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Interferencia das tecnologias digitais.png

Quando escutamos ou lemos relatos de pais e outros familiares preocupados e lamentando-se por que os seus filhos estão sempre “agarrados” ao telemóvel e ao computador devemos estar cientes que todos temos contribuído em larga medida para este tipo de comportamento.

A aprendizagem social, conceito estudado por vários psicólogos educacionais, começa no seio das famílias. Explicando-me melhor: a teoria da aprendizagem social, do psicólogo educacional Albert Bandura, está em concordância com as teorias da aprendizagem behavioristas (comportamentalistas) do condicionamento clássico e do condicionamento operante, mas adiciona-lhe duas ideias importantes:

a) Processos de mediação ocorrem entre estímulos e respostas.

b) O comportamento é aprendido com o meio ambiente através do processo de aprendizagem observacional.

Na sociedade, as crianças estão cercadas por muitos modelos influentes, como pais ou encarregados de educação, personagens na TV infantil ou juvenil, amigos, colegas de grupo e professores na escola. Estes modelos fornecem exemplos de comportamento que são observados e capazes de ser imitados, por exemplo, masculino e feminino, pró e antissocial, etc.

Numa análise longitudinal observa-se que as crianças prestam atenção a algumas dessas pessoas (modelos) e codificam o seu comportamento. Mais tarde, podem imitar (ou seja, copiar) o comportamento que observaram. Eles podem fazer isso independentemente do comportamento ser ou não “apropriado para o género”, mas há vários fatores que tornam mais provável que a criança reproduza o comportamento que a sua sociedade considera apropriado para seu género.

Se olharmos à nossa volta não passa despercebida a disseminação de smartphones pelas mãos dos mais variados grupos etários. Em casa, nas escolas e universidades, nos transportes públicos, nos cafés, nas esplanadas, nos restaurantes, nas praias, enfim, em todo o lado, a sós, ou em grupos ou em família. É neste último grupo que se enquadra a tecnoferência, novo conceito que define a interferência da tecnologia nas relações familiares. 

No que respeita à utilização de certas tecnologias pais e encarregados de educação, sem se aperceberem, podem manifestar sintomas do efeito da terceira-pessoa quando não se acham passíveis de ser atingidos pelo efeito de algo que, pensam, apenas acontece aos outros e não a eles próprios e aos que os rodeiam. Sobre o efeito da terceira-pessoas pode consultar o meu estudo publicado nos Cadernos de Investigação Aplicada das Edições Lusófonas em 2008, mas ainda atual, “Televisão educativa e atitude face aos efeitos resultantes da exposição a mensagens televisivas: uma análise exploratória sobre o efeito da terceira-pessoa”.

O novo conceito Tecnoferência ou interferência da tecnologia, que foi inicialmente definido como sendo uma "presença ausente" ou o ato de estar fisicamente presente, mas com a mente noutro lugar com base na comunicação ou conteúdos a partir de smartphones. Isto é, muitas das vezes a nossa presença pode ser completamente desconhecida. Nós estamos fisicamente presentes, mas, simultaneamente, tornamo-nos ausentes. Estamos numa dimensão de presencia-ausência (ver Gergen 2002) devido à invasão de dispositivos portáteis na descontinuidade dos diversos espaços sejam públicos, sejam familiares.

Mais recentemente, o conceito de ´tecnoferência' passou a ser definido como interrupções cotidianas em contexto familiar devido às tecnologias. McDaniel (2014) definia assim o conceito:  Embora não haja dúvidas de que a tecnologia pode ser usada de várias formas positivas (por exemplo, comunicação, tempo de lazer compartilhado, gerenciamento da vida), com tantos dispositivos tecnológicos e em torno da vida familiar, é provável que surjam efeitos negativos - até mesmo do uso normativo. Especificamente, concentro-me aqui no potencial de interferência da tecnologia nos relacionamentos de casais e famílias - momentos em que os dispositivos de tecnologia interferem, interrompem e/ou atrapalham a comunicação e as interações entre pares e familiares. Eu chamo isso de "tecnoferência".

Ora, o que diariamente verificamos à nossa volta são interrupções que ocorrem durante conversas presenciais rotineiras, durante as refeições e brincadeiras que nos leva a ter a perceção de intrusão que se sente quando pessoas adultas, crianças e jovens, durante o tempo em que se encontram juntos, interagem com tecnologias digitais. Esta tecnoferência tem vindo a estar associada a conflitos entre pais e filhos.

