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É notória a preocupação dos órgãos de comunicação social, em especial os televisivos, quer em debates sobre política, quer no âmbito comentarista, sobre as candidaturas à Presidência da República que o Partido Socialista irá ou não apoiar e, muito pouca vontade, em saber qual será o candidato a apoiar pela direita.

As eleições presidenciais são lá para 2016, antes serão as eleições legislativas pelo que é sobre estas que se devem centrar as atenções, o resto virá por acréscimo em devido tempo. Todavia o tempo e o espaço dos órgãos de comunicação social é sobrecarregado pelas presidenciais.

A preocupação é acima de tudo com o candidato à Presidência da República a apoiar pelo Partido Socialista que, a cada dia que passa, transforma-se em agitação, numa pressão para que o PS diga quem vai ser o seu candidato.

Para alguns comentadores, analistas políticos e "fazedores" de opinião não interessa quem vai ser o candidato dos partidos do Governo ou quem irão apoiar para Presidente da República, o seu alvo de interesse é apenas o Partido Socialista. Especulam e induzem a quem os ouve representações mentais falsas sobre potenciais candidatos à esquerda ou ao centro, alegando desconhecer o que eles pensam, quem são, ou até acusando-os de populismo. Por outro lado, promovem os potenciais candidatos da direita que ainda não se posicionaram ou mostraram claramente abertura para o cargo, fazendo deles, desde logo, os mais bem colocados e consensuais entre os eleitores.

Estão mais preocupados interessados em quem será o candidato apoiado pelo Partido Socialista do que pelos próprios candidatos. São parcos em comentar os "dotes para presidenciais" de candidatos como Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso (?) que entretanto desaparecem de cena para concorrer ao cargo, pelo menos até ver.

Passos Coelho no Congresso do PSD caracterizou o perfil que não deve ter um chefe de Estado: "protagonista catalisador de contrapoderes, catavento de opiniões erráticas, popularidade fácil, complicar ou bloquear, protagonista político.". O perfil traçado por Cavaco Silva é para esquecer nem merece gastar tempo.

A direita parece não ter candidatos, mas, ao contrário de Passos Coelho, parece apostar em Marcelo Rebelo de Sousa como potencial vencedor das eleições presidenciais. É conhecido e um protagonista conhecido e mediático. A ser verdade deixa muito a desejar o que pensam da cultura política dos portugueses, passando-lhes um atestado de ignorância política porque são levados apenas pelo mediatismo daqueles em que vão votar.

Na expectativa do Partido de Socialista poder vir a ganhar as eleições legislativas querem a todo custo que seja eleito um Presidente da República que lhes seja tão favorável quanto Cavaco Silva.  

Começa a perceber-se que, qualquer que seja o candidato à Presidência da República que venha a ser apoiado pelo Partido Socialista, será sempre arrasado por comentadores e jornalistas que apoiam a direita. Até há quem, sob a capa da isenção, emite opiniões que desembocam na apreciação favorável dos potenciais candidatos apoiados ou a apoiar pela direita. Começou um pré-campanha de propaganda a Marcelo Rebelo de Sousa para ver se pega.

Marcelo Rebelo de Sousa colhe muitas simpatias, dizem. Claro, vale a publicidade que lhe tem sido concedida enquanto comentador político ao longo de anos. Passou a ser uma vedeta mediática. Mostra ser simpático, afável e, por isso, apesar dos seus comentários políticos do tipo cata-vento não deixa de ser um grande apoiante das políticas seguidas pelo PSD. A técnica do cata-vento tem a ver com uma espécie de autopromoção no sentido de mostrar ser isento nas suas opiniões.

Se Marcelo se candidatar e tomar lugar em Belém será pata todos os efeitos políticos uma espécie de Cavaco, apesar de menos carrancudo e com uma atitude comunicacional diferente. Será um Cavaco menos rancoroso, mais simpático, menos cara fechada, mas um Cavaco que, como ele, não hesitaria em manter ao limite o mandato do primeiro-ministro mesmo com prejuízo do país.

Tentar relevar as presidenciais não é mais do que uma tentativa de manobra de distração sobre as reais discussões que devem existir sobre a péssima governação que nos atormenta há mais de três anos. Recorde-se que o XIX Governo Constitucional liderado pelo neoliberal Passos Coelho tomou posse em 21 de junho de 2011 e o seu mandato, de acordo com a Constituição da República, é de quatro anos seria nesse mês que deveria terminar a 4.ª sessão legislativa, da XII legislatura que se iniciou em 5.09.2014 mas o Presidente da República resolveu adiar as eleições para setembro ou outubro.

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publicado às 22:37

Comentaristas e enganadores

por Manuel_AR, em 16.03.15

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Os comentadores políticos, a maior parte deles militantes do PSD, têm a pretensão de serem isentos e vão dando aqui e ali umas novidades dos acontecimentos políticos da semana que dizem de fonte segura que não revelam interpretadas à sua maneira. Aqui e aí lançam umas novidades, fazendo-se muito bem informados. São canais de propaganda que o Governo utiliza para veicular certas informações. Trabalham os acontecimentos políticos da atualidade mostrando-se isentos nas suas análises mas sempre tendo na mira a oposição que é feita ao Governo que apoiam. Aqui e ali vão dando umas pinceladas criticando medidas que vêm da sua área partidária, mas isso faz parte da estratégia na arte de convencer quem os vê e ouve.

