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Em Portugal sempre existiu populismo, embora contido, nos vários partidos, sobretudo em tempo de campanha eleitoral. Nessa altura regressam à tona  partidos mais radicais que, não tendo programa exequível, tentam demonstrar contradições dos sistema e procuram a distinção entre dois grupos antagónicos: um, virtuoso e maioritário, o povo, que todos exaltam e outros que o dizem defender procurando ganhar vantagens com o apelo a reivindicações ou preconceitos amplamente disseminados entre a população nomeadamente através das redes sociais.

Nessas alturas os dirigentes partidários apelam às emoções, o que é legítimo, porque a política também é feita de emoções, todos os políticos tentam utilizar uma linguagem emocional e tentam apresentar propostas que agradem aos eleitores.

Por outro lado, o desinteresse pela política por parte dos cidadãos, porque acham que a discussão política é para meia dúzia de iluminados dos partidos que lutam entre si para chegar ao poder, é um outro fator explicativo.

Quais as implicações de aceitar de forma cega tudo o que se diz e escreve nos órgãos de comunicação clássicos e, sobretudo, nas redes sociais e quais as consequências dessa aceitação devido ao desvario das populações que o reproduzem acriticamente de forma viral? 

Governantes de países passaram a utilizar a tecnologia das redes sociais para comunicar com as pessoas e que por serem governantes o que eles dizem são aceites pelos seus apoiantes como verdades e opiniões a serem aceites ou desmentidas transformando verdade em mentiras e mentiras em verdades. Mentiras e informações falsas colocadas nas redes sociais até mesmo em conferências de imprensa ditas por responsáveis máximos da política dos países são por muitos tomadas como verdades, o caso do Presidente Trump nos EUA é um caso de estudo.

Em Portugal passou a estar também na moda dirigentes partidários e responsáveis do Governo comunicarem através das redes sociais. Os partidos da extrema-direita são prolíferos na propagação do populismo e das suas mais absurdas teses.

Após as eleições nos Açores o acordo com o Chega gerou polémica que emergiu na comunicação social e nas redes sociais que deu, e ainda está a dar, para todos os gostos. Numa primeira análise o PSD caiu, por vontade própria, na armadilha de se apoiar num partido populista como o Chega dando-lhe o protagonismo que até então lhe tinha faltado para além das caóticas intervenções de André Ventura na AR. Não é por acaso que os populistas utilizam uma retórica para chegar a segmentos da população que sentem que foram deixados para trás pelos dois maiores partidos e que se deixam, devido á sua ignorância política, encantar por discursos simplistas e chavões fáceis de fixar repetidos até à exaustão.

Como tem sido habitual ao longo de décadas as inovações e modas em sentido lato, sejam elas boas ou más, chegam com anos de atraso. O mesmo aconteceu com o populismo da extrema-direita que se pensava ser pouco ou nada representativa na nossa sociedade e que Portugal estaria a salvo, muito embora soubéssemos que andavam por aí acantoados em partidos de direita e do centro-direita considerados democráticos e que fazem parte do denominado arco da governação.

Aliás, os partidos populistas e da extrema radical de direita estiveram sempre presentes na maior parte dos países, especialmente na U.E., não se extinguiram após a derrota do nazismo e dos fascismos, apenas ficaram adormecidos durante algumas décadas vindo a ressurgir.

O fenómeno do populismo associado ao próprio conceito não é fácil de caracterizar embora vários especialistas já tenham proposto várias definições. Na perspetiva do filósofo e historiador britânico de Isaiah Berlin não há apenas um populismo, há versões do mesmo “consoante a mudança histórica que sublinha a natureza específica do desenvolvimento do populismo em países, locais e datas específicas”. Acha que uma única fórmula para cobrir todos os populismos em todo o lado não serão muito úteis.

O interessante foi que Berlin comparou ao conto da Cinderela a tentativa de definir populismo através de uma única definição. Diz que não devemos sofrer de um complexo de Cinderela. Há um sapato, para o qual deve existir um pé em algum lado. Há vários tipos de pés nos quais os sapatos “quase” se encaixam. O príncipe que anda sempre a vaguear com o sapato acredita que um dia encontrará o pé certo.  Esse será o populismo puro e a sua essência.

Para Isaiah Berlin “Todos os populismos são derivações do mesmo, desvios do mesmo e variantes do mesmo, mas algures por aí esconde-se um verdadeiro e perfeito populismo, que pode ter durado apenas seis meses, ou [ocorreu] em apenas um lugar”. Consultar BERLIN, Isaiah – «To define populism»., 1967, p. 6.

O populismo reclama ser pela afirmação dos direitos do povo face ao grupo dos interesses privilegiados, considerados habitualmente como inimigos do povo e da nação, dirige as suas críticas às deficiências da democracia representativa que diz não refletir o pensar e o querer do povo.  Veja, por exemplo, o caso do partido Chega e o género de intervenções feitas por André Ventura e os estribilhos e lugares-comuns que ele utiliza. O Chega representa a chegada do populismo da extrema-direita a Portugal.

 

Como chegámos até aqui?

Acima de tudo, a globalização fez com que as nossas vidas fossem de facto influenciadas por fatores que não podemos controlar. E enquanto os populistas dizem que é preciso "recuperar o controlo", os outros políticos dizem que não se pode fazer nada, "ou porque somos parte da UE ou porque a imigração vai continuar…". O resultado é que a maioria não tenta responder às necessidades e aos receios, às vezes justificáveis, das populações.

Nos estados europeus a globalização e a crise económico-financeira diminuíram o investimento, impedindo ou retardando o desenvolvimento económico agravado pela crise de 2008 e pelos efeitos da austeridade consequentes aplicados pelos governos acrescidos pelo aumento do desemprego que causaram um sentimento de insegurança. A "crise migratória" que os dirigentes europeus declararam existir no território da União Europeia ajudou ao crescimento de partidos populistas e xenófobos.

Os movimentos de imigração e de refugiados que assolaram e assolam os países da U.E. geram uma concorrência no mercado de trabalho nos países que os acolhem aproveitado como um dos argumentos da extrema-direita xenófoba que é falacioso porque aqueles vão ocupar as lacunas que os autóctones não querem ocupar assim como a escassez de investimento no comércio local que tem vindo a desaparecer e onde ninguém quer investir. Estas imigrações ocasionam graves problemas de acolhimento nos países de chegada que são aproveitados pelos populistas da extrema-direita racista e xenófoba.

Esta situação e outras, assim como as indecisões ao nível da U.E. tem sido aproveitada por alguns governos apoiados por partidos de direita ou de extrema-direita como na Hungria de Orbán, na Polónia de Jaroslaw Kaczynski, e na Áustria de Sebastian Kurz em coligação com o Partido da Liberdade da Áustria (FPö), que têm adotado políticas violadoras dos direitos fundamentais e da democracia liberal defendidos pela U.E. Em Espanha, pelos mesmos motivos e como reação à política de austeridade e contra o euro, surge o Podemos, embora sem conseguir chegar ao poder. No espaço da União Europeia foi a "crise migratória" existente que ajudou ao crescimento de partidos populistas e xenófobos como o AfD alemão.

Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, partido da extrema-direita francesa e nacionalista radical, antes da eleição de Macron, apresentava-se como uma perigosa candidata à vitória na eleição presidencial, o que poderia colocar em perigo a sobrevivência do projeto europeu.

Quando foi colocada a Le Pen a questão sobre as razões por que os partidos que se dizem antissistema estão a obter tanto relevo na Europa resumiu o credo populista da extrema-direita na europa: «Creio que todos os povos aspiram a ser livres. Os povos dos países da União Europeia, e talvez também os americanos, terão tido durante demasiado tempo a sensação de que os líderes políticos não estão a defender os seus interesses (os do povo), mas antes, interesses especiais(?). Há uma espécie de revolta da parte do povo contra o sistema, que já não os serve mais, mas antes a si próprio». Ver aqui. É com este palavreado, a que chamam argumento, que as extremas-direita, nacionalistas, xenófobas e populistas se agarram para, habilidosamente, iludirem os insatisfeitos com as políticas praticadas em democracia que acham não ter contemplado os seus interesses.

Uma das evidências dos perigos que espreitam as democracias liberais vem dos partidos de extrema-direita é o que atualmente estão a perpetrar os governos da Hungria e da Polónia, a que se juntou depois o apoio da Eslovénia, utilizando uma força de bloqueio contra o pacote de resposta à crise aceite por todos. Consideram ser inaceitável que não possam aceder aos novos fundos europeus por discordarem da condicionalidade do critério pelo respeito ao Estado de Direito. São eles os mesmos países que propagam que se mostram receosos do regresso do “espectro do comunismo” à Europa, como se no atual contexto político isso fosse o perigo real.

