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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
1 Durante este mês de agosto, tempo de férias e de descontração, já longe do bulício do Algarve e dos discursos de ocasião que, nesta época do ano, a direita PSD cumpre no Pontal, tinha decidido não escrever sobre política. Impossível! Há causas que me ultrapassam e que têm a ver com o descaramento e a hipocrisia desta gente da direita que apanham tudo o que têm à mão para fazer oposição à custa da desgraça das populações atingidas pelo terrorismo dos incendiários. A direita pretendia e pretende que este governo resolvesse agora com uma espécie de varinha mágica aquilo que ela, enquanto esteve no governo, nunca se interessou por resolver. Sim, porque não é preciso recordar que durante os seus famigerados quatro anos de governação também houve grandes incêndios e tudo ficou na mesma.
Passos Coelho, no Pontal, utilizou a mesma estratégia discursiva, e já cansativa, de quem, por já não ter mais nada para dizer nem para oferecer, vai-se repetindo numa espécie de via-sacra da política que o conduzir a ele e ao PSD até ao calvário.
2 No debate televisivo no jornal das nove na RTP3 do dia 14/08/2017 as intervenções entre João Galamba do PS e Carlos Abreu Amorim do PSD foram confrangedoras, cada um por diferentes razões.
Galamba, embora mostrando a segurança do costume, apresentava-se cauteloso na defesa de alguns pontos de vista, nomeadamente no que se referia à questão dos incêndios e da ministra administração interna. Os argumentos de defesa foram fracos e sem convicção, talvez falta de conhecimento dos factos. Quanto ao crescimento do PIB de 2,8% no último trimestre, o maior das últimas décadas, parece ter ficado desiludido por não ser terem atingido os 3% apesar de Amorim ter afirmado que tinha sido bom o crescimento, embora saibamos que há aqui uma ligeira alteração do discurso e que este elogio está impregnado de alguma hipocrisia e estratégia.
Nas restantes intervenções, Amorim, seguindo o mestre, refugiou-se nas coisas vãs pretendendo voltar a recuperar a síndrome do medo e do regresso ao passado falando numa potencial banca rota, coisa que, disse ele, a direita está preparada para evitar com as suas reformas. Sobre as reformas que seria necessário efetuar nada disse a não ser quando se referiu à reforma da segurança social, mas sem dizer como. Não o disse, mas todos nós sabemos quais foram e quais serão as que direita pretende fazer neste campo. Quanto a outras ficámos em branco.
Os conservadores de direita pretendem ser inovadores mas não são mais do que conservadores passadistas, quer quanto à ideologia, quer quanto às práticas de regresso ao tal passado de empobrecimento da população. E, no domínio da educação o regresso às estratégicas educativas inspiradas em algumas do Estado Novo, adaptadas, revistas e melhoradas, aproveitando, para tal, as possibilidades que a democracia lhes dá. Basta ler alguns discursos de Salazar da sua época áurea sobre o tema para se poder comparar.
Mas voltemos a Carlos Amorim que recupera uma terminologia sobre a classificação dos partidos que apoiam o Governo ao nível parlamentar, que faz jus à sua nutrida inteligência política, e que denominou de extrema-esquerda radical. Apesar do disparate há a intenção objetiva na aplicação daquela adjetivação àqueles partidos. Senão vejamos: a denominação de extrema-esquerda pode-se aceitar, mas juntar radical a esta designação parece uma contradição. Não será já uma extrema-esquerda radical? Se não o é, e é apenas extrema-esquerda, então é porque pode existir uma extrema-esquerda que não é radical. Então em que ficamos? Pode perguntar-se a Carlos Amorim como é que ele, no espetro político, classifica os partidos. Será que para ele existe uma extrema-direita que não é radical e uma outra que o é? Como os caracterizaria ele?
3 Não quero abandonar o tema sobre Amorim sem mais um tesourinho de aproveitamento partidário sobre os incêndios. O Governo decretou o estado de calamidade pública para algumas regiões afetadas pela desgraça dos incêndios provocados por pirómanos desvairados. E, claro, Amorim aproveitando o tempo de antena a que lhe dão, e tem por direito, veio a público elogiar a medida mas que perde por tardia. Pois é dr. Amorim, segundo a sua estratégia e a do seu partido, tivesse sido tomada aquela medida uma semana antes teria vindo dizer o mesmo, e se fosse ainda antes e assim sucessivamente acredito que viria a dizer sempre o mesmo.