Quando os pais passam muito tempo a ver televisão ou “agarrados” aos smartphones durante as refeições e nos momentos de lazer e brincadeira, as crianças tendem a mostrar comportamentos problemáticos, maior frustração e hiperatividade. Durante um jantar familiar alargado onde a conversa é centrada à margem das crianças estas tendem a ficar mais barulhentas nas suas brincadeiras tentando chamar a atenção. Empiricamente tenho observado este tipo de comportamentos.

Os vários estudos que foram feitos comprovaram a interferência da televisão na comunicação familiar, mas os dispositivos móveis vieram agravar o problema. Segundo a revista Science Daily, “os pais que passam muito tempo nos seus telemóveis ou a assistir à televisão durante as atividades familiares, como refeições, brincadeiras e horas de dormir, podem influenciar a longo prazo a sua relação com os seus filhos”. Isto tem sido confirmado com investigações que comprovam, pelo menos parcialmente, que a chamada "tecnoferência" pode levar as crianças a mostrar mais frustração, hiperatividade, choramingar, aborrecimentos ou acessos de raiva e, por outro lado, funciona como modelo de aprendizagem social.  

Os resultados duma investigação efetuada por por McDaniel na Universidade de Illinois nos EUA publicada em 14 de junho de 2018 sugerem dinâmicas bidirecionais em que:

a) os pais, sujeitos ao stress ​​pelo comportamento difícil dos filhos, podem afastar-se das interações pais-filhos através da tecnologia, e

b) a utilização exagerada da tecnologia avançada durante as interações entre pais e filhos pode influenciar ao longo do tempo comportamentos de retirada e desvio para outras atividades exteriores.

Em meio familiar há muito que se tornou uma atividade aceite como normal os pais ou os encarregados de educação isolando-se do convívio com as crianças, dentro da mesma sala ou retirando-se para outra, para interagirem isoladamente com os seus smartphones são seguidos, por imitação referencial (diria modelação por imitação) sendo os seus educandos influenciados por intermédio duma aprendizagem social incorporada ao longo dos anos.

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publicado às 22:37

Professores e injustiças.png

Corro o risco de me repetir e de estar, mais uma vez, em consonância com João Miguel Tavares no que respeita à atual questão do boicote aos exames a que a FENPROF dá o nome de greve. Eu e João Miguel Tavares nada temos em comum no que respeita a opções ideológicas na política e muitas vezes tenho colocado do lado oposto das suas opiniões. O seu artigo de opinião publicado no jornal Público “Professores: o justo, o injusto e o Justino”, é outro ponto de vista com que estou de acordo.

Sobre a posição do PSD sobre esta matéria já escrevi neste mesmo blogues com o título “O regalo da direita com as delícias dos professores”. Escrevi então que o disse o PSD quando “acusa o Governo de defraudar e discriminar os professores em relação aos restantes funcionários públicos no descongelamento de carreiras” porque à direita interessa a contestação para captar votos dos professores numa ação eleitoralista e, por isso, junta-se à esquerdas a que chamava radicais e que nada fez nem alterou em prol dos professores quando no Governo.

Foi agora a vez de David Justino, vice-presidente do PSD dar uma mãozinha a Mário Nogueira para participar na “luta” vanguardista dos professores por mais dinheiro e direitos e menos trabalho que, no final, é no que se resume toda esta movimentação contestatária já bem conhecida gerada pela máquina partidária do PCP.

Miguel Tavares utiliza um termo bem interessante quando diz que David Justino resolveu “cantar uma grandolada com os professores”. Ele disse de forma humorística que Justino e o PSD aliou-se aos que cantam com fervor canção Grândola Vila Morena. Tenho um grande espeito pelo que ela representou num momento da nossa história na segunda metade do século passado e ainda é um símbolo, não sei se será esse o caso de Miguel Tavares. Mas pronto, se não for pode voltar a escrever porque está perdoado.

Enfim, o CDS, fica-se pela superfície, e o PSD, oportunista, está a colar-se aos sindicatos mas ninguém avança com o importante: é preciso reformar a avaliação dos professores.

Para quem não tenha acesso ao artigo de João Miguel Tavares no jornal Público transcrevo-o na íntegra com a devida vénia.

 

 

OPINIÃO

João Miguel Tavares

Professores: o justo, o injusto e o Justino

Um vice-presidente do PSD deveria ter bastante mais prudência quando resolve dar o braço a Mário Nogueira para cantar uma grandolada com os professores.

