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A moda, a roupa e a crise

por Manuel_AR, em 02.06.12
 
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Em semanas de menos ocupação e com mais paciência deambulo por locais da cidade de Lisboa onde, normalmente, se situam lojas de moda e artigos de vestuário para ambos os sexos parando, aqui e ali, para ver montras e entrando para conhecer as novidade e as últimas coleções. Face ao que espreito nos manequins das montras e nos expositores questiono-me sobre a moda masculina e feminina.

Não sou contra a moda e, dentro das possibilidade, gosto de me vestir bem, mas repugna-me dar centenas, por vezes, milhares de euros por uma fatiota, camisas, calças, sapatos ou maleta de marca que, no dia-a-dia, a maior parte das pessoas não reconhece como tal, a não ser que afixe uma etiqueta da marca em local bem visível. Isto é, pago caro e faço publicidade gratuita através da etiqueta aplicada no vestuário que a marca me obriga a ostentar.

Ao olhar com atenção para os ditos manequins e expositores de moda, constato que os modelos apresentados são de tal forma estreitos, quer acima, quer abaixo da cintura, que sou levado a pensar que foram apenas concebidos para jovens anoréticos e anoréticas.

Por acaso entre nós portugueses, ainda que nos digam que estamos a atingir o limiar da obesidade, há muitos milhares de consumidores de moda que, apesar de manterem uma estatura, peso e medidas equilibradas, por mais que se esforcem não conseguem entrar, nem à força nas medidas que nos apresentam. Pode deduzir-se então que, como já disse, os modelos são destinados aos já referidos consumidores mais jovens que, em princípio, devem ser "elegantes". 

Relacionando o preço e o consumo de artigos da moda com o poder de compra dos jovens ficamos perplexos! Porquê? Porque, considerando que 35% da população desempregada são jovens; que os que têm trabalhos a maior parte é precário; que outros estão à procura do primeiro emprego, não se compreende como é que a moda e os modelos dela consequentes, e mudando de estação para estação, são, na sua maior parte, destinados ao mercado jovem. Ou não há crise ou os jovens, apesar de desempregados, não a estão a sentir e continuam a ter poder de compra através das suas famílias

Sobre o assunto das medidas do vestuário os lojistas argumentam que há também outras medidas destinadas aos outros clientes mas não exatamente os mesmos modelos e padrões. A moda não é atualmente pensada para a estatura e peso médios dos homens e das mulheres portugueses, é destinada a atingir um “target” de consumidores que, normalmente, são os mais jovens. Os outros, os de estatura média, que deve ser a maior parte dos que sustentam este país através dos seus impostos, se quiserem andar bem vestidos que emagreçam para conseguirem as formas e o peso dos(as) modelos esqueléticos(as)de pernas esguias e faces encovadas que passam nas “passerelles” os trapos que vão ser a tendência na época seguinte. Estas modas são ditada por estilistas que sentem necessidade de ser conhecidos e de que lhes afaguem o ego, apresentam estravagâncias destinadas a uma “fauna indescritível de relevante saloiice de inutilidade social e cívica” que vive à volta disso.

Inspirados nos mais diversos e desvairados ambientes sociais do passado e do presente lançam inovações que nada têm a ver com o nosso estilo de vida. Imagine-se o(a) leitor(a) a ir para o seu trabalho vestido(a) com as fatiotas apresentadas por aqueles senhores nas passerelles, como por exemplo as calças com fundilho de inspiração muçulmana.

Por último atente-se neste exemplo real passado numa loja de marca bem conhecida que, por motivos óbvios, não vou revelar: um cliente viu na montra da loja, onde se anunciava uma promoção, uma camisa cujo padrão lhe agradou. Ao ser dado o número de medida da camisa pretendida a lojista informou que, sim senhor, tinha a referida camisa com aquele número de colarinho (número médio de pessoa acimado 40 anos mas, cuja cintura não é propriamente de vespa). A lojista, antes de se deslocar para ir buscar a camisa com o número solicitado, hesitou brevemente, olhou para a cintura do cliente e, solicitamente, informou que tinha o número pretendido, mas que talvez não lhe servisse, que talvez fosse melhor experimentar. O cliente, sem estar a perceber bem, perguntou porquê. A resposta veio com um sorriso nos lábios da lojista:

- Sabe… é que… as nossas camisas são cintadas! Se quiser experimentar um ou dois números acima do que pretende eu vou buscar… mas, mesmo assim, não garanto!

Por este exemplo poderemos ser levados a pensar que o cliente era barrigudo. Pois não era não senhor! Apenas não treinava todos os dias com folhas de alface para se poder enfiar dentro de camisas cintadas, criadas pelos tais estilistas e lançadas no mercado para um determinado tipo de consumidor. Mas, com a crise que estamos a passar, talvez em breve o português de estatura média, por contenção alimentar obrigatória, possa vir a enfiar-se em roupa destinada a anoréticos(as) militantes.

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publicado às 18:36



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