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Guerrilha no PSD. SNS o agora e o antes

por Manuel_AR, em 28.03.18

Psd_guerra interna (1).png

1 - No PSD a agitação interna movida pelos liberais radicais do partido, que vieram à luz do dia no tempo do anterior líder, é deveras preocupante para a corrente ainda fiel à social-democracia. Os liberais radicais abriram uma guerra sem precedentes contra o novo líder Rui Rio. Querem que ele vá para o terreno fazer oposição ao Governo. Fazer demagogia e populismo como o faz Assunção Cristas, a líder da direita, como se auto intitula?

As distritais do PSD querem Rui Rio a fazer oposição tendo apenas na mão casos e casinhos do dia a dia ou outros recuperados do passado e sem relevância que algum dito jornalismo de investigação lhes vai fornecendo. Grave tem sido o aproveitamento populista utilizando os incêndios e as vítimas deles resultantes como mote para fazer oposição. Não queria estar no lugar de Rui Rio!

Os liberais radicais do PSD, cuja oposição interna a Rui Rio é “chefiada” por Montenegro e outros neoliberais, sem alternativas à governação socialista, pretendem uma oposição mais firme. Podemos perguntar: oposição sustentada em quê? Querem um milagre político e uma oposição sustentada que lhes possibilite ganhar as próximas eleições em 2019. Pretendem que Rio seja um santo milagreiro.

2 - Entretanto a comunicação social, correspondendo aos desejos da direita que ferrou o dente no SNS e no ministro que o tutela, procura pelo país problemas nos hospitais, como o sarampo, as camas de hospitais, faltas disto e daquilo, tempos de espera e o que mais lhes aprouver.  O que não consigo perceber é por que a mesma comunicação social esquece que muitos dos problemas de que hoje enferma o SNS advêm das medidas tomadas pelo anterior governo.

Como a memória é curta é bom que se relembre que naquela altura foram congeladas carreiras, limitadas as admissões de médicos e enfermeiros, chegando ao ponto milhares destes profissionais terem de emigrar para outros países que os receberam de mãos abertas.

Percorrendo alguma imprensa notícias sobre o SNS entre 2011 e 2014 são várias as que  referiam problemas como se pode ver pela amostra que a seguir apresento. É pena que a memória seja curta para muitos e agora noticiem os problemas como se fossem da exclusividade do atual governo.

Ainda bem que a comunicação social dá a conhecer os problemas que têm de ser resolvidos, contudo, é bom não esquecer que, o que se destruiu leva mais tempo a reconstruir.

Jornal Público: 20 de março de 2012 - Só 4 em 58 hospitais divulgam dados sobre tempos de espera para exames

Jornal Público: 22 de junho de 2011 - Só um terço dos centros de saúde e hospitais publicita tempos de espera para consultas

Jornal Público: 28 de dezembro de 2011 - Utentes do SNS dizem que aumento do tempo de espera é um “prejuízo” e preparam protesto

Jornal Público: 28 de janeiro de 2011 - Novo bastonário dos médicos critica "cortes indiscriminados" e promete defender SNS

Jornal Público: 14 de julho de 2012 - Queixas no SNS aumentam e médicos são os principais visados

Jornal Público: 12 de julho de 2012 - Médicos defenderam SNS com "a maior greve de sempre"

Jornal Público: 07 de maio de 2012 - SNS discrimina mulheres e idosos com enfarte agudo de miocárdio

Jornal Público: 14 de abril de 2012 - Manifestação contra os cortes no SNS reúne centenas de pessoas

Jornal Público: 15 de outubro de 2013 - SNS vai ter menos 300,4 milhões de euros no próximo ano

Jornal Público: 16 de outubro de 2013 - Saúde: entre cortes razoáveis e caminho aberto para um SNS de serviços mínimos

Jornal Público: 08 de julho de 2014 - Uma médica que faz greve: “É desta forma que o SNS está a ser destruído… Fazendo as pessoas fugir”

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publicado às 21:06

Eleitoralismo e acontecimentos desastrosos

por Manuel_AR, em 26.03.18

Catástrofes e eleitoralismo.png

Na nossa história acontecimentos relevantes tiveram causas remotas e causas próximas. Na nossa história recente acontecimentos graves que se verificaram também tiveram causas próximas da responsabilidade do atual Governo e causas remotas da responsabilidade do anterior Governo, o XIX que saiu das eleições de 2011 com a coligação PSD e CDS liderado por Passos Coelho.