Este é apenas um exemplo de como governos autocráticos de extrema-direita se dedicam por todos os meios democraticamente disponibilizados a minar os alicerces das democracias e dos perigos que a direita populista faz pairar sobre a democracia europeia. Manuel Carvalho escreveu num editorial do jornal Público que “Não se pode aceitar que a Hungria ou a Polónia beneficiem das vantagens da Europa, ao mesmo tempo que se dedicam a minar os seus alicerces”.

A mensagem nacionalista, anti-imigrante, anti étnica, racista e xenófoba, por vezes eurocética e anti União Europeia veiculada pela extrema-direita é representada em Portugal pelo partido Chega.  O populismo em Portugal ainda está no seu início, mas já está a dar os seus frutos e a “vender bem”. O perigo do populismo do Chega, e de outros partidos do mesmo, ou pior espetro, deteta-se por meio de diatribes tais como:

- Críticas isoladas e desconexas dirigidas aos políticos, aos partidos (que não seja o deles);

- Críticas aos órgãos representativos dos cidadãos indigitados através de eleições livres;

- Chamando a si a luta contra a corrupção colocando em causa setores da administração pública, organizações privadas com relevância na vida económica ou social com tentativas para descredibilizar, sem fundamentação científica, o funcionamento do sistema político (veja-se o caso de Trump nos EUA);

- Incoerência com outros valores e medidas que igualmente defende, que são um fator disruptor dos direitos fundamentais da liberdade e da igualdade e da tolerância garantes da dignidade da pessoa humana, pondo também em risco o Estado de direito que os salvaguarda.

Estes movimentos e partidos são um vírus que se está a expandir tornando-se uma ameaça e um perigo para a democracia e que vai corrompendo por forma dissimulada os seus valores e procedimentos essenciais, tanto mais perigoso se torna quando partidos democráticos para obterem ou manterem no poder os chamam para fazer acordos colocando os interesse partidários acima dos interesses democráticos do país e dos próprios cidadãos.

Sofia Lorena, num artigo publicado no jornal Público em 2018 baseado no pensamento de Daniele Albertazzi, especialista em movimentos políticos e estudioso do fenómeno populista na “Escola de Governo e Sociedade da Universidade de Birmingham”, escreveu que «Um líder populista é aquele que se vai apresentar como representante de um único povo, unido e homogéneo, que está face a uma ameaça. Esta ameaça pode ser a elite política ou algo externo. Estes líderes defendem que o seu povo está a ser roubado — dos seus valores, princípios, identidade. E em breve será demasiado tarde para recuperar o que lhes está a ser tirada».

É fácil defender que os povos europeus perderam o controlo das suas vidas porque há anos que a Liga Norte italiana de Salvini, partido de extrema-direita, dizia que "temos de ser donos e senhores da nossa própria terra". André Ventura chegou a dizer em agosto de 2020 que “Eu e Salvini, de mãos dadas, é um sinal para o futuro de Portugal e Itália”.

Para os populistas há sempre bodes expiatórios que são os causadores da desgraça do povo, na Alemanha nazi eram os judeus, noutros países são os muçulmanos, em Portugal, por enquanto, são os ciganos e em alguns casos os negros e outras etnias, os políticos e os partidos são extensão da corrupção.

Os populistas atacam a lentidão da democracia representativa e liberal e "apresentam-se sempre como defensores do tal povo homogéneo contra outros — os imigrantes, as etnias, as pessoas que seguem uma religião minoritária ou que não se encaixam por algum motivo", diz Albertazzi.

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publicado às 16:15

Ao publicar no blogue o artigo de opinião, da autoria de Clara Ferreira Alves, publicado na Revista do jornal Expresso, não significa que esteja de acordo com tudo os que ela escreve. O artigo merece aqui espaço pela acutilância da sua escrita sobre o que se passa na atual política nacional e internacional e numa altura em que os populistas radicais de direita andam a colocar em perigo as democracias.

Aqui fica o artigo de opinião.

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 20/11/2020) e (no blogue Estátua de Sal)

“A política é um capítulo da moral e por isso estamos aqui” Sophia de Mello Breyner (Sessão de apoio ao Solidariedade da Polónia, promovida por Mário Soares nos anos 80)

Apontando a “urubuzada de prato cheio”, Jair Bolsonaro atesta que é tempo de o Brasil deixar de ser um “país de maricas” e de ter medo da covid. “Toda a gente tem de morrer” diz o másculo profeta que compara os jornalistas a um bando de abutres ou urubus. Quase 170 mil mortos mais tarde, aqui chegámos no país irmão. Pode ser que haja um cidadão a achar graça a Bolsonaro, gabando-lhe o estilo solto e incorreto que cai muito bem nas redes e nas seitas. Pode ser que haja um cidadão que veja neste chefe de caserna um labrego moralmente responsável por milhares de mortos no país. E não vamos falar da destruição das florestas da chuva da Amazónia. Nenhuma das duas definições apaga a principal característica de Bolsonaro, a ignorância aureolada de estupidez. Sim, Bolsonaro é um estúpido, ou boçal, ou bestial (de besta), ou entupido, ou grosseiro, ou falho de inteligência e delicadeza, segundo a velha definição do dicionário. Bolsonaro é idiota, imbecil, estólido, estulto. É um asno na definição popular que compara o estúpido a um animal inocente como o burro, que de estúpido nada tem. Disse Einstein que só havia duas coisas verdadeiramente infinitas, o universo e a estupidez humana. E sobre a infinitude do universo, não estava certo. A estupidez está descrita clinicamente, e tem leis que a regem descritas por Carlos Cipolla. É uma verdade científica a sua existência, embora possa ser empiricamente apreciada com facilidade. E é subestimada, ao subestimar-se o número de indivíduos estúpidos em circulação. Cipolla, historiador da economia e medievalista, preocupou-se em distinguir o estúpido do ingénuo, com o qual pode ser confundido com benevolência. No exemplo de Bolsonaro, a ingenuidade não entra. Neste mandarim detetamos a luz bruxuleante dos parcos atributos escoados numa política assassina. Bolsonaro é um estúpido clássico promovido muito acima da sua competência num país com uma subclasse sem instrução e uma classe superior instruída na corrupção, no oportunismo e na manipulação que autorizem a manutenção da subclasse num estado supersticioso, iletrado e miserável. Uma perfeita sociedade pós-colonial que se julga moderna e civilizada. Um chefe de uma democracia europeia ocidental não pode nem deve ignorar isto. E não pode nem deve aliar-se a isto, sob pena de trair tudo o que postulam a constituição, o Estado de direito e a liberdade de expressão. Sob pena de trair a democracia ocidental tal qual a conhecemos e construímos, desde Atenas. No dia 8 de agosto deste ano, lemos a notícia de que André Ventura foi recebido na residência de Duarte de Bragança, na companhia de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente do Chega. Na reunião, os dois foram pedir a interceção do duque de Bragança para chegarem a Bolsonaro, que admiram. O candidato à Presidência da República de Portugal admira também o nacionalismo de uma dinastia defunta, a de Orleães e Bragança, que no Brasil apoia Bolsonaro. O candidato a presidente admira as monarquias, e parece que queria ainda “estabelecer contacto com a monarquia de Marrocos e as casas reais europeias”. A desenhar a ponte brasileira, estava o deputado italiano Roberto Lorenzato, descendente de aristocratas, íntimo de Matteo Salvini, o líder fascista italiano, e de Bolsonaro, tendo apresentado os dois. Podemos concluir que esta gente é política e afetivamente próxima. Salvini é não um idiota clássico, é um fascista clássico, sem a cultura do Mussolini que lia livros e ouvia ópera. Descontando as contradições entre monarquia e república, e a vassalagem a monarcas destituídos, o que se retém deste estranho encontro é o tráfico de influências e a vassalagem a Bolsonaro, a que Ventura e afins reconhecem atributos. Isto, por si só, deveria ter feito acender todas as luzes vermelhas e campainhas de alarme de Rui Rio, um chefe de um partido que dá pelo nome de social-democrata. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és, diz o povo. É com os estúpidos que Rui Rio resolveu aliar-se, comprometendo o programa do partido fundado por Francisco Sá Carneiro e traindo os eleitores, todos os que não se reveem na aliança de António Costa com as esquerdas e que são de centro-direita ou de direita clássica, a direita democrática e historicamente pró-europeia, a direita liberal secular ou cristã que não aprecia as ditaduras e que fundou a democracia em Portugal. A direita que acredita na liberdade, na prosperidade e na paz social, e que detesta a demagogia, a revolução e o extremismo. Nenhuma das escusas da praxe desculpam este PSD. António Costa teve uma oportunidade de, a bem do interesse nacional, ter chamado o PSD de Rui Rio como parceiro para um acordo de regime. A situação trágica do país assim o exigia. Num assomo de estupidez que pagaremos caro, Costa resolveu que era outra vez de esquerda e podia dispensar o PSD. E o PSD, posto fora da mesa, aproveitou a oportunidade para, numa estupidez orgástica, aliar-se nos Açores a um partido como o Chega, que não passa de uma cortina de fumo democrático num movimento sustentado pela iliteracia, a pobreza e o populismo autocrático. Costa e Rio traíram as expectativas dos eleitores e traíram o país quando, na história da democracia portuguesa, o país mais precisava que se entendessem. Não subestimem a gravidade da crise económica que vem aí e a gravidade da crise política que se sobreporá. Não subestimem a raiva que fervilha por aí, o desespero, o cansaço, a depressão. E com este país doente, Costa e Rio resolveram tornar-se em inimigos e cavar trincheiras. O Chega não é nem será um partido de matriz democrática, é um partido que alinha com Salvinis e Bolsonaros. E que, instalado no coração da democracia, tudo fará para a destruir ou falsificar. Podemos exemplificar com vigor no caso de Trump e das eleições americanas. E do golpe populista contra a democracia. Quando Trump foi eleito, fui urubu. E fui das raras pessoas que avisaram que um dia isto iria acontecer. Participei em debates e programas onde me foi dito que era necessário dar uma oportunidade a Trump e que ele seria presidenciável assim que assentasse o traseiro na Sala Oval da Casa Branca. Estes são os ingénuos, que não devem ser confundidos com os estúpidos, mas facilitam a vida dos estúpidos. Rui Rio não pode alegar ingenuidade. Nem, noutro assomo de estupidez à Chamberlain, esperar que o Chega fique “mais moderado”. Rio aqueceu o ovo da serpente. Ou o PSD se vê livre de Rio, ou Rio tentará ver-se livre do histórico PSD e erguerá um partido à sua imagem e semelhança, um partido instrumental e sem princípios, um partido antidemocrático e caudilhista. Para começo de festa, Rio e Bolsonaro estarão de acordo numa coisa, ambos detestam a urubuzada.

