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Os textos que tenho vindo a escrever neste blog são uma espécie de cruzada política empreendida contra Passos Coelho, enquanto primeiro-ministro, e o seu Governo neoliberal e não subjugada a quaisquer interesses partidários. Uma cruzada, mesmo que no sentido figurado, não é um empreendimento de defesa mas de ataque para libertar algo ou alguém.

Durante os últimos anos de governação de José Sócrates já tinha feito o mesmo empreendimento. Só após a sua queda e após ter entrado em funções o Governo de Passos Coelho reconheci que tinha sido enganado e incorrido num erro grosseiro ao associar-me àquela expedição contra Sócrates devido a influências exógenas imanadas dos seus opositores e órgãos de comunicação a elas veiculados.

O meu arrependimento chegou quando afundei a minha cabeça entre as mãos e lamentei que tivesse havido desde o 25 de abril de 1974 um homem na política que me conseguiu enganar com o requinte com que Passos Coelho o fez. Como se costuma dizer, "comi gato por lebre".

Os próprios "ditos" de Passos Coelho que, ao negá-los afirma serem, como diz "mitos urbanos" que se criaram. Saberá ele por acaso o que é um mito urbano ou ter-lhe-ão soprado ao ouvido este conceito e ele apenas resolveu debitá-lo para a plateia que, como eu, ainda tem paciência para o ouvir.

O conceito de mito é complexo e tem várias formas de entendimento. O étimo da palavra tem origem grega (mythos) que significa narrativa ou lenda. O conceito mais genérico e comum de mito e, no caso mito urbano é uma crença imaginária baseada na credulidade daqueles que a aceitam. Isto é, o que foi dito por Passos Coelho sobre emigração dos jovens segundo o próprio não foi dito e não foi mais do que uma lenda e crença imaginária. Os órgãos de comunicação que replicaram o que ele disse não produziram mais do que uma narrativa dum acontecimento duvidoso, fantástica e inverosímil. Para bem da informação aquela ideia foi desmontada com as palavras do próprio primeiro-ministro.

Há afirmações que me ocorrem proferidas por ele ou outros do seu Governo que tinham a pretensão de colocar jovens contra pais, avós e idosos em geral, empregados contra desempregados, trabalhadores públicos contra trabalhadores privados baseando-se em postulados falsos. Será que tudo o que foi dito e ouvido por muita gente serão também mitos urbanos?

O meu empenho nesta cruzada aconteceu a partir de 2011 e levou-me a estar mais atento ao que se passava na política e a arriscar-me a todas as críticas contra os meus escritos que, por mais violentas, virulentas e contundentes, não me afastaram do meu objetivo.

Não se pode dizer que nada sabia e que inventava os assuntos porque o que soube, e sei, foi, e é, pelos órgãos de comunicação social. E das duas uma, ou estão todos errados ou eles próprios desconhecem os factos e os assuntos.

As minhas fontes não são os meandros da política são os órgãos de comunicação social, das conversas de café, dos taxistas e opiniões de conhecidos e desconhecidos.

Na pesquisa social há outros métodos para obter dados que não envolvem recolha direta de informação a partir de algo investigado. É o que se denomina em ciências sociais métodos não interferentes. As entrevistas, os questionários e as sondagens criam atitudes por parte das pessoas alvo porque os que respondem tentam na generalidade suscitar impressões de si próprio a fim de manter o seu estatuto aos olhos do entrevistador mesmo que este não esteja na sua presença.

Estudos sobre comportamento eleitoral concluem que há pessoas que declaram nos inquéritos, mesmo que telefónicos, ter votado, ir votar num sentido ou não ter votado não o tendo feito de facto.