São sujeitos da retaguarda da propaganda do Governo cujas opiniões tendem a influenciar as já formuladas por outros através de canais de televisão de maior audiência e popularidade em horário nobre e, não raras vezes, provocam ruído comunicacional. São exemplo mais mediático Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Morais Sarmento entre outros comentadores, alguns ditos jornalistas que, quando convidados mostram tendência interpretativa sempre para o mesmo lado.

Não admira que Marcelo Rebelo de Sousa, se for candidato a Presidente da República, tenha grande aceitação por parte de muitos que ouvem as suas pantomimices pois são estudadas ao abrigo duma pretensa isenção de modo a conduzir ao engodo.

Podemos fazer um pequeno exercício supondo que, no atual contexto governativo, em vez de Cavaco Silva seria Marcelo Rebelo de Sousa o Presidente da República. Claro que não haveria qualquer semelhança e, com certeza, não faria muitas das tristes figuras do atual, disso não tenho dúvida.

Todavia, é legítimo questionarmos qual seria a atitude do Presidente, caso fosse Marcelo Rebelo de Sousa, ao longo destes últimos três, quatro anos, nas mesmas circunstâncias políticas? Teríamos ainda este Governo tal como o temos hoje? Sim, digo eu. Outros dirão que teria feito intervenções que pudessem influenciar muitas das medidas do Governo. Talvez, digo eu. Isso resultaria? Não, digo eu. Outros dirão ainda que já teria chamado o primeiro-ministro para lhe dar um "raspanete". Só se fosse como ilusão mediática, diria eu? Um meu vizinho diria também que talvez conseguisse mais habilmente consensos com o Partido Socialista do que o atual Presidente. Duvido, responderia eu.

Quando se fala em eleições para a Presidência da República ter um Presidente da República da mesma área partidária do Governo é o mesmo que apostarmos numa ditadura em regime democrático. Contradição ou talvez não!

Uma maioria, um Governo, um Presidente teria sido muito eficaz nos anos em que Sá Carneiro esteve à frente do PSD que atualmente está dominado por uma espécie de extrema-direita de ideologia primária, sem escrúpulos, inculta, apoiada em compadrios e conhecidos vindos das "Jotas" ansiosos por um emprego público que lhes dê uma carreira que nunca teriam nem encontrariam no mercado de trabalho . Veja-se o caso da Segurança Social e das nomeações.

Montagem a partir de uma composição de Norbert Lieth

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publicado às 15:57

Espécies preconceituosas

por Manuel_AR, em 26.02.15

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A liberdade de expressão e de opinião são um dos pilares básicos de qualquer democracia. Quanto a isso estamos entendidos. Mas, independentemente das opiniões de cada um, sejam de direita ou de esquerda, há um mínimo de honestidade que deveria prevalecer nos comentários e análises.

O mesmo poderá verifica-se no mundo dos "blogs" e das redes sociais mas aí as emoções e os radicalismos por vezes sobrepõem-se à clareza de espírito.

Ao longo dos últimos anos, surgiram nos meios de comunicação social umas espécies preconceituosas sobre tudo quanto sejam soluções diferentes daquelas que, com insucesso, têm sido seguidas. Tornar-se-ia enfadonho fazer aqui uma classificação taxinómica destas espécies que, calorosamente, apregoam as vantagens de soluções liberais e austeras e de quanto mais radicais melhor para debelar crises e criticam afincadamente as decisões democráticas do povo grego sugerindo ser ignorante e estúpido como muito subtilmente já o fez Schäuble.

Muitas daquelas espécies, quais predadores, atacam tudo o que mexa a defender a manutenção ou melhoramento do estado social ou que proponha acesso a serviços de saúde e de educação dignos para toda a população, como o deveria ser em qualquer estado de direito[i] que tanto proclamam quando lhes convém. Tudo quanto seja Estado é um fantasma que os persegue em todas as circunstâncias. Não há meio-termo.

São espécies predadoras que vivem às claras nos órgãos de comunicação escrita e audiovisual e se dizem democráticas mas que, sempre que espreitam uma oportunidade lançam-se sobre as suas vítimas, através de editoriais, opiniões e comentários a tudo quanto seja conotado com a esquerda. Defendem o seu território quando se sentem em perigo.

Fazem também parte daquela espécie aves que vagueiam a sobrevoar o território dos media para captar tudo quanto seja alimento para o seu voraz apetite pela deturpação da realidade, e ao mesmo tempo omitindo tudo o que possa beliscar a realidade que defendem a todo o custo.

O germanismo parece ser uma doença viral que se apoderou destas espécies, não apenas em Portugal mas também na Europa. São adeptos fervorosos e reproduzem uma visão única e unilateral: a dos germânicos.

Até Obama serve para justificarem os seus intuitos predadores. Lançam-se com uma visão político-umbilical e deturpada dos factos sobre o que envolva propostas diferentes daquelas que acham ser únicas, sejam elas na Grécia, França, Itália ou Espanha e, claro, sempre com os olhos postos no elogio daquilo que, para elas, tem sido a governação em Portugal, país que pretendiam fosse o seu território de caça para todo o sempre.