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publicado às 17:15

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A década de 2010-2019 deu aos partidos populistas o ambiente de que precisavam para prosperar graças às consequências do colapso financeiro global de 2008 e da revolução digital. Embora o primeiro tenha contribuído para uma maior desigualdade e a rejeição dos principais partidos que a perpetuavam, o último resultou na "transformação da ... vida cotidiana". Ao crescerem as desigualdades económicas e os medos de perda de identidades nacionais cria-se o alimento para a vaga populista. É essa vaga populista que, usando os mecanismos democráticos, tende a provocar a erosão da democracia.

Quando me refiro a partidos populistas, quero dizer partidos políticos que se apresentam como alternativas e que têm uma posição política antissistema e de rutura com uma elite social, económica e política que exerce o controle sobre o conjunto da sociedade, mas que não refletem a vontade do povo. O populismo quer romper com o sistema, mas não oferece uma visão geral do que e como o deve substituir e dirige-se apenas a uma estreita parte da agenda política. É caso do partido Chega e do seu deputado André Ventura.

O Chega não é apenas populista, é também xenófobo, racista e segregacionista o que é mostrado pelas propostas que tem apresentado. Ao começar apenas por um grupo social, o dos ciganos, a sua mancha tenderá a alargar-se a outros grupos.

A grande questão do populismo pode ser colocada sobre a forma de várias perguntas: será uma ideologia? Deverá ser visto como uma espécie de discurso dirigido e produzido para o povo? Será uma estratégia? Ou será um estilo?

Os populistas de esquerda rejeitam o capitalismo. E os populistas que se dizem centristas concentram-se em coibir uma elite supostamente corrupta: eles têm uma tendência menos radical à ideologia de esquerda ou de direita, ou podem até rejeitar as duas por completo.

Do meu ponto de vista o populismo é mais uma espécie de discurso e uma estratégia que recorre a falsas evidências pela deturpação de factos com objetivos bem dirigidos para aliciar o povo. Muitas das vezes constroem fake-news (notícias falsas) ou adulteram notícias que lançam através de todos os meios ao seu dispor, nomeadamente as redes sociais. Uma demonstração caseira foi o episódio do delirante Nuno Melo ao dizer num Twitter que, deturpando o que realmente aconteceu, na telescola se está “destilando ideologia e transformando alunos em cobaias do socialismo” e que já foi arrasado. Isto porque foi passado um pequeno e curtíssimo episódio em que Rui Tavares se refere ao Estado Novo. Este comentário demonstra a adesão do CDS à fabricação de fake-news na tentativa de disputar com André Ventura do Chega o lugar do discurso radical e populista da extrema-direita. Francisco Rodrigues dos Santo, o líder do CDS ajuda, também ele em delírio, a tentar recuperar e disputar o lugar que outros partidos lhe retiraram nas eleições.

O populismo está a transformar-se e a assumir formas insidiosas e tomou como alvo as democracias liberais em todo o mundo. O final desta década trouxe-nos a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o voto em favor do Brexit na Grã-Bretanha, testemunhou o surgimento da Alternativa para a Alemanha (AfD) o primeiro partido de extrema direita a entrar no parlamento nacional daquele país ao fim de décadas, e ainda a ascensão de partidos populistas em países como Áustria, Brasil, Itália, Polónia, Hungria.

Os que ocuparam o poder nos últimos anos forjam alianças, ainda que informais, mimetizando-se convergindo entre si nas suas declarações públicas com ideias semelhantes, como o fazem Bolsonaro, no Brasil, Jonhson no Reino Unido e Trump nos Estados Unidos da América.

Utilizando várias artimanhas assumem várias formas muitas vezes sobrepostas.  Alguns países experimentaram uma versão socioeconómica, colocando a classe trabalhadora contra as grandes empresas e as elites cosmopolitas consideradas beneficiadas pelo sistema capitalista internacional apontado lugares como a França e os Estados Unidos. Outros servem-se da via da cultura para atacar concentrando-se em questões de identidade nacional, imigração e raça caso na Alemanha e outros. Mas o que mais se tem expandido e o mais comum tem sido o populismo anti-sistema, que é contrário aos princípios sociais, políticos e económicos convencionais de uma sociedade salientando que não reflete a vontade do povo colocando-o contra as elites políticas e os principais partidos democráticos que o representam, mas ao mesmo tempo, infiltram-se via democrática nos sistemas democráticos.

Os populistas agarram tudo quanto lhes possa trazer apoios não importa o quem nem como. Negam as mudanças climáticas apanágio da extrema-direita e são também contra teses das mudanças climáticas. Contudo a negação das mudanças climáticas ao tornar-se um dos aspetos definidores de identidade da extrema direita, há especialistas em política que alertam para o facto de partidos de extrema-direita poderem tentar mudar a narrativa em torno da mudança climática para o seu lado quando a ação climática possa vir a tornar-se numa questão política mais importante em toda a Europa.

Em muitos países da Europa, populistas, eurocéticos, partidos da extrema esquerda, estes com menos representação e menos frequentes, e partidos da extrema direita comemoram o sucesso, juntamente com os partidos de direita, por exemplo, que também têm obtidos ganhos eleitorais significativos.

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publicado às 18:08

André Ventura descobriu a stand-up comedy

por Manuel_AR, em 02.03.20

(Bárbara Reis, in Público, 28/02/2020)

Ventura JPúblico.pngA maioria dos antigos combatentes, como a maioria dos portugueses, não precisa de acção social. Ventura sabe que falar dos 370 mil ex-combatentes que recebem apoios à sua pensão não faz ninguém rir nem lhe dá votos.

No domingo, em Viseu, o deputado André Ventura divertiu uma audiência de apoiantes em registo de stand-up comedy. Fiquei espantada, ainda não tinha visto o novo estilo.

Desconheço se foi uma performance única ou se vai ser o tom da campanha para as presidenciais — este sábado, em Portalegre, Ventura oficializa a candidatura a Belém. É provável que o deputado o adopte. O estilo é eficaz: durante 50 minutos a audiência riu à gargalhada.

Olhando para a sala, os apoiantes do jantar de Viseu parecem encaixar na categoria de “politizados, cépticos e urbanos” que, segundo o cientista político Pedro Magalhães, caracteriza os eleitores que votaram no Chega em 2019 e que têm intenção de votar no futuro.

O conteúdo do “discurso” de Viseu foi 100% político e ligado à actualidade — só acha graça às piadas quem vê notícias políticas. O humor é destemido e selvagem. Quatro excertos:

— “O Parlamento é uma palhaçada tal o ano inteiro que percebemos porque é que não funciona no Carnaval: quando chega ao Carnaval é tempo de parar.”

— “No debate sobre a eutanásia, quando estava o ouvir aquele tipo dos Verdes, que ninguém sabe quem é, e ele tinha 28 minutos… eu próprio tentei pedir a eutanásia: já não dava para mais!”