Da composição daquele governo constavam a Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, Assunção Cristas de 21 de junho de 2011 a 24 de julho de 2013, e Ministra da Agricultura e do Mar de 24 de julho de 2013 a 30 de outubro de 2015. De 24 de julho de 2013 a 30 de outubros de 2015 passou a ser Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia Jorge Moreira da Silva. Na Administração Interna tivemos Miguel Macedo 21 de junho de 2011 a 19 de novembro de 2014 e Anabela Rodrigues 19 de novembro de 2014 a 30 de outubro de 2015.

Onde quero chegar com isto é que o anterior governo foi a causa remota dos graves incêndios que assolaram o país entre 2016 e 2017 e que neste último ano causou a vida a mais de 67 pessoas.

As causas próximas poderão der atribuídas a responsabilidades várias do atual Governo. Todavia as consequências do presente devem-se a negligências no que respeita a ordenamento florestal e a medidas de redução de recursos e desatualização de meios e à desmobilização de meios, medidas tomadas pelo governo de Passos Coelho quando Assunção Cristas e Miguel Macedo na Administração Interna e eram responsáveis por áreas essenciais na prevenção e controle de catástrofes causadas por incêndios.

Em agosto de 2013, ainda Assunção Cristas era uma das responsáveis pelo pelouro das florestas, foi o grande incêndio que devastou a Serra do Caramulo e matou quatro bombeiros, deixando 13 feridos, apesar disso nada fez e tudo ficou na mesma. Nessa altura as notícias sobre o acontecimento foram tímidas e moderadas, sem a insistências e não se pediram demissões como o que foi no ano passado em que as condições climáticas desse verão ajudaram a agravar o que em si mesmo já era grave. Em agosto 2014 os autarcas queixam-se na altura de “que há muito ainda por fazer”. É certo que incêndios do ano de 2017 foram muito graves em extensão e em pessoas e bens, mas se, anteriormente, durante aos quatro anos de governação PSD-CDS, se tivesse apostado na prevenção e dado início a medidas para evitar futuras catástrofes em vez disso nada se fizeram. Com que consciência Cristas do CDS e o PSD falam agora e levantam a cabeça quando foram causa remota e histórica dos incêndios.

Apesar disso Rui Rio, atual líder do PSD, aproveita isso mesmo para se fazer impor como oposição fazendo uma visita promocional às zonas ardidas que é a sua primeira “visita oficial” às zonas da tragédia, fazendo-se acompanhar por deputados do partido. Rui Rio, referindo-se à ação de limpeza das matas realizada pelo Governo e pelo Presidente da República, o líder do PSD reconheceu que a ação “tem mérito”, acrescentando, porém, que, “perante um relatóri[i] que responsabiliza o Governo, o Governo faz uma ação de marketing”, ao que o Presidente da República respondeu dizendo que “Quem quer que seja governo hoje ou daqui a 4, 8, 12, 16 anos seja governo só ganha com a vitória neste combate. Quem achar o contrário é porque não tenciona ser governo tão depressa.”. Vejo esta afirmação como forma de incentivo aos partidos para virem a fazer campanha a partir da catástrofe.

As consequências das graves ocorrências dos incêndios ainda estão, ao momento, com base no referido relatório estão a ser utilizadas para campanhas promocionais pessoais e partidárias e já como pré-campanha eleitoral, é abjeto para não dizer pior. Há responsabilidades próximas que podem ser em parte da responsabilidade imputadas ao atual Governo, todavia há também responsabilidades, também elas muitas e graves, do anterior governo.

[i] Relatório dito independente proposto pelo PSD; independente apenas porque os seus elementos não são militantes do partido.