Referindo-se às ilusões da esquerda para a resolução da crise política, económica e financeira da Europa uma das espécies a que me refiro escreveu, esta semana, no editorial dum jornal diário, que "Barack Obama era apresentado como um salvador que tudo mudaria com a força e o messianismo das suas palavras. Prometeu mudar o mundo… O mundo está hoje muito mais perigoso do que quando ele chegou ao poder." Conclusão a tirar, Obama é do partido democrata dos EUA e não Conservador Republicano (como se sabe nos EUA existem dois partidos onde estão aglutinadas várias tendências), logo o mundo está pior. Por esquecimento ou omissão premeditada não teve a honestidade de referir que foi George W. Bush quem abriu a caixa de pandora que era o Iraque ao iniciar em 2003, com a complacência da Durão Barroso, Tony Blair e José Maria Aznar, uma guerra naquele país com base em falsidades que custou centenas de milhares de mortos e biliões de dólares e que resultou no que agora se está a passar no mundo. Estes predadores só referem o que lhes convém.

Mas vai mais longe, critica tudo quanto sejam obras públicas como uma medida para a resolução da crise mencionando proposta de Hollande e Renzi .

Numa economia de mercado como é a da Europa a iniciativa privada é um fator fundamental e essencial para que haja investimento e consequente criação de emprego, é um facto. Tomando como exemplo o caso português as medidas tomadas até agora não funcionaram para dinamizar e incentivar o investimento empresarial. O INE aponta para uma taxa de variação negativa de -2,2% para 2015 da Formação Bruta do Capital Fixo, investimento empresarial. Outro facto.

Colocadas estas premissas, a pergunta que ocorre fazer às espécies que endeusam esta direita é: o que fazer? Esperar que o investimento caia do céu? Parece-me bem que é isso que tem estado a acontecer. Pedem às esquerdas que apresentem alternativas às políticas e austeridade seguidas. Pergunto eu, continuando com as mesmas práticas quais são as deles?

 

[1] Um «Estado de direito» é um «Estado democrático», o que significa que o exercício do poder baseia‑se na participação popular. Tal participação não se limita aos momentos eleitorais, mediante «sufrágio universal, igual, direto e secreto», mas implica também a participação ativa dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais, o permanente controlo/escrutínio do exercício do poder por cidadãos atentos e bem informados, o exercício descentralizado do poder e o desenvolvimento da democracia económica, social e cultural — ou seja, a responsabilidade pública pela promoção do chamado Estado social: a satisfação de níveis básicos de prestações sociais e correção das desigualdades sociais.

 

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publicado às 23:21

Os bons os maus e os vilões

por Manuel_AR, em 08.12.14

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A detenção de José Sócrates foi uma espécie de lotaria para comunicação social, nomeadamente para certa imprensa que aumentou as vendas e, à custa disso, também os noticiários das televisões têm dominado as atenções. Os comentadores e os entrevistadores pretendem brilhar colocando avidamente aos entrevistados as mesmas questões, até à exaustão, sobre Sócrates.

Já agora é de recordar à mesma comunicação social como se encontra o caso do BPN sobre o qual não tem sido violado o segredo de justiça e a comunicação social já nem dá cavaco? Ou será que enterraram definitivamente o processo e a culpa morreu solteira. Este processo parece ter caído nos meandros da obscuridade. E os vistos gold? Será que estão bem e recomendam-se?

O segredo de justiça ao ser violado e direcionado para órgãos comunicação preferido pelo seu violador deu lugar ao espetáculo mediático que se sabe. Não há revista nem imprensa que não esmiuce a vida de um cidadão que teve a particularidade de ter sido um primeiro-mistro de Portugal. Se bom ou mau, isso já pertence ao foro de apreciação no domínio da execução política. Se praticou, ou não, atos ilícitos isso é do foro da investigação judicial e da aplicação da justiça.

A manipulação da opinião pública é evidente, e os manipuladores que por aí proliferam são mais que muitos. Vejamos como podemos caracterizar os manipuladores sejam eles jornais, televisões, comentadores e "fazedores" de opinião:

Culpabilizam o alvo antes de qualquer acusação, fazendo sair rumores, suspeitas e indícios em nome da justiça.

  • Culpabilizam outros em nome de uma qualquer ligação sentimental, de amizade ou consciência profissional.
  • Dissimulam ódios pessoais sobre determinadas pessoas através de comentários e opiniões sobre factos sem que, na realidade, nada se comprove mas apresentam-se como pessoas idóneas e isentas.
  • Ilibam-se a eles próprios colocando a responsabilidade em outros e colocam-se acime de qualquer suspeita.
  • Comunicam as suas opiniões de forma clara sempre que as mesmas possam atingir outro ou outros e procedem contrariamente sempre que eles ou os interesses que representam são postos em causa.
  • Em entrevistas ou debates sobre questões que digam respeito a partido político da sua simpatia ou grupo de interesses responde de forma vaga ou confusa.
  • Emitem opiniões sem função de pessoas e situações presentes sem atenderem a quaisquer princípios morais ou éticos.
  • Evocam a perfeição que deveria existir nos visados esquecendo-se deles próprios.

Um dos casos, há muitos outros, é o de João Miguel Tavares que defendeu no jornal Público que diz que "os fazedores de opinião" deveriam culpar Sócrates porque "ali entre 2007 e 2011 boa parte da opinião pública preferiu fechar os olhos ao elefante no meio da sala. Se não havia provas, havia infindáveis indícios.".

