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Endividamento e o medo do passado

por Manuel_AR, em 15.06.19

Jornalismo e opinião.png

Para a direita e para os comentadores neoliberais que a apoiam a vinda do diabo é desejada em pleno. Todos sabemos porquê e para quê!

As eleições para as legislativas aproximam-se com tal rapidez que nem nos apercebemos devido às tarefas diárias e preocupações do trabalho que nos absorvem o tempo, mas a pré-campanha iniciou-se logo após as europeias. Os media, especialmente as televisões, já nos dão sinais disso.

A estratégia de envolvimento dos canais com a oposição de direita ao Governo denuncia-se de forma não claramente expressa durante o período dos jornais televisivos, mas evidencia-se através de pormenores identificáveis pela argúcia de quem os vê e ouve.

Repare-se que tudo quanto possa ser negativo que seja da responsabilidade do governo e possa ser utilizado é trazido à tona nos noticiários sendo editados e inseridos durante as peças televisivas por associações mesmo quando não seja um facto essencial para aquele noticiário.

Repare-se ainda que, apesar dos problemas que os há decerto e sempre haverá, à falta de melhor vão recuperar peças do passado já mais do que vistas. A pretexto de uma notícia recorre-se à memória jornalística para fazer recordar aos espectadores, talvez por conveniência, aspetos dos mais negativos que já foram noticiados e repesados no passado, mas que se trazem novamente para o presente.

É o recurso à estratégia da memória continuada do que é negativo e possa ter impacto como forma de induzir os espetadores a reconsiderações de opinião negativa sobre algo que possa ter sido, no presente e no passado, a governação socialista.

Os erros e as falhas no presente ou no passado, especialmente neste, em relação à direita e aos seus atores são, a maior parte das vezes, omitidas ou passadas sem ênfase.

Veja-se o caso dos incêndios de Pedrogão em 2017 dos quais, constantemente, e a pretextos vários, são feitas retrospetivas e mesmo quando não os haja, criam-se investigações várias, ditas jornalísticas, acerca do tema ou de outros. Podem alguns questionar se se deve passar um apagador pelas tragédias e fazê-las esquecer. Não advogo isso por ser uma espécie de censura à informação e, por isso, a resposta é, claramente, não. O que está em causa é a intensão e a oportunidade escolhidas à medida do momento. Veremos que, até às eleições legislativas, o tema dos incêndios e das pessoas por eles lesadas serão um dos temas, entre outros, a serem emocionalmente explorado pelas televisões.

Os temas a explorar serão os que sendo pontuais e apesar de se encontrarem em fase de resolução, como o de alguns organismos ligados à saúde e a pretexto vários a ordem dos médicos e dos enfermeiros e também sindicatos ditos “independentes” alinham-se e ajudam a direita a fazer oposição ao Governo à falta de propostas concretas para apresentar. Os transportes coletivos são outro dos temas preferidos assim como o funcionamento de alguns serviços públicos, Outros surgem agora ainda ligados à calamidade dos incêndios, como o caso do SIRESP que a direita clamava que não funcionou por culpa do Governo e neste caso já não se olha para o passado do governo anterior quando também existia o SIRESP e houve gravíssimos incêndios com morte de bombeiros. Agora que o SIRESP passou para as mãos do Estado essa mesma direita inventa um negócio da china e quer saber como foi. E se fosse com eles?

A direita continua a fazer uma oposição de casos para mostrar trabalho, mas quanto às suas propostas e programa a cumprir caso venham a ser governo continuamos sem nada conhecer.

As opiniões de comentadores e de jornalistas especializados em áreas económicas escolhidos entre os conotados com a direita é outra das estratégias. Com base em factos verídicos e apresentando-se com uma postura que dê credibilidade frente às câmaras da televisão apresentam dados de fontes fidedignas entremeando opinião pessoal que altera o sentido e o objeto do facto no meio das suas análises.

Ainda não há muitos dias vimos e ouvimos na RTP1 a jornalista de economia Helena Garrido comentar, a partir do Boletim Económico de junho de 2019 do Banco de Portugal na parte que se refere ao comércio externo (exportações e as importações) cujo saldo tem vindo a ter tendência negativa e sobre risco da diminuição das exportações e do aumento das importações face ao aumento do consumo interno o que pode perigar o aumento da dívida.

O que diz o relatório do Banco de Portugal (o sublinhado é da minha autoria para salientar o importante):

“À semelhança do observado em 2018, ao longo do horizonte de projeção o contributo da procura interna para o crescimento do PIB será superior ao contributo das exportações. Este padrão de crescimento traduz-se num saldo negativo da balança de bens e serviços a partir de 2019, após um período relativamente longo de saldos positivos. Esta evolução exige uma atenção particular, uma vez que o endividamento externo da economia portuguesa permanece num nível elevado e constitui uma das suas principais vulnerabilidades latentes”. “Neste quadro, torna-se crucial que sejam criadas condições para um aumento do potencial de crescimento da economia portuguesa, em particular tendo em conta os riscos colocados pelos elevados níveis de endividamento e os desafios associados à evolução demográfica, aos baixos níveis de capital por trabalhador e de qualificação da mão-de-obra e às debilidades no funcionamento de mercados, que conduziram a afetações ineficientes de recursos no passado.

Tendo em conta o relatório do BP e tudo aquilo que os números das estatísticas permitem Helena Garrido, selecionou a partir do relatório de 58 páginas aquilo que achou importantes, e que o é de facto (ver sublinhados). Contudo, já parece estar a faltar à isenção e distanciamento partidário quando ameaça no meio da sua análise com o “medo de se repetir o passado”, com referência implícita  ao período de Sócrates que nos levou em 2011 ao colapso económico e financeiro.  Quem a ouviu falar mais pareceu um discurso colado ao de Passos Coelho do passado sobre os portugueses viverem acima das suas possibilidades.

A dita jornalista utiliza a sua credibilidade, se é que a tem de facto, para induzir medos, atualmente infundados, a partir de uma situação idêntica à que se verificou no passado. Na minha opinião Helena Garrido, enquanto jornalista, faz de auxiliar da direita na oposição ao governo utilizando a sua posição mediática privilegiada. Uma coisa é fazer, na sua perspetiva, comentário e análise, outra é fazer analogias com verdades do passado que não colam com a verdade da realidade presente. Isto é como divulgar uma “fake opinion” pronunciada com base em “true news” fazendo vir ao de cima emoções primárias das pessoas como as do medo, neste caso, com base no passado.