— “Este é um país que… nem a Venezuela seria assim. Os bolivarianos devem ver isto na televisão e pensar: ‘Que nunca sejamos como Portugal’. No Senegal, se alguém estiver a ver televisão, deve dizer: ‘Deus nos livre um dia ser como Portugal’. No Mali, em Omã, se calhar até na Síria, devem dizer: ‘Que nos aconteça tudo, ‘estado islâmico’, terrorismo, mas nunca, por amor de Deus, ser como Portugal!”

— “Viram o Marcelo Rebelo de Sousa dizer: ‘Temos de ter cuidado com o populismo’? Não quero dar exemplos desagradáveis, mas é a mesma coisa que um pedófilo dizer: ‘Cuidado com estas redes internacionais que andam a raptar crianças’.”

No meio de risos, palmas e frases como “não podemos continuar com a mexicanização de Portugal”, Ventura fez o seu exercício favorito: encher o debate público de nuvens e ampliar a excepção de modo a parecer a regra. O prémio vai para a frase: “Não podemos ter presos a receber subvenções e ex-combatentes do Ultramar que não recebem um centavo.”

Achei curiosa a preocupação do deputado do Chega. Em Janeiro e Fevereiro, Ventura não achou prioritário participar nos debates parlamentares sobre a defesa e os antigos combatentes da guerra colonial. Esteve ausente na discussão na especialidade do Orçamento do Estado de 2020 para a Defesa Nacional (22 de Janeiro) e esteve ausente na reunião plenária de discussão da proposta de Lei do Governo para o Estatuto do Antigo Combatente e dos projectos do PSD e do BE (14 de Fevereiro). Em ambas, teria direito a falar.

Na discussão sobre o Estatuto do Antigo Combatente falaram todos os partidos e dois deputados únicos (João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, e Joacine Katar Moreira, ex-Livre). A única excepção foi Ventura.

No site do Parlamento, está registado que o deputado do Chega apresentou uma “falta justificada”, cujo motivo foi “trabalho político”. A sua assessora Patrícia Martins Carvalho explicou por email que o deputado “estava em viagem para os Açores”. Qual o programa oficial da viagem? “Não teve propriamente um programa oficial. Houve reuniões com vista às eleições regionais e ao estabelecimento do partido no arquipélago.” Quanto à reunião de Janeiro, está apenas registada a falta, para já não justificada, mas a assessora não prestou esclarecimentos.

O que se disse nessa reunião é inútil para os comícios de stand-up de André Ventura: foi criada uma secretaria de Estado dedicada aos antigos combatentes; foi submetida ao Parlamento uma nova proposta de Estatuto do Antigo Combatente; o orçamento da Acção Social Complementar sobe 55% (de 5,5 milhões de euros para 8,5 milhões).

Há ex-combatentes que “não recebem um centavo” como diz Ventura? É possível. A maioria dos antigos combatentes, como a maioria dos portugueses, não precisa de acção social. Nos registos do Estado, há 372 mil antigos combatentes que recebem 48,2 milhões de euros em três subsídios: Acréscimo Vitalício de Pensão (51 mil pessoas), Suplemento Especial de Pensão (320 mil) e Complemento Especial de Pensão (1772 pessoas), um total de 372.858 antigos combatentes.

Mas não teria a mínima graça dizer em Viseu que há 370 mil ex-combatentes que recebem apoios às suas pensões. Até parecia que os nossos impostos, afinal, servem para alguma coisa. Dizer isso não faz rir e não dá votos.

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publicado às 11:10

Extrema direita ataca UE..png

Os países do Sul e em particular Portugal devem temer as consequências da desagregação da União Europeia. Ao contrário do que os partidos mais à esquerda como o BE e o PCP, antieuropeístas que alinham com os eurocéticos de direita e nacionalistas da extrema direita, a desagregação da U.E. seria um desastre e conduziria a desmandos na economia e nas finanças. Não seria a estruturação da dívida, como aqueles dois partidos preconizam, que nos salvariam da catástrofe social, inflacionária e de desvalorização salarial do regresso ao escudo.

O surto de corrosão da base eleitoral pelos populista e nacionalista que emana sobretudo dos partidos da extrema-direita pretende mudar a Europa à sua maneira. Uma Europa fechando as portas de contacto entre países que rivalizarão e competirão entre si trazendo, mais tarde ou mais cedo, potenciais conflitos militares.

Os partidos centristas, quer de esquerda, quer de direita e também a esquerda mais radical estão em vias de redução da sua base eleitoral no que se refere às eleições europeias e até em alguns países do grupo onde a extrema-direita eurocética já ocupa posições relevantes.

Os mais velhos já experimentaram na pele o que é estar a ser governado por partidos daquela ideologia, os mais novos sempre viveram numa Europa democrática e livre e onde podem circular sem restrições não se iriam adaptar a uma outra Europa que lhes tirasse tudo a aquilo que avós e pais ajudaram a construir.

As mensagens dos partidos populistas com as suas cantatas encantatórias dirigem-se sobretudo aos jovens atraindo-os para a beira de um abismo que eles não vislumbram porque nunca se sentiram ameaçados. Se os jovens querem continuar a viver numa europa livre, humanista e onde a diferença cultural seja aceite como um padrão não pode ficar numa atitude de “Não penso, não existo, só assisto” e votar dando aos partidos tradicionais mais uma oportunidade para reorganizarem a nossa Europa.

Ao longo dos anos ficámos a observar que em cada país da U.E. os partidos populistas fossem conseguindo aqui e ali nas votações nacionais o que se considerava serem bons resultados  nas votações nacionais só que, desta vez, a União Europeia (UE) pode vir a confrontar-se como uma vitória dominada de partidos como o Rassemblement National (ex-Front National) de Marine Le Pen, da Liga Norte de Matteo Salvini e de outros partidos populistas nacionalistas o que pode mudar a face da política da U.E. que será prejudicial para todos. Serão os hereges da Europa a tentar arrombar as portas pensando que não vão derrubar a casa, mas as paredes são frágeis e o empurrão na porta pode mesmo derrubar a casa.

Os grupos parlamentares do PPE – Partido Popular Europeu e S&D – Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas onde se encontram o PSD e o CDS, e o Partido Socialista, respetivamente, são os únicos que poderão fazer frente aos nacionalistas e populistas, mas, para isso deverão ter uma maioria confortável que só uma votação em massa poderá dar, apesar de, no passado recente,  algumas votações daquele grupo as votações do PSD com Paulo Rangel, foram de apoio a países onde se encontra a extrema-direita, nomeadamente na Hungria.

Fredrik Erixon escreveu no The Spectator que “as eleições europeias deste ano deixarão o centro-direita sem uma voz confiante ou coerente. E parecerá um pouco perdido quando a principal batalha de ideias for entre liberalismo e nacionalismo. A estratégia política do centro-direita é defensiva; sua atitude é irritável. Os vários partidos que fazem parte do grupo PPE da U.E. não estão a ganhar muitas eleições e apenas elogiam o que ganharam no passado. Em novembro passado, na eleição primária do partido para escolher o seu candidato para liderar a Comissão Europeia, eles poderiam ter procurado substituir Juncker por Alexander Stubb. Ex-primeiro-ministro finlandês e atleta de Ironman, Stubb é um conservador enérgico e um enorme defensor de uma UE mais forte. Em vez disso, eles foram para Manfred Weber, que é praticamente desconhecido fora de sua região natal da Baviera. Seu principal trunfo? Weber não parece ter opiniões fortes sobre qualquer coisa.”.

Vê-se qual a desorientação da família PPE a que o PSD e o CDS pertencem e que ocupa no Parlamento Europeu 221 lugares.

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publicado às 19:33

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Ou a União Europeia e os moderados tomam juízo ou, então, estamos tramados. Este poderia ser um título para um artigo contra a abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu para evitar a ascensão dos extremistas de direita. Os extremistas de esquerda ainda não são o perigo para a U.E.

Digo isto porque o Brexit, as migrações sem controle e solidariedade, os interesses nacionais desnecessariamente amplificados e o populismo são as ameaças à UE, o projeto político mais relevante e bem-sucedido da História Europeia, que têm conduzido à ascensão de minorias extremistas de direita, graças a discursos populistas eloquentes, mas não realistas.

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Fotografia de France 24. Steve Bannon e Le Pen, Março de 2018 em Lille, França.

Não é por acaso que os grupos unidos da extrema-direita europeia têm ao seu lado Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump na campanha eleitoral, procura ser o mentor do vírus extrema-direita europeia e, por isso, se tem visto ao lado de Marine Le Pen e de outros.