É o velho ditado popular de que "não há fumo sem fogo". Só que, muitas das vezes, culpabiliza-se antes o que, depois, se verifica ser apenas uma fumaça que se esvai com o vento.

Não se trata de saber, agora, se José Sócrates é, ou não, inocente. Não se possui informação suficiente e fidedigna até ao momento, a não ser a que sai na imprensa a conta-gotas e cuja credibilidade das fontes se desconhece. Trata-se de proceder à exploração das emoções mais primários das pessoas, aproveitando a desinformação, para servir outros interesses, colocando de lado toda e qualquer ética e moral.

Claro que em questões de opinião, para Tavares, vale tudo. O ódio de João Tavares para com José Sócrates data de 2010 quando este interpôs um recurso contra o jornalista por causa de um artigo de opinião posteriormente considerado improcedente pelo Tribunal da Relação de Lisboa, cujo acórdão dizia que "o texto em causa é um mero artigo de opinião e não uma notícia ou crónica. Ou seja, é um texto no qual o autor apenas exprime uma opinião e como tal não está sujeito à regra da prova da verdade dos factos.". Ventos de ódio causados, é certo, pelo próprio Sócrates, que não soube enquanto governante lidar bem com a comunicação social.

O que faria ele se alguém colocasse um artigo de opinião, num qualquer jornal que a publicasse, dizendo que tinha descoberto uma série de indícios supostamente verdadeiros sobre João Miguel Tavares no exercício da sua profissão, apelando às emoções da opinião pública contra ele. O melhor que podia acontecer era colocar-lhe um processo em tribunal. Provavelmente não aconteceria nada. Ora aqui está onde queria chegar, isto é, categorizando um meu artigo como de sendo opinião poderia sempre, mesmo que nada tivesse provado, forjar indícios, vilipendiar, acusar, ou o quer que seja, sobre João Miguel Tavares que teria como quase certo poder ser absolvido. O certo é que tinha contribuindo para manchar o seu nome perante a opinião pública. Onde estariam então a ética e a moral?

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publicado às 15:00

Magia ao Luar uma forma de ver

por Manuel_AR, em 13.09.14
 

Nada melhor do que uma ida ao cinema para ver um bom filme para intervalar dos políticos e de jornalistas comentadores que por aí proliferam. Escrevem uns artigos de opinião em jornais, alguns de referência, que na televisão transformam em discurso verborreico.

Sou fã desde muito jovem do argumentista e realizador Woody Allen. De todos quantos realizou e foram muitos, devem ter sido poucos os que não vi.

Magia ao Luar (Magic in Moonlight) estreado em Portugal a semana passada afasta-se das preocupações temáticas e do ritmo dos anteriores. Os diálogos por vezes demasiado longos nem sempre funcionam e o sarcasmo usual do texto de Allen é por vezes repetitivo, daí a oscilação do seu ritmo.

É uma comédia romântica sobre um inglês a quem é solicitado que ajude a desmascarar uma possível fraude das complicações pessoais e profissionais decorrentes.  Stanley, um mágico que trabalha sob o nome de Wei Ling Soo (Colin Firth), é solicitado por um amigo para ir à Riviera francesa para desmascarar  uma fraude. O alvo é Sophie (Emma Stone), oriunda de família pobre que diz ser uma clarividente americana que deslumbrou uma família rica com seus supostos dons.

A estreia de um filme de Woody Allen é sempre um bom evento e este último tem tudo para agradar, é romântico, divertido e, ao mesmo tempo, sério. Passado em 1920 poderia muito bem passar-se na atualidade onde proliferam cada vez mais adivinhos, cartomantes, conselheiros astrológicos e outros que tais que alguns canais de televisão se encarregam de promover.

Neste novo ambiente de comédia romântica Allen sai dos problemas metafísicos e psicanalíticos da existência da vida nova-iorquina, como aliás já tinha feito em "Meia-noite em Paris", e enveredou pela via dos fenómenos paranormais, telepatia, precognição, clarividência e mediunidade patentes neste filme. Os filmes Allen devem ser vistos com olhos diferentes de qualquer outro filme pois eles expressam um estilo e uma personalidade própria e uma forma de ver o mundo e a realidade social do ponto de vista filosófico, social e psicológico sem submeter o espectador a uma tortura de mais de uma hora. Eles são uma análise sobre a fé e a razão, a ilusão e a realidade, o otimismo e o pessimismo e dinâmica relacional que advém da convivência de todas estas dicotomias.

O ponto de partida pode parecer aparentemente simples e sem interesse mas Allen surpreende-nos com a sua arte de realizador exímio, e o desfecho, embora se suspeite qual será, não deixa de nos surpreender de forma descontraída e divertida.

O segredo da magia consiste em ludibriar os olhos do espectador. Neste sentido, o trabalho do ilusionista é bem semelhante ao do cineasta, que também deve iludir o seu público ao ponto de o fazer acreditar, mesmo que seja somente naqueles instantes, no que está vendo no ecrã. Woody Allen é mágico e o segredo de uma boa magia consiste em ludibriar os olhos do espectador Lembremo-nos do extraordinário filme "Rosa Púrpura do Cairo" onde Woody Allen coloca os personagens entre realidade e a ficção.