4 Se bem me recordo, foi também na altura dos incêndios em anos anteriores que um comentador especialista sobre incêndios, que nestas lamentáveis ocasiões os canais de televisão contratam, que um desses especialistas espontâneos ao fazer o seu comentário acabou por dizer que o povo português não é incendiário, são casos pontuais que por aí aparecem. Esta semana foi a vez de um outro especialista a que o jornalista perguntou se achava que havia um rede organizada de incendiários disse claramente que não e teceu o perfil do incendiário comum e claro são sempre os mesmo maluquinhos e irresponsáveis que por aí existem. Está-se mesmo a ver! Até as populações pelo seu conhecimento sabem que existe atos deliberados e organizados. Ou não será evidente que existe um padrão manifesto pelas horas, locais de ocorrência, simultaneidade das ignições, etc.. O que lá fora consta é que nós, os portugueses, somos uns maníacos pirómanos.
5 Para terminar, um comentário sobre essa coisa que é presidente dos EUA, o Pato Donald Trump. Sobre os acontecimentos dos confrontos racistas no estado da Virgínia. Diz e desdiz sem clarificar a sua posição. Por um lado, a culpa foi, como disse, ser da esquerda (?) que atacou a direita (?). Qual será o conceito dele de esquerda e de direita. Para ele a direita são os nazis, os neonazis, os xenófobos, os racistas e a sua mais objeta organização da Klu Klux Klan. Isto para ele deve ser a direita no seu conceito de democracia. Foram tais os comentários de Trump que levou o dirigente daquela grupo, através do Twitter, a elogiar os seus comentários. Na minha opinião estamos de facto em presença dum presidente que está a ser o percursor duma ideologia de inspiração nazi adaptada ao século XXI.
Uma coisa está a ser evidente: as intervenções e os discursos de Donald Trump durante a campanha eleitoral, e já depois de estar na presidência, estão a começar a dar os seus frutos.
Ah! Senhora, Senhora, que tão rica
estais que, cá tão longe, de alegria
me sustentais cum doce fingimento!
Em vos afigurando o pensamento,
foge todo o trabalho e toda a pena.
Lírica de Luís de Camões Canção IX
O Governo, ao contrário do que a oposição de direita pretenderia, tem funcionado naquilo que mais interessa aos portugueses com a caminho da consolidação das contas públicas, com a redução do défice, o crescimento económico, o investimento, o desemprego, as exportações, conseguidos e que reconstruiu a credibilidade de Portugal no exterior sem os arbitrários, cegos e interesseiros cortes perpetrados pelo anterior governo em conluio com a troika, em favor de, sabe-se lá, que outros interesses, terá levado o então primeiro-ministro a dizer alto e a bom som que teria que ir para além da dita.
O desgaste do Governo que a direita pretende provocar à custa da tragédia dos lamentáveis incêndios atiçados por terroristas incendiários venham eles donde vierem, não é para o bem de Portugal nem da sua população, é-o, apenas, por questões exclusivamente de interesses partidário.
A direita quando foi governo esqueceu-se dos enormes incêndios e não descobriu na altura falhanços em SIRESP ou outro, fechava-se em copas indo de férias e a Proteção Civil que se amanhasse. Tendo falhado no compromisso para com os portugueses quer também que este falhe. Esta é a pior direita de que tenho memória (não contando com os tempos quentes de 1975 e 1976), quer nos processos, quer nos métodos de atuação.
Durante os dois anos e meio da chamada geringonça a direita caldeou conspirações e preparou o terreno a vários níveis. O ministério público por exemplo parece um cacifo com caixinhas de surpresas que vai abrindo ao saber de certas agendas políticas quando se aproximam eleições, e fecha aquelas cujo seu conteúdo possa vir a quebrar as telhas de quem tem telhados de vidro. Chama-lhe a isso tempo judicial. Não me recordo de ver o mesmo afã diligente quando se trata de corrupção e outros feitos de políticos ou figuras públicas da direita.
Canais de televisão procuram por todo o lado quem sem credibilidade queira dar a cara para, por tudo por nada, atribuir culpas ao Governo. Veja-se um indivíduo da região de Leiria que a TVI descobriu na altura da catástrofe de Pedrógão Grande atribuindo-lhe tempo de antena na hora nobre. Nada disse, mas serviu para atacar o Governo mesmo sem apresentar provas ou qualquer argumento válido. Tudo serve! Na anterior legislatura passava-se o inverso, procurava-se tudo e todos os que viessem a dar o seu contributo a favor do governo.