Era meu objetivo percorrer todos os anos de governação PSD/CDS até 2015 mas o tempo escasseou e não saiu mais do que uma tentativa de síntese incompleta, diga-se, do que se passou nos primeiros dois anos do Governo PSD/CDS. Fiquei por alguns factos que, embora sem uma sequência temporal, do meu ponto de vista, julguei serem mais relevantes. Correndo o risco de saturar e esgotar a paciência, até dos mais curiosos, resolvi anexar o ficheiro com a parte descritiva de partes dos referidos anos.

Coloco em baixo um pequeno extrato dos apontamentos que podem podem ser consultados na íntegra em Política vista por um cidadão comum_final.pdf

 

Pouco dias antes daquela data 6 de abril de 2011 Portugal tinha proposto um programa de austeridade denominado PEC 4 (Plano de Estabilidade e Crescimento IV, atualmente chamam-lhe apenas PE - Plano de Estabilidade) que tinha sido elogiado por Angela Merkel. Com o seu apoio e o do presidente da Comissão Europeia, Portugal poderia ter obtido um resgate mais suave.

Sobre este facto José Sócrates dá conhecimento disso ao líder da oposição Passos Coelho. Nessa altura era bem conhecido o apoio partidário, o poder e a influência que José Relvas exercia sobre o líder do PSD. Podemos afirmar que Passos Coelho era dependente de Relvas e por este influenciado, e por isso não deixa passar o PEC IV.

Passos Coelho, justificando que já tinha havido vários PEC’s, alegava desconhecimento do que se passava e que não queria que os portugueses passassem mais sacrifícios. É bom considerar este seu pensamento e compará-lo com as posições posteriormente efetuadas durante a campanha eleitoral e também com as  depois já no Governo as posteriores de Passos.

Objetivo principal, óbvio e oportunista era a queda do Governo e a tomada do poder através de eleições antecipadas, cujas sondagens devido às medidas já tomadas pelos PEC’s anteriores davam uma maioria ao PSD.

No discurso da tomada de posse como Presidente da República, a 4 de abril, Cavaco Silva faz um ataque ao então Governo de Sócrates afirmando que não havia espaço para mais austeridade, “Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadão”, dizia. Nesta altura começou a ser notado o alinhamento do Presidente da Repúblicacom o Governo e a sua falta de isenção e independência.

Entretanto os bancos pressionavam o ministro das Finanças da altura, Teixeira dos Santos que sem consultar José Sócrates anuncia publicamente que Portugal precisava de recorrer a ajuda financeira externa. Sócrates pede a intervenção da “troika”.

Angela Merkel que também desconhecia aquele facto mostra-se surpreendida e desconfortada com tal medida.

Claro que os partidos da oposição, obcecados pelo poder, e os comentadores neoliberais extremados e alinhados com o potencial futuro Governo de maioria, sem o mínimo espírito crítico, dão vivas ao memorando de entendimento que foi assinado como sendo o melhor que poderia ter acontecido a Portugal.

 

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publicado às 22:19

Estratégia da coligaçãoPSDCDS.png

O debate de António Costa e Passos Coelho deve ter sido um pesadelo para os adoradores do segundo. Passos não conseguiu despir a veste dum primeiro-ministro que quase destruiu o país. Portou-se como um tecnocrata que fala "economês", frio, despido de qualquer sensibilidade social como se estivesse a governar apenas para o cumprimento números, sem contudo apresentar quaisquer proposta quantificável, Sem programa para apresentar e falando uma linguagem sem qualquer interesse para a maior parte das pessoas que fazem parte do país real falou sem dizer nada e sem que a maioria do povo o perceba.

A coligação representada por Passos Coelho à falta de projeto ou de um programa concreto e explícito, que não seja a continuidade do que executou durante quatro anos, refugiou-se no passado e em Sócrates, como se isso fosse de interesse para o que pretende fazer se ganhar as eleições.