A magia do amor transforma um espírito positivista como o de Stanley Crawford (Collin Firth). Para ele o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro e apenas puder ser comprovado por métodos científicos válidos e desligado de quaisquer crenças, superstição ou quaisquer outros. Apesar da fraude e do espírito científico, o amor por Sophie (Emma Stone) sobrepõe-se. 

De salientar ainda a banda sonora com temas de Porter, além de muito jazz e músicas de cabaré, dos anos 20 não esquecendo a interpretação à altura de Eileen Atkins no papel de tia Vanessa. 

Li algures uma crítica que dizia que este é o pior dos melhores filmes de Allen. Para mim é um dos bons de entre os melhores.

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publicado às 19:06

A caverna

por Manuel_AR, em 08.04.14

 

Não será isto, vivermos numa caverna onde são projetadas sombras (através dos meios de comunicação social) que não são mais do que a criação de ilusões duma prosperidade que se aproxima, quanto a mim falsa, para que, nas próximas eleições, a ingenuidade de alguns se possa traduzir em votos para os partidos do governo.   

 

Após 40 anos após o 25 de abril de 1974 ainda vivemos como se estivéssemos numa caverna sem luz e cujas paredes se encontram forradas por ecrãs de televisão, única luz que se movimenta à frente dos nossos olhos. Tudo se passa como se lá nos tivessem lançado involuntariamente como naquela alegoria em que Platão coloca Sócrates (o filósofo) em diálogo com Glauco, descrito na República, Livro VII, da qual passo a transcrever uma pequena parte (sublinhados meus):

 

"… imagina da maneira que se segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, tendo a toda a largura uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, dado que a cadeia os impede de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada alta: imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

- Estou a ver disse ele.

Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda a espécie, que transpõem o muro, e estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda a espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e os outos calam-se.

- Um quadro estranho e estranhos prisioneiros - comentou.

- Assemelham-se a nós - respondi. - E, para começar, achas que, numa tal situação, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

- E como - observou -, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida.

………………."

 

Frente aos ecrãs da televisão muitos portugueses veem apenas as imagens e a informação que os diversos canais lhe "vendem" e alinham como bem entendem. Tal como na caverna de Platão vemos apenas as imagens, quais projeções de sombras sem que se possam mexer para verem outra coisa senão o que está diante deles. As imagens chegam-lhes como se uma fogueira acesa atrás deles projetasse na parede (o aparelho de televisão) sombras de imagens e sons de ruidosa comunicação. Tudo se passa como se estivessem agrilhoados e ficassem habituados a viver num mundo de informação quase monolítica, que condicionam o seu pensamento crítico.

Claro que a realidade não é tão terrível como esta, mas, mesmo assim, ela tem contribuído para transformar os portugueses idênticos ao dos homens da caverna de Platão, cortando-lhes as asas para a imaginação, retirando-lhes e paralisando-lhes a vontade para criticar, reagir e agir.

As épocas eleitorais são propícias para estas análises. Nesta altura tudo serve para que, quem está no poder, possa manipular os circuitos informativos de modo a fazer passar as suas mensagens de boas novas e promessas, muitas delas incumpridas, o que já foi sentido por experiências em momentos do passado recente.

Os comentadores, porta-voz do governo, passam sistematicamente mensagens de sucesso à mistura de gaguejos mais ou menos críticos a algumas aspetos, poucos, que não são mais do que convenientes notas musicais desafinadas dando-se ares de isenção.

Estando atentos aos alinhamentos dos programas informativos das televisões deparamo-nos com incongruências entre pedidos de sacrifícios, austeridade continuada a par de recuperação económica do país, (não dos cidadãos), como aquela que ainda hoje foi anunciada pelo FMI do crescimento de 1,2% para este ano. Coincidentemente ou não, tudo se alinha para ludibriar os portugueses e os europeus antes das próximas eleições, que convém não sejam perdidas pelas direitas europeias.

Repare-se como é possível que, numa época em que todos falam de crise, de austeridade, de recuperação económica insipiente se dê a ilusão de que estamos num país que prospera em crescimento através de reportagens onde se anuncia antes de tempo que os hotéis na Páscoa se encontram esgotados (abril de 2014), criando falsas espectativas positivas para incentivo ao consumo que terão mais tarde (em 2015) consequências funestas…

Será isto um país em crise onde dizem que estamos a viver acima das nossas possibilidades, um país onde nos dizem que já não se voltará aos níveis de 2011, onde já se disse que não se pode comer bife, onde se disse, até há pouco tempo, não se poder subir o ordenado mínimo porque provocaria mais desemprego, onde se afirma que temos que ficar mais pobres, onde se preveem mais cortes no valor de dois mil e tal milhões de euros no estado social, na saúde, na educação, onde o desemprego continua a proliferar em grande escala, onde se mantem propositadamente a dúvida de que as pensões e os salários estão para ser ainda mais cortados, assim como os apoios sociais?

Não será isto, vivermos numa caverna onde são projetadas sombras (os meios de comunicação social) que não são mais do que a criação de ilusões duma prosperidade que se aproxima, quanto a mim falsa, para que, nas próximas eleições, a ingenuidade de alguns se possa traduzir em votos para os partidos do governo.   

