da extrema direita aparentemente democrática, anti UE e de tendência fascizante que espreitam em muitos países. Um dos argumentos populistas por eles utilizados será o de estar em condições para rasgar as páginas escritas pelas esquerdas que, para eles, sempre foram a causa de todos os males que levaram à destruição das economias e das finanças das nações.

 Os partidos que se afirmam como sendo da verdadeira esquerda, aliados a centrais sindicais de características revolucionárias, fazem prova de vida produzindo confrontos sistemáticos com empresas e patrões que, segundo eles, são instituições e classes exploradoras dos trabalhadores. Enfim, tudo quanto seja investimento privado está sujeito a ataque serrado subtilmente escondido por reivindicações por vezes despropositadas e extemporâneas.

Num regime de democracia liberal, e em liberdade, a iniciativa e a propriedade privada são necessários ao progresso das nações e dos países dos cidadãos e das suas famílias. No congresso Anual da CIP, António Saraiva, secretário geral daquela confederação, (para alguns o perigosíssimo patrão dos patrões), divulgou que, em 2017, 97% do aumento líquido do emprego por conta de outrem foi gerado nas empresas, criando postos de trabalho para mais de 169 mil trabalhadores. O que disse António Saraiva é demonstrado pela queda do desemprego que em março se situou abaixo dos 7,9% sendo as empresas privadas as que geraram mais emprego. É o aumento do emprego por ação da iniciativa privada.

Essencialmente, são as empresas que investem. Mais de “dois terços do investimento em Portugal é realizado pelas empresas. Em 2017, 58% do acréscimo do investimento veio das empresas e só 25% do investimento público e também em 2017, Portugal atingiu o maior nível de crescimento económico em 17 anos por mérito das empresas: são elas que produzem, inovam e exportam”.

Os partidos de esquerda BE e PCP prefeririam que o emprego gerado fosse na sua maior parte público e sabe-se porquê. O controle e a mobilização dos trabalhadores pelos sindicatos é mais eficaz no setor público e sabemos porquê. O número de trabalhadores das empresas privadas que são sindicalizados vão sendo cada vez menos. No que respeita à regulamentação dos contratos de trabalho no setor público é menos flexível e a segurança do emprego é maior daí a maior mobilização.

Sermos uma democracia liberal e com o estado social apropriado não significa, necessariamente, termos partidos neoliberais no poder como foi no passado recente porque anterior há sempre alternativas a estes. Mas dar passos maiores do que a perna com reivindicações excessivas e com sindicatos a reivindicar o que não é possível de momento conduzirá, a prazo, a uma rutura que elevará novamente a direita.  

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publicado às 20:33

Os momentos radicais da Catarina do Bloco

por Manuel_AR, em 12.04.18

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A conduta do Bloco de Esquerda (BE) e da sua coordenadora Catarina Martins, olhando à distância para as próximas eleições legislativas, tem vindo a ser orientada por duas estratégias que se destinam a captar dois tipos de eleitorado de esquerda: os que se situam no campo da influência do PCP e os se situam na ala mais à esquerda do PS.

Se algumas vezes Catarina Martins mostra um rosto menos radical, conciliador até, afastando-se do radicalismo do PCP, outras, mostra um rosto de ameaça, uma rutura com o partido que lá vai apoiando no Parlamento.  A mensageira do BE, Catarina Martins, quer mostrar aos seus apoiantes que lidera a política de oposição à esquerda e, ao mesmo tempo, apoia o partido do Governo no Parlamento.  O PCP por seu lado tem-se mostrado mais sóbrio com uma responsabilidade q.b. A sua movimentação faz-se mais através dos sindicatos e organizações de trabalhadores do que na praça pública, mostrando nas suas intervenções públicas para os seus militantes o que lhe vai na alma, dele e do comité central, em relação ao governo do Partido Socialista.   

Catarina Martins quer apresentar um bom resultado eleitoral nas próximas legislativas daí a sua entrada em ebulição com a fervura centrada agora em Mário Centeno em relação à revisão do défice que Centeno quer ver reduzido para 0,7%. Mostrar a Bruxelas o que conseguimos é positivo e pode, no futuro, trazer-nos apoios e credibilidade. A fervura de Catarina Martins leva-a ao ponto de fazer ultimatos para que o ministro das Finanças recue na intenção de ir além das metas do défice definidas com Bruxelas e que use essa folga para investir em serviços públicos. Os avisos saem em tom mais duro e concertado, mas a concretização das ameaças só será conhecida quando o Governo apresentar o documento, conforme notícia do jornal Público que pode ver aqui.

Encontrando-se ainda Portugal numa circunstância para uma consolidação financeira sustentável após a saída da crise e com resultados económicos favoráveis quer agora a esquerda que apoia o Governo no Parlamento que se abram indiscriminadamente os cordões à bolsa.

A direita apoia neste sentido os pontos de vista da esquerda porque lhe interessa que o diabo volte a aparecer para haver argumentos para o regresso ao poder. Se o que não passa de uma ameaça de rutura e esta se concretizar e a direita vier a aproveitar vantagens políticas os portugueses irão penalizar os partidos que ajudaram a essa rutura.  Todavia resta-nos a esperança de que tal não aconteça já que Catarina Martins vai dizendo que "Tudo o que nós queremos é que os compromissos se mantenham", e "que se mantenha o espírito de negociação, de convergência e de cumprir os compromissos que tivemos até agora na maioria parlamentar".