16 de Junho de 2018, 8:13

O vice-presidente do PSD David Justino deu uma entrevista ao PÚBLICO. Título: “O tempo de carreira dos docentes deve ser respeitado.” Pós-título: “David Justino elogia sindicatos e cobra ao Governo a contagem integral do tempo de serviço congelado aos professores.” No mesmo dia, o PÚBLICO tinha como manchete um trabalho da jornalista Clara Viana sobre o número de professores e de alunos existentes no sistema de ensino. Título: “Número de alunos está a descer e o de professores a aumentar.” Pós-título: “Número de alunos no ensino não-superior desce por causa da quebra da natalidade e o de professores aumenta devido à entrada no quadro de cerca de 3300 contratados neste ano lectivo.” Eis o esplendor de Portugal. Na mesma edição do PÚBLICO temos um político na oposição a defender aquilo que sabe que o Estado não pode dar, e o Estado a ignorar os dados mais elementares da realidade demográfica portuguesa.

Será que depois de quatro anos de troika não aprendemos nada, e continuamos sentados a um canto com orelhas de burro, por mais reguadas que a realidade nos dê? Infelizmente, é pior do que isso. David Justino não é burro. António Costa não é burro. Mário Nogueira é tudo menos burro. Eles sabem que se as escolas têm cada vez menos clientela e ainda assim o número de professores continua a aumentar, o ensino público vai dar o berro, tal como o Sistema Nacional de Saúde já está a dar. Simplesmente, não há uma alma política neste país que seja capaz de governar com os olhos postos no longo prazo, e por boas razões: a democracia é um jogo de curto e médio prazo, e colocar demasiadas fichas no futuro é um péssimo investimento. Vejam o que aconteceu a Pedro Passos Coelho – bastou o diabo falhar a sua entrada e o erro de timing custou-lhe a cabeça. Mais do que isso: para quê preocuparmo-nos com justiças futuras quando há tantas e tão grandes injustiças para corrigir no presente?

Então não é justo que os professores contratados entrem no quadro? Claro que é. Então não é justo que todo o tempo de serviço seja contado para a progressão na carreira? Claro que é. Então não é justo que um professor tenha estabilidade e não ande anos e anos a saltar de escola em escola? Claro que é. Qualquer professor consegue apresentar uma longa lista de reivindicações justíssimas, e não é preciso ser Justino para concordar com elas. O problema – o dramático e terrível problema – é que essa soma de reivindicações justas, se forem aceites, criam uma situação simultaneamente injusta e insustentável: tendo o Estado meios finitos, não é possível fazer a todos justiça sem injustiçar o contribuinte.

Donde, um vice-presidente do PSD deveria ter bastante mais prudência quando resolve dar o braço a Mário Nogueira para cantar uma grandolada com os professores, até pelo histórico do seu partido. Há eleitoralismos que descredibilizam – e muito. E quanto à classe docente, com a qual tenho andado em animadas discussões nos últimos tempos, penso que deveria fazer um esforço sincero para levantar o nariz da sua carreira e olhar para o conjunto do país. É claro que para tudo há solução: se existem mais professores e menos alunos, então que se aproveite para diminuir o número de alunos por turma. Não será essa uma medida justa? Eu, como pai de quatro, respondo: é uma medida justíssima! E assim vamos nós andando alegremente, saltando de medida justa em medida justa, até nos afundarmos todos em mais uma injustiça geral.

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publicado às 17:49

Professores e qualidade na educação

por Manuel_AR, em 16.06.18

Professores e avaliações.png

Os recursos humanos mais importantes nas escolas são os professores e representam a maior fatia nas despesas fixadas nos orçamentos para a educação, como aliás acontece em vários países. Se incluirmos as despesas com formação, quando existe, a fatia do bolo engrossa.

Empiricamente está provado que o ensino e as aprendizagens em que estejam envolvidos os mais qualificados e os melhores professores pode tornar o investimento com retornos expressivos e tem correspondência nos resultados na aprendizagem dos alunos.

Os professores não são equivalentes a operários de uma qualquer linha de montagem duma indústria, embora haja quem queira fazer passar essa ideia. Os professores são influenciadores das vidas dos seus alunos e quanto melhores mais essenciais são para melhorar a educação que as escolas fornecem.

Houve em tempo uma perceção desfavorável do trabalho dos professores. Alguns descontentes com as atitudes dos professores ridicularizavam o trabalho dos docentes dizendo que, quem não sabia fazer mais nada tornava-se professor. O facto é que a facilidade de acesso ao ensino superior nas escolas de educação para o ensino básico levou muitos a inscreverem-se num curso que consideravam ser mais fácil, sendo uma via para arranjar colocação numa qualquer escola se possível pública porque mais segura na conservação do posto de trabalho.