As “fake opinions” formulam de imediato juízos, opinam com dureza a partir de dados falsos, ou até de dados verdadeiros conotam com outros pela distorção e não costumam estar abertas ao contraditório.

Quem emite aquele tipo de opiniões vale-se da desinformação popular generalizada o que o torna, à luz de quem o escuta, mais convicto, fechado à possibilidade de ser contraditado sobre a forma como emitiu a opinião e avesso aos que veem a realidade de outro modo.

É certo que começa a subir o endividamento externo, graças ao consumo privado e ao endividamento das empresas, especialmente das famílias pela excessiva facilidade com que acedem ao crédito ao consumo. Temos de evitar a todos o custo que possamos voltar ao passado, mas não é utilizando a estratégia dos medos primários com objetivos e interesses político-partidários que se faz pedagogia.

Para a direita e para os comentadores neoliberais que a apoiam a vinda do diabo é desejada em pleno. Todos sabemos porquê e para quê!

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publicado às 22:58

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Em certos momentos de acontecimentos da nossa política há um problema que aflige e agita a comunicação social e os jornalistas: quando não têm informação suficiente e exata sobre certos factos lançam para a opinião pública achas interpretativas e especulações sobre esses mesmos factos que, por vezes, se aproximam de oráculos.

É, por exemplo, o caso do roubo das armas de Tancos por causa do qual se tem estado a construir uma espécie de telenovela tipo mexicana a partir de alguns factos, outros pseudo factos, que surgem de penumbras que geram nebulosas segundo o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e névoas segundo o primeiro-ministro António Costa. Pode até acontecer que as nebulosas e as névoas sobre os factos sejam, com finalidades várias, adensadas e difundidas pelos próprios envolvidos durante processo de averiguações.

Recorde-se que o caso de Tancos surgiu numa altura crítica em que Governo e o país andavam preocupados com a catástrofe incendiária que grassou, ou fizeram grassar, e que tiveram uma gravidade sem par e, na mesma altura, por coincidência, é divulgado pela comunicação social o facto do roubo das armas em Tancos. Ouro sobre azul para partidos da direita cavalgarem a onda e poderem fazer oposição.

E claro que a oportunidade surgiu para a oposição explorar com a tentativa de atribuir responsabilidades exclusivamente políticas ao que deveria ser responsabilidade da competência da hierarquia militar.

A direita aproveita os nichos de “mercado” da política partidária que a vão ajudar a concentrar esforços onde têm maior probabilidade de sucesso que, aqui e ali, vão surgindo e se abrem no espaço político para fazer oposição partidária; os órgãos de comunicação aproveitam os mesmos nichos para vender informação (por vezes especulando sobre os factos) em consonância. Ambos são, afinal, consumidores públicos suscetíveis de exercer influência. A venda da agitação política para os primeiros e a venda da informação para os segundos contribuindo ambos para o mesmo fim. Assim, quanto mais radicais e agressivos forem a trocar argumentos lançando dúvidas nas mentes e proferindo ofensas, a favor das suas “causas”, mais adeptos ganham no caso de uns, e leitores ou telespectadores no caso dos outros. Para isso os grandes media têm hoje, nas suas versões impressas ou on-line mais colunas de opinião e pouco espaço para reportagens e apresentações factuais sem comentários inseridos pelo jornalista.

A falta de casos concretos e objetivos sobre a governação propriamente dita e de projetos de governação alternativos a oposição procura potencias nichos de factos, por vezes marginais, que potencialmente possam ser associados à conduta do governo para a obtenção de futuros dividendos eleitorais.

Apesar da importância que, sem dúvida, o caso de Tancos merece temos à nossa volta a perceção de que o povo já começa a estar farto desta novela que passa na comunicação social com conveniências várias porque, até ao momento, não existe objetivamente nada que concorra para o esclarecimento. O caso do roubo das armas de Tancos afigura-se-me como estando nesta configuração.

Alguns meios de comunicação, quando não todos, em certas circunstâncias cuidam de apresentar factos por vezes sem relevância, mas jornalisticamente elaborados, dando-lhes enfase de modo a criar polémicas e a ter efeito jornalístico que estimule o leitor ou o espectador.

Uma emoção leva uma pessoa a reagir diante de um acontecimento mesmo que lhe seja apenas descrito e faz ativar sentimentos sendo estes definidos como a observação das emoções e das reações provocadas por elas.

Há vários exemplos do que se afirma que contribuem para preparar e criar clima na opinião pública para julgamentos emocionais e estimular a conduta de partidos na oposição, sejam eles quais forem.

Tendo em vista a importância do layout das primeiras páginas dos jornais, nomeadamente os portugueses, é evidente a construção e a reprodução de ideias e valores na sociedade, quando abordam questões relacionadas com a possível construção de significados sociais como o  objetivo de desencadear emoções e sentimentos (conceitos complementares) que possam ter muita importância quando se pretende induzir a opinião pública através da comunicação.

Vejamos dois exemplos ambos do Correio da Manhã.


CM dia 5 de novembro:

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Repare-se no layout do título da manchete “Juiz de Sócrates Liberta Traficante de Armas” aparece acentuadamente em destaque em fontes garrafais que sugere informações mais relevantes da página, bem como da sua localização no domínio do “Ideal” que está associado à seção superior da primeira página e sugere os elementos representados como dotados de idealização, abstração, generalização ou emoção.

A manchetes mostram a informação relevante mais proeminente e do discurso noticioso. As manchetes simplesmente separam o evento principal da história e, portanto, são totalmente deriváveis da história. A chamada “Juiz de Sócrates Liberta Traficante de Armas” aparece com acentuado destaque, em função das fontes garrafais empregues seu respetivo título.

Assim, o diário Correio da Manhã pretende que o público faça a conotação do tráfico de armas com Sócrates aproveitando ser o mesmo juiz Ivo Rosa, a quem foi atribuída por sorteio a instrução da operação Marquês (que envolve entre José Sócrates e Ricardo Salgado, entre outros), associando-os ao tráfico de armas.  Não está claro no título porque o pretendido será a opinião pública possa fazer conotações do julgamento de Sócrates com o tráfico de armas por ser o mesmo juiz a tomar as decisões judiciais.