Num artigo de opinião Sónia Sapage no jornal Público diz que “Hoje mesmo, o Governo aprova em reunião de ministros um documento que nada diz à generalidade dos portugueses, o Programa de Estabilidade, mas que pode interferir com a estabilidade governativa. Pode mesmo? Vem aí uma crise? O Bloco saltaria fora da "geringonça" a meses de ser aprovado o último Orçamento do Estado (OE) desta maioria? E o PCP, que não quer ser a peninha no chapéu do Governo, poderia chumbar um orçamento? Até o Presidente acabou a dizer que "uma crise política envolvendo o OE é duplamente indesejável". E termina “Mário Centeno mostra-se inamovível nas suas pretensões de não falhar metas – já lhe basta a percentagem da dívida estar acima do desejável. Não somos todos Centeno, mas não nos iludamos: Costa "é" Centeno. E é daí que vem a força do ministro das Finanças.”.

Não é novidade, pois é por demais conhecido que quem tem mais poderes nos governos europeus são os ministros das finanças serem que têm mais poder nos governos europeus durante a crise e na recuperação que ainda decorre nesta pós-crise que é necessário não deitar a perder o que se conseguiu. Se em muitos setores é necessário investimento público para melhorar serviços há que por enquanto ir com calma valendo mais acautelar do que darmos um passo maior que a nossa perna e é nas finanças que está o segredo.

Aliás, esta nova meta do défice, que se pretende constar no Programa de Estabilidade a ser remetido para a Comissão Europeia até ao final do mês, pretende assumir novas metas e sobre a U.E. são conhecidos os pontos de vista do PCP e do BE em relação.

O BE assim como o PCP, cada um ao seu modo, manifestam o desejo de que, num futuro mais ou menos próximo, a U.E. se desmantele e que Portugal abandone o grupo, mesmo que isso vinha a tornar-se a tragédia do século. Uma situação deste tipo, com a escalada das extremas-direita nacionalistas e xenófobas que se verifica em alguns países da U. E. seria a concretização dessa tragédia. As razões de cada um dos partidos são idênticas. Jerónimo de Sousa disse já depois das eleições, em 2016, que “adesão foi um desastre e a permanência é um desastre ainda maior. Recuperar a soberania monetária é recusar esta sentença. É não nos conformarmos com o subdesenvolvimento, nem com o empobrecimento, nem com a submissão do País. A integração no euro é um grande obstáculo ao desenvolvimento nacional, que tem de ser removido, a adesão ao euro foi um desastre e a permanência é um desastre ainda maior”. Em março de 2017 a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu a urgência de preparar o país para a saída do euro e rejeita que "Numa Europa em degradação, o nosso país não pode ficar alegremente no pelotão da frente para o abismo". Na mesma altura Marine Le Pen dizia que se ganhar presidenciais a União Europeia "vai morrer"

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publicado às 15:24

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Não sou defensor da exploração dos trabalhadores, nem da desregulamentação indiscriminada dos contratos de trabalho, nem do abuso dos horários de trabalho, nem tão-pouco de salários baixos. Todavia, acho que há limites na utilização dos trabalhadores e das empresas como recurso para a concretização de movimentos e formas de pressão, mais ou menos dirigidos, para se obterem dividendos políticos.

O jornal Público numa das suas páginas coloca como título “A paz social na Autoeuropa e outros recados de Natal de Marcelo a Costa” a propósito do Presidente da República ter feito um apelo à paz social na Autoeuropa que pode estar a caminho de uma nova greve.

Não necessito de saber muito do que se passa no interior da Autoeuropa no que se refere à dita luta entre os trabalhadores e a administração da empresa. Basta-me saber o que começa a passar-se quando a CGTP e os sindicatos a ela afetos se intrometem. Não é novidade o que tem acontecido ao longo de décadas e por causa disso muitas empresas saíram de Portugal ou fecharam. Argumento de direita? Chamem-lhe o que quiserem.

Nos últimos anos a anterior Comissão de Trabalhadores negociou com a administração e, normalmente, chegavam a acordo. A Autoeuropa é uma empresa importante para o país e tem sido um dos exemplos de clarividência, quer por parte dos trabalhadores, quer por parte da administração, e um exemplo de como gerir a pacificação social dentro duma empresa, até um dia.

 Esse dia chegou com a infiltração da CGTP de Arménio Carlos, esse dito defensor dos direitos trabalhadores naquela empresa com ânimos agitados pela penumbra que olha em todas as direções onde pode lançar ou aproveitar a discórdia e parece apostada na destruição de empresas necessárias ao país.

Apesar de ter ficado em terceiro lugar com 26,58% nas eleições de outubro passado para a Comissão de Trabalhadores a CGTP está a conseguir manipular os trabalhadores daquela empresa prejudicando a produção e mais agora o sr. Arménio Carlos.

O secretário-geral da CGTP, já se arroga  o direito de falar sobre a estratégia produtiva a médio e longo prazo da fábrica da Autoeuropa em Palmela, que passe pela produção de carros elétricos.