A insegurança de alguns professores e educadores no que respeita às suas competências os sindicatos juntou-os numa cruzada contra as avaliações sejam de que tipo forem quer no início, quer ao longo da carreira, mesmo que elas sirvam para melhorar a eficácia, a eficiência e a equidade da educação.

Na maior parte da empresas privadas médias e grandes os seus trabalhadores são avaliados a vários níveis e, daí as suas progressões nas carreiras e potenciais aumento salariais (para além do ordenado mínimo).

Melhorar a eficácia, a eficiência e a equidade da educação depende, em grande parte, de assegurar que pessoas competentes queiram trabalhar como professores, que seu ensino seja de alta qualidade e que um ensino de alta qualidade seja oferecido a todos os alunos. A questão fundamental é captar estudantes competentes que queiram trabalhar como professores, para que o ensino seja de alta qualidade e possa ser oferecido a todos os alunos tendo no horizonte três objetivos: atrair homens e mulheres talentosos para ensinar e retê-los, tornando-os professores eficazes; estabelecer uma interação entre professores e alunos tendo em vista o objetivo final de promover uma aprendizagem excelente, equitativa e inclusiva. Estudar as políticas dos professores significa analisar políticas educacionais e práticas de nível escolar que se relacionam mais diretamente com aqueles três objetivos.

Seria uma política para a carreira profissional dos professores se fossem seguidos critérios idênticos a outros países onde de verifica elevado desempenho dos professores e onde se selecionam, desenvolvem e atualizam as suas competências, avaliam e compensando-os por isso. Este processo pode tem o retorno de captar e reter profissionais com talento no ensino público.

Parece estar demonstrado que a qualidade do corpo docente é mais importante para os resultados académicos dos alunos do que qualquer outro especto. Consequentemente, a avaliação dos professores feita com equidade é de importância crucial para a admissão e melhoria da qualidade dos docentes, só assim se poderão valorar as remunerações.

O que muitos sindicatos reclamam em remunerações e direitos, comparativamente a outros trabalhadores, são duma injustiça evidente. É uma espécie de regresso à política dos funcionários públicos do Estado Novo, quando se aceitava que bons e maus tivessem progressões semelhantes e se davam benesses sociais e se cumpriam as obsoletas diuturnidades.

Como bem diz João Miguel Tavares “os professores falam como se ninguém na sociedade reconhecesse o valor da sua profissão e como se todos desmerecessem”. De facto, não é verdade que a sociedade não reconheça o enorme esforço que os professores fazem diariamente.  O que muitas vezes acontece é que os professores assimilam acriticamente o que os dirigentes sindicais lhes dizem e é a mensagem que o senhor da FENPROF, Mário Nogueira, quer fazer passar em nome de todos os professores, colocando bons e os maus na mesma carruagem.

Atrair candidatos altamente motivados e qualificados para a profissão docente é a prioridade máxima em muitos países. Esta é uma das questões fundamentais pelas quais os sindicatos desta classe profissional não se interessam, e de que alguns nem querem ouvir falar. Sabem que propostas de facilitismo e de remunerações elevadas, à mistura com pedidos de respeito e justiça, são a única forma de mobilizar e movimentar massas.

Em Portugal a atratividade para a profissão docente ainda continua bastante alta, mas vários indicadores levam a crer que na sua maior parte a qualidade dos candidatos é baixa e não tem a qualidade que deveria ser exigida. No país há anualmente um excesso de candidatos a entrar nas escolas superiores de educação o que pode ser demonstrado pela atratividade salarial na carreira docente apesar de haver sindicalistas que digam o contrário fazendo comparações com países cujo PIB é muito superior ao nosso, assim como o crescimento da economia.

Há um Relatório da OCDE que mostra que Portugal não se encaixa nos parâmetros que os países com mais sucesso educativo adotaram para com os seus professores tanto no que respeita à avaliação docente como ao tipo de formação que é oferecida durante o exercício da profissão.

A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) em vez se dar implicitamente ajuda aos sindicatos que decretaram greve/boicote às avaliações melhor faria se refletisse sobre uma pergunta fundamental: quem queremos nas escolas a ensinar os nossos filhos?

Quando se fala em avaliação de professores é o mesmo que pronunciar uma blasfémia que nos leva ao inferno dos protestos sindicais. Porque será? Porquê tanto receio das avaliações? Qual o sentimento de fragilidade que leva os professores a rejeitá-la? Talvez a consciência da falta de qualidade. Não me refiro à avaliação feita em 2014 aos professores no tempo do ministro Nuno Crato que, apesar de desadequado e sem fundamento, mostrou o nível cultural dos professores que o fizeram.