Outro caso ainda tendo em vista neste caso a amplificação dirigida de casos.

 

CM 9 de novembro:

 

 

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Como no primeiro exemplo nesta capa o layout do título da manchete “Juiz Apaga Teia da Máfia do Sangue” aparece acentuadamente em destaque com fontes garrafais em cor branca sobre fundo preto que sugere a informação mais relevante da página e o seu impacto bem como o da sua localização associada no domínio do “Ideal” ao centro da primeira página. Os significados sociais (re) produzidos pela composição das capas dos jornais estão ao nível do domínio do Ideais associados à seção superior da página e sugere os elementos representados como dotados de idealização, abstração, generalização ou emoção.

O tema principal da notícia está em letras reduzidas com cores e fundo contrastantes em fonte mais pequena, menos evidente e de difícil leitura. É obvio que neste caso o objetivo da redação parece ser o início da ofensiva contra o juiz Ivo Rosa com a procura de quaisquer decisões judiciais que tomar.

Este tipo de jornais e de jornalismo, e ainda os comentários e notícias que circulam nas redes sociais, procuram com títulos e frases persuasivos explorar o espaço emocional no corpo da opinião pública para desencadearem permanentemente o alerta emocional da sociedade e manter a atenção necessária para despertar em cada caso o correspondente conteúdo sentimental.

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publicado às 23:09

O que procura a procuradora?

por Manuel_AR, em 15.10.18

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Regressei de São Vicente, Cabo Verde, onde estive durante duas semanas ausente das costumeiras notícias das televisões de Portugal. Foi um alívio que serviu para a manutenção da sanidade mental. Mas, não indo mais longe, logo no dia 8 do corrente, dia do meu regresso deparo-me com a desagradável surpresa da presença da Manuela Moura Guedes no noticiário da SIC como comentadora. O título pomposo de “A Procuradora” oportunisticamente escolhido, leva-nos a duvidar e a conjeturar sobre as intenções da SIC e da comentadora, ausente dos ecrãs por motivos que só alguns conhecem. Manuela Moura Guedes é um chamariz para quem gosta do jornalismo ao estilo dos  tabloides do escandalo numa pornográfica mistura entre entretenimento e comentário político. 

A SIC tem vindo, nos últimos anos, a ser uma espécie de canal oficioso de uma certa direita em estado de decomposição com alguns laivos e combinações de pretensa isenção. São públicas as dificuldades financeiras do grupo Impresa a que o canal pertence. Assim, havia que mudar as regras do jogo substituindo o “interesse público” que sacrifica ao que é suposto ser o “interesse do público”, do negócio e do partido a que pertence o dono do grupo, deixando para trás a isenção e a deontologia.

Manuela Moura Guedes que foi deputada independente pelo CDS-PP entre 1995 e 1996, é uma dita jornalista digna de jornais como O Diabo, protótipo do mau jornalismo especializado na destruição de caráter, na condenação prévia sem julgamento fazendo o falso parecer verdade absoluta no mexerico para induzir distorcidos pontos de vista sob a capa da isenção e da credibilidade. Não informa, desinforma e nada acrescenta do que já foi dito que baralha e torna a dar. “A Procuradora” da SIC é um atentado ao comentário televisivo jornalístico e político de qualidade; é o comentário do facciosismo gerido por estados emocionais e pessoais como se de um qualquer blogue pessoal se tratasse. O próprio título escolhido pelo canal para o momento do comentário, sendo igual ao de um Grau hierárquico intermédio da magistratura do Ministério Público, é um atentado ao bom nome de uma instituição que deve ser credibilizada.

No Twitter foi dito: “Debitando banalidades genéricas, sem adicionar informação relevante aos temas que comenta, o espaço de Manuela Moura Guedes na SIC, hoje, destacou-se pela crítica às mulheres que se manifestaram contra Bolsonaro. Ao pescoço, usou um dos símbolos de campanha do fascista”.

“Manuela Moura Guedes acusou Pinto Monteiro e Cândida Almeida de "terem feito tudo para abafar" os casos que envolviam o antigo primeiro-ministro José Sócrates, que acusou de "controlar a Justiça" e solicitou uma investigação ao Ministério Público”. Apercebemo-nos logo da intencionalidade pessoal fazendo acusações sem prova denegrindo, sem direito a contraditório, imagens e carateres.

Quando ao serviço da TVI investigou vários casos relacionados com José Sócrates, acusando na altura sem provas que "tudo o que não era controlado era abafado". A vinda de Moura Guedes foi cirurgicamente escolhida pelo canal SIC, já que o próximo ano é decisivo na atividade política para no culminar de processos judiciais em curso. Ano em que as redes sociais irão instilar veneno, mentiras, insultos e notícias falsas que, a não serem validadas, poderão influenciar decisões através de campanhas negativas. Ser polémico não é sinónimo de mau jornalismo e do desvirtuar a ação jornalística com o intuito da obtenção de audiências.

Portugal já tem mau jornalismo que chegue e a SIC, em maus lençóis e desespero de causa, faz uma fuga para a frente para competir com a TVI na obtenção de audiências com um contrato como este para comentário político.

Manuela Moura Guedes recorre ao mau jornalismo para defensa de causas, as suas causas, para libertação das suas frustrações e ódios pessoais. Emerge do ostracismo para montar uma espécie de teatro burlesco onde, com pontos de vista que confinam o extremismo, pretende reorientar e reinterpretar a política. O comentário de Manuela Moura Guedes é o contrário do bom comentário político onde subjaz uma demência obsessiva-compulsiva provocada pelo revivalismo de mau caráter que faz transparecer.