Bannon, poucos meses antes de assumir seu papel como chefe da campanha presidencial de Trump, sugeriu que Salvini, vice-presidente da Itália e líder do partido da Liga, partido da extrema-direita, deveria começar a visar abertamente o Papa Francisco, que enfrentou a situação. dos refugiados como uma pedra angular do seu papado. “Bannon aconselhou o próprio Salvini a considerar o papa atual como uma espécie de inimigo. Ele sugeriu, com certeza, atacar, frontalmente”, disse um importante membro da Liga numa entrevista ao site SourceMaterial .

Salvini anunciou em março deste ano que queria trazer a extrema-direita de toda a Europa para uma aliança com o lançamento de uma nova coligação de direita para as eleições parlamentares europeias de maio. Salvini revelou este projeto apenas alguns dias depois de se ter encontrado com Bannon em Roma em março, o que leva a acreditar que Bannon escolheu pessoalmente Salvini como o líder informal das forças populistas eurocéticas na Europa.

Em “O Povo contra a Democracia”, livro de Yascha Mounk, Docente do Departamento de Governo da Universidade de Harvard, escreve que estamos numa era de populistas e que estes já não são periféricos, são uma força que começa a ser dominante. Escreve ele que “quando as pessoas percebem que as promessas dos populistas são falsas, que eles são tão ou mais corruptos do que os políticos que vieram antes deles, muitas vezes não voltamos a eleger um político mais moderado.”. Quando é assim as pessoas procuram esperança no populista que se segue. Quando sai o tiro pela culatra desabafam: Ai que Deus que eu não sabia!…  

Os eurocéticos e os populistas da extrema-direita andam em permanente guerrilha pelas atenções dos meios de comunicação tendo escrito na sua catecismo a instrumentalização pelo medo e sobre dúvidas em relação ao futuro culpando o problema da imigração e a U.E. por quase todos os males, aproveitam o descontentamento económico para prometerem o que sabem não poder dar e utilizam e abusam das redes sociais onde sabem que há incautos que podem cair na armadilha. Fazem uma espécie de governação pelo Facebook e pelo Twitter onde procuram ampliar as suas mensagens criando caos, mentiras e confusão. Serão a génese dos que poderão vir a iniciar, no futuro, uma nova guerra?

Afinal são os princípios da propaganda aplicados à comunicação política que não são novos e que são agora utilizados pelas extremas-direitas.  

- Princípio da simplificação e do inimigo único, escolher um inimigo e conseguir acabar com ele.

- Princípio do contágio, mostrar como o presente e o futuro estão sendo contaminados por este inimigo.

- Princípio da transposição, transferir todos os males sociais a esse inimigo.

 - Princípio da exageração e da desfiguração, que é exagerar as más notícias, deturpá-las e modo desfigurá-las para transformar um delito em mil delitos criando assim um clima de profunda insegurança e temor na população que se irá questionar sobre o que nos vai acontecer.  

- Princípio da vulgarização que consiste em tudo numa coisa torpe e de má índole.

- Princípio da orquestração que é fazer divulgar os boatos até que se transformem em notícias de modo a serem sendo replicadas pelos media.

- Princípio da renovação que consiste em lançar novas notícias (sobre o inimigo escolhido) para que o recetor não tenha tempo de pensar.

- Princípio do verossímil que é discutir a informação através de diversas interpretações de especialistas, mas sempre tendo em contra do alvo político escolhido para que o através desses debates o recetor não perceba que o assunto interpretado não é verdadeiro.

- Princípio do silêncio consiste em ocultar toda a informação que não seja conveniente.

- Princípio da transferência que se baseia em potenciar um facto presente com um facto passado. Sempre que se noticia um facto acrescentar com um facto que tenha acontecido antes.

 - Princípio de unanimidade que é a procura de convergência em assuntos de interesse geral apoderando-se do sentimento produzido por estes e colocá-los contra do inimigo alvo.  

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publicado às 18:13

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Há uma espécie de estado de emergência que justifica que deixemos de considerar as eleições para o Parlamento Europeu como sem interesse. Essa emergência é devido a tudo o que pode colocar em perigo a construção de uma Europa unida, democrática e aberta ao mundo. A U.E. foi considerada por outros povos ao longo de décadas como o melhor lugar do mundo e uma forte comunidade de povos diferentes com uma moeda única forte e credível em todo o mundo. A nova administração dos EUA chegada ao poder com as eleições de 2016 apontou como um dos seus tenebrosos objetivos a destruição da União Europeia.

Os fatores exógenos para a crise europeia são a nova geopolítica mundial com a emergência de novas potências. Os fatores endógenos foram os relacionado com a má gestão resultantes da crise financeira que fraturou a coesão entre países, nomeadamente os considerados ricos e os pobres, a crise das migrações e os sentimentos de raiva dos povos aproveitados e alastrados pelos partidos e movimentos populistas de extrema-direita e também por alguma direita que os aproveitaram para obterem dividendos eleitorais em vários países confirmados pela sua ascensão na última década.

Os sinais de perigo advieram do abrandamento da economia europeia, do aumento das desigualdades sociais e a retração da solidariedade. A solidariedade implícita nos países da União Europeia não só foi limitada como em alguns casos eliminada. A ideia do multiculturalismo abraçada e expandida durante os anos oitenta e noventa foi sendo lançada para segundo plano e até regrediu. As causas estão nas ideias lançadas por movimentos racistas e xenófobos aliados que aliados aos egocentrismos nacionalistas originados pela crise das dívidas soberanas que afetaram os países mais frágeis e com deficiente gestão das finanças públicas.

Outro dos fatores tem a ver com a dominância geoestratégica de lideranças nacionalistas em Washington, na China e em Moscovo. A União Europeia passou a ser cada vez um parceiro secundário a abater enquanto união. Os líderes europeus que viveram a Europa durante a crise de 2008, preocupados com o seu “umbigo” nacionalista que alimentaram a rivalidade entre os países do Norte e os do Sul, perdulários e despesistas, como alguns lhes chamavam. Ainda está presente a afirmação sobre Portugal quando o holandês Jeroen Dijsselbloem, em 2017, que acusou os europeus do Sul de gastarem dinheiro em “copos e mulheres”.   

Todos os cenários são agora alimentados por incertezas sobre o destino da U.E. que são aproveitados por aqueles que sempre a quiseram destruir e se encontram agora a caminho para uma possibilidade de vitória. O seu objetivo é o de, também em Portugal, contribuírem para a sua desagregação.    

“Em vésperas de eleições europeias, o cenário mais preocupante é o da fragmentação política da Europa, com a ascensão dos partidos populistas e nacionalistas, na sua generalidade fortemente eurocépticos, e a queda das velhas famílias políticas que construíram a União Europeia desde a sua fundação.”, escreve Teresa de Sousa no jornal Público.

Estou convicto que ninguém deseja para a U.E. uma força unida de partidos da extrema-direita cujo lema é a destruição do projeto europeu que venham a ser Cavalos de Troia na Europa. Estes são os mesmos partidos que têm discursos de populistas e de mentiras que pretendem destruir a Europa. Com este tipo de discursos já existe um, embora de sinal contrário, que destruiu a Venezuela  

Ao contrário do que diz o candidato Nuno Melo da direita CDS, (que agora parece também ser de extrema-direita), não é a extrema-esquerda que está a pôr a U.E. em perigo, que o está a fazer são os partidos como aquele que ele passou a defender.   

Em Portugal não parecia existirem partidos da direita democrática que direta e ostensivamente se opusessem à Europa e se identificassem com a extrema-direita. Parece ter chegado o momento dessa aproximação da direita a esses partidos. Tal é o caso de Nuno Melo, cabeça de lista do CDS-PP às europeias para quem o partido espanhol Vox não é um partido de extrema-direita e admite que venha a integrar a mesma família política europeia do CDS e do PSD. Para Nuno Melo o Vox é um simples partido de Direita, que cabe perfeitamente na mesma família política do Partido Popular Europeu a que pertencem o CDS e o PSD.

Esta posição de Nuno Melo foi comentada por Ana Sá Lopes num editorial do jornal Público cujo título é “Vox, o partido amigo do dr. Nuno Melo” onde escreve que Nuno Melo “Tem medo que o sr. Ventura de Loures lhe vá tirar votos? Mesmo sendo o CDS o partido mais à direita do espectro nacional, esta colagem ao Vox e ao orgulho franquista não deixa de ser uma aberração.”.

Na véspera de um encontro de líderes das principais formações europeias de extrema-direita, realizado no sábado, o vice-primeiro-ministro e ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, proferiu declarações perante jornalistas estrangeiros em Milão, em que diz ser "Mais pró-europeu do que os pró-europeus” acrescentando que "Os eurocéticos são quem domina a Europa neste momento. Os antieuropeus são os socialistas o Partido Popular Europeu. Converteram um sonho num pesadelo, numa prisão.”. É este tipo de inversão de valores que os populistas da extrema-direita utilizam para captar apoiantes, sabendo eles que, se tiverem maiorias absolutas nos seus países revertem tudo quanto defendiam, como aconteceu por exemplo na Hungria e na Turquia, este último país não pretendendo à U.E.