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publicado às 17:29

Os ruidosos

por Manuel_AR, em 31.03.14

O que devemos reter sobre o que se passou a semana anterior em torno caso das pensões é que jamais se deve dar crédito aos elementos deste governo de Passo Coelho e a ele próprio, porque, para esta gente, o que é hoje já não é amanhã. É bom que todos nos lembremos disto quando formos votar, mesmo nas eleições europeias, porque seremos um reflexo na Europa do que formos em Portugal.

 

Estes senhores do faz de conta que governam, experientes em disparates, trapalhadas e enganos, quando os cometem refugiam-se e apressam-se a dizer que houve falha de comunicação e que, o que estava subjacente não era bem isto, mas aquilo… Outras vezes queixam-se do ruído da comunicação que eles próprios criam, propositadamente ou por incompetência. Mesmo tendo colocado Poiares Maduro como responsável pela dita comunicação do governo pouco ou nada melhorou, em alguns casos até piorou tal como se viu na semana anterior.

As declarações do secretário de estado da Administração Pública num "briefing" foram a base para o ruído causado, não digo pela comunicação o social já que ela foi mais ou menos coerente no relato das declarações, mas refiro-me à trapalhada e à atrapalhação de elementos do Governo onde claro está, não poderia deixar de estar incluído o primeiro-ministro Passo Coelho.

Aquela semana foi dominada por declarações contraditórias sobre os cortes de pensões e sobre a sua transformação ou não em definitivos. Os cortes de pensões e de salários são a matéria preferida do Governo, aliás única, sobre a qual conseguiu governar, mal, até hoje.

Quanto ao vice-primeiro ministro, como anda no joguinho do toca e foge, lança umas tantas bocas costumeiras, depois recua para não dar muito nas vistas.

Nesta polémica do diz, que diz, mas não disse o que disse, etc., estiveram no centro da polémica, para além do referido secretário de estado, Passos Coelho falando em prudência, Paulo Portas com o desmentido ao secretário de estado afirmando que foi um "erro" que não devia ter acontecido", Marques Guedes, dizendo que foi um "alarmismo injustificado" e Luís Albuquerque a dizer que nada estava decidido. A confusão e a trapalhada estavam lançadas.

Até Marque Mendes, um dos comentadores pró-governo da televisão, afirmou sobre os cortes nas pensões: "uma trapalhada monumental". “Mais do que um problema de comunicação, esta é uma trapalhada monumental, a grande trapalhada da semana”. 

O que devemos reter sobre o que se passou a semana anterior em torno caso das pensões é que jamais se deve dar crédito aos elementos deste governo de Passo Coelho e a ele próprio, porque, para esta gente, o que é hoje já não é amanhã. É bom que todos nos lembremos disto quando formos votar, mesmo nas eleições europeias, porque seremos um reflexo na Europa do que formos em Portugal.

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publicado às 17:07

Os almofadados

por Manuel_AR, em 18.03.14

Será que já não se pode, nem deve, discutir os problemas do país por causa dos mercados?

Será que já não se pode apresentar alternativas diferentes do poder estabelecido?

Será que passou a haver uma censura, já não através do lápis azul, mas de pressões de outra natureza por causa dos mercados, da Merkel ou de qualquer outra desculpa?

 

O manifesto "Preparar a Reestruturação da Dívida" provocou no primeiro-ministro e nos setores neoliberais uma polémica desnecessária, nomeadamente nos comentadores e jornalistas que apoiam e defendem as medidas do Governo.

Escreveram-se e verbalizam as maiores atrocidades e disparates, algumas ofensivas, sobre as personalidades que subscreveram o manifesto, para além de mentiras descaradas ditas por irritadiços jornalistas dos jornais económicos onde a falta de isenção foi mais do que evidente.

Foi longe demais o descaramento ao expressarem nos seus comentários sectários, frente às câmaras de televisão, mentindo sobre o conteúdo do manifesto deturpando o seu sentido e acrescentando da sua lavra o que muito bem entendiam para confundir a opinião pública.

Estes sujeitos sabem que aqueles para quem falam e escrevem não têm acesso ao documento ou, não têm a formação suficiente para o descodificarem e, por isso, reservam-se o direito de fazer interpretações falseadas do seu conteúdo. Para o confirmar bastaria que fosse lido com atenção.

Clara Ferreira Alves, no último programa Eixo do Mal, foi clara no seu esvoaçar de borboleta, desta vez, fazendo voos de toca e foge às posições defendidas por Passo Coelho no que respeita ao momento próprio para o manifesto que, segundo ela, já devia ter sido feita há mais tempo e referindo-se à Alemanha como a "Grande Alemanha". Até falou em "haircut" da dívida coisa que nem está no manifesto. É notório, ao longo dos programas, o seu esvoaçar de pensamento errático não clarificando a sua posição. Como ainda não tem almofada procura uma com todo o afinco.

Jornalistas e comentadores têm o direito e a liberdade de exprimirem livremente a sua opinião dentro de uma ética e moral que não agrida a liberdade dos outros, o que nem sempre é praticado.

Aqueles a que me refiro defendem até à exaustão Passos Coelho e as suas políticas, e enodoam a maior parte das vezes a opinião pública com propaganda descarada, na expectativa de poderem obter uns cargozinhos pagos à custa dos nossos impostos. Veja-se a o caso de Pedro Lomba.