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publicado às 16:01

Retalhos de notícias

por Manuel_AR, em 15.03.18

15/03/2018

Entidade liderada por Teodora Cardoso estima défice de 0,7% este ano e excedente em 2020, mas avisa para os "riscos políticos" perante as facilidades.

Provedora da UE sugere que a Comissão decrete uma proibição formal de contatos com Barroso por um período de tempo alargado. Antigo presidente contesta o conteúdo das 17 páginas de recomendações.

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publicado às 00:03

Metamorfose de Cristas (1).png

Poucos dias antes do congresso do CDS-PP que se realizou no dia 10 de março em Lamego Assunção Cristas andou agitada, expansiva, exacerbadamente otimista, e arrogante por antecipação, com potenciais vitórias do CDS-PP caso venha a concretizar-se uma subida substancial daquele partido nas próximas legislativas. Se tal acontecer deve ser cobrado a Passos Coelho devido à hesitação na escolha de última hora do candidato, neste caso candidata, para a Câmara de Lisboa em 2017.

Os eleitores do PSD que em 2017 não concordaram com a escolha de Passos Coelho para a Câmara de Lisboa terão votado no CDS-PP o que resultou numa subida substancial das suas votações conseguiu 20,59%. No mesmo anos o PSD sozinho obteve apenas 16,07%. Em 2013 o CDS-PP, em coligação com o PSD, obteve 22,37%. Em 2009 a coligação PSD.CDS-PP obteve 38,69%. Portanto o CDS tem andado até agora atrelado ao PSD, ou se coliga ou retira-lhe votos.

O 27º Congresso do CDS-PP confirmou Assunção Cristas como líder e o seu objetivo será o de recolher os votos dos neoliberais (órfãos de Passos) descontentes com a nova direção e orientação ideológica do PSD. Cristas com o seu partido pretende ser líder aglutinadora das direitas e quer liderar a oposição.

Se o PSD com Rui Rio pretende ser o centro-direita o CDS-PP abandona sua a democracia cristã e diz querer também ocupar o espaço do centro direita. Por outro lado, Assunção Cristas poderá vir a perder votos dos desalojados da direita mais conservadora e democrata cristã. Veremos se o CDS-PP irá delinear, ou não, uma estratégia populista, mas tudo aponta para que sim a ver com um programa que parece prestar-se para isso.

Após o congresso do PSD temos assistido a uma espécie de competição entre das direitas que se vão digladiando com vista às próximas eleições.

Assunção Cristas, senhora com cara de menina, quer jogar forte durante o chá canasta que ela pensa irão ser as eleições legislativas e vai dizendo que o CDS-PP é um partido dos ricos, mas do povo, e “faz de conta que o representa”. É certo que, para muitos, emana simpatia, mas isso não chega para governar. Assunção é o engodo para os que votaram em Passos Coelho e não veem com bons olhos a viragem do partido com Rui Rio à sua frente.

Assunção Cristas quer substituir-se ao PSD como grande partido nacional e diz querer fazer do partido a única alternativa "de centro e de direita" às “esquerdas encostadas”, e quer que o CDS-PP seja “o primeiro partido no espaço do centro e da direita sem hesitações sem complexos”, apontando o dedo ao Governo e deixando um recado implícito ao PSD. Em resumo Cristas quer crescer à custa do PSD e afirmou que o tempo de maiorias de um só partido já lá vai! Se o tempo das maiorias de um só partido já lá vai não é o mesmo que dizer que o CDS não terá maioria e que, portanto, terá de fazer alianças? Antecipa no futuro uma possível aliança com o PSD? Assunção Cristas quer mostrar por um lado que o CDS será um partido progressista, mas ao mesmo tempo assume que é a “casa do centro e da direita das liberdades, juntando conservadores e liberais”.  

Assunção Cristas assumiu-se como a “primeira escolha” alternativa ao PS. A líder do CDS definiu já os eixos programáticos para as legislativas de 2019: demografia, economia digital e a coesão território como os eixos estratégicos da sua agenda para os próximos dois anos. Nada de novo nestes eixos parecem um plágio de pontos estratégicos de outros partidos nomeadamente os do Partido Socialista.