Não sr. Arménio Carlos, não estamos num regime coletivista estatal como gostaria. A Autoeuropa é uma empresa privada e é ela que decide o que irá ou não produzir. Ou será que a que a quer nacionalizar assim como a tudo e acabar com tudo quanto é privado? Até a mercearia da esquina.

A tática da CGTP é sempre a mesma, onde quer que se infiltre é para cria instabilidade nas empresas e nos próprios trabalhadores através de processos reivindicativos, por vezes irrealistas, prejudicando assim as próprias empresas e, potencialmente, os postos de trabalho. Nesta “luta” aparece também o Bloco de Esquerda que, não querendo ficar na sombra, deita achas para a fogueira não querendo ficar atrás do PCP.

A CGTP é uma espécie de rapace que ataca rapidamente sempre que se lhe abre uma oportunidade. Arménio Carlos é um radical de extrema esquerda comandado à distância pelo espírito vanguardista do PCP, levando o BE de arrasto ambos se reivindicando defensores dos trabalhadores. A CGTP segue e fomenta o breviário da instabilidade social nas empresas com promessas vãs de aumentos salariais, redução de horas de trabalho e defesa de direitos para, depois, poderem gritar o estribilho de uma vitória que se poderá vir a ser efémera.

O PCP perdeu parte das autarquias nas últimas eleições, mas quer agora, através da “luta”, ver se consegue mostrar que são os únicos defensores dos direitos dos trabalhadores, por não se ter sido recompensado nas últimas autárquicas. Procura no futuro que lhe coloquem mais uns votinhos nas urnas. Puro engano. Quando os trabalhadores começarem a sentir que poderão perder os seus postos de trabalho porque alguns os conduziram a isso através de vãs e efémeras promessas passarão para o lado do populismo de direita que anda por aí a espreitar.

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publicado às 23:06

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Após estas últimas eleições no seio das direções de informação começaram a perfilar-se novas composições na área do comentário político. A estreia foi iniciada com a TVI. O comentário político que José Miguel Júdice fazia às terças à noite na TVI24 passa a ser agora às segundas feiras no jornal da oito da TVI. Não é por acaso porque neste canal, e a àquela hora, apanha mais audiência a nível nacional. A TVI convidou Miguel Júdice, que andava há alguns anos afastado, para comentador algum tempo após o acordo parlamentar do PS com o PCP e o BE.

Como já várias vezes tenho escrito os comentadores de direita proliferam pelos canais de televisão falando com isenção duvidosa. Basta ver o perfil de Júdice para se compreender esta mudança. Anti esquerda convicto e com ódio às esquerdas mais radicais, talvez porque foram elas que ajudaram a apagar do mapa político português a influência da extrema direita.

Quem consultar documentos da época da revolução do 25 de abril ficará a saber que Júdice, embora não diretamente, esteve envolvido em conspirações antidemocráticas, com gente e partidos da extrema direita no norte do país que arquitetaram a rede bombista de 1976 causando a morte a várias pessoas. A história fará recordar aos mais novos a constituição do ELP (Exército de Libertação de Portugal) e do MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal), o primeiro mais militar do que político. O MDLP, a 17 de fevereiro de 1975, ensaiou um golpe de Estado. A 5 de maio de 1975 era oficialmente constituído o MDLP, uma força política de extrema-direita ficando a área da Política ao cuidado de José Miguel Júdice, na altura saudosista assumido do salazarismo. Em princípios de 1980, José Miguel Júdice aderiu ao PPD hoje PSD, onde militou. Em 2006 desfiliou-se do PSD e apoiou a candidatura de Cavaco Silva a Presidente da República. Em 2007 aceitou ser mandatário da candidatura do Partido Socialista, encabeçada por António Costa, à Câmara Municipal de Lisboa.

É agora comentador prime time na TVI. Nada contra, a democracia é assim mesmo, deve dar oportunidades de regeneração e ainda bem. Nada contra. Mas o que também acho é que devem ser dadas oportunidades para o contraditório a comentadores de esquerda residentes, que são escassos ou até, em alguns canais, muito incipientes ou disfarçadas em debates, aparecendo só em situações especiais.

Imagem tirada de http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/judice-novo-banco-vai-comprado-pelo-preco-da-uva-mijona-90073

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publicado às 19:55

Visão da comoção e do cinismo

por Manuel_AR, em 04.05.17

Visão da comoção e do cinismo.png

João Miguel Tavares escreveu no jornal Público que acha “comovente que tanta gente de esquerda se espante com o posicionamento do Bloco e do PCP nestas presidenciais francesas, por se recusarem a apoiar, à imagem de Jean-Luc Mélenchon, Emmanuel Macron contra Marine Le Pen comovente que tanta gente de esquerda se espante com o posicionamento do Bloco e do PCP nestas presidenciais francesas, por se recusarem a apoiar, à imagem de Jean-Luc Mélenchon, Emmanuel Macron contra Marine Le Pen”. Também eu me comovo com o que ele, de forma cínica, escreve. Ele é como um cínico picador de toiros que gosta do animal, mas pica-o para o enraivecer para que a lide seja mais conseguida para o toureiro.