A abstenção e a dispersão de votos nas eleições da próxima semana para o Parlamento Europeu podem resultar numa vitória da extrema-direita que critica e está contra tudo, e diz, ao mesmo tempo, tudo poder resolver. Não sabemos é como!

A extrema direita populista não faz parte da solução é a parte do problema.

Pode também ler aqui sobre a extrema-direita.

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publicado às 16:26

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As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importante, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

(Continuação)

Extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos

 Extrema direita: conotações

Alguma extrema-direita, com algumas exceções, está, por vezes, para a maior parte dos eleitores, marcadamente conotada com as trágicas experiências do nazismo e do fascismo e, ainda hoje, continua a apresentar muitos traços originais do seu início como o irracionalismo, nacionalismo, defesa de valores e instituições tradicionais, intolerância à diversidade — cultural, étnica, sexual — anticomunismo, machismo, violência em nome da defesa de uma comunidade/raça considerada superior. Distancia-se das direitas tradicionais pela intolerância e pela violência de suas ações.

A extrema-direita populistas desde que se organizou em partidos, movimentos ou associações públicas, diz recusar por parte de seus membros as práticas atrás referidas. Desconhece-se ainda a evidência das características do recente partido “Chega” do ex-autarca André Ventura do PSD que, após algumas peripécias, acabou por ser aceite pelo Tribunal Constitucional (TC) como partido político do Chega, que recusou, contudo, o nome de coligação Europa Chega terminando por ficar registado como a coligação “Basta”. O Chega, de André Ventura, vai coligar-se com o Democracia 21 para as eleições europeias. As declarações públicas de André Ventura contrastam com a declaração de princípios do seu partido.

Robert Paxton escreveu um livro “A Anatomia do Fascismo” editado em Portugal  pela Paz e Terra à venda na livraria online WOOK, onde se refere à inviabilidade de reedição do fascismo como experiência particular do contexto entre as duas grandes guerras mundiais, ou seja, um fascismo com as mesmas características, mas não invalida práticas fascistas possíveis na atualidade embora com outros matizes, porque segundo ele não foram superadas, as determinações económicas e políticas que contribuíram para sua emergência e ascensão ao poder.

 Extrema-direita na Europa e as novas tendências

Há inúmeras expressões da extrema-direita na contemporaneidade. Algumas, organizadas em partidos, outras em associações, movimentos ou grupos, muitas pulverizadas em práticas violentas e inorgânicas dirigidas a imigrantes, negros, homossexuais. O perigo é que eles estão a recuperar os seus valores mais arcaicos.

A ascensão dos atuais movimentos de extrema-direita, principalmente na Europa, não é episódica. Essa ideologia nunca deixou de existir mesmo após a sua derrota na Segunda Guerra Mundial dos fascismos e nazismos.

Em França, a extrema-direita vem crescendo com o fortalecimento do Partido da Frente Nacional. A atual presidente do partido é Marine Le Pen, filha de Jean Marine, conseguiu triplicar não aceita que o seu partido seja identificado como sendo de extrema-direita. A Frente Nacional influenciou a criação de novos partidos da extrema-direita na Europa, em função de seu desempenho nas disputas eleitorais na década de 1980.

Um jornalista, alertava em tempo para a extrema-direita em França e Marine Le Pen escrevendo em 2013 que os franceses andaram três décadas a equivocar-se sobre a caracterização da extrema-direita dizendo que era um fenómeno passageiro, um voto de protesto, uma crise da representatividade, desconfiança conjuntural, abandono dos setores populares por parte das grandes formações políticas, antieuropeísmo.

A Frente Nacional, segundo o mesmo jornalista, “deixou de ser um partido de uma minoria para se converter no partido de todos: jovens, trabalhadores, votantes comunistas, eleitores oriundos da direita clássica, do Partido Socialista, executivos e agricultores. A época na qual só os fascistas votavam em Le Pen era uma anedota porque as suas ideias racistas tornaram-se banais e sem crédito na França rica, onde se vive com um conforto quase inigualado, onde as férias são extensas, os direitos infinitos, o Estado um protetor consequente, a educação gratuita, a saúde subvencionada pelo Estado e o seguro desemprego um benefício global”.

Plataforma ideológica da extrema-direita

A plataforma ideológica das várias extremas-direita é invariável: racista, anti-elites, antiglobalização, ultranacionalista e antieuropeia. A suas armas estratégica são já bem conhecidas ao longo de décadas são a exploração do medo nas sociedades traumatizadas e cheias de medos por acontecimentos emocionalmente dolorosos como o terrorismo que as torna particularmente sensíveis em situações similares.

São o medo dos árabes, do islamismo, dos africanos, dos imigrantes, da Europa, dos bancos, dos ciganos, da bolsa de valores ou de qualquer outra coisa imaginária capaz de encarnar o medo.

Recordemos os casos de ataques terroristas, não apenas vindos do radicais islâmicos mas também os ataques com motivações da extrema-direita como foi o ainda recente caso na Nova Zelândia, que provocou pelo menos 49 mortos e 48 feridos entre os quais crianças. Estes ataques correspondem a uma sucessão de ações violentas por elementos da extrema-direita, de entre os quais se destacam atentados contra muçulmanos e judeus praticados em vários países por inspiração supremacista e xenófoba.

O lançamento do medo na sociedade, por vezes sem fundamento, são matizes que alimentam certa aproximação de parte das populações à extrema-direita, e, às vezes até, a partidos de direita, com vocação racista e xenófoba dissimuladas, que surgem em momentos sensíveis.

No contexto contemporâneo a extrema-direita, e alguma direita mais conservadora, defende os valores, princípios e conceções duma sociedade através do princípio das crenças irracionais e do sagrado para justificar os seus discursos face a condições de profundas desigualdades, insatisfações, medo e insegurança. Embora com novas tonalidades e rejeitando através do discurso o sistema de ideias fascista e nazista, contudo, há uma latência que nos lembra uma aproximação das suas convicções e ações com aqueles ideários.

O enraizamento e a ampliação deste tipo de campo ideológico são riscos que a Europa está a correr e que já vimos nos EUA e no Brasil, embora aqui com outras embora muito diferentes.

 

 Ação mimética da extrema-direita

O mimetismo é uma das características da transformação e adaptação ao meio que é utilizado pela extrema-direita populista. De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem o fim da União Europeia e da moeda única que consideram responsáveis pela perda da soberania e da identidade nacional. Ao culparem os imigrantes pelo desemprego e pelo aumento da violência pretendem impor o controle mais rígido à imigração.

Apesar de defenderem a extinção da U.E. as candidaturas para as eleições ao Parlamento Europeu têm como objetivo obterem visibilidade política e, também, como alguns líderes de alguns desses partidos já afirmaram, para destruir a U.E por dentro.

Comentadores políticos afirmam que alguns desses novos partidos que compõem a chamada nova extrema-direita das direitas, tentam distanciar-se da extrema direita fascista. Contudo as suas propagandas têm atingido um endurecimento generalizado de atitudes em relação à diversidade cultural e étnica que nos deixa com a sensação de que quer através de atitudes e expressões de extremismo violento, quer quanto a movimentos políticos populistas assumir um papel visível e influente de grandes proporções.

A contradição está entre os que defendem e o que fazem. Na prática mimetizam a sua ideologia. Se, por um lado, na agenda económica, esses partidos não são muito diferentes do que propõem os partidos da direita clássica, por outro diferem em alguns pontos no que se refere às propostas político-sociais. Isso torna-se evidente na propaganda feita por esses partidos ao negarem o racismo e ao reforçarem que são a favor da pluralidade racial.

Quem vota nos populistas?

Com rigor não se pode saber quem vota em determinados partidos, mas há estimativas que nos permitem conhecer as tendências em função e características dos grupos sociais tais como variáveis ​​sociodemográficas sexo, idade (<25 anos, 25-34 anos, 35-44 anos, 45-54 anos, 55-64 anos, > 64 anos), educação formal (ensino primário, ensino médio, educação universitária) e classe social.

Várias investigações têm sugerido que existe a expectativa de que, quem têm posições socioeconómicas mais baixas possa votar em partidos radicais de direita populistas, assim como tem sido demonstrado que aqueles que votam em partidos de direita populistas radicais tendem a ser menos instruídos. Têm ainda demonstrado que os eleitores radicais da direita tendem a vir de classes sociais mais baixas (Carter, 2006).