Após o congresso comentadores políticos conotados como liberais de direita tentam descredibilizar Rui Rio para fazer sobressair Assunção Cristas de modo a contribuir a que Rio perca votos nas próximas eleições. Para tal estão a postos os neoliberais do PSD como Montenegro, os companheiros de infortúnio de Passos Coelho e outros que já estão na fila e que insistem em prejudicar o partido em que militam. O Partido Socialista pode ir consolidando a sua posição.

No PSD, ou há unanimidade e consenso em torno do novo líder Rui Rio, ou vão contemplar, com grande desgosto, o CDS de Assunção Cristas ocupar o seu lugar no espetro eleitoral.

Em fevereiro, segundo o jornal Público, Rio dizia querer vincar é precisamente a ideia de uma “não cedência”. Segundo a nova direção do PSD a ideia do novo presidente é a de “fazer uma rutura com o passado próximo”, ou seja, com a liderança de Passos Coelho - e que “não se desvia do seu objetivo”. Veremos!

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publicado às 17:10

Sobre o dia internacional da mulher

por Manuel_AR, em 08.03.18

Dia da mulher (1).png

Hoje é o dia internacional da mulher e, à parte as manifestações dos vestidos de preto que apesar de muito sugestivas são pouco convincentes tanto que, na última entrega de óscares já se viram vestidos desde o branco ao vermelho, passando pelo amarelo. Tão importante é o que se passa com a prática da violência contra as mulheres em todo o mundo. Na Europa, Portugal está em evidência pela negativa.

Numa sondagem que apresento nas tabelas seguintes que nos envergonham relativamente à Europa e cuja fonte foi a empresa Gallupe, credenciada empresa de sondagens e de pesquisa de opinião que pode consultar aqui.

Pergunta: Por favor, diga se acha que a violência doméstica é um problema sério ou não é um problema sério em [país].

 

Países da Europa

Sim, é um problema sério

%

Portugal

98

France

90

Malta

90

Iceland

85

Sweden

82

Belgium

80

Netherlands

79

Denmark

78

Finland

75

Cyprus

73

Luxembourg

72

Switzerland

68

Ireland

66

Fonte: GALLUP WORLD POLL

 

Pelo menos dois terços em todos os 13 países dizem que violência doméstica é um problema grave.

Embora estes resultados variem significativamente por país, em todos os 13 países maiorias evidentes consideram o abuso doméstico como um problema sério, dos dois terços na Irlanda (66%) para quase todos os adultos em Portugal (98%). Mesmo nos países europeus, muitas vezes vistos como pioneiros na igualdade de género e na formulação de políticas favoráveis ​​à família, como Holanda, Islândia e Suécia, três dos cinco países mais bem classificados do Índice de Desigualdade de género das Nações Unidas - cerca de oito em cada 10 residentes dizem que o abuso doméstico é um problema sério.

 

Pergunta: Você acredita que as mulheres no [país] são tratadas com respeito e dignidade, ou não?

 

Países da Europa

 

Sim, são tratadas com dignidade e respeito

%

Switzerland

94

Denmark

93

Finland

92

Ireland

92

Luxembourg

91

Belgium

89

Iceland

89

Netherlands

87

Malta

85

Sweden

81

France

75

Cyprus

68

Portugal

58

Fonte:GALLUP WORLD POLL

 

A perceção dos residentes portugueses sobre a violência doméstica como um problema grave parece refletir preocupações mais gerais sobre o tratamento das mulheres no país. Cinquenta e oito por cento dos adultos portugueses acreditam que as mulheres no país são tratadas com respeito e dignidade, facilmente a menor figura entre os 13 países incluídos na análise. As taxas elevadas de abuso doméstico - particularmente os casos em que as mulheres foram assassinadas pelos seus cônjuges - fizeram manchetes em Portugal nos últimos anos, assim como os esforços do governo português para aprovar legislação que proteja melhor as mulheres maltratadas.

 Menos probabilidades de dizer que as mulheres são tratadas com respeito e dignidade.