Foi oportuna a prisão de Sócrates para direita tentar para esconder com o passado o que nos oculta sobre o futuro se esta direita for novamente governo. Pelo que de viu e permitam-me aqui que especule um pouco, até parece que, o que Paulo Rangel disse sobre a justiça e governo parece haver algo de coincidente, ver um dos blogs anteriores. Para não debater projetos para o futuro e não abrir o jogo refugia-se em Sócrates e no passado.

Caso a coligação PSD/CDS venha a ganhar as eleições de outubro o que acha que o espera a si?

Se pudéssemos fazer uma sondagem com esta pergunta as respostas seriam de vários tipos. Imaginámos três que poderão ser representativas do universo das respostas obtidas. Uma, poderia ser - é indiferente, são todos iguais, para mim continuará tudo na mesma seja quem ganhar. Outra seria - fizeram tudo bem, nada me afetou e até tenho tido vantagens, por isso só espero o melhor. Uma outra seria - espero o pior porque irão fazer o mesmo que já fizeram, por isso espero tempos pouco favoráveis. Não há esperança de qualquer melhoria para as pessoas como eu.

Todas as respostas são válidas no que respeita às expectativas sobre o que o futuro lhes reserva se a coligação ganhar as eleições.

Podemos classificar as respostas do primeiro tipo com sendo a de potenciais abstencionistas que contribuem para que nada mude.

Os que dizem que tudo melhorou são os habituais eleitores desta direita e os que professam uma política clubista, fiéis que vestem a camisola mesmo que ela tenha contribuído para os destruir. Os do terceiro tipo têm sempre um partido em que votar que não seja a coligação PSD/CDS.

Para quê esta conversa? OK. Aqui vai.

Se as eleições forem ganhas pelos que, passo a passo como os zombies regressados das tumbas, matraqueiam os nossos ouvidos com palavras vãs como estabilidade e continuidade não nos enganam porque já todos os portugueses pensantes sabem o que irá acontecer.

  1. Se ganharem vão fazer uma releitura dos relatórios do FMI para justificarem a continuação das suas políticas da austeridade e da sua política neoliberal.
  2. Dirão que o défice está novamente a subir e estará tudo pior do que o que apresentaram durante o último ano e durante a campanha eleitoral e mais uma vez seremos enganados.
  3. Continuarão a fazer de conta que não existem centenas de milhares de desempregados, (dizem ser cerca de um milhão ao todo, tudo contadinho), desencorajados e desempregados de longa duração desencorajados que já não se incluem nas estatísticas incluindo os que saíram do país emigrando. Estágios virtuais criados para "reparar" estatísticas.
  4. Continuarão (ou agravarão) os que nem sequer têm emprego sem direitos, pura e simplesmente não têm emprego.
  5. Manter-se-á ou agravar-se-á o número de uma em cada cinco pessoas é pobre cerca de dois milhões de portugueses. Não são falados, são apenas números a coligação passou-lhes um espanador por cima. Após quatro anos tudo é bom, porque para eles não existem as pessoas que vivem mal em Portugal.
  6. Os media televisivos não falam deles não dá audiências, preferem fazer reportagens sobre casos de pessoas que vivem em extrema miséria, sem água, sem luz, isso sim é emoção e dá audiências enquanto a pobreza estrutural que recuou dezenas de anos para trás para quem a esperança que a coligação lhes oferece nunca não passará disso.
  7. Continuarão a arranjar estratégias, digo, "esquemas" para retirar valor às pensões de reforma, mesmo às mais magras que sejam. Pode ser que aqueles que não foram atingidos estejam, neste momento, a defender a coligação, mas bem podem esperar pela sua vez.
  8. Os que não eram pobres ou o deixaram de ser após o vinte cinco de abril e que agora foram lançados para essa situação ficarão assim para sempre. É essa a política que a coligação PSD/ CDS continuará e nada há a fazer.
  9. Quem perdeu tudo casa, carro, emprego continuará a ter as cantinas sociais e o assistencialismo humilhante que a coligação lhes proporcionará.