Em alguns países entrar num curso para ser professor é quase tão difícil como entrar nas melhores universidades. Há um exame de acesso e, passando este com sucesso, segue-se uma avaliação numa exigente entrevista. Em média, apenas um em cada dez candidatos consegue e, no caso dos cursos de ensino básico, a média é ainda inferior. O princípio é o de apenas confiar nos melhores entre os melhores para preparar as gerações futuras nas suas escolas e, assim, ser professor é tão ou mais prestigiante do que ser médico  ou qualquer outra profissão de alta responsabilidade. Veja-se, por exemplo, a Universidade de Helsínquia no país que é reconhecido pelos bons desempenhos dos seus alunos. Pode consultar aqui.

A seleção de estudantes no Programa de Educação de Professores (apenas se apresenta um pequeno exemplo) é baseada em exame de admissão que é uma discussão em grupo guiada ou uma entrevista individual ou uma combinação de ambos. Os nomes dos candidatos convidados para o exame de admissão são depois publicados. Os candidatos convidados para o exame de admissão receberão um convite por correio.

O número máximo de alunos a serem convidados para uma entrevista é 1,5 vezes o número de

estudantes para serem admitidos no programa. Se houver mais candidatos, a seleção dos estudantes a serem convidados para a entrevista baseiam-se em estudos anteriores. Os convites serão enviados para os candidatos que preencham os requisitos de candidatura e sejam os mais avançados nos seus estudos.

O objetivo da entrevista é avaliar a adequação do candidato para trabalhar como professor(a), a motivação, o comprometimento e educabilidade do candidato.

O número máximo de pontos a serem dados na entrevista é de 150. Ambos os entrevistadores

deve favorecer a aceitação do candidato no programa para que ele ou ela possa ser selecionado

no para Programa de Educação do Professor. Para ser aceito no Programa, um requerente deve receber um mínimo de 60 pontos no total, e pelo menos 15 pontos em cada parte no exame de admissão.

No caso de pontos pares, a ordem dos requerentes é determinada da seguinte forma:

  1. Será dada prioridade ao candidato que estiver mais longe nos seus estudos no ensino primário (primeiro de ensino), contados como créditos dos estudos obrigatórios que fazem parte do grau;
  2. Se os pontos forem ainda parciais, a prioridade será dada ao candidato que estiver mais estudos da segunda matéria de ensino, contados como créditos dos estudos pertencentes aos requisitos de graduação;
  3. Se os pontos ainda estiverem equilibrados, a prioridade será dada ao candidato que estiver mais estudos em geral, contados como créditos totais.

Em Portugal, as coisas são diferentes. Os melhores alunos nas escolas secundárias não querem ser professores, o acesso aos cursos de ensino não é competitivo e, geralmente, quem frequenta esses cursos especialmente nas escolas superiores de educação privadas, e sei do que estou a falar, são os alunos que apenas obtiveram resultados medianos ou fracos no seu percurso escolar. Isto é, confiamos a missão de preparar os jovens do futuro àqueles que, hoje, estão entre os piores alunos da sua geração.

Quando se fala de avaliações de professores, aparecem umas almas que nos vêm explicar o quanto elas são inúteis e desnecessárias. São a insegurança e a impreparação manifestas que os próprios professores revelam.

Portugal tem muitos maus professores não o é por acaso. É fácil tornar-se professor. Por um lado, veja-se que, enquanto os cursos mais prestigiados mantêm notas de acesso ao ensino superior bastante elevadas, nos cursos de ciências da educação e de professores do ensino básico acontece o inverso.

Segundo Direção-Geral do Ensino Superior nas universidades e politécnicos que lecionam cursos de educação básica, as classificações dos últimos alunos a ingressar nos cursos em 2016 apresentavam as médias mais baixas que variaram entre 100,8 e 130,5 (numa escala de 0 a 200), esta última, a maior, verificada em Aveiro.  Ou seja, dito de forma clara: quem hoje vai para os cursos de professor não são os bons alunos.

Durante o tempo em que fui professor em escolas superiores de educação não era raro haver estudantes a dar erros ortográficos graves e a ter dificuldades na interpretação de um pequeno texto científico da área para a qual estavam a ser preparados. Professores de outras unidades curriculares também se queixavam de ter de descer o nível das suas aulas.