O que se passou, e ainda passa, no último mês não é a favor de Portugal é contra Portugal. É a síndroma da perda do poder por uma direita capaz de “tudo” para recuperar o que, por culpa dela, perdeu, pretendendo voltar a recuperar mesmo sem um projeto definido para apresentar. Alimenta-se de casinhos por aqui e por ali pata fazer oposição
Sem nada para oferecerem os partidos da eis aliança PáF, PPD/PSD e CDS-PP, cada um por sua vez, ou em simultâneo, voltam-se para acossar o Governo e os seus ministros que, afinal, é uma forma de esconderem as suas próprias fragilidades.
As eleições autárquicas aproximam-se e a preparação do Orçamento de Estado para 2018 já está em curso, há que fazer propaganda. Utilizam todos os canais disponíveis, redes sociais incluídas, para a desinformação e para criar instabilidade. Não propõem soluções porque as não têm. Fazem um tipo de oposição partidária que recolha alguns dividendos eleitorais e nas sondagens. Os canais de televisão, em conluio, dão uma ajudinha para deitarem lume na fogueira. Não informam, atiçam o lume com a desculpa de ter que servir todas as tendências, é assim a democracia na comunicação social. Verificamos isso pela proveniência dos comentadores selecionados que comentam sem contraditório. Desconheço o critério, mas parece que, segundo eles, os espetadores não têm nada que saber. É comer e calar. São mais de noventa por cento da oposição da direita. As exceções são sempre em debate a dois e poucos todas as outras são monólogos escondidos sob uma falsa isenção. Os jornalistas moderadores muitas das vezes até facilitam tendencialmente a tarefa ao interlocutor. Há exceções, claro. Mas refiro-me uma visão generalista e de conjunto.
A isenção no comentário político não existe. Há sempre uma vinculação quer ideológica quer partidária. É assim, sejam ele da direita ou da esquerda. Outra coisa é confrontarmo-nos com uma grande maioria de comentadores da direita que falam sem serem contraditados.
À boa maneira da estratégia de comunicação que beberam e que veio do tempo de Salazar têm agora ao seu dispor para a propagar novos meios de comunicação para onde lançam notícias falsas, numa tática de contra informação, deturpando acontecimentos, enganando e cultivando ódios. Utilizam o regime democrático que dizem defender, mas que, nem sempre, perfilham. Isto é, apenas o perfilham, quando lhes é conveniente. Fazem de qualquer acontecimento um sismo de alta magnitude na escala política com a ajuda de alguns servos fiéis e dedicados à causa.
Pelo meio geram-se sinistras e poderosas cumplicidades que acabam por trazer para o debate político casos pontuais que vão desenterrando aqui e ali, mas que nada têm a ver com o debate daquilo que às pessoas interessa, ajudados pelos fiéis instalados nos órgãos de informação que, em vez de informarem, utilizando-os para levar ao público, ele mesmo desinformado, um escrutínio pré condenatório, seja do que for, sem julgamento, ultrapassando o limiar da luz dos factos.
Para a direita há nomes que devem ser queimados a todo o custo. Não vivem bem com a competência à esquerda, preferem que a sua própria incompetência seja a que custo for, mesmo que os portugueses tenham que pagar por ela. Não gostam que a verdade atrapalhe um bom plano desestabilizador.
Aqui da Beira onde me encontro tenho evitado emitir opiniões sobre uma situação que foi de terror para muitas populações. Mas há duas que não pude deixar passar sem um comentário qué são o desespero da oposição de direita, nomeadamente do PSD, acompanhado por alguns jornalistas dos órgãos de comunicação, televisão e imprensa que, ávidos de notícias polémicas e de furos jornalísticos que possam beliscar aqui e ali o Governo, lançam para a opinião pública notícias não são validadas nem confirmadas. Estas notícias foram baseadas em boatos originados e propagados por fontes pouco credíveis, nomeadamente quando se entrevistam aleatoriamente testemunhas envolvidas no próprio acontecimento e sempre que se verificam situações de catástrofe.