Os populistas sejam de esquerda, de direita ou do centro dizem defender os "cidadãos comuns", o povo que, segundo eles, é negligenciado e traído pelos políticos / ou por uma elite económica condescendente. Os que têm posições socioeconómicas mais baixas provavelmente identificar-se-ão com aquela categoria de "cidadãos comuns" ou de "homem comum" e, portanto, sentir-se-ão atraídos pelas mensagens indutoras de que são vítimas do comportamento dos políticos.

A que chama atenção nas projeções efetuadas em investigações é a crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas, principalmente através da internet. Preocupados com o futuro (emprego e educação), a identidade cultural e a influência islâmica na Europa os jovens revelam-se cada vez mais críticos para com os seus governantes e a União Europeia.

Esta inclinação pelas extremas-direitas pode dever-se ao facto de as faixas etárias compreendidos entre os 21 e os 40 anos terem nascido em momentos da história da Europa em que a fase mais aguda da reconstrução do pós-guerra já tinha sido superada. Em 1989 deu-se a queda do muro de Berlim a que se seguiu, em 1991, a dissolução da União Soviética, pelo que essas faixa etária viveram sempre em democracia e não desconhecem o que é viver sob o poder ditaduras onde os tribunais são controlados pelo Estado, a comunicação social é limitada e controlada, a liberdade de expressão é censurada, existem perseguições étnicas e religiosas, proibição de greves e de manifestações e em que as perseguições políticas são constantes. Estes são os paradigmas das políticas da extrema-direita e também das extremas-esquerdas mais radicais, mas, de momento, o perigo destas não está iminente.

O que está a acontecer na Hungria com Viktor Orban e o seu partido, o Fidesz, que é acusado de ter restringido a ação de alguns órgãos de soberania de fiscalização como, por exemplo o Tribunal Constitucional que perdeu autonomia. Outro alvo de repressão, segundo os relatores do Parlamento, é a imprensa húngara que passou a ser controlada por um órgão regulador que pode sancionar veículos de informação que difundam notícias consideradas por Orban como "falsas". Deve ler-se neste caso aquelas que sejam contrárias aos interesses do seu governo, do partido, do "cristianismo" e da "família tradicional". Sendo um partido de ideologia conservadora e considerado de centro-direita, após ter ganho as eleições aproximou-se de posições da extrema-direita com um forte carácter nacionalista e populista.

Sob a liderança de Orban a Hungria procedeu a uma reforma eleitoral realizada para beneficiar o seu partido, o que lhe permite dispor hoje de dois terços do Parlamento o necessário para mudanças constitucionais. É assim que funcionam os partidos extremistas populistas quando chegam ao poder que lhes é dado pelo povo. Ou seja, deturpação total do que se entende por democracia para se manterem no poder por largos anos. Basta lembrarmo-nos de que a Hungria foi um dos países que esteve sob o jugo da ditadura ex-União Soviética.

Instituições de ensino como a Universidade da Europa Central, financiada em parte pelo bilionário americano George Soros, tiveram a liberdade académica restringida, segundo a U.E. Por fim, ONG’s são com frequência classificadas como "agentes estrangeiros" e têm sua atuação limitada no país - como acontece na Rússia.

Não bastasse a reforma eleitoral realizada sob o comando de Orban que terá beneficiado o seu partido permitindo-lhe dispor hoje no Parlamento de dois terços - o necessário para mudanças constitucionais -, mesmo tendo 49,3% dos votos na última eleição.

Relatora da acusação, a eurodeputada holandesa Judith Sargentini (Partido Verde) apelou aos congressistas a posicionarem-se em maioria de dois terços contra Orban - o necessário para a aprovação. Segundo Judith Sargentini, Orban "Perseguiu migrantes, refugiados e minorias como os ciganos. Há indivíduos no governo que beneficiam dos fundos europeus e dos contribuintes. Infelizmente nada melhorou desde que o relatório foi votado em junho na Comissão Europeia."

Foi a primeira vez que na União Europeia que o Parlamento Europeu elabora e aprova um relatório sobre a ativação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, que prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto a um Estado membro.

A extrema-direita populista aproveita-se da democracia para poder tomar o poder e, quando o consegue através de maioria confortável ou coligações passa a executar o seu programa ideológico.

 A ascensão e a atração de eleitores

Segundo alguns estudos, os principais motivos que têm dado origem à ascensão dos partidos da extrema-direita estariam na crise económica e financeira que assolou por contágio a U.E..

Há, no entanto, uns estudos que têm verificado que os desempregados e os que têm rendimentos mais baixos também são suscetíveis de apoiar ideologias de esquerda radicais populistas (Kraaykamp, Jaspers, 2013) e outros que mostraram que as populações das classes mais baixas são mais propensas a votar em partidos populistas de esquerda do que em outros partidos. 

Não raras vezes a educação exerce um efeito positivo na votação na esquerda radical.  Outros autores mostraram que, quando se trata de votar em partidos populistas na Bélgica, na Alemanha e na Holanda, a educação não exerce um efeito negativo geral

É provável que a condição socioeconómica, e não a educação, seja preponderante e tenha um efeito negativo sobre o voto populista. Uma possibilidade é a de que os partidos populistas possam ter em comum o facto de ser mais provável as suas bases eleitorais consistirem em indivíduos que ocupam posições socioeconómicas mais baixas, isto é, virem de classes mais baixas, estarem desempregados e ter rendimentos mais baixos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Uma pergunta que se pode colocar é porque é que uma posição socioeconómica mais baixa poderá levar à votação num partido populista. Haverá alguma relação entre a posição socioeconómica de alguém e a sua inclinação para votar em partidos populistas?

Nas questões que a extrema-direita levanta estão presentes atitudes populistas de euroceticismo daí que andem intimamente relacionados. Respostas justificativas poder ser dadas pela relação entre a posição socioeconómica, o euroceticismo, e a votação populista devido à ameaça de que a abertura das fronteiras por temerem que imigrantes de países da Europa Oriental, e outros, lhes "roubem" empregos. Outro aspeto é que, sendo eurocéticos, podem sentir-se atraídos por este tipo de mensagem populistas.

Os eurocéticos tendem a votar em partidos populistas da extrema-direita por acharem que os políticos dos seus países transferiram poder demais para a U. E. Como se sabe, vários partidos populistas posicionados à margem do espectro político tradicional tendem a expressar atitudes eurocéticas que atrai bases eleitorais pelo de consistirem em indivíduos que são mais propensos a serem eurocéticos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Não é apenas a condição socioeconómica e a atitudes negativas em relação U. E. que está na origem do voto em partidos populista, mas também a desconfiança em relação à política e aos políticos em geral e é aqui que também incide a mensagem desses partidos muitas da vezes veiculada por alguma comunicação social. Não é por acaso que muitos dos que estão desempregados e os que têm rendimentos mais baixos são mais propensos a estarem politicamente insatisfeitos, provavelmente porque tenderem a culpabilizar o sistema político pela sua situação económica.

Uma outra possibilidade é a tendência para os que votam em partidos de direita populistas desconfiarem da política, desconfiança alimentada por aqueles partidos que expõem a população a mensagens populistas em que criticam os políticos e a política.

Há um aproveitamento da direita radical populista em relação a todo o sistema político para obtenção do voto pelo recurso à desconfiança em relação aos políticos dentro do sistema democrático que dirige a mensagem populista não contra o sistema, mas contra as elites corruptas fazendo parecer que a responsabilidade dos fenómenos adversos que existe são os próprios políticos. Como os populistas levantam suspeições aos políticos e às instituições representativas exigem frequentemente inovações institucionais como a restauração da primazia do povo através de iniciativas populares e referendos como afirmou Paul Webb, num artigo publicado em 2013 aplicado ao Reino Unido e cujo título em português é “Quem está disposto a participar? Democratas insatisfeitos, democratas furtivos e populistas no Reino Unido”. Do meu ponto de vista estes populistas da direita radical estão a aplicar os mesmos métodos há muito utilizados pelas esquerdas radicais com algumas diferenças como sejam a aplicação de referendos aplicados indiscriminadamente a todos os atos políticos, porque sabem que dessa forma poderão manipular os povos de forma rápida e facilmente.

Basta conferirmos sobretudo nas redes sociais na Europa e em Portugal, para se confirmar que elas estão repletas de discursos de alienação política e de apatia por parte dos cidadãos. A culpa é a maior parte das vezes atribuída aos políticos, partidos políticos e outras instituições e processos importantes da democracia representativa.

Estes partidos populistas tentam criar um regime de negatividade e de deceção democrática artificiais aproveitado pelas próprias características do sistema democrático cuja possibilidade de alternância promove a crítica “favorecendo o discurso político que normalmente é caracterizado pela negatividade”. Diariamente verificamos isso na política em Portugal pelos discursos negativistas dos partidos quando se encontram na oposição. Não é também é por acaso que nas ruas não raramente escutamos comentários como o de “eles não de entendem!”. Pois é isso mesmo a democracia, ainda que às vezes nos custe, mas sempre é preferível a discursos uníssonos que esses partidos radicais de direita populistas mimetizados de democratas que no querem impor logo que consigam utilizar a democracia para chegarem ao poder.