Pretende acicatar o PCP e o BE para que, aqui dentro, aqui em Portugal, e contra António Costa e o seu Governo, ajam com o espírito revolucionário, desestabilizador e extremado que, para ele, deveria ser peculiar. A Miguel Tavares assoma desejos não explicitamente manifestos, de desestabilização da solução governativa apoiada parlamentarmente pela esquerda. Assume-se como sendo um grande educador virtual daqueles dois partidos que, para ele, deveriam ser preferencialmente mais revolucionários cá dentro como o são quando olham para a política internacional.

Por estas, e por outras, é que ainda fico mais comovido quando leio artigos de opinião e comentários provenientes de fontes que se situam entre a extrema-direita, que se diz não existir em Portugal, e a direita dos autointitulados liberais.

O PCP e o BE, ao darem apoio parlamentar ao Governo, passaram a ser para Miguel Tavares, e para a direita, uma espécie de dentes do siso que lhe nasceram na dentadura e já se encontram cariados, e lhe doem muito, mas estão a custar-lhe a arrancar.

No momento em que decorreram eleições em França (primeira volta), e está a decorrer a campanha eleitoral para a segunda volta o que tenho visto e lido vai no sentido de a direita, cá dentro, através dos seus artigos e comentários, não se pronunciar claramente sobre os candidatos em presença. Se, por um lado, fazem criticas moderadas a Macron, já quanto a Le Pen há “nins” que sobram. A suas manifestações públicas, quando são de oposição a Le Pen são contidas, palavras muito escolhidas para não assustar potenciais fãs. Assim como os liberais da direita portuguesa quando da eleição de Trump foram de crítica contida, moderada. Vamos ver o que dirão sobre a tomada de posição de Obama ao apoiar Macron nas eleições francesas. É claro o “namoro” ideológico entre Le Pen e Trump.

Em Portugal a direita e os seus liberais, e a extrema-direita que anda por lá diluída, têm vestido até hoje peles de cordeiro. Será que os radicais, neste caso a extrema-direita de Le Pen, se porventura chegasse ao poder, deixaria de o ser, ou faria o que fez Erdogan na Turquia?

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publicado às 19:20

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O deputado madeirense do PTP José Manuel Coelho foi condenado a um ano de prisão efetiva pelo Tribunal da Relação de Lisboa devido a um processo que Garcia Pereira, noutro tempo líder do MRPP, por o ter apelidado de agente da CIA. Isto é uma tontice se considerarmos o que Garcia Pereira dizia quando andava por aí a dizer nos comícios revolucionários.

Há também outras tolices escritas por quem não é revolucionário e anda por aí a dar opiniões utilizando conotações absurdas e acenando com papões da velha guarda. Numa tentativa de se distanciarem de Trump mas que, no seu íntimo e sem o declararem explicitamente, parecem defender as suas políticas. É o caso do atual presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, que tem uma coluna de opinião às quartas feiras num jornal diário e que, na sua última tirada de opinião começa por escrever: “Anda toda a gente muito perplexa com a escolha que os americanos fizeram para a Casa Branca. Não sei qual é o espanto. O nosso azar é muito maior que o dos americanos. Afinal de contas, nós não temos um Trump. Temos dois: Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.”, o sublinhado é meu.

Carreiras foi presidente do Conselho de Administração do Instituto Francisco Sá Carneiro entre 2010 e 2013. Defensor incondicional, pelo que diz e escreve, da atual direção do PSD, passou de social-democrata a neoliberal seguindo fielmente o seu líder.

Esclareço que não tenho procuração nem do PCP e de Jerónimo de Sousa nem do BE e de Catarina Martins, mas aquele senhor lança para o ar tais disparates populistas, sem argumentos válidos, utilizando chavões e conotações disparatados que só de cabeças como a dele poderiam surgir. O que escreve deve ser dirigido a incultos, adeptos, simpatizantes e oportunistas militantes do atual PSD porque a outros não convence. Deve estar a dirigir-se a senhoras muito chiques e “muito bem”, sem nada que fazer a não ser aparecer nas revistas cor de rosa, senhores, senhores da alta finança duma “estrita” freguesia de Cascais, vila que frequentemente visito porque é agradável, simpática e onde nos sentimos bem, não fossem os preços exagerados praticados pela restauração.

Escreve ainda, em síntese, este nosso (deles) militante do PSD: “O nosso azar é muito maior que o dos americanos. Afinal de contas, nós não temos um Trump. Temos dois: Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. A nossa sorte é que nem BE nem PCP são poder”. O negrito é meu.

Julga que nos engana ao fazer esta conotação disfarçando, mal, uma potencial simpatia oculta pelo atual presidente do EUA. Aqui, e ali, vai dizendo o que Trump tem feito e dito sem, no entanto, mostrar claramente desacordo refugiando-se a falar de outros, os que não lhe agradam, porque ajudaram o PS a retirar o poder ao seu querido líder. Ele e o seu partido ainda não fizeram o luto da perda, (não das eleições), mas do parlamento que representa o voto do povo.

Carlos Carreiras utiliza Trump como oportunidade para lançar o seu viperino veneno sobre uma solução parlamentar maioritária quer queiramos, quer não. Assim como o PSD também ganhou as eleições, gostemos ou não. No entanto, os portugueses não os escolheram ao nível do parlamento. Gostariam talvez de ter a muleta do PS para lhes validar os desvarios de outrora.