Assim foi o caso de avião de combate ao incêndio que se teria despenhado apenas porque foi ouvido um ruído de explosão que passou por ser semelhante à queda duma aeronave. Resta saber se esta notícia não terá sido propositadamente fabricada, depois dada como boto para criar mais achas nas fogueiras que se atiçavam nas notícias divulgadas.
Figuras da televisão também elas ávidas de protagonismo, como Judite de Sousa, dando-se ares de grande repórter vai para o terreno colocando-se em falso risco para mostra em direto um cadáver coberto com um oleado amarelo que aguardava remoção que, no dizer desta candidata a um prémio bullytzer do jornalismo (nome inventado por mim a partir de bully, não confundir com prémio Pullitzer), estava ali sem ter sido retirado. Queixas para a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação choveram bastantes, mais do que uma centena. Comparou então ela o que fez com outras imagens que, lá fora, sempre o lá fora, também, embora noutras circunstâncias, tinham sido divulgadas. E, claro, era inevitável, a direção da TVI veio, apressuradamente, em sua defesa dizendo que ninguém dá lições de jornalismo. Presunção e água benta não lhes faltam.
Claro que o líder do PSD sem nada para fazer oposição agarra-se também a boatos que divulga através da comunicação: suicídios devido à tragédia, internamento hospitalar de uma tentativa de suicídio. Alegando que lhe tinha sido fornecida essa informação pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande. Qual terá sido o objetivo? E mais, Passos Coelho falou ainda da falta de psicólogos para assistência às populações. Tudo isto se confirmou serem notícias falsas, desta vez veiculadas pelo próprio líder do PSD do qual veio depois pedir desculpa. É inadmissível vindo dum responsável partidário da oposição!
Isto apenas revela a desorientação da direita que, sem nada para fazer oposição, vendo as suas convicções de orientação para o país derrubadas, que dizia serem únicas, procura na tragédia que provocou a perda de bens e de vidas humanas algo onde se agarrar.
Depois do contratempo de Barcelona voltei ao ativo editorial deste blog. E começo pela questão da dívida pública que, a propósito, foi ontem constituída mais uma plataforma que elaborou um relatório sobre como a pagar em é substituída a palavra reestruturação por forma de pagar. Conclusão? Há agora dois relatórios e uma convicção comum: a dívida é excessiva.
Ultrapassado o problema do défice a direita PSD centra agora a sua “raiva” oposicionista sobre a dívida pública sobre o que evitava falar e discutir. A direita há tempo trás, quando estava no governo nem queria ouvir falar nisso alegando na altura dificuldades que se prendiam com os mercados, e diabolizava todos quanto se referiam à palavra reestruturação da dívida. Lembrou-se agora a direita de constituir uma plataforma donde saiu um documento sobre o tema, após ter sido apresentado um outro elaborado por um grupo do PS e BE.
Compreende-se que o problema da dívida é melindroso e há que pegar nele com algumas pinças. No entanto, a direita nem com pinças lhe queria tocar. Parece agora que tudo mudou, porque, indo a reboque constituiu uma “plataforma” que autodenominou de PCS, Plataforma para o Crescimento Sustentável, (sigla que mais parece um disfarce, pois as letras P, C e S da referida sigla podem até querer significar Partido Comunista Social, ou coisa que o valha. Uma mistura de PC com PS, com um C no meio, talvez!).
A dita plataforma diz não ser do PSD, mas que é próxima do PSD. Isto é, aos seus elementos falta-lhes apenas o cartão de partido, porque, de resto, está tudo lá. Tentam fazer parecer que não é aquilo que é fazendo dos outros burros. Faz-me lembrar aquela anedota em que um sujeito diz para outro: “Para burro só lhe faltam as penas”. A reação foi imediata: “Mas burro não tem penas!” Ao que o primeiro responde: “Bom, então não lhe está faltando nada.”
A PCS diz-se uma “associação independente, sem filiação partidária”. Todavia, quem pertence ao conselho consultivo é Francisco Pinto Balsemão, um dos fundadores do PSD que, pelos vistos, parece não querer ser do PSD nesta andança, já que são apenas próximos do PSD conforme declaram. Neste momento ainda não se vislumbra o posicionamento de Passos Coelho face a esta plataforma PCS.
O projeto que o grupo de trabalho do PS e BE apresentou para discussão e reflexão sobre o tema da dívida pública tem que ser analisado e avaliado com algum cuidado para não ter um efeito contrário ao pretendido, pondo em risco a estabilidade dos mercados no que se refere aos juros e “ratings”.