O discurso oficial fala muito no crescimento da “economia”, daquilo que eles chamam “economia” na sua visão tecnocrática pode resolver a questão social e alterar as estatísticas sociais. Palavras de ilusionista. Se não houver mecanismos de distribuição, a não haver equilíbrio nas relações laborais, a não haver reforço dos mecanismos sociais do estado – tudo profundamente afetado pela parte do programa da troika que eles cumpriram com mais vigor e rapidez – o “crescimento” de que falam tem apenas um efeito: agravar as desigualdades sociais.

Passou a haver "novos donos disto tudo", "são os do lado do poder, do poder que aparece nas listas dos jornais económicos, os chineses, angolanos, profissionais das “jotas” alcandorados a governantes, advogados de negócios e facilitadores, gestores, empresários de sucesso, a nova elite que deve envergonhar a mais velha gente do dinheiro, que o fez de outra maneira.".

 

Recomendo a leitura do artigo de Pacheco Pereira no jornal Público que me inspirou este "post"

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publicado às 23:25

A pedra no sapato e a bolha no pé

por Manuel_AR, em 16.07.15

Passos_Schauble.png

Esperemos que a forma como a questão da Grécia tem sido tratada por Passo Coelho e António Costa não seja uma pedra no sapato do primeiro e uma bolha no pé do segundo.

A minha perceção sobre as intervenções do tipo mestre-escola do primeiro-ministro Passos Coelho sobre a Grécia é simultaneamente de saturação e desorientação ficando sem saber o que pensa de facto sobre o assunto porque avança ou recua consoante o que se vai falando na europa da Alemanha e sobretudo as do ministro das Finanças alemão.

Até para Schäuble parece que o problema da Grécia é mais complicado e que não se resolve apenas com mudanças de Governo nem com pressões exercido sobre partidos que governam e de quem não se gosta e continua a firmar creio que apenas para agora jogar com a vontade do povo grego se manter no euro.

Hoje Schäuble que pôs sobre a mesa no Eurogrupo a ideia de uma saída temporária da Grécia do euro durante cinco anos, sublinhou hoje numa entrevista rádio pública Deutschlandfunk que essa hipótese não era uma obrigação nem uma proposta para Atenas mas que a ideia se baseava no pensamento de muitos economistas, também na Grécia, que duvidam que o país possa solucionar os seus problemas sem um corte da dívida, que, precisou, é impossível de fazer no âmbito da união monetária.

Não parece ser inteligível que, como diz o ministro das finanças alemão, não existe a possibilidade de corte da dívida no âmbito da união europeia, como é que ele coloca a hipótese da Grécia sair do euro, mesmo que temporária, se essa hipótese não está contemplada nos tratados europeus.

Algo vai acontecer dentro de alguns meses e isto é uma forma de começar a preparar a opinião pública da Alemanha e da Europa.

Também hoje Draghi disse ser "incontroverso que o alívio da dívida é necessário e acha que ninguém ainda contestou isso". E acrescentava que "A questão é saber qual a melhor forma de alívio da dívida dentro da nossa estrutura, dentro do nosso quadro institucional legal. Eu acho que devemos concentrar-nos neste ponto nas próximas semanas."

Draghi disse ainda que o BCE continua a agir na suposição de que a Grécia era e continuaria a ser um membro da zona do euro.

Terá Washington pressionado nos últimos meses para haver um acordo que mantenha a Grécia no euro e que inclua o alívio da dívida do país?

Um relatório do FMI vem dizer que a restruturação proposta pelos credores europeus é insuficiente para responder à crise da dívida grega e aponta a deterioração dramática da sustentabilidade da dívida torna necessário o alívio da dívida a uma escala que teria de ir bem para além do que foi pensado até agora – e do que foi proposto pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu”, diz o relatório.