A desregulação interna e a desorientação do partido a que pertence obriga-o à verborreia política se quiser nas próximas eleições autárquicas renovar o mandato. Os senhores da vila assim o exigem nem que seja necessário virar um partido cujo passado sempre foi social-democrata. Se Sá Carneiro voltasse e visse como o partido se encontra encher-se-ia de vergonha e voltaria para donde está.

Afirma claramente que Trump e os líderes do PCP e do BE são iguais, que perfilham os mesmos princípios. Deduz-se que, para Carreiras, as ideologias e os motivos porque cada um defende certos objetivos não interessam porque alinha com a nova estratégia do PSD renunciar o que anteriormente defendia.

Podemos dizer que Carreira utiliza a mesma tática de Salazar e de Trump, difamar quem se lhe opõe compondo letras para canções com estribilhos plenos de bolor. Quem ler o artiguinho de Carlos Carreiras, se não pertencer ao seu grupo, poderá considerar à semelhança do que fez Garcia Pereira ao deputado do PTP se não mereceria também um processinho já que mais não fosse para chatear.

Carreiras, injuria aqueles a quem, ainda há bem pouco tempo o PSD se colou, no caso da TSU, preparando-se, mais uma vez, agora no caso da Carris da cidade de Lisboa, para, negando os seus princípios, votar ao lado dos da extrema-esquerda, os que ele denomina de “virgens do estalinismo e do neomarxismo”.

É como no futebol, quando se perde a culpa dos falhanços é sempre do árbitro. Temos pena!

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publicado às 19:04

Da partidarite à politiquice

por Manuel_AR, em 16.01.17

Birras.pngO PSD apresenta-se atualmente com uma espécie de psicose que se caracteriza por perturbações de raciocínio e de comportamentos contraditórios de que julga ter consciência, mas que está deturpada.

Embora tenha ganho a eleições sem maioria absoluta e com a perda da maioria parlamentar ainda não conseguiu sublimar a frustração através de objetivos que representem um valor social positivo.  

Está no ar a medida da redução da TSU das empresas como compensação do aumento do salário mínimo. Não está em causa se a medida é boa ou má, mas, neste ponto o BE e o PCP têm agora um forte aliado. Estes dois partidos, são contra tudo o que mexa e seja iniciativa ou empresa privada. Está nos seus genes. Já quanto ao PSD o caso é diferente.

Não se compreende, embora muitos daquele partido justifiquem que são a favor da medida, mas…, ao mesmo tempo, também são contra. São contra o quê? Contra o aumento do salário mínimo que pode ser considerado, por alguns, neste momento excessivo? Se assim for compreende-se. São contra a redução da TSU às empresas? Caso assim seja o PSD apresenta uma síndrome amnésica grave. Varreu-se-lhe da memória a tentativa de por em prática o baixar da TSU para as empresas em troca do seu aumento para o setor trabalho quando, em 2012, o partido esteve no governo juntamente com o CDS. Diz agora que era transitório. Mas quem pensam eles que ainda estão a enganar?

O PSD está em falência com a atual liderança, (acho que a culpa não será apenas do líder, mas da sua entourage que lhe quer tirar o tapete), e foi-lhe oferecida de bandeja uma deixa que aproveitou, não a pensar no país mas apenas para fazer chicana meramente partidária.

É uma birra de menino a quem não lhe fazem as vontades. Vingançazinha soez, como quem diz: Mamã, aqueles meninos não me deixam brincar, por isso vou-lhes tirar a bola que é minha! Ou, ainda: Ai é? Então agora é que vocês vão ver! Nós votamos contra e vamos ver se funciona a maioria parlamentar que apoia o Governo!

Não servimos de muleta a ninguém dizem, sem propor alternativa. Meninos birrentos que apenas propõem aos portugueses a alternativa do nada. Apenas porque não a têm. E, como não a têm, fazem joguinhos partidários numa espécie de guerra de guerrilha.

Há uma coisa que ninguém lhes tira: é a fama da aliança à extrema esquerda, como eles lhe chamam, apenas e só, para colocar em causa o apoio parlamentar ao Governo.

Não deve ser difícil ao Governo ultrapassar este caso. Não seria o caso, mas estou, no entanto, convicto de que a tal esquerda radical não irá possibilitar, mesmo que tenha que engolir sapos vivos, a queda do Governo para o dar novamente à direita.

O PSD se não retorna à social-democracia bem pode estar a cavar aos poucos e a prazo a sua própria sepultura suicidando-se como partido que devia ser popular. E Assunção Cristas também não lhe está a facilitar a vida, graças ao seu mentor Paulo Porta. Ainda bem!

 

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publicado às 16:49

Seriedade ou falta dela

por Manuel_AR, em 02.11.16

CGD e Partidos.pngÀ falta de assunto até que chegue a discussão do orçamento o tema CGD-Caixa Geral de Depósitos é a divisa para a direita mostrar que está presente através do populismo barato. E provas não faltam no coro das opiniões publicadas pelos fãs duma direita gasta por uma oposição obsoleta e desprestigiada que se cola à esquerda para um coro de populismo nada saudável para uma instituição que se pretende credível. À esquerda o PCP e o BE prestam declarações que em nada ajudam, antes pelo contrário. É uma campanha pela conquista dumas décimas a mais nas sondagens. Por isto a estabilidade deixa de ser um valor a considerar.