Mas há mais, por exemplo Henrique Raposo, nas suas opiniões demagógicas, às vezes futurológicas, transforma o manifesto como se fosse uma discussão menorizada sobre as reformas dos que a assinaram, o que revela a pequenez duma mente que avalia a dívida portuguesa, que é grave e necessita de alternativas, como uma questão de receber ou não receber reformas. Este escriba de opiniões tem responsabilidades porque escreve no Jornal Expresso. Apesar de muito expectante e pessimista no que se refere à sua futura reforma está de certeza bem almofadado. Como o estão, decerto, todos que ele apoia e fazem parte do governo.

Defendem medidas iníquas e desproporcionadas a aplicar a outros porque sabem que não serão atingidos por elas e, mesmo que assim fosse, estariam bem almofadados para ficarem sempre bem acomodados.

Eruditos jornalistas e comentadores, nas suas crónicas e comentários opinativos, têm vindo a alinhar e a subscrever as medidas do Governo e temem que se proponham outras alternativas que possam colocar em causa as suas próprias crenças que vêm apregoamndo durante tanto tempo. Até o próprio primeiro-ministro, creio que sem ler o documento, irracional e emotivamente, entrou quase em pânico atirando para os jornalistas disparates vagos e sem consistência.

A questão que se coloca é a saber qual é o problema de cidadãos chegarem a um consenso sobre determinados pontos, tão fundamentais para o país, e não poderem e não deverem ser discutidos publicamente. A desculpa já gasta é a dos mercados e da credibilidade. Quer dizer, qualquer debate interno, sobre política económica e assistência financeira, num país livre são à partida coibidos de poderem ser refletidos e discutidos. Será que já não se pode, nem deve, discutir os problemas do país por causa dos mercados? Será que já não se pode apresentar alternativas diferentes do poder estabelecido? Será que passou a haver uma censura, já não através do lápis azul, mas de pressões de outra natureza por causa dos mercados, da Merkel ou qualquer outra desculpa?

Apresentam os papões dos mercados, da troica, do protetorado, da credibilidade.

Os portugueses já não temem os papões porque maior papão do que este Governo não deve existir.

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publicado às 17:24

Os polémicos paradoxais

por Manuel_AR, em 11.11.13

 

De tempos, a tempos, surgem por aí uns senhores que, ciosos de estar nas paragonas dos jornais e nos holofotes das televisões, defendem posições políticas de consonância situacionista, polémicas e, por vezes, contrárias às que defenderam noutras ocasiões. Nesta casta encontramos desde políticos, jornalistas, alguns deles escritores e comentadores nas horas vagas, comentadores económicos, economistas,sociólogos,etc..

A polémica é sinónimo de controvérsia que pode produzir ruturas e colidir com as formas de pensar do senso comum e, daí, todo o interesse em ser polémico porque gera em quem os lê ou ouve reações que o publicitam. No âmbito das opiniões políticas, aos polémicos não interessa se falam mal dele, mas que falem, porque assim não cairá no esquecimento. Aproveitam para se salientar estando contra a corrente do momento.

Por vezes reúnem-se e debatem temas polémicos. Intitulam-nos então de comissões de sábios que estudam e defendem posições e sugerem medidas em matérias polémicas. assegurando-se previamente de que não serão por elas atingidos caso sejam adotadas, apesar de saberem que estão salvaguardados pelo seu estatuto ou e autonomia económica e financeira.

Os polémicos, autodefendem-se das medidas concretas a serem tomadas e tentam evitar que lhes venham também bater à porta. Isto é, defendem a iniquidade se isso servir os seus fins, segundo o princípio de enquanto se sacrificam alguns não me sacrificam a mim. É o princípio das ações iníquas e divisionistas que o governo tem fomentado

Há polémicos provocadores ocasionais e outros sistemáticos. Qualquer deles defende posições que sabem ser vivamente combatidas pelos seus opositores e por muitos setores da sociedade e esperam, disso, feedback. Defendem medidas penalizadoras para a maioria da população aproveitando e utilizando a crise para invocarem a obrigatoriedade de reformas. Tornam-se, por vezes, imorais revelando até, sem rodeios, um certo ódio social aos mais fracos que são a maioria da população anónima a quem antigamente a direita extremista denominava de "maioria silenciosa".

Veja-se, por exemplo, o caso de medidas excecionais como o aumento de impostos ou a retirada de algumas regalias que abranjam todos os setores da sociedade onde os polémicos também se incluam. Não é difícil vê-los combater e criticar o governo que tomou tais medidas esgrimindo argumentos vários que demonstrem os seus inconvenientes. Mas, quando elas incidem apenas noutros setores nos quais não se encontram abrangidos tecem elogios a essas medidas tentando mostrar, debaixo de uma capa de imparcialidade, a coberto de um patriotismo bacoco de que estão incutidas as suas atitudes políticas. Colocam-se do lado de quem lhes dá ou possa vir a dar, (não o pão da sobrevivência diária de que a maioria necessita para viver), cargos altamente remunerados, a manutenção dos mesmos que pretendem manter e, se possível, outro tipo de favores porque a vida está difícil!… Polémicos desinteressados que defendam ideias com convicção e imparcialidade há poucos.