  

Pergunta: Por favor, diga se acha que o abuso sexual é um problema sério ou não é um problema grave em [país].

 

 

Países da Europa

 

% Problema sério

Mulheres

Homens

%

%

Portugal

96

93

Islândia

92

77

França

91

86

Dinamarca

88

84

Suécia

86

80

Bélgica

81

80

Países Baixos

80

68

Suíça

72

52

Chipre

67

62

Finlândia

62

50

Irlanda

60

58

Norte do Chipre

51

49

Fonte: GALLUP WORLD POLL

 

As mulheres também são um pouco menos propensas do que os homens a dizer que as mulheres no seu país são tratadas com dignidade e respeito (79% contra 86%, respetivamente, nos 13 países europeus estudados). Além disso, as mulheres em grupos mais vulneráveis ​​- incluindo aqueles com baixos níveis de educação e aqueles que estão desempregados ou subempregados - são especialmente suscetíveis de discordar de que as mulheres em seu país são respeitadas.

 

 

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publicado às 17:06

Ideologia (1).png

A direita PSD e CDS não querem ser de direita, negam que haja qualquer ideologia nas suas opções e colocam-se ambos no centro-direita do leque partidário. Alguns teóricos e militantes do PSD já o fizeram, coube agora a vez do CDS-PP.

A ideologia é um sistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão política do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social, seja partido ou movimento político, seja grupo religioso ou quaisquer outros.

O princípio que orienta certa direita portuguesa, segundo a voz de alguns dos seus militantes e apoiantes, é que atualmente a ideologia está fora de questão na governação não interessa dentro do partido. Não se pensa em termos ideológicos, mas em termos de realizações e de práticas. Como se, em política, a pragmática estivesse afastada da ideologia! Por mais que neguem existe ideologia de direita assim como há a da esquerda, do centro, seja qual for o arrumo político.

Parece-me ser isto uma iliteracia cultural, muito comum nas últimas décadas no meio de certas juventudes partidárias de direita ou em políticos delas oriundos, para além de ser também uma aberração intelectual que vai até contra o senso-comum. A ideologia é intemporal, sempre existiu e não há o exercício da política sem ideologia. As religiões têm as suas específicas ideologias de ordem teológica.

Todavia, para a direita, interessa que este tipo de mensagem passe. Há uma estratégia que vai no sentido de evitar o pensamento e a reflexão ideológicos para afastar qualquer comparação entre os conteúdos programáticos ou medidas políticas tomadas pelos partidos que não sejam apenas “pragmática”.

Fazer política sem uma base ideológica baseada apenas no pragmatismo que desemboque numa espécie de era pós-ideológica parece-me impossível. A prática e o exercício da política são direcionados para as pessoas e para as nações e afetam as suas vivências sociais e pessoais que, por si só, têm já uma carga socioideológica devido a diferentes visões do mundo. A negação da ideologia não é mais do que uma inadequação desta atitude às necessidades sociais pela prática política.

A atual negação da ideologia pelos partidos de direita relaciona-se com um preconceito porque era um conceito considerado marxista no século XIX.  Este preconceito é devido à ignorância cultural dos jovens políticos de direita e está fora do racional porque tudo o que falamos, pensamos e fazemos está marcado por um conjunto de ideias produzidas ou não por cada um de nós. Ainda que sejamos meros reprodutores de reflexões alheias, ainda aí, no âmbito do senso comum, está presente um conjunto de pensamentos que tomamos por verdades especialmente em política.

A negação da ideologia pelos partidos de direita não é mais do que uma pressuposta imposição hegemónica dum outro tipo de ideologia, não manifesta e insidiosa, porque não oculta, como única forma de pensamento possível e de valores tomados como absolutos que parte de um imutável senso-comum. É uma não-ideologia mistificada pela lógica da estabilidade política associada a uma democracia sem densidade onde dominaria o poder financeiro. Sabemos bem onde esta falta de ideologia nos poderá levar.