É óbvio que o ponto não é que todos os professores sejam maus, porque, evidentemente, não é assim. Há exceções, e muitas, e ainda bem. Nas nossas escolas, felizmente, ainda há muitos bons e dedicados professores e esses sim podem, comparativamente, considerarem-se injustiçados.

O perfil médio dos atuais cursos de ensino é este: são alguns dos piores das gerações do presente que estão nas escolas a preparar as gerações do futuro. Sem pretender entrar em considerações do tipo de discriminação social, não é o caso, é sabido por estudos efetuados que o perfil socioeconómico dos estudantes nos cursos de ensino é relevante no seu desempenho escolar, embora haja casos que fogem à regra.

Aliás, qualquer professor sabe isto: em média, os seus alunos socialmente desfavorecidos têm maiores dificuldades e, consequentemente, piores resultados. De resto, não é por acaso que, nos rankings, as escolas com mais alunos desfavorecidos ficam nos últimos lugares da tabela. O perfil socioeconómico tem um grande impacto nos desempenhos escolares. Estatisticamente há uma relação entre o perfil social de um aluno e os seus desempenhos escolares.  Todavia isto não é uma inevitabilidade há muitos casos em que alunos há que têm um perfil socioeconómico baixo te em sucessos, é apenas uma tendência. Ou seja, confiamos a missão de preparar os jovens do futuro àqueles que, hoje, estão entre os piores alunos da sua geração.

A rejeição dos professores por todo e qualquer tipo de avaliação tem sido manifesto e apoiado pelos sindicatos cujo algumas das causas são défices de conhecimentos e de competências   para a profissão que os possa vir a fragilizar perante alunos e encarregados de educação.

A OCDE no seu relatório, Professores para o século XXI – Usar a avaliação para melhorar o ensino, parte do princípio de que a avaliação docente deve contribuir para a melhoria do sistema de ensino e não apenas para a progressão na carreira. OCDE dá conta de que continua a existir, em alguns países, como em Portugal, uma falha no que respeita ao sucesso académico dos alunos a que chama uma “combinação malsucedida” que há entre os resultados obtidos pelos docentes na sua avaliação e aqueles que são alcançados pelos seus alunos.

O relatório evidencia ainda que não há sítio melhor para avaliar a qualidade dos professores do que a sala de aula e que, por isso, “a avaliação docente deva estar firmemente ancorada na observação de aulas”. Então, como agora, Portugal é uma das poucas exceções a este postulado.

O relatório evidencia que, se “a qualidade dos professores influencia os resultados dos alunos”, só em contexto de sala de aula poderá esta ser mais bem avaliada. É aqui, “quando os professores interagem com os seus alunos”, que são revelados “muitos dos aspetos centrais da prática de ensinar”, o que leva a que “a avaliação docente esteja firmemente ancorada na observação das aulas” por outros professores ou avaliadores externos. É o que se passa “em quase todos os países" analisados. Portugal é a exceção destacada neste relatório, uma vez que, salvo alguns casos, “a observação das aulas é um dos itens facultativos na avaliação docente".

Recordo aqui um livro de Albano Estrela, Teoria e Prática de Observação de Classes, editado em 1983 com Edição/reimpressão em 03-2015 que é bibliografia obrigatória nos curos superiores de educação e nos cursos para professores do ensino básico.

Assim é determinante para a existência de professores de qualidade que as políticas eficazes para professores não estejam dependentes de sindicatos corporativistas, conservadores e obsoletos.

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publicado às 19:19

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As pressões a que os sindicatos dos professores  sujeitam as escolas consumada pelo boicote às avaliações já tem mais uma força apoiante, desta vez a CNIPE – Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação.

Duvido que esta confederação não se tenha apercebido que, com o comunicado emitido, está a apoiar, a dar força e a colaborar implicitamente com a greve/boicote às avaliações dos seus educandos convocada pelos sindicatos.

À direita interessa esta contestação, daí se juntar às esquerdas manifestas da FENPROF, correia de transmissão do PCP. Pela voz do PSD “acusa o Governo de defraudar e discriminar os professores em relação aos restantes funcionários públicos no descongelamento de carreiras”. O certo é que este partido, quando no Governo, não fez nem alterou nada em prol dos professores.

As contestações dos sindicatos dos professores são aproveitadas partidariamente pela direita e, na prática, são alianças explicitas com os que denominava de esquerdas radicais. Parece que, por interesse partidário, agora já não o são.