Para se mostrar trabalho a oposição da direita vale-se de tudo. O PSD de Passos Coelho tem a capacidade de destruir tudo aquilo em que toca, assim foi no passado, agora aasim é no presente. Uma das estratégias da direita, nomeadamente do PSD, poderá ser a de fazer cair os gestores das CGD pela sua fragilização e, a partir daí, acusar o Governo de falhar no que diz respeito àquela instituição. Até a falta de ética de alguma imprensa serve como ajuda.

Os títulos de primeira página de alguns jornais, neste caso o Público, dão uma ajuda para a descredibilização através de conotações tendenciosamente armadas. À dimensão ética e à precisão da informação sobrepõe-se o economicismo a ser traduzido no número de vendas dos jornais. É uma doença geral que envolve o modo como os jornalistas tratam a informação que, muitas vezes, é associada a uma função até ideológica com os efeitos das mensagens sobre os consumidores.

Atualmente, o jornalismo está entre porta-voz da opinião pública e a de empresa comercial sem escrúpulos que recorre a qualquer meio para chamar a atenção e multiplicar as vendas, sobretudo com a intromissão em vidas privadas e a dimensão exagerada concedida a algumas notícias.

Veja-se o título de hoje na primeira página do jornal Público. Quem não compre o jornal para ler a notícia completa qual a ideia com que ficará?

Primeiro o título em letras gordas e no canto inferior direito a fotografia de António Domingues gestor nomeado para a CGD. Quem esteja menos atento ao que se passa na instituição e ficar apenas pela leitura imediata do título que poderá associar as perdas de 900 milhões ao homem da fotografia.

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Outro leitor um pouco mais curioso, se ler os subtítulos em letra menor poderá dar conta da seguinte frase: “Nova administração regista perdas”.

No desenvolvimento da notícia é que os equívocos são desfeitos, e só para quem compre e leia o jornal, ou, então, o peça emprestado. Nos expositores das bancas de jornais a maioria da população passante apenas lê os títulos e, quando muito, os subtítulos.   Está conseguido o objetivo, lançar o equívoco e a confusão na população, que comenta, critica, acrescenta, exalta, denigre e, no limite, alinha pelas teses dos que apostam na destruição da imagem da instituição, e de quem a gere.

O que diz afinal de essencial a notícia colocada no interior do jornal? Apenas isto: “A Caixa Geral de Depósitos (CGD) arrisca perder mais de 900 milhões de euros em operações empresariais montadas à volta do grupo do sector petroquímico La Seda Barcelona e articuladas politicamente entre Portugal e Espanha, um traço marcante da década passada… É um dos negócios ruinosos que António Domingues tem em cima da sua secretária…”, e continua a notícia, “Este é um dos principais problemas que o presidente da CGD tem para resolver e que resulta de decisões tomada quando José Sócrates era primeiro-ministro…”.

Eu poderei acrescentar que Passos Coelho quando era primeiro-ministro deixou por resolver o problema, querendo até ver-se livre dele, com prejuízo dos contribuintes, que assumiriam os prejuízos, e dos utentes, através da tentativa de privatização.

Ó Passos, por que não te calas?

Por sua vez Francisco Louça alinha pelo populismo de Catarina Martins e dá uma ajuda ao PSD, pois então! Se isto mostra distanciamento vou ali já venho!

E o PCP lá vai empurrando também o seu pesado carro.

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 18:04

Salários e administração da CGD

por Manuel_AR, em 23.10.16

SaláriosadministraçãoCGD.pngA controvérsia aberta com os salários de um dos administradores da CGD (Caixa Geral de Depósitos) não é mais do que uma acha de arremesso político vinda quer da direita, quer da esquerda, cada um com fatores determinantes diferentes para sua conduta. A ala neoliberal do PSD, que agora diz ser social-democrata, e outros como Paulo Rangel que dizem não ser direita, mas centro direita, à falta de argumentos válidos e consistentes para fazer oposição tentam achados para fazer um cerco ao Governo.

Pelos estatutos aprovados em agosto do corrente ano pelo Banco de Portugal a CGD é uma sociedade com a natureza de sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos e rege-se pelas normas da União Europeia, pelas leis bancárias e comerciais e pelo regime jurídico do setor público empresarial. Também lhe são normas aplicáveis atendendo à sua natureza de empresa pública. É, portanto, um banco público com capitais exclusivamente públicos sendo a administração nomeada pelo Governo.

Vejamos então o caso do salário do administrador que a direita e a esquerda acham excessivo, que o é de facto. As motivações para ambos estarem contra o salário a ser pago é que são diferentes.  Não vale o burburinho levantado a não ser que o PCP e o BE queiram obter dividendos traduzidos em votos mostrando sua sensibilidade social e solidariedade para com os que aufere salários que mal dão para ter uma vida com dignidade. O PSD que agora é um partido que virou 25 graus à esquerda para mostrar aos que já se esqueceram dos anos de pelouro neoliberal intenso que cortou salários e pensões e atacou o setor trabalho, é agora contra os salários excessivamente o que é uma boa pose para a fotografia. Fogo de artifício, nada mais. Para este peditório só dá quem estiver desmemoriado ou pertença ao clube.  