Assim, a direita ao mesmo tempo que pretende desvalorizar o conceito e se identifica politicamente com a área liberal está, por inclusão, a defender uma ideologia, a sua. A ideologia está em toda a parte, não vale a pena escondê-la porque mais tarde ou mais cedos ela revela-se.

Antes do congresso do congresso do PSD em novembro de 2017 discutiam-se opções ideológicas do partido e Santana Lopes falou em “liberalismo” e procurou fugir aos rótulos ideológicos. Pediu um partido que respeitasse a sua “identidade” e o seu “programa”, mas, sobretudo, “próximo das pessoas”, (confira-se com a posição de Assunção Cristas na sua moção ao congresso do CDS), houve até quem afirmasse que “O PSD é um partido catch-all. Tem vários setores”.

O CDS está a preparar o congresso para março e também, à semelhança do PSD, o CDS pretende esconder a ideologia da sua matriz inicial e substituí-la por outra o exemplo é a moção de estratégia de Assunção Cristas ao próximo congresso que situa o CDS-PP como um partido do centro-direita omitindo a sua matriz democrata-cristã.

Também a questão ideológica é rejeitada por Assunção Cristas apesar de constar na moção da líder recandidata que contrasta com outras moções globais e rejeita a acusação e assume a opção de não carregar a moção com ideologia e a preferência pelo pragmatismo argumentando que essa explicitação doutrinária já consta da sua moção ao congresso de 2016. Mas no partido há quem assuma a posição ideológica e defenda como Lino Ramos, ex-secretário-geral, que defende que “este é seguramente o momento de afirmar o CDS, de regressar às suas origens e de afirmar a democracia-cristã”. Está então aqui a assunção ideológica essencial para as políticas que defende.

A direita PSD e CDS vêm de momento desvantagem assumirem-se como partidos de direita querendo mostrar-se ao eleitorado como sendo de centro-direita.  A moção de estratégia global de Assunção Cristas ao congresso coloca o CDS-PP como uma força de “centro-direita”, mas é omissa quanto à matriz democrata-cristã do partido. Isto é, nega que haja uma questão ideológica e, ao mesmo tempo, pretende redirecionar o partido no sentido do centro-direita. Mas afinal o que é isto senão uma tomada de posição ideológica.

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publicado às 20:32

Opinião_Sónia Sapage_Público.png

Quem se dedicar a estabelecer comparações entre a governação no tempo da troika e a atual no que se refere a notícias, opiniões, comentários e outros escritos jornalísticos sobre as diversas áreas do país encontrará de certo diferenças que vão desde a saúde à educação, da proteção civil (e os incêndios) à segurança e o assalto a Tancos, da falta de investimento público à progressão nas carreiras na função pública, das reivindicações salariais à inserção imediata dos precários nos quadros, dos pedidos para tudo e mais nalguma coisa. Enfim, de norte a sul, dos hospitais às escolas, da justiça às funções de soberania aos incêndios verificará que há todo um manancial reivindicativo e de falhas atribuídas à governação, mesmo que não sejam das suas atribuições. Como nada é feito nem dada satisfação imediata às reivindicações que surgem dos mais diversos setores Sónia Sapage, no artigo de opinião do jornal Público, vem dizer que tudo está como se o país tivesse “a troika cá dentro”. Está no exercício do seu direito de livre expressão de pensamento.

No artigo de opinião a jornalista percorre o caminho da crítica à governação e esquece (ou será que omite?) tudo o que a atual governação tem feito e centra-se exclusivamente sobre o que continua por fazer ou que, eventualmente, corre mal.  Recorre então à grande tirada de Passos Coelho e à sua propaganda da “saída limpa” do chamado Programa de Assistência Económica e Financeira,  afirmando que “há quase quatro anos (mais do que aqueles que durou o ajustamento)” e Sónia Sapage acrescenta que “ainda há muita troika por aí”.