Não gosto de utilizar as características fenotípicas de uma pessoa como arma de arremesso, mas, Manuela Moura Guedes, sugeriu-me, por analogia, a encarnação do Joker, também apelidado de “Príncipe palhaço”, personagem vilão da banda desenhada Batman. A analogia não se resume apenas ao fácies, mas aos objetivos perpetrados, centrados na destruição do Batman símbolo da justiça e da luta contra o mal. Ela consegue hipocritamente defender o “bem” que, com astúcia, transforma em “mal”. Para ela nada há de bom na democracia e na política e, assim, procura o enxovalho, a falta de ética que, com a sua errada falsa conceção de justiça, tudo reduz à noção de mau.  Moura Guedes faz política pela negativa e pela falsidade, não fosse ela uma grande defensora de Bolsonaro, resultado de ódios e frustrações do seu passado profissional e político que persistem no seu íntimo digno de um personagem maléfico como o Joker do Batman.

É disto que alguns dos seus fãs pertencentes ao seu espetro ideológico gostam: condenação prévia na praça pública e sem culpa formada, a denúncia fácil e falsa, o escândalo, a maledicência, o julgamento e condenação na praça pública, recorrendo até a factos, quaisquer que sejam e que sirvam os seus intentos e os do canal onde agora reza.

Se queremos um símbolo do que não deve ser o jornalismo e o cometário político ele está presente na Procuradora da SIC. 

 

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publicado às 17:43

Teoria da conspiração.png

Segundo alguns dicionários um saco é uma "espécie de bolsa de pano, couro, plástico ou outro material, aberto em cima, geralmente com asas para facilitar o transporte". Há vários tipos de sacos: os sacos para batatas, os sacos de plástico, os sacos de papel, os sacos para dormir, etc., mas também há os sacos azuis e os sacos da política e do jornalismo donde se tiram peças para aproveitamento político.

Aqui entram hipotéticas teorias da conspiração cujo atributo é a crença de que certas forças poderosas, são responsáveis ​​por adversidades e infortúnios de outro modo inexplicáveis e cujo alcance se estende a governos, finanças, cultura e educação, e a ausência de evidência real da sua existência ou influência é simplesmente tomada como prova.  Algumas são baseadas na política e compartilham da crença de que uma “mão oculta e sinistra” pode estar a manipular eventos para o benefício dos conspiradores em detrimento de todos os outros.

No que respeita a estes últimos existem os que, como os incêndios de outubro na região de Pedrógão Grande e outros próximos, causaram lamentáveis vítimas, dezenas delas que terminaram em mortes trágicas de gentes indefesas daquelas regiões violentadas pelas chamas por assassinos a soldo de alguém.

Escrevi em tempos neste mesmo blog a minha opinião sobre a causa daqueles e de outros incêndios que me pareceram muito estranhos e arquitetados com bastante pormenor.  E, como resultado, o oportunismo com todo o fulgor da oposição de direita aproveita a tragédia. Em política nada acontece por acaso. Certas reportagens ditas de jornalismo de investigação da TVI, como foi por exemplo o caso das adoções pela IURD, presumivelmente ilegais, de crianças, são desenvolvidas e debatidas até à exaustão e outras como a reportagem sobre as presumíveis caudas dos incêndios, feita pelo mesmo canal, ficam-se pelo caminho.

Ao longo dos últimos meses noticiários e reportagens nos canais de televisão resplendecem com peças sobre os incêndios numa amalgama de acontecimentos trágicos e chamas. É uma espécie de cadinho onde se misturam episódios, atrás de episódios, que já não são notícias, são antes uma edição de construções ficcionadas aproveitadas a partir da triste realidade. Bem podiam dar um aviso aos espectadores, como naqueles filmes de ficção e em novelas, que alerta para que qualquer semelhança com personagens da vida real é pura coincidência. São imagens acompanhadas de palavras refeitas para públicos com iliteracia imagética.

Já afirmei em anteriores postes que até às próximas eleições a oposição de direita revisitará, sempre que lhe convenha, o mesmo tema atualizado e melhorado. Assim está a acontecer. Com a ajuda da comunicação social, cuja quebra de vendas a torna sedenta de más notícias, aos poucos vai tirando do saco o que lá vai guardando para ocasião oportuna.

É um cadinho onde se vão colocando casos da política relacionados com presumíveis corrupções misturados com químicos diversos, tendo Sócrates como catalisador, ou misturando outros elementos da química política que, eventualmente, possam reagir com o ingrediente Partido Socialista.

A pergunta que me tenho feito várias vezes é: porque será que, quando a direita está envolvida em corrupção o caldo não é aquecido à mesma temperatura e é colocado na gaveta mais fria do frigorífico da comunicação social, mas quando se trata da área da esquerda o caldo da corrupção é posto a ferver?

Tudo isto pode parecer mania da conspiração. Se há conspiração é a comunicação social que acompanho com frequência, e não as redes sociais, que me fornecem a informação e as notícias que me levam a colocar as hipóteses de conspiração.

Em março do corrente ano João Miguel Tavares chamou palermas aos que defendem teorias da conspiração dizendo que, “É precisamente porque o escrutínio do poder é um mecanismo de vigilância insubstituível que as teorias da conspiração só servem para entreter palermas “. Se lesse este artigo eu ficaria no seu rol de palermas.

Para o escritor e jornalista liberal João Miguel os que apresentam opiniões a partir de evidências ou pressupostos causais sobre algo que se relacione com a direita são teorias da conspiração para entreter palermas, mas, quando, pelo contrário, os pressupostos têm em mira a esquerda que governa não são teorias da conspiração, são escrutínio do poder.

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publicado às 00:21

Opinião_Sónia Sapage_Público.png

Quem se dedicar a estabelecer comparações entre a governação no tempo da troika e a atual no que se refere a notícias, opiniões, comentários e outros escritos jornalísticos sobre as diversas áreas do país encontrará de certo diferenças que vão desde a saúde à educação, da proteção civil (e os incêndios) à segurança e o assalto a Tancos, da falta de investimento público à progressão nas carreiras na função pública, das reivindicações salariais à inserção imediata dos precários nos quadros, dos pedidos para tudo e mais nalguma coisa. Enfim, de norte a sul, dos hospitais às escolas, da justiça às funções de soberania aos incêndios verificará que há todo um manancial reivindicativo e de falhas atribuídas à governação, mesmo que não sejam das suas atribuições. Como nada é feito nem dada satisfação imediata às reivindicações que surgem dos mais diversos setores Sónia Sapage, no artigo de opinião do jornal Público, vem dizer que tudo está como se o país tivesse “a troika cá dentro”. Está no exercício do seu direito de livre expressão de pensamento.