Prevendo outros ventos europeus sobre a gestão das dívidas públicas a direita, que diz que a sua plataforma não é PSD, mas que é PSD, vai a reboque, dizendo que não se trata de reestruturação, mas da forma de como pagar. Tirando o PCP e BE, alguém pretende o perdão, ou disse que não se devia pagar a dívida? O que esta direita pretende, como sempre fez, é confundir, enganar, baralhar.
Recordo que a primeira ideia apresentada sobre uma eventual restruturação da dívida lançada para debate, já lá vão mais de três anos foi o manifesto subscrito por 70 personalidades portuguesas que defendia que a reestruturação da dívida devia obedecer a três condições: abaixamento da taxa média de juro, alongamento dos prazos e reestruturação, pelo menos, da dívida acima dos 60% do produto interno bruto. Um dos subscritores que assinou o manifesto foi Manuela Ferreira Leite do PSD, que, na altura, foram diabolizados por Pedro Passos Coelho e pela sua “entourage” que, agora, e ainda bem para o PSD, mudaram de ideias.
O grupinho PCS quer um plano pós-troika de reformas para pagar a dívida, mas o que eles entendem por reformas já nós sabemos bem. O pós-troika é o regresso ao passado troikista com outro nome, e mais adocicado. Tudo isto não é mais do que um engodo, para ver se conseguem subir um pouco nas sondagens que andam muito pelas ruas da amargura, lá isso pode ser.
As intervenções de ontem na Assembleia da República por parte do PSD e do CDS, sobretudo as do primeiro, foram uma espécie de deserto inóspito onde nada sobrevive. Sem nada para dizer ou para oferecer como alternativa senão as mesmas receitas do passado vão-se fazendo de vivos através duma oposição circunstancial sobre a qual se vão arrastando, alimentando-se de nada. Atravessam um deserto de ideias como uma espécie que, aos poucos, se vai extinguindo.
São um grupo de gente que não produz nada de prático limitando-se a fazer oposição de casos. O PSD perdeu o prestígio que adquiriu pela sua história e pela elevação das suas ideias. Está agora a pagar o preço da sua deriva neoliberal. A sua oposição ao atual governo faz-me lembrar do conto de Christian Anderson, em que uma criança pôs em evidência um facto dizendo “olhem o rei vai nu” e, então, todos os presentes começaram a murmurar que, de facto, não trazia nada vestido, mas que, até então, não se tinham atrevido a gritar.
A direita está bloqueada, faz uma oposição casuística dos acontecimentos sem nada para apresentar. Argumenta com casos circunstanciais e sem um corpo que possibilite uma alternativa. A sua alternativa é a do passado, aliás confirmado pelo próprio Passos Coelho quando diz: “Este Governo e esta maioria têm um único cimento, que foi repor rendimentos. O nosso problema não é repor rendimentos, é repô-los ao ritmo que não ponha em causa o equilíbrio de que precisamos para não voltar atrás”, sustenta. O líder do PSD acrescenta que “o único cimento que esta maioria teve foi para reverter reformas estruturais importantes que se tinham feito” e acusa o atual Governo, do socialista António Costa, de não ter feito “nenhuma reforma estrutural”. Mas que reformas fizeram eles? O que significa para eles esse vago conceito a não ser dividir o país e cortar a eito, sem quaisquer critérios, fazendo com que todos, e a sua clientela eleitoral, acreditássemos em que não havia alternativa?
O que ele diz agora não é mais do que repetir, por outras palavras, o programa do passado que, apesar de tudo, ajudou a travar a despesa, mais por obrigação do que por mérito. De qualquer modo fazia parte do seu programa empobrecer o país, apenas alguns, com um programa mais gravoso do que aquele que a troika trazia no bolso. A direita com a sua liderança agarrada como está ao programa original do passado que não pretende, nem pode alterar, sob pena de descredibilização, limita-se a discordar de tudo, mesmo da evidência dos indicadores, desvalorizando-os com argumentos falaciosos e desviantes. Preocupa-se porque as divisões que criou nas pessoas e no país, assim como as crispações que causou esboroam-se e a tendência é, de novo, a da união.