As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importantes, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

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publicado às 20:53

A União Europeia pode estar em perigo - II

por Manuel_AR, em 17.04.19

(Continuação)

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A extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos

Primavera europeia? Qual primavera? 

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Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e líder da extrema-direita italiana, repete-as cada vez com mais enfase à medida que se aproximam as eleições de 26 de maio para o Parlamento Europeu.

Diz o líder da extrema-direita italiana querer uma “primavera europeia” contra “o eixo franco-alemão” dominante, um “renascimento dos valores europeus” contra os burocratas, uma rede pan-europeia de partidos nacionalistas. Segundo o jornal Expresso estas que não são ideias novas, são enunciadas pelo menos desde que o Governo italiano de coligação entre a Liga, partido de extrema-direita, e o Movimento Cinco Estrelas (M5E), populista, foi formado, em junho do ano passado.

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Na Grécia o partido da extrema-direita neonazi consegui 18 lugares no parlamento nas eleições de 2015 apesar de ser um partido de características violentas. No final da campanha o partido neonazi grego Aurora Dourada fez uma afirmação insólita: aceitou a “responsabilidade política” do assassínio do rapper e ativista de esquerda Pavlos Fyssas, quase exatamente no segundo aniversário da sua morte e argumentou que “Enquanto falarmos de responsabilidade política, aceitamo-la, mas não há responsabilidade criminal”, disse o líder do partido, Nikos Michaloliakos, numa entrevista radiofónica. “Só porque um membro do partido teve uma ação errada, isso não quer dizer que todo o partido deva pagar”.

Até finais do século XX e princípio do século XXI o sucesso eleitoral dos partidos da direita radical autoritária e populista dependeu da combinação de nacionalismo com o neoliberalismo e com uma postura culturalmente autoritária, mas também com políticas que visavam menos redistribuição, menor tributação e redução dos gastos sociais.

As clientelas tradicionais atraídas por esses partidos eram a pequena burguesia que se dizia anti estado e a classe trabalhadora, tradicionalmente de esquerda. Nos últimos quinze ou 20 anos, aproximadamente, as suas estratégias eleitorais foram mascaradas de democratas e os partidos da extrema-direita autoritária e populista conseguiram estar representados no Parlamento Europeu e em alguns dos governos de países da U.E., alguns deles em coligação com a direita moderada. As suas posições sobre os reais pontos de vista ideológicos revelam-se e tornam-se muito mais difíceis de obscurecer quando, nos parlamentos, as leis têm de ser votadas e os orçamentos aprovados no espaço parlamentar.

Para apresentarem trabalho preparam então estratégias de distorção da sua posição político-ideológica que traduzem em propostas de reformas políticas socioeconómicas inconsistentes. Por exemplo, misturando liberalização geral com medidas protecionistas específicas (não raras vezes puramente simbólicas) e novos programas para grupos selecionados (proprietários de pequenas empresas, famílias com crianças e assim por diante) consideradas vitais para o sucesso político do governo que são um disfarce para o povo acreditar nas suas boas intenções, basta ler as intervenções dos seus líderes nos respetivos países.

Outras vezes muitos dos partidos da extrema-direita populista apresentam-se às eleições como sendo novos partidos da classe trabalhadora e, em alguns casos, estes eleitores já são, em alguns países da U.E., o grupo mais importante destes partidos. Afirmam então que o apoio da classe trabalhadora à direita radical está a aumentar constantemente, isto porque, aqueles partidos, abandonaram as suas antigas posições liberais de mercado em favor de agendas mais centristas, em consonância com as preferências de seus apoiantes mimetizando-se e virando um pouco para políticas mais à esquerda.

O caso português do recém-constituído partido “Chega”, que é agora a coligação “Basta” pode ser visto com um caso de contradições entre o que é dito pelo seu líder André Ventura e o que a sua declaração de intenções diz: “o partido Chega declara como fundamental “proteger a dignidade da pessoa humana, contra todas as formas de totalitarismo”, assim como “a promoção do bem comum”, a “defesa do Estado laico” e de “uma justiça efetiva”. O Chega defende “um Estado mais reduzido”, rejeita o “racismo, xenofobia e qualquer forma de discriminação”, quer “igualdade de oportunidades” para os portugueses e aposta no “combate à corrupção” e “numa economia forte”. Contradições e populismo verbalizados por André Ventura que até chega a defender a pena de morte.

Os partidos radicais da extrema-direita populista reorientaram-se para se expressarem de forma mais favorável, especialmente em relação às políticas sociais redistributivas, porque a classe trabalhadora, à qual pretendem conquistar votos, ainda tem um forte interesse na preservação de esquemas tradicionais de segurança social (Röth, Afonso, Spies ; 2018).

(Continua...)

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publicado às 16:44

A União Europeia pode estar em perigo - I

por Manuel_AR, em 16.04.19

Extrema direita_lideres.png

O que se passa na Europa: o regresso às ameaças do passado?

Falta aproximadamente mês e meio para as eleições europeias e, segundo as sondagens, parece haver na U.E. uma tendência de subida de partidos extremistas de direita, populistas e nacionalistas.

Segundo um estudo que analisou quase 48 milhões de mensagens publicadas entre 15 de dezembro de 2018 e 20 de janeiro de 2019, realizado pela Alto Analytics, Big Data and Artificial Intelligence os partidos mais mencionados na Europa em debates públicos online são os eurocéticos, nacionalistas, extremistas de direita e anti-imigração.

Antes de continuar convém clarificar o que, baseado em vários investigadores, se entende por populismo no contexto deste artigo. Populismo pode ser encarado sob três conceitos principais: como ideologia, como um estilo de discurso e de narrativa e como uma forma de mobilização e estratégia política. Como ideologia é um conjunto de ideias inter-relacionadas sobre a natureza da política e da sociedade. Como estilo e característica de discurso e de narrativa tende a ser uma forma de fazer afirmações sobre política para captar através do sentimento e emoção a atenção do público a que se dirige. Como forma de mobilização e estratégia política uma forma de mobilização e organização.

Todos eles, sendo enquadrados em vários contextos sociais e políticos o discurso e as narrativas têm características populares de significado “altamente emocional e simplista” e dirigido aos "sentimentos viscerais" das populações. Guiam-se por uma política oportunista com o objetivo de, rapidamente, agradar às pessoas, potenciais eleitores. Assim, podemos considerar o populismo ainda como uma ideologia que considera a sociedade separada em dois grupos homogéneos e antagónicos, "o povo puro" versus "a elite política corrupta”.

Extrema direita_Hungria.png

A intensificação e o crescimento dos votos em partidos da extrema-direita populista em vários países da U.E. começam a ser preocupantes e as vozes extremistas que aparecem nas redes sociais são também uma prova disso. Para poderem justificar as alarvidades que pronunciam aquele tipo de partidos utiliza a argumentações de que, nas atuais democracias, não há liberdade de expressão. Quem sempre restringiu a liberdade, tirando a extrema-esquerda que hoje deixou de ter influência significativa, foi a extrema-direita quando esteve ou quando está no poder (censura na imprensa como na Hungria hoje em dia).

Extrema-direita e o mimetismo da democracia

Os partidos da extrema-direita, mal-aceites no passado por outros partidos mesmo os considerados de direita, apresentam-se agora nos parlamentos da maioria dos países da Europa Ocidental e participam no governo em vários deles tendo, portanto, a capacidade para influenciar a formulação de políticas nesses países, nomeadamente no impacto que possam ter nas políticas públicas.

A presença das ideias políticas de extrema-direita deve ser um desafio ético-político fundamental aos que recusam o irracionalismo, os discursos populistas e as práticas racistas, étnicas, xenófobas, sexistas e opressoras apelando a nacionalismos radicais e autoisolacionistas.

No plano político, conservadores, e os politicamente reacionários a tudo o que advenha dum sistema democrático ou até mesmo do centro-direita pertencem em parte ao campo ideológico da direita extrema, resistindo a mudanças estruturais que sejam favoráveis às classes trabalhadoras e que levem a perdas de poder económico e político. No outro lado encontram-se os reformistas, socialistas e comunistas que se têm constituído, cada um por seu lado, em frentes comuns de defesa da democracia política. Cada um reivindica para si a defesa da democracia atacando-se mutuamente de serem causadores da sua perda em favor da extrema-direita, ou reivindicam eventuais vitórias como o que se tem verificado em Portugal onde existe um acordo parlamentar entre partidos de esquerda e de centro-esquerda.

(Continua...)

 

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publicado às 21:36


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