Todos sabemos que em Portugal os nossos salários são baixos, com exceção dos conselhos de administrações de grandes empresas e bancos. Mesmo para os ganham um pouco acima do ordenado médio, até os salários brutos do Presidente da República e do primeiro-ministro não incluindo quaisquer acréscimos são cerca de 6688 euros e 5061 euros, respetivamente. Em 2015 o Governador do Banco de Portugal, banco que não opera no âmbito concorrencial obtinha um salário de 15.572 euros mensais.

O salário do presidente do conselho de administração da CGD é exagerado? Sim.

É uma ofensa a quem recebe salários baixíssimos. Sim.

Mas vejamos o caso doutro ponto de vista. Há lugares cuja elevada responsabilidade e os resultados que tem que conseguir tão exigentes que a compensação por este tipo de trabalho tem que ser também ela exigente. Quantas vezes no mundo do trabalho nos confrontamos com ofertas de emprego, especializados ou não, onde nos exigem responsabilidades e tarefas propondo-nos salários baixíssimos que seriam de imediato recusados caso se houvesse outras ofertas mais compensadoras.

Nos altos cargos de empresas as responsabilidades e as exigências são demasiado grandes. Pode ser a sobrevivência duma empresa e de quem lá trabalha que esteja em causa que depende dos resultados anuais conseguidos que lhe são contratualmente impostos. O Presidente da República embora seja prudente no que respeita aos elevados salários em bancos que recebem fundos públicos também defende que “as remunerações devem ser aplicadas de acordo com os resultados alcançados e que esses resultados devem ser controlados”. Claro que a CGD está em dificuldades relativas e vai receber dinheiros públicos e que terá de devolver a prazo e por isso mesmo, apesar de ser um banco público, não a desobriga de obrigatoriamente ser gerida como qualquer banco privado num mercado concorrencial e competitivo para ser lucrativa. O dinheiro não vem do ar, é proveniente de resultados.

Tem havido, e com razão, protestos contra o salário que o administrador da CGD vai receber comparativamente com outras situações, mas temos de ter em conta que a CGD está numa crise que é preciso ultrapassar com urgência e essa depende das decisões de topo cujas com responsabilidades exigidas são demasiado elevadas. Por outro lado, ninguém arriscará a exercer funções em cargos de grande responsabilidade com salários abaixo dos praticados para a atividade me causa. Todos temos as nossas responsabilidades profissionais que, para cada um de nós individualmente, não são de somenos importância que regularmente estão de acordo com as funções exercidas.

Ninguém se escandaliza, por exemplo, com os salários mensais de apresentadores e de apresentadoras dum canal de televisão privado ou jogadores de futebol que auferem por vezes mais de 40 mil euros mensais. Dirão alguns, mas isso não é comparável porque eles dão-nos muitas alegrias e divertimento e, além disso, expõem-se publicamente e atraem audiências o que, por sua vez, acarreta para o canal publicidade. Bom, então, se isso é justificação suficiente para aqueles salários não serem comparáveis o que se pode dizer duma empresa que depende das boas ou más decisões dos seus responsáveis máximos e que de divertido não tem nada.

Se olharmos para a RTP, em 2015 Fernando Mendes, o apresentador do programa “Preço Certo” auferia mensalmente 20 mil euros, já para não falar de outros.

O apresentador, que recebia da estação de Queluz de Baixo cerca de 40 mil euros mensais, viu o seu salário aumentar e tornar-se num dos mais bem pagos de sempre na televisão portuguesa. Com o aumento, Goucha ficou a ganhar mais do que Cristina Ferreira, que atualmente ganha 40 mil que penso ainda se mantem.

Em 2012 o ex-braço direito de Pedro Passos Coelho nas negociações com a troika, Fernando Catroga foi auferir para a EDP uma remuneração de cerca 639 mil euros por ano, 45 mil euros por mês, montante ganho pelo seu antecessor na mesma empresa.   

Em abril de 2016 António Mexia, presidente executivo da EDP, passou do salário anual de 600 mil euros para 800 mil euros o que dá aproximadamente 57 mil euros por mês.

O presidente do conselho de administração do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha, em 2015 a sua remuneração anual ascendeu 384,7 mil euros.

Para uma outra visão sobre este assunto pode consultar no jornal Público.

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publicado às 16:34

A visão do bom senso

por Manuel_AR, em 18.10.16

Costa_Jerónimo_Catarina.png

O BE e o PCP têm uma obsessão arcaica sobre tudo quanto seja iniciativa privada e grandes empresas, contra as quais estão quase em permanente conflito ideológico. As ideologias sobrepõem-se-lhes ao pragmatismo. As ações políticas daqueles partidos assentaram sempre em duas dimensões essenciais: os trabalhadores, reformados e pensionistas que dizem defender; o ataque ao capital, identificado como os ricos, os grandes grupos económicos e as grandes empresas.