A direita defende, hipocritamente, a justiça das reivindicações dos professores. Ela, a direita, sabe que tudo quanto seja prejudicar as finanças toca a seu favor para que, mais tarde, ou mais cedo, possa potencialmente tirar dividendos com um novo potencial descalabro das finanças que venha a interessar para a sua causa, mesmo que seja mau para o país e para todos.

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publicado às 19:19

Professores em luta por mais dinheiro2.png

Professores que eventualmente leiam as minhas opiniões estarão em desacordo, mas dizer apenas o politicamente correto não tem cabimento, e a opinião umbilical nem sempre é a mais sensata.

As palavras de ordem do grande líder e educador do professorado do ensino público são sempre as mesmas, arrepio solidário, força da luta, respeito, justiça, etc. À volta destas lança também outras, sempre as mesmas, como gestão democrática, autonomias, estabilidade, etc.

As manifestações dos professores, tendo em conta o que Mário Nogueira demagogicamente pretende, são a reivindicar mais direito, mais regalias, menos trabalho, mais promoções, enfim, tudo traduzido em mais dinheiro com menos trabalho, menos horários, menos deveres, tudo, tendo em vista apenas e só os professores, o ensino e o direito dos alunos em aprender são de somenos importância para os docentes permanentemente reivindicativos.

A FENPROF que se transformou numa corporação de Mário Nogueira bloqueia tudo quanto seja a avaliação dos professores e, claro está porque o apoiam porque muitos reconhecem implicitamente as suas fragilidades enquanto professores e qualquer avaliação não interessa.

O desprestígio dos professores causado pelo divisionismo entre encarregados de educação e professores foi iniciado por Maria de Lurdes Rodrigues, ministra de educação do governo de José Sócrates que deu a Mário Nogueira a oportunidade reivindicativa anti avaliação de professores que na altura agarrou, e bem. Para manter o aquecimento reivindicativo despontou numa outra perspetiva: aproveitar tudo o que for possível para manter ininterruptamente aceso o extremismo das lutas reivindicativas da FENPROFE.

Fala da dignidade dos professores que lhes está a ser retirada, mas, se tal for o caso, ao líder sindical o deve. O pulsar de opiniões públicas sobre as ditas lutas dos professores está á vista e há um responsável por isso. É a sua prova de vida.

O pugnar pela estabilidade, dignificação e valorização dos professores tem diferente interpretação para sindicatos e ministério.  Se o Ministério da Educação não prima pela seleção probatória nas admissões e na avaliação formativa e de desempenho, o sindicato, por seu lado, centra-se apenas em mais direitos, menos deveres, menos trabalho e, sobretudo, na obtenção de mais dinheiro e por uma utópica igualdade com progressão automática por tempo de serviço, sejam bons ou maus professores.

Diz João Miguel Tavares, e mais uma vez tenho que “engolir sapos vivos” e concordar com ele, que “Anda por aí uma gritaria doida sobre se o Estado tem ou não capacidade para contar dez anos de carreira dos professores — mas a reivindicação só é um problema porque esses dez anos de senioridade docente custam muitas centenas de milhões de euros aos cofres do Estado em promoções automáticas. Ora, mais uma vez, não vejo debater aquilo que realmente importa: interessa-me pouco saber se os anos de serviço devem ou não ser contados; importa-me muito saber se faz algum sentido que o tempo a exercer uma profissão se traduza em aumentos automáticos de vencimento, quer o trabalhador se tenha comportado de forma exemplar, quer tenha sido uma lástima”.

Outras opiniões defendem, ajuizando em causa própria, que “estudos internacionais indicam que os professores portugueses são dos mais mal pagos em início de carreira e só no topo estão ao nível dos restantes países ou um pouco acima”. Há que relativizar, pois este tipo de comparação é falacioso e apresenta uma visão enviesada do tema.

Esses países que o autor não refere quais, têm uma economia e um nível de vida muito superior ao nosso que lhes permite ter remunerações mais elevadas. Se em Portugal os professores no topo da carreira estão ao nível deles algo está errado e, então, estão demasiado bem pagos face à nossa riqueza. Deixem-se de demagogias e de querer o sol e a lua ao mesmo tempo. Os recursos financeiros são escassos e há falta em muitos outros setores da população e dos serviços públicos, nomeadamente na educação e não só ao nível remuneratório.  

A Educação deve ser, para o Governo, uma área de investimento, mas investir na educação e na sua qualidade não é lançar mais dinheiro nos bolsos nos professores, sejam eles bons ou maus, sejam competentes ou não, como pretende Mário Nogueira. O desinvestimento que diz existir na educação é apenas e só, porque acha que se deve apenas embolsar os professores “tout court”. Os alunos que se lixem…

Desinvestir na educação é dar indiscriminadamente mais dinheiro aos docentes?