Mas eis que está a surgir, qual fénix renascida (pássaro da mitologia grega que, quando morria, incendiando-se, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas), o antigo dirigente do PSD, Miguel Relvas, a defender que o partido “tem de virar a página” e a “apresentar um projeto alternativo” aos portugueses, e propõe Luís Montenegro, o atual líder parlamentar, como potencial rosto do futuro do PSD. O PSD parece que vai de mal a muito pior. elvas e Montenegro são cúmplices absolutos de tudo o que se passou no passado e continua ainda a sê-lo. É bom recordar que Relvas foi o braço direito de Passos Coelho e a sua muleta, juntamente com o engenheiro Ângelo Correia, este na opacidade.
Relvas que é um ‘patriota de mérito’ disse a jornalistas que não vai voltar à vida política, mas continua interessado no futuro do país. Houve um político do PS que afirmou do atual líder que é “um oportunista político filho da crise global, um servidor de interesses e um líder sem pensamento político”. Penso que, apesar de tudo, é ofensivo e que há pensamentos de responsáveis políticos que não devem ser verbalizados desta forma. Outra coisa é poder interessar à esquerda e ao centro esquerda que lá Passos permaneça no seu lugar.
Quem na altura própria fez tudo para elevar Passos à liderança e a primeiro-ministro está agora a contribuir para o fazer cair, são as judas da política que se perfilam para banir os mortos-vivos que por lá andam revestindo-os com novos trapos.
A quem disser que tenho uma obsessão em publicar “posts” relacionados com Passos Coelho eu digo que é verdade. E como não a ter quando este senhor vai para fora, desta vez em Paris, fazer uma oposição disfarçada ao seu país, desta vez, embora de forma suave, mas intencional, para quem o quisesse ouvir, inclusivamente os tais mercados de quem ele se socorria quando esteve no governo para aterrorizar que sem se lhe opunha.
As medidas extraordinárias utilizadas, ou não, para diminuir o défice, dizem apenas respeito aos portugueses e são validadas e escrutinadas por Bruxelas, e basta.
Passos vai para fora fazer oposição, não contra o governo, mas ao próprio país, desdenhando recorrendo a uma espécie de elogio ao que foi conseguido. Mais ainda, lamenta-se e coloca-se no passado como vítima. Afinal, vai pedir lá fora que também o ajudem a fazer oposição. Vejamos então as suas declarações com sublinhados meus.
O líder do PSD afirmou em Paris, perante uma centena de pessoas na sede do partido Les Républicains, que o défice de 2,1 por cento do PIB foi alcançado com "medidas extraordinárias" e "será outro desafio enorme este ano para chegar ao mesmo nível".
"O objetivo do défice foi alcançado, porém, com medidas desta natureza. O que significa que será outro desafio enorme, este ano, para ver se conseguimos chegar ao mesmo nível e outro tanto para o ano a seguir e por aí fora. Será difícil", indicou Pedro Passos Coelho, em Paris.
O líder do PSD afirmou, ainda assim, estar "satisfeito" por se ter cumprido "um défice claramente abaixo de três por cento", o que "é bom" tendo em vista uma saída do Procedimento por Défice Excessivo. Claro que aqui finge-se congratulado, também era o que mais faltava! Mas logo a seguir capta os louros para ele, “Fizemos muito por isso quando estivemos no Governo e achamos que o país fez o esforço que precisava e que merece para poder sair desse procedimento” disse.
E lá vai no seu propósito lançando para o ar o lamento alertando para que o número foi alcançado através de receitas extraordinárias que se fosse ele a tomar "caía o Carmo e a Trindade".
Chega! A oposição faz-se cá dentro! Será que não está preocupado com os mercados?
Os que estiveram à frente da governação num passado, ainda não muito longínquo, fizeram as suas trapalhadas mas nunca ninguém se demitiu nem foi demitido. Caso das listas VIP, por como exemplo, quando Paulo Núncio era secretário de estados do tesouro no ministério de Maria Luís Albuquerque. Paulo Núncio teve uma tirada teatral no caso dos 10 mil milhões que se esgueiraram para os offshore entre 2012 e 2015 o que, diga-se, parece ser muito mais preocupante do que os SMS’s trocados entre de telemóveis de quem quer que seja, com quem quer que já foi, o que ainda deve dar muita satisfação que se saiba a Lobo Xavier.