A sua atuação incide ao nível do primeiro grupo em reivindicações de aumentos excessivo de salários que contribuiriam para desincentivar o investimento, o aumento também excessivo de pensões que, a serem concretizados sem o mínimo de razoabilidade teriam um peso não sustentado da despesa pública. Ao nível do segundo grupo incide sobre a taxação e carga excessiva de impostos pouco razoáveis. Segundo aqueles partidos quando as empresas são lucrativas aumentam-se-lhes os impostos, cuja consequência é o desincentivo ao investimento e à criação de novas empresas. Além destas têm ainda a obsessão de todo o investimento ser público.Todavia há que ter presentes as conjunturas nacionais e internacionais desfavoráveis, por vezes, hostis a que se tem de atender cuidadosamente.

O Bloco de Esquerda, com certeza, deve ter observado com atenção o que se está a passar na Grécia onde o Governo do Syriza teve que ceder em pontos essenciais do seu programa. Sabe-se que ainda há pressões da União Europeia e do FMI para que a Grécia cumpra os ditames a que a obrigaram apesar do seu Governo ser o resultado de eleições livres. O Syriza tornou-se para aquelas instituições numa espécie de persona não grata, uma carta fora do baralho que não agrada à U. E. nem ao FMI porque o sucesso duma solução governativa deste tipo poderá colocar em causa as suas teses.

De acordo com notícias do The Guardian de 3 de outubro, a polícia grega foi obrigada a disparar gás lacrimogêneo e gás de pimenta contra pensionistas que protestavam depois que um grupo deles tentou empurrar um carro da polícia perto do gabinete do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, cujo governo de esquerda enfrenta crescente pressão sobre as medidas de austeridade impostas.  Sucessivos anos de cortes levaram quase metade da renda mensal dos pensionistas que ficaram abaixo da linha oficial de pobreza. A quebra das promessas feitas por Alexis Tsipras foi-lhe imposta pela realidade das frentes externas com que se confronta. A resistência às privatizações caiu por terra. A potencial venda da companhia de água está em aberto e a dos comboios acabou por ser vendida por um preço baixíssimo.

De acordo com as previsões o Governo da Grécia está a depositar esperanças numa forte recuperação na economia que deverá registar em 2017 um crescimento de 2,7% do PIB no próximo ano em contraste com os 0,3% deste ano e após oito anos de recessão ou perto de zero de crescimento. Este crescimento previsto, a concretizar-se, poderá vir dar razão às teses europeias e do FMI que defendem as virtudes da austeridade extrema.

No caso português, as reformas profundas na organização social à boa maneira do princípio do século passado que as esquerdas mais ou menos radicais que pretendessem não parece ser muito viável. O radicalismo de esquerda que lutou pelo derrube da ditadura não funciona no século XXI. A viragem que pretenda fazer neste século tem que ser uma conjugação de esforços noutros países e nações. O aburguesamento de grande parte da classe trabalhadora (os ex-proletários) com novos hábitos de consumo que o capitalismo lhes proporcionou qualquer mudança no sentido da inversão necessita de novas estratégias o que não implica forçosamente abandonar a suas matrizes ideológicas essenciais. Talvez por isso mesmo aqueles dois partidos ainda mantêm nas sondagens as mesmas intenções de voto, salvo ligeiras oscilações.

A aplicação de políticas orçamentais radicais teria como resultado contrapartidas negativas imprevisíveis a curto prazo. À visão estreita do ponto de vista partidário que pretendia impor soluções irrealistas, imediatistas e de curtíssimo prazo, tão do agrado da sua clientela eleitoral a quem não interessa a realidade nem as consequências, e a síndrome do derrube do capitalismo sobrepôs-se o realismo que conduziu a um acordo.

O BE e o PCP sabem muito bem que vivemos numa economia de mercado, e que a utopia da construção duma espécie de império económico do Estado com pleno emprego, distribuindo aquilo que não se tem, não é viável.

O PS sendo um partido democrático que privilegia o Estado Social tem conseguido conciliar a excessividade reivindicativa subjacente àqueles dois partidos com o bom senso, daí ter sido possível que o Orçamento de Estado para 2017 tenha tido um final feliz nas negociações. Num regime partidário tem que haver compromissos e cedências que não desvirtuem a matriz de cada um dos partidos intervenientes.

A grande coligação da direita alemã, partidos CDU/CSU, com o partido social-democrata SPD, que nada tema ver com o PSD português de Passos Coelho, foi possível com cedências de parte a parte.

Em Portugal António Costa conseguiu também fazer consensos a nível parlamentar, mas com uma esquerda ideologicamente inflexível cuja visão, por falta de prática do exercício do poder, lhe toldava o pragmatismo de negociar propostas mais realistas sem, contudo, perderem a sua identidade.

Alguns comentadores, face às negociações, em princípio bem-sucedidas, do Orçamento de Estado para 2017, de forma provocatória, dizem que o PCP e o BE “meteram a viola no saco”, e acrescentam, “bem-vindos à economia liberal.” Estes senhores sabem que não é assim porque os princípios orientadores de cada um mantêm-se. É caso para lhes perguntar se, quando na direita há coligações ou entendimentos parlamentares, cada um abdica dos seus princípios ideológicos e se também nesse caso não metem as “violas nos sacos”.

Quer o PCP, quer o BE, têm duas alternativas, ou mantêm compromissos realistas com o partido do Governo, ou provocam a sua queda correndo o risco de perderem votos e de a direita voltar ao poder numas próximas eleições, situação pela qual serão em grande parte responsabilizados.  

 

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publicado às 18:33


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