No artigo de opinião a jornalista percorre o caminho da crítica à governação e esquece (ou será que omite?) tudo o que a atual governação tem feito e centra-se exclusivamente sobre o que continua por fazer ou que, eventualmente, corre mal.  Recorre então à grande tirada de Passos Coelho e à sua propaganda da “saída limpa” do chamado Programa de Assistência Económica e Financeira,  afirmando que “há quase quatro anos (mais do que aqueles que durou o ajustamento)” e Sónia Sapage acrescenta que “ainda há muita troika por aí”.

Apesar de sabermos que há, com certeza, falhas e atrasos na tomada de medidas, também não é difícil deduzir que, quem assim argumenta tem uma posição passadista que gostaria de ver continuada e que, por certo, se estivéssemos ainda nesse passado omitiria para os mesmos casos o que agora critica. Acredito que não é o caso de Sónia, mas há, na verdade, um certo jornalismo do tipo sick news, jornalismo doentiamente e dissimuladamente partidarizado que ajuda a avivar a “pequena” chama da oposição através de casos e casinhos tirados daqui e dali. Façamos neste caso justiça, muito do que a Sónia refere, infelizmente, não pertencem a este rol. Um artigo de opinião sobre política é formatado de acordo com os pontos de vista do seu autor(a) e por isso pertence, quase sempre, ao leque da subjetividade e da parcialidade.

Há muita coisa para fazer e para corrigir cuja maior parte ainda é herança do tal governo da saída limpa que foi demonstrada pelo estado em que deixou o país com o Banif, a CGD, os lesados do BES, a justiça, o SNS e o que mais fora. A oposição de direita quer fazer-nos crer que está a ser destruído pelo atual governo quando foi ela, de facto, o motor de arranque da destruição de tudo ou quase tudo quando esteve no poder justificado durante mais de quatro anos pelo “ir para além da troika”. E o que fizeram os partidos PSD e CDS que então estavam no governo que merecesse relevância positiva para o país e para as pessoas após a dita saída limpa?  Alguém se recorda?

Certo jornalismo pretende, conscientemente, induzir o esquecimento do passado da governação de direita de modo a transferir para o atual governo as mazelas deixadas em vários setores da sociedade que agora querem que sejam resolvidas em pouco mais de dois anos. Foram vários setores de funcionamento do Estado afetados por cortes, como as polícias e a consequente segurança, a justiça com encerramento indiscriminado de tribunais, os quartéis, as forças armadas, os hospitais e os centros de saúde com redução dos efetivos, quer de médicos, quer de enfermeiros com o cancelamento de novas admissões, e a educação prejudicada pela não admissão de profissionais de apoio às escolas, e o bloqueio do investimento público, etc., etc. fecho de serviços públicos com o pretexto do emagrecimento do Estado e da luta contra o despesismo.   

O que vemos hoje são críticas lançadas para a opinião pública sobre a lentidão e o retardar de medidas nos referidos setores, greves reivindicativas para reposição de direitos, dos salários e das pensões, descongelamento das progressões nas carreiras com retroativos de imediato. Muitas daquelas medidas lesivas foram levadas a efeito pelo anterior governo, umas tomadas por necessidades conjunturais e transitórias que se tornariam definitivas, outras, justificadas pela necessidade de reformas estruturais ditadas pela troika, diziam. Não vimos nessa altura os que agora defendem o aumento da despesa e que se dê resposta imediata a tudo e a todas as necessidades que ainda são muitas.

Olha-se para tudo o que falta fazer e que em tempo não se fez e pretende-se que sejam de imediato satisfeitas todas as exigências. Já não interessa que venha aí o diabo e aumente a e faça disparar a despesa do Estado e que faça novamente aumentar o défice para haver argumentos baseados no “nós bem avisámos”.

A oposição de direita argumenta que esta fase de crescimento da economia não se manterá para sempre e que estamos a negligenciar um possível futuro de menor crescimento da economia. Sem dúvida que todos concordamos com esta posição, todavia a direita tem de nos dizer em que ficamos. Se, por um lado, diz que não há investimento público, quando o negligenciou, que reclama sobre a falta de pessoal e a falta de qualidade de serviços públicos, que ela limitou, e exige que tudo seja cumprido de imediato, mostra esquecer-se de que sol na eira e chuva no nabal (que tanta falta nos tem feito) é que não é possível.

A direita poderá reivindicar que salvou o país da dita banca rota e que fez uma saída limpa do programa de ajustamento. Mas, se continuasse a governar, teria de facto livrado o país da troika ou teria agravado a situação com soluções e medidas que eram uma espécie de clones da troika e que iriam ainda mais além.

Há muita troika por aí, diz Sónia Sapage, contudo, podemos perguntar-lhe o que considera que a direita teria feito se estivesse no poder? Poderá ser uma resposta de retórica, mas, mesmo assim gostaríamos de saber.

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publicado às 18:20

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 Começo com uma frase do artigo de opinião de Teresa de Sousa no jornal Público. Diz a jornalista em determinado ponto do seu artigo: “deixámo-nos cair no debate público pendurado numa sucessão de palavras que, sabe-se lá por quê, todos repetimos e que vão mudando quase todos os dias. Passámos da Raríssimas, que não permitiu derrubar um ministro, ao pernil de porco, do pernil de porco ao financiamento dos partidos, do financiamento dos partidos para qualquer outra coisa que chegue amanhã de manhã. E já me esquecia da “reinvenção” do país que Marcelo nos recomendou como mote do ano que agora começa e que já toda a gente parece disposta a adoptar. Temos o dever de acompanhar a realidade, mas não precisamos de fazer de cada pequeno episódio uma guerra total, todos os dias.”.

Esta frase foi o mote para abordar as formas como a comunicação social, as redes sociais e os blogs, como este onde escrevo e que por aí proliferam utilizam a informação. A crítica que se pode fazer, e que é legítima, é dizer que os autores, mais ou menos espontâneos (eu incluído) escrevem sobre o que desconhecem. Isto é um facto. Mas, daí dizer que escrevemos sobre o que se desconhece ou pensa conhecer com uma atitude de estar no centro dos acontecimentos políticos sobre o qual se escreve já é falso.