O golpe de teatro de Paulo Núncio, dando-se ares de tomar uma atitude ético-moralista, que não teve no caso das listas VIP, vem tentar mostrar-nos agora uma integridade política que na altura não teve quando responsável do tesouro.
Isto de assumir responsabilidades governamentais “póstumas” pedindo a sua demissão dum qualquer cargo partidário, neste caso no CDS, já nada nos diz, e nada muda. Isso é lá com ele e com o partido a que pertence, para nós, portugueses não interessa nada. O que nos interessa, isso sim, é o que se passou, o porquê e o como. Claro que o PSD, oportunisticamente, e mais uma vez querendo mostrar-se isento e de princípios éticos corre pressuroso a reclamar uma comissão de inquérito. Tudo bem. Mas não passa duma tentativa para salvar a sua alma porque o caso deu-se quando o PSD e Passos Coelho estiveram no governo e Maria Luís Albuquerque era a sua ministra das finanças.
Eu, cá por mim ficarei com a dúvida que é a de saber se foi apenas um mero esquecimento ou falha administrativa, ou se, de facto, não terá havido a intenção de favorecer quem quer que fosse. Isso de pedir a tal comissão parlamentar de inquérito ainda me levanta a suspeita de ser uma espécie de manobra para enganar o Zé Povinho que ainda acredita num PSD que se quer manter a todo o custo numa oposição que já não é credível. E assim será até que o atual líder se mantiver porque, quando ele sair, os galos que cantam também vão deixar de cantar e eles não querem.
A direita tem demonstrado qual é a sua forma de prestar serviço ao país: desestabilizar, com o apoio de grande parte da comunicação social, para ocupar novamente o poder com estratégia idêntica a que partidos extremistas quer de direita, quer de esquerda adotam por esse mundo. Destabilizar, criar convulsões políticas que lhe abram o caminho ao poder. Quando não há motivo inventa-se um que passe a ser, supostamente, um assunto nacional. Só falta o golpe de Estado palaciano.
Faltava agora o sinistro ex-Presidente da República, Cavaco Silva, aparecer com livros e livrinhos e para ajudar a oposição de direita. Lançando piadinhas provocadoras sobre otimismos do então primeiro-ministro José Sócrates. A este pretexto vai fazendo uma provocação subtil ao atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa contaminada por certo estado de espírito dado à invejinha. Posso até pensar que poderá terá havido uma espécie de conluio com a oposição de modo a ser feita nesta altura a apresentação do livro que me parece ser mais uma forma a dar uma ajudinha à sua fação partidária.
Apesar de Manuela Ferreira Leite, quando se lhe fala de Cavaco, entrar sempre em sua defesa, talvez derivado a tempos passados de governo, ele é o exemplo perfeito da representação da direita deste país. O livro poderá ser idêntico a um volumoso resumo de apanhados de alguma imprensa sensacionalista com mais ou menos considerações para ajudar esta direita cuja reforma está a ser pedida há muito.
Esta é a direita da abjeção. A direita do jogo baixo, como sempre foi, mesmo quando esteve no governo. Enganou, omitiu, trapaceou. É uma direita umbilical cujo poder, dizem, lhe foi tirado. É uma direita amoral, sem ética, cuja luta pelo poder se baseia, e só, em atacar pessoas, é uma direita que não olha para dentro de si. Não olha para os submarinos, para os vistos Gold, para as “Tecnoformas”, para as listas VIP das finanças que não se podiam divulgar e outras, é a direita que usa e abusa de julgamentos na praça pública com o apoio de certa comunicação social, é uma direita que olha para os seus interesses em detrimento de todos nós, portugueses, é uma direita onde se encontram alguns descendentes duma elite que, perdendo as colónias e integrados, pretendem aproveitar Portugal para benefício próprio (felizmente nem todos).
Lembram-se das vezes em que os deputados do PSD e do CDS-PP votaram contra o pedido para ver as mensagens trocadas entre Paulo Portas e os diretores da Mota-Engil? E no caso da Ferrostal, recordam-se? E quando os deputados do PSD e do CDS-PP negaram o acesso a ver as mensagens trocadas entre Maria Luís Albuquerque e os bancos com quem renegociou swaps, recordam-se? E as mensagens trocadas com o Santander Totta como eram? Recordam-se dos deputados do PSD e do CDS-PP terem exigido ver tudo isto tudo alegando a defesa do interesse público?