Olhe que não dr. Mário Nogueira… olhe que não!

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publicado às 18:58

Estamos fartos da ditadura professoral

por Manuel_AR, em 09.06.18

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Regressado duma viagem por Espanha e por França deparo-me mais uma vez com as reivindicações duma classe, dita de professores da função pública, manipulados pelo seu grande educador e líder sindical Mário Nogueira que já nem se recorda do que é dar aulas. É o exemplo do líder sindical, que leva os professores a serem uma espécie de mercenários da educação que querem trabalhar o mínimo por mais dinheiro. Lutam pela manutenção de alguns dos seus privilégios, mas têm aos poucos vindo a roubar à profissão o prestígio, a autoridade e a simpatia que ela deveria ter junto da comunidade que é suposto servir.

Temos ainda tantos setores sociais, como o da saúde, educação (salários dos professores não incluídos) carenciados que necessitam de verbas e exigem-se agora verbas astronómicas para manutenção de privilégios que poderia ser feita gradualmente.

Quantas famílias vivem neste país que trabalham com um ordenado mínimo e fazem os possíveis por manter o seu emprego trabalhando horas a fio observam, atónitos, aqueles que deveriam estar mais preocupados e centrados nas avaliações dos alunos em vez de reivindicações impossíveis de satisfazer de momento. para conseguirem ainda mais dinheiro obtido com a contagem integral do tempo de serviço desde há nove anos, que até poder ser legal e de justiça, mas esquecem-se, estes intitulados professores, de que estamos ainda a sair duma crise que sacrificou muitos trabalhadores e que, decerto, não foram eles, os do ensino público, os mais atingidos. Reconheço e dou valor ao trabalho dos professores, os que merecem esse epíteto e que são, felizmente, a grande maioria, cujo trabalho não é muitas vezes devidamente reconhecido por alunos e encarregados de educação.

Não discuto se a luta reivindicativa de reconhecer os 9 anos 4 meses e 2 dias é ou não legalmente justa. Naturalmente sê-lo-á.  Mas há nove anos estávamos em 2007 e no governo encontrava-se José Sócrates como primeiro-ministro, que continuou até 2011. De 2011 a 2015 esteve no poder o governo de coligação de direita PSD-CDS chefiado por Passos Coelho e Paulo Portas. O senhor Mário Nogueira, tirando uma escaramuça aqui e ali durante todo aquele tempo, não abriu a boca sobre o tempo de serviço que lhes foi retirado, mas agora reclama. Porque só agora esta luta desenfreada, com ameaças de greves a exames e prejuízo da abertura do próximo ano letivo que apenas prejudica alunos, encarregados de educação e famílias?

A classe dos professores é aquela que, quer em regalias, quer em remuneração média, é das mais elevadas na função pública e até do setor privado. O manipulador sindical Mário Nogueira faz mover os professores acenando-lhe com mais euros para os seus bolsos e arrasta agora outros para a sua luta de prestígio pessoal e sindical que o leva já ao culto da personalidade pelos ditos professores ululantes no que toca à obtenção de mais dinheiro.

A classe professoral sabe que tem um patrão, o Estado, que não os pode despedir por mais que prejudiquem a educação. O outro patrão, o da política, é o Nogueira, é a ele que prestam vassalagem para obterem o possível e o impossível. É uma espécie de ditadura professoral que não tem quem lhe faça frente. Quem poderá vir no futuro tirar vantagens com este tipo de movimentações?

Só alunos, pais e encarregados de educação poderão barrar atitudes de ditadura professoral colocando de lado opções políticas e partidárias e unindo-se numa grande manifestação nacional contra o boicote que Mário Nogueira e outros como ele pretendem fazer aos exames, às notas e à abertura do ano letivo levando consigo uma classe que deveria ser um prestígio para o país. Pais e encarregados de educação são os únicos que poderão travar este boicote e acabar de vez com atitudes ditatoriais de um líder sindical que desprestigia uma classe.

Embora esteja sempre, ou quase sempre, em desacordo com os pontos de vista e as ideias políticas de João Miguel Tavares vejo que, mais uma vez, estou de acordo com o que escreveu no jornal Público que podem ler aqui.

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publicado às 18:50

Estar de volta

por Manuel_AR, em 04.06.18

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Em breve estarei de volta após o meu regresso de Saint Tropez

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publicado às 09:18


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