No centro dos acontecimentos e dos meandros do conhecimento do facto político apenas se movem políticos e jornalistas. Estes furam aqui e ali para obterem informações, muitas das vezes recebendo-as de fontes “secretas”.  Os jornalistas que se encontram nos meandros da política ouvem, perguntam, entrevistam e utilizam tais fontes “secretas” que podem ser pessoas quer de direita, quer de esquerda, que têm funções em instituições e organismos públicos. Aquelas fontes divulgam ao seu jornal ou jornalista preferido, por vezes deturpando a informação, se acharem conveniente para os objetivos em vista, que passam por denegrir personalidades que exercem determinados cargos ou desempenham determinadas funções focadas como potenciais elementos a abater. Enfim fazendo julgamentos formulados em opiniões ou raciocínios baseados em hipóteses ou suposições não confirmadas e muitas vezes com sentido pejorativo, isto é, fazendo juízos apriorísticos.

Não tenho acesso a fontes “não identificadas, privilegiadas e próximas de”, nem consigo entrevistas, nem tenho conhecimentos e amigos nas redações de jornais nem nos canais de televisão, nem entrevisto pessoas, nem ando atrás de personalidades da política para as entrevistar para poder conhecer com profundidade os assuntos sobre os quais escrevo.

As minhas fontes são a imprensa escrita, os jornais televisivos, os artigos de opinião, os debates televisivos, os comentários, a literatura disponível sobre os temas sobre os quais escrevo. É a partir destas fontes, a que todos também podem ter acesso, que me abalanço a escrever sobre alguns assuntos emitindo apenas a minha opinião e a minha visão perspetivada sobre o que se diz, vê ou escreve. Quando me engano é porque as minhas fontes também se enganaram. Privilegio sobretudo a honestidade nas opiniões ou críticas que formulo apesar de algumas vezes contundentes. Quantas vezes comentadores profissionais da política, que supostamente estarão dentro dos assuntos, divulgam publicamente informações dando-as como certas, anunciando que tiveram origem em fontes fidedignas ou do seu meio de conhecimentos e contactos, mas que, posteriormente, não são confirmadas.

O que escrevo não são “fake news”, são interpretações pessoais de notícias e de opiniões que, como é óbvio, podem ser concordantes ou discordantes dos seus autores.  

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Alguns dos profissionais da comunicação social, felizmente não todos, por vezes cumprem a sua função para agradar a quem lhes paga o ordenado, como uma espécie de “vozes do dono”, para manterem o emprego já que isto, para os lados do jornalismo, anda mal por todo o lado.

A maior parte da comunicação social, ao invés de dar as notícias faz manchetes preparadas para induzir à oposição política, por vezes até, hostil, a certos governos ou pessoas que exerçam funções públicas que não são seu agrado, político ou ideológico, diga-se. Essas manchetes como se sabe são suscetíveis de produzir respostas emotivas resultando em sentimentos emocionais provocados e desfavoráveis para quem as lê ou ouve, mas cujo desenvolvimento do conteúdo não acompanha a conotação do título.   

Vejamos este exemplo real que foi publicado ontem dia 10 do corrente.

O jornal Expresso escreve em manchete: “Mal-estar: Marcelo espera explicações de Costa sobre Marques Vidal”

O lead da notícia é o seguinte:

«Oficialmente, “o Presidente da República não comenta entrevistas da ministra da Justiça”, mas o mal-estar é indisfarçável.»

No desenvolvimento da notícia acrescenta-se que “Uma fonte próxima de Marcelo, não identificada, disse ao Expresso que este caso "é uma afronta ao Presidente" e que as declarações da ministra da Justiça e do primeiro-ministro “causaram mal-estar em Belém”. (Cá está nesta notícia uma das fontes próximas e não identificadas a que os jornalistas recorrem e que anteriormente referi).

O mesmo jornal Expresso, e no mesmo dia, a notícia refere que: “Para Marcelo Rebelo de Sousa, a questão que envolve a eventual não recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República “não existe”, pelo menos “até ao momento em que tiver de exercer o meu poder constitucional”.

De acordo com a nota que ontem o Presidente fez publicar no site da Presidência é que “só se pronuncia sobre a nomeação de titulares de órgãos do Estado sob proposta do Governo, no momento da designação”.

Os jornalistas que redigem as notícias, digo notícias e não opiniões, afirmam, deduzem, especulam sobre as mesmas levantando dúvidas e suspeitas. Colocam partes de frases, tiram ilações e até, por vezes, fazem juízos de intenção e de valor quando redigem algumas notícias. Quais serão os objetivos?

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publicado às 23:42

Confuso ou talvez não

por Manuel_AR, em 26.09.16

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Duma maneira geral a comunicação social é vista como um dos fatores mais responsáveis pela criação de instabilidade social e de desconfianças sobre as práticas políticas dos diversos atores em presença. Não inventa as notícias, elas existem, mas molda-as, adequa-as para terem mais impacto, alterando ou acrescentando sentidos. Os objetivos para tal podem ser vários e dependem das linhas editoriais, da necessidade de amplificação do impacto que o acontecimento ou a notícia possam ter para atrair o interesse do público para a compra e, no caso da televisão, para o aumentar as audiências.

Sem que seja caso único é um bom exemplo o que tem alimentado nos últimos dias, debates, notícias, informações e contrainformações sobre o caso dum potencial imposto sobre o património acumulado desnecessariamente causado por Marina Mortágua do BE.

A liberdade de imprensa que temos (impressa e televisiva) é um bem que deve ser preservado, contudo, corre sempre o risco de estar a ser limitada, condicionada, mesmo não existindo trâmites censórios próprios dos regimes ditatoriais, como era no tempo de Salazar e Caetano.

A pergunta que podemos colocar é a de saber se em democracia existe ou não uma tendência para o controle da comunicação social por grupos económicos através de "correias de transmissão" ligadas a ideologias e partidos políticos, mais ou menos dissimuladas.

A análise dos jornais, noticiários e comentários televisivos mostra-nos algumas tendências que se manifestam mais a favor, ou mais contra, consoante o ponto de vista ideológico de quem está no poder.  