São agora estes os impolutos e os falsos moralistas. Hipócritas da política, nunca visto em Portugal.
Não lhes vai chegar a CGD, António Costa, e o ministro das finanças. Seguir-se-á a vez do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem não perdoam o apoio institucional que dá ao Governo face aos resultados obtidos. Resultados conseguidos, elogiados, mas pouco divulgados pela nossa “isenta” comunicação social. Recordo apenas que, durante o anterior governo de Passos Coelho, eramos diariamente bombardeados com notícias dos “sucessos” do dia, com o relevo dado a décimas mostrados pelos indicadores, e com os juros quando eram favoráveis da colocação nos mercados da dívida pública. Agora, apenas vemos amostras rápidas dos sucessos do governo atual em notícias dadas atabalhoadamente e de forma confusa.
Precisa-se duma direita sem falsos moralismos, com ética, com valores, séria e faça mais oposição e menos rábulas.
A direita PSD e CDS faz-me lembrar aquele tipo de cães de guarda que, quando esfomeados, em vez de ajudarem a guardar a casa, que também é deles, ferram os dentes no sujeito encarregado da sua segurança.
Entrámos na época carnavalesca e a direita mascarou-se e construiu um carro alegórico que passa na comunicação social apenas aplaudido por aqueles que o ajudaram à sua ornamentação e pretendem que o desfile continue durante a quaresma. Aliás esta direita sempre foi carnavalesca mesmo quando esteve no governo e como sabia que o era pretendeu eliminar o carnaval, senão no calendário, pelo menos no povo.
Mais lamentável é ainda a comunicação social que alimenta aquele carnaval confundindo notícias com comentários políticos, procurando tudo quanto seja negativo e omitindo o positivo que deveria ser divulgado. Alinhando com a oposição a comunicação social, especialmente alguns canais de televisão, pensando que fazem dos portugueses parvos e selecionam nos seus noticiários o que à oposição interessa. E, quando algo de positivo acontece e não conseguem deixar de o divulgar fazem-no de tal modo confuso em números e comparações que um espectador menos atento ou menos informado ficam sem perceber nada. Ainda ontem, na TVI, no jornal da oito isso aconteceu. Sobre as contas do ultimo trimestre de 2016 divulgadas pelo INE, nem nada. Apenas uma pequena informação onde leva a crer que os indicadores tinham piorado. Alinha pelas declarações da direita. Sobre a declarações de Passos Coelho (embora não agradáveis) sobre o resultado desses indicadores, divulgados ontem pela Antena 3, às notícias, a TVI disse nada.
No último trimestre do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) fixou-se nos 1,9%, em relação ao período homólogo, e nos 1,6% face ao trimestre anterior. Mas, para Passos Coelho, o crescimento ficou, no entanto, abaixo das estimativas anteriores. Defende uma “alteração de política económica” que “o Governo tenha a humildade de concretizar”. Pergunto eu: qual é essa alteração? Voltar à mesma que ele aplicou? Continuamos sem saber porque ele e os do seu partido passam o tempo a falar na CGD, nos mails, SMS, cartas e cartinhas cujo conteúdo não interessam à maior parte das pessoas, tudo numa espécie de carnaval político. Disse ainda que, “quando a poupança é sacrificada, como foi em 2016, o próprio investimento interno é penalizado”. Boa! Então no tempo dele é que havia poupança quando retirou poder de compra e reduziu salários e pensões?
Direita e televisões em consenso tentam enganar-nos por omissão. Como não poderemos desconfiar do controle da comunicação por grupos de direita?
O corso carnavalesco da direita vai continuar devido ao défice de argumentos que se traduzam numa oposição credível já que a seus argumentos do passado, quando foi governo, estão em derrocada. Como o diabo não vem a direita quer forçá-lo a sair do inferno, para mal de Portugal, do país e dos portugueses que eles dizem defender. Temos que lamentar a baixeza do tipo de oposição do CDS e do PSD, mais conotada com o PSD, partidos que deveriam primar pela credibilidade política. O que a oposição de direita tem feito é apenas lutar por mais uns pontinhos em termos de décimas a mostrar nas sondagens.
Saiba tudo sobre a fotonovela da CGD. Os segredos, as cumplicidades, as receitas partidárias, as conspirações e tudo o que dá para atrair as atenções da comunicação social na “Fotonovela da CGD ou a crise do não tenho mais nada”.
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