É certo que a democracia constrói-se também com o salutar contraste de opiniões, o que parece estranho é que, consoante as ocasiões mais ou menos favoráveis, e por uma questão de visibilidade mediática, apresentem pontos de vista contrários a outros tomados anteriormente ou, então, ficam-se pelo "nin", quando não refugiando-se num palavreado confuso e impercetível pela maioria dos cidadãos até verem em que param as modas.

As convicções não mudam como o vento ou em função do andar das políticas ou da obtenção de cargos que há muito anseiam. Manter as convicções não significa apoiar medidas a qualquer preço sabendo de antemão que estão erradas. Uma coisa é as convicções não deverem ser limitadoras da expressão livre de opiniões contrárias às circunstâncias de certo momento, outra, é de as manter em função das circunstâncias políticas do momento sem qualquer ética social e política. As convicções podem mudar ao longo do tempo com a experiência,maturidade psicológica e política.

Estaremos por acaso a ver um sujeito que perdeu o emprego sem justa causa ou culpa própria, que ficou sujeito ao fundo de desemprego, como se de uma esmola se tratasse e não tivesse descontado durante todo o tempo de serviço, aparecer com um discurso público, situacionista, a defender que a medida ou circunstância provocada que o colocou involuntariamente naquela situação foi uma boa medida tomada pelo governo, seja ele qual for, ou a defender o corte do seu salário para salvar o país ou, ainda, saudar a destruição do Serviço Nacional de Saúde em nome da medicina privada que ele, sem meios financeiros, teria de passar a pagar? Seria um paradoxo está bem de ver. Mas, se estivesse bem colocado num alto cargo do qual beneficiou por bons serviços prestados ao seu "grupo" não seria de esperar que viesse publicamente dizer as medidas que foram tomadas eram as piores porque ele não deveria ocupar certo lugar mas sim outro mais competente ou, ainda, maldizer quem lho ofereceu, seria também um paradoxo.

Um outro aspeto a que os polémicos dedicam atenção por convicção absurda é a necessidade da mudança a qualquer preço seguindo sempre na mesma direção, o que me faz lembrar a frase que diz que só os burros não mudam. Mas a não mudança também pode ser uma convicção de burrice.

Onde se podem ver um furo eles aí estão alerta para entrarem em defesa do indefensável à luz da insaciável polémica que possa produzir os seus frutos a prazo, a mudança que beneficie alguns prejudicando muitos. Este é o pensamento ideológico que se apoderou da Europa que os regimes neoliberais têm adotado que, mais tarde ou mais cedo com a destruição das funções sociais do Estado porão em causa a própria democracia desencadeando levantamentos populares da qual se aproveitarão movimentos da extrema-direita e também, talvez, de extrema-esquerda cada tendo em vista objetivos opostos.

Talvez até seja esse o objetivo. 

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publicado às 17:00

O engenho e arte dos comentadores

por Manuel_AR, em 31.08.13


A falsa isenção dos comentadores do PSD sobre a política nacional descobre-se sempre que há eleições e agora está à vista. O tríptico de comentadores da televisão que ocupam no final do ano centenas de horas de tempo de antena está em campanha eleitoral pelo PSD para as eleições autárquicas.

Claro que, em democracia, qualquer cidadão pode apoiar o partido em que milita ou o que muito bem entender e que acha que deve apoiar. Absolutamente nada contra.

No que respeita a comentadores a situação parece ser mais discutível. E porquê? Porque há duas formas de ver o problema:

a)      O comentário político associado a debate de pontos de vista ideológicos e partidários o que, consequentemente, faz todo o sentido situar-se na defesa das sua posições face a determinado tema.

b)      O comentário político, isento, imparcial e distanciado da governação e das posições individuais do comentador.

O trio Manuel Ferreira Leite, a obediente discípula de Cavaco, Marcelo Rebelo de Sousa, com as suas pantominices, e Marques Mendes, o estafeta das novidades que dominam as televisões para comentarem a política nacional, a coberto de uma capa virtual de isenção, lá vão, de vez em quando, criticando medidas menos positivas do governo apenas para português enganar.  

Veja-se o caso de Manuela Ferreira Leite, comentadora da TVI24, que tece algumas críticas a medidas tomadas por Passos Coelho e seu governo e, ao mesmo tempo, apoia o partido na campanha eleitoral. Por outro lado não discute as posições do seu guru Cavaco Silva, por mais discutíveis que sejam, defendendo-as com o mais dedicado e afincado empenho.

As eleições autárquicas deveriam obedecer a uma campanha de cariz de interesse regional e local, mas o certo é que isso não acontece. Na campanha para as eleições autárquicas os candidatos e seus apoiantes do governo e dos partidos dirigem com maior frequência as suas intervenções mais no sentido da política nacional do que local. E aí estão a defender o contrário do que muitas das vezes disseram frente às camaras.

A decisão do Tribunal Constitucional sobre a pseudo requalificação da função pública e o novo resgate (que o governo já sabe que poderá vir a acontecer devido às sua incompetência e falhas constantes nas falsas reformas) vai ser e já é o tema da campanha para as eleições autárquicas.

Então os senhores conselheiros do governo, pagos a preços de ouro pelo erário público, não deveriam saber da mais que provável inconstitucionalidade das leis que são enviadas para promulgação?

Digam lá, digam lá,

digam lá os senhores contentes como vai este país!

 

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publicado às 16:26


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