Não deve ser noticiado apenas o que é bom e agradável mas estamos exaustos de ver e ouvir todos os dias notícias negativistas, o fatalismo como sendo as únicas notícias. Noticia-se o que é superficial e fútil e não o relevante. Sabe-se, eles sabem, os da comunicação, que isso é que "vende" e, por isso, insistem. A competição comercial entre canais a isso obriga, deixando a ética como se fosse um objeto sem valor. Espetacularização e sensacionalismo são a chave do negócio.

O alinhamento noticioso dos canais de televisão começou a adotar o modelo de outros canais como o CMTV onde, diariamente, se gasta tempo demais com são oferecidos crimes, marginalidade, corrupção, dinheiro sujo, estúpidos concursos, factos privados enfatizados ad nauseam, gira-se à volta de quem tem dinheiro e declarações de má política, mas compacta-se ao máximo no espaço e no tempo uma qualquer ideia, reflexão construtiva ou qualquer contributo positivo.

O que vemos nos canais noticiosos será de facto o retrato do país onde tudo o que acontece é mau? Desde que não esteja em linha com o que ideologicamente eles, os senhores dos comentários, pensam e que acham deveria ser e porque se quer estar do lado dos opositores que perfilham é tudo mau. Foi assim no passado recente, mas ao contrário.

Não se pode ser otimista irrefletido mas, o que se vê na "fotografia" dos media é um pessimismo paralisante e um fatalismo permanente. Comentar é também criticar com imparcialidade, com isenção, não apenas atacar por mera fação e questão ideológica de que, afinal, acusam outros. Ou, então, criticam porque sim.

Penso que já referi várias vezes neste blog a impressão negativa que tenho sobre alguns comentadores da televisão e sobre artigos de opinião escritos, independentemente de estar ou não de acordo com eles, venham da direita ou da esquerda. Nem tudo o que uns gostam de ouvir ou ler agradará a outros. Uma coisa é o debate de ideias e de pontos de vista em democracia, outra é o "arranjo" argumentativo falacioso propositadamente construído com deturbação e interpretação abusiva de opiniões, acontecimentos ou factos ainda não comprovados. Outro caso ainda é dizer-se que uma coisa é preta quando é evidente a perceção comprovada de que é branca. Isto é, nega-se uma realidade, lança-se-lhe umas pinceladas de frases mais ou menos demagógicas e populistas para se poder a continuar a dizer que aquela coisa é preta.

Neste segundo semestre aconteceu haver uma agitada dança de cadeiras a nível das direções em jornais e rádio, o que para o cidadão comum não é novidade. As justificações são sempre as mesmas, reorganizações, ajustamentos, rentabilizações, etc. e, por vezes, estas mudanças estão também ligadas a mudanças de orientação editorial. Desta vez estas mudanças verificam-se ocasionalmente num ano em que um Governo é apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda.

Na direção do Diário de Notícias encontra-se desde setembro Pedro Baldaia que era diretor da TSF; David Dinis que saiu do jornal Sol, fundou com outros o jornal online Observador e foi para diretor da TSF donde sairá para passar a dirigir, a partir de 3 de outubro, o jornal Público. Também, José Miguel Tavares, passou a ter direito naquele jornal a mais um diazinho por semana para divulgar as suas facciosas opiniões. A direção do jornal i que mudou várias vezes (em pouco mais de seis anos de vida, o jornal já teve quatro proprietários e sete direções), cabe desde 15 de dezembro de 2015 a Mário Ramires que também é presidente do conselho de administração da proprietária do jornal, a NEWSPLEX, SA., e também do semanário Sol. O jornal i e o Sol anteriormente pertenciam à Newshold, empresa angolana liderada por Álvaro Sobrinho que tinha investido na entrada do capital da Cofina, (dona do "CM" - Correio da Manhã) e da Impresa (dona do Expresso).

A crise que há na imprensa escrita vai alastrando e por ela a liberdade de expressão dos jornalistas pode ser condicionada face a uma potencial perda de emprego à vista. As razões apresentadas são várias, normalmente de natureza financeira e económica que levam ao despedimento e a rescisões por mútuo acordo de jornalistas. A razão para que este ano exista tal azáfama leva-me a pensar. Mas isto de momento não nos interessa.

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publicado às 16:55

ContratodeAssociação_impostos.pngO ensino privado seja ele laico ou religioso, a par com o público, é indispensável para o nosso sistema educativo e deve coexistir em competição saudável. Esta é a razão de ser da liberdade de escolha tal como existe noutras atividades.

Vamos ver se nos entendemos, o ensino privado é um negócio, dizem muitos que rentável, pois que o seja, e ainda bem. As famílias ao escolher o ensino privado exercem o seu direito de opção. O que já não admissível é que esse ensino privado em coexistência com ensino público seja sustentado e suportado com dinheiros públicos depois utilizados na construção de instituições de luxo desnecessário do qual usufruem apenas alguns e a que chamam ensino de qualidade, como se a qualidade pedagógica estivesse apenas ao nível da oferta de instalações e de outras atividades que, para serem frequentadas, têm que ser pagas.

Uma reportagem da RTP1 mostra sem quaisquer tendência o que se passa com estes colégios que recebem milhões de euros dos nossos impostos que também pagam o ensino público. A reportagem pode ser vista em http://www.rtp.pt/play/p2283/e236582/sexta-as-9    

Para justificar o título deste “post” recorri a uma passagem do Evangelho segundo São Mateus (22:16-22), o tributo a César, que passos a citar: “E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Diz-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.”

Recuemos a meados do século XX quando estava em marcha o modelo educativo construído com base na escola nacionalista do Estado Novo. A escolaridade básica não era obrigatória. Era o tempo em que o pensamento sobre a educação se baseava no lema “saber ler, escrever e contar”.

O ensino primário foi aquele que concentrou mais a atenção do regime, pois o analfabetismo era, de facto, um problema que carecia de uma solução (ver gráfico). Em 2011 segundo os censos era de 5,2%. Por outro lado, este grau de ensino representava a base propícia à formação dos valores da escola nacionalista se Salazar. 

AnalfabetismoEstadoNovo.png

Taxa de analfabetismo

Fonte: INE

Defendia-se então que cada um deveria ser educado, consoante o seu estatuto social, para exercer a sua função na sociedade, valorizando-se valores como a simplicidade e a humildade. Assim, e Segundo Rosas (1996), Dicionário de História do Estado Novo – vol. 1, a escola primária surgia como um meio para “vivificar o lugar que cada um ocupa na ordem social, através de uma dimensão integradora, que fomenta a coesão moral e o respeito das hierarquias vigentes”.