Apesar de sabermos que há, com certeza, falhas e atrasos na tomada de medidas, também não é difícil deduzir que, quem assim argumenta tem uma posição passadista que gostaria de ver continuada e que, por certo, se estivéssemos ainda nesse passado omitiria para os mesmos casos o que agora critica. Acredito que não é o caso de Sónia, mas há, na verdade, um certo jornalismo do tipo sick news, jornalismo doentiamente e dissimuladamente partidarizado que ajuda a avivar a “pequena” chama da oposição através de casos e casinhos tirados daqui e dali. Façamos neste caso justiça, muito do que a Sónia refere, infelizmente, não pertencem a este rol. Um artigo de opinião sobre política é formatado de acordo com os pontos de vista do seu autor(a) e por isso pertence, quase sempre, ao leque da subjetividade e da parcialidade.

Há muita coisa para fazer e para corrigir cuja maior parte ainda é herança do tal governo da saída limpa que foi demonstrada pelo estado em que deixou o país com o Banif, a CGD, os lesados do BES, a justiça, o SNS e o que mais fora. A oposição de direita quer fazer-nos crer que está a ser destruído pelo atual governo quando foi ela, de facto, o motor de arranque da destruição de tudo ou quase tudo quando esteve no poder justificado durante mais de quatro anos pelo “ir para além da troika”. E o que fizeram os partidos PSD e CDS que então estavam no governo que merecesse relevância positiva para o país e para as pessoas após a dita saída limpa?  Alguém se recorda?

Certo jornalismo pretende, conscientemente, induzir o esquecimento do passado da governação de direita de modo a transferir para o atual governo as mazelas deixadas em vários setores da sociedade que agora querem que sejam resolvidas em pouco mais de dois anos. Foram vários setores de funcionamento do Estado afetados por cortes, como as polícias e a consequente segurança, a justiça com encerramento indiscriminado de tribunais, os quartéis, as forças armadas, os hospitais e os centros de saúde com redução dos efetivos, quer de médicos, quer de enfermeiros com o cancelamento de novas admissões, e a educação prejudicada pela não admissão de profissionais de apoio às escolas, e o bloqueio do investimento público, etc., etc. fecho de serviços públicos com o pretexto do emagrecimento do Estado e da luta contra o despesismo.   

O que vemos hoje são críticas lançadas para a opinião pública sobre a lentidão e o retardar de medidas nos referidos setores, greves reivindicativas para reposição de direitos, dos salários e das pensões, descongelamento das progressões nas carreiras com retroativos de imediato. Muitas daquelas medidas lesivas foram levadas a efeito pelo anterior governo, umas tomadas por necessidades conjunturais e transitórias que se tornariam definitivas, outras, justificadas pela necessidade de reformas estruturais ditadas pela troika, diziam. Não vimos nessa altura os que agora defendem o aumento da despesa e que se dê resposta imediata a tudo e a todas as necessidades que ainda são muitas.

Olha-se para tudo o que falta fazer e que em tempo não se fez e pretende-se que sejam de imediato satisfeitas todas as exigências. Já não interessa que venha aí o diabo e aumente a e faça disparar a despesa do Estado e que faça novamente aumentar o défice para haver argumentos baseados no “nós bem avisámos”.

A oposição de direita argumenta que esta fase de crescimento da economia não se manterá para sempre e que estamos a negligenciar um possível futuro de menor crescimento da economia. Sem dúvida que todos concordamos com esta posição, todavia a direita tem de nos dizer em que ficamos. Se, por um lado, diz que não há investimento público, quando o negligenciou, que reclama sobre a falta de pessoal e a falta de qualidade de serviços públicos, que ela limitou, e exige que tudo seja cumprido de imediato, mostra esquecer-se de que sol na eira e chuva no nabal (que tanta falta nos tem feito) é que não é possível.

A direita poderá reivindicar que salvou o país da dita banca rota e que fez uma saída limpa do programa de ajustamento. Mas, se continuasse a governar, teria de facto livrado o país da troika ou teria agravado a situação com soluções e medidas que eram uma espécie de clones da troika e que iriam ainda mais além.

Há muita troika por aí, diz Sónia Sapage, contudo, podemos perguntar-lhe o que considera que a direita teria feito se estivesse no poder? Poderá ser uma resposta de retórica, mas, mesmo assim gostaríamos de saber.

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publicado às 18:20


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