É neste sistema que entro pela primeira vez na escola, privada, diga-se. Era o tempo em que se faziam exames para atribuição do grau passagem da então chamada quarta classe porque no período do Estado Novo era concluída a chamada instrução primária com um exame da quarta classe obrigatório efetuado na sede do concelho em escola pública e ao qual se seguia um exame de admissão ao “Liceu” que também fiz, no Liceu Gil Vicente, mas onde não fiquei porque fui remetido pelos meus pais para uma escola privada muito influente na época e que ainda existe, hoje em termos gerais de duvidosa qualidade pedagógica.

Durante o Estado Novo apenas os filhos das famílias mais favorecidas seguiam estudos para o “Liceu” encarado como a preparação para o ensino Universitário.

Não havia lugar a subsídios estatais ou qualquer outra modalidade parecida como contratos de associação de hoje que delapidassem os recursos financeiros do Estado. Família que desejasse colocar os seus filhos em escolas ou liceus privados pagava de acordo com o mercado da oferta, havia para todos os gostos e não faltavam alunos.

Os contratos de associação em Portugal que existem há cerca de 30 anos, no tempo em que o poder estava nas mãos da AD (Aliança Democrática, formada pelo PPD, CDS e PPM) e foram estabelecidos pelo Decreto-lei 553/80, de 21 de Novembro (SECÇÃO III Artº. 12.º - 1)  e assinados pelo Ministério da Educação com as escolas de gestão privada em áreas onde a rede de oferta de ensino público era insuficiente para a procura. A modalidade de parceria justificava-se porque se pretendia que a educação fosse alargada e chegasse a todo o país. O Estado pagava a estas escolas para receberem alunos onde não existia oferta pública.

Ao longo destes 30 anos muita coisa mudou no mundo da educação para melhor, muito investimento público foi feito para alargar e melhorar a rede de escolas a todos o país de modo a garantir a todos o acesso ao ensino gratuito.

Foi com grande desfaçatez que Diretor Executivo da AEEP – Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, Rodrigo Queiroz e Melo, afirmou em determinado momento do programa Prós e Contras da passada segunda feira, que “…se já existia numa determinada zona uma escola privada porque é que foram construir uma escola pública? ...”. O que responder a isto? Uma espécie de ganância egoísta. Arriscarei dizer que a maior parte destas escolas são seletivas e, muitas delas, abrangidas por contratos de associação que recebem dinheiro dos nossos impostos mas são frequentadas por crianças de famílias abastadas que nada pagam por lá ter os seus filhos. Para salvaguardar as aparências recebem algumas crianças de outras famílias.  

Por outro lado a demografia veio contribuir para a redução do número de alunos e muitas escolas públicas do primeiro ciclo que fecham e outras do segundo ciclo também viram o seu número de turmas reduzido.

Estamos, felizmente, num regime de mercado livre e concorrencial também no que respeita à educação. Existem muitos colégios privados que sobrevivem bem sem qualquer apoio do Estado e são escolas de qualidade de acordo com a diversificação dos projetos educativos.

Para acirrar a população estas instituições altamente lucrativas, e volto a repetir que ainda bem, mas que o sejam sem dinheiros públicos, utilizam o já velho chavão do Governo estar a ser pressionado pelos partidos mais à esquerda e pelos sindicatos dos professores. Quando alei que existe não lhes agrada e nada corre de cordo com os seus interesses para a direita culpa é sempre dos outros. Tretas!   

 

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publicado às 21:06

Filme Verdade

por Manuel_AR, em 05.05.16

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Para quem gosta de cinema e não se fica pelos filmes dos canais de televisão repetidos até à exaustão aconselho Verdade. É um filme sobre problemas do jornalismo de investigação. Filme pouco publicitado ao qual a crítica portuguesa deu pouco relevo. Trata dum certo poder mais ou menos encoberto que controla os órgãos de informação quando esta não lhes agrada. Porque é que surgem investigações jornalísticas que, passado pouco tempo, não mais se ouve falar. Baseado num caso real de uma investigação jornalística, este filme fornece apenas uma pequena parte da resposta.

Filme a ver: VERDADE de James Vanderbilt com Cate Blanchett, Robert Redford, Dennis Quaid

 

A estrela da Verdade, um filme biográfico sobre os jornalistas da CBS que questionaram registro de serviço militar de George W Bush e foram vilipendiados por blogueiros de direita, fala com Catherine Shoard sobre a natureza escorregadia da verdade na internet. O filme, que também é estrelado por Topher Grace, Elisabeth Moss e Robert Redford como âncora veterano Dan Rather. (in TheGuardian)

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publicado às 15:47

O charmoso

por Manuel_AR, em 18.08.15

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Há dias atrás algumas televisões deram-nos a conhecer uma notícia de grande importância: Passos Coelho está entre os dez governantes mais charmosos do mundo. Fantástico! É um dos bons motivos para se votar na coligação PAF.

Estas notícias, provavelmente pesquisadas por jornalistas apoiantes do quadrante da direita mais radical do PSD onde Passos Coelho se insere, depois lançadas para as redações, fazem parte duma estratégia eleitoral que são um atentado à perceção que os portugueses fazem da política.

Votar em alguém que é charmoso é votar na competência política e governativa. Ser político e ser charmoso, ter voz de barítono e saber cantar é um fator importante para ser eleito primeiro-ministro.

Não foi por acaso que esta notícia foi divulgada. Quem a produziu acha que há por aí tontinhas e tontinhos de portugueses cujo charme é o elemento importante em política para decidir em quem votar, mesmo que esse voto os possa conduzir, mais uma vez, ao engano e ao desengano.

Ser charmoso é, sobretudo para alguns setores do sexo feminino de meia-idade, condição para conceder um voto a alguém para nos governar.

Como dizia numa telenovela o ator brasileiro Duarte Lima “Estou certo ou estou errado?”

Posso estar errado, mas que ainda há tontinhas e tontinhos que vão por aí, lá isso há.

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publicado às 12:02


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