 

 

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publicado às 19:29

Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001 assume posições que colidem com as prescrições de política económica e reformas estruturais do FMI (Fundo monetário Internacional) caracteriza como equívocos, as condicionalidades que o FMI impõe às economias em crise financeira (e também cambial o que não é o caso de Portugal e da Grécia), em troca de ajuda financeira.

Vai ainda mais longe, critica as pressões do FMI para que os países que pedem ajuda promovam a liberalização de seus mercados financeiros e de suas contas de capital que produz instabilidade económica e financeira e impactos distributivos perversos, mais do que crescimento económico e eficiência locativa que é o mais alto nível de bem-estar social dada uma determinada oferta e procura.

Joseph Stiglitz autor do livro chama também a atenção que, não foram os gregos os grandes beneficiários dos resgates efetuados à Grécia. A maior parte do dinheiro emprestado à Grécia foi para lá mas para os credores do setor privado, bancos alemães e franceses.

O custo da dívida grega, per capita, (em euros) nos países mais expostos, em caso de perdão total da dívida.

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Fontes: Open Europe, Banco Mundial

 

Países da zona euro mais expostos à dívida grega

Dívida grega_2.jpg

Fontes: Open Europe, IESEG, Euronews 2015

Critica fortemente a zona euro firma que os representantes da zona euro estão a tentar forçar um Governo democraticamente eleito a ir contra os desejos dos seis eleitores.

A zona euro é para Stiglitz a “antítese da democracia” que acredita pode fazer cair o Governo do Syriza “ao intimidá-lo a aceitar um acordo que contraria o seu mandato”. Ainda para Stiglitz só há uma opção viável: os gregos devem colocar a democracia em primeiro lugar, rejeitando as condições da Troika. Ainda que o resultado continue a ser incerto, um voto a favor do “não” que permitiria à Grécia, “com a sua forte tradição democrática, deixar o seu destino nas suas próprias mãos”.

Para finalizar por agora devo dizer que não sou da área do Syriza, nem tão pouco pretendo entrar em sua defesa, mas tento distanciar-me nas análises que faço referindo-me agora aos noticiários televisivos onde a repetição e enfase com que foi por demais anunciada a falsa questão e o grande problema de os gregos poderem levantar apenas 60 euros por dia. Leia-se o que Raquel Varela diz sobre o assunto:

"Agora a comunicação social portuguesa tem tido uma cobertura superficial e histérica. Veja-se o caso dos famosos 60 euros. Uma desgraça porque os gregos só podem levantar 60 euros por dia. Alguém me diz quantos gregos têm 60 euros por dia para levantar?

1800 Euros por mês?

Porque não foi anunciado com o mesmo espanto e repetição a quantidade de gregos que por continuar a pagar a dívida «pública» há muito deixou de ter 60 euros por dia, educação, acesso à saúde?"

Será que alguém discorda? Se sim, diga-o com argumentos lógicos e fundamentados ou então cale-se. Provocação!

 

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publicado às 20:16

Democracia: a nossa, a vossa e a deles

por Manuel_AR, em 04.07.15

Faltam menos de 48 horas para o refendo na Grécia e as direitas europeias e portuguesa que, infelizmente, procuram deturpar os factos à sua maneira, interferem nos assuntos internos dum país soberano (?).

A democracia na União Europeia começa a estar em perigo. Através da miragem da adesão ao euro cuja permanência é vitalícia porque após entrar não há como sair e dos apetecíveis fundos países soberanos estão a ser "conquistados e ocupados" não pela força das armas mas por processos ínvios conducentes à passagem a protetorados passando pela perda de soberania e logo depois pela submissão mais vigorosa. Este é o que pretendem com o caso da Grécia como experiência exploratória para posterior alargamento a países mais frágeis como Portugal.

A interferência das instituições europeias nas eleições de países como a Grécia e Portugal direta tem sido uma evidência. Recorde-se o caso das eleições para o Parlamento Europeu em Portugal onde por várias vezes dirigentes europeus interferiram com conselhos, ameaças como as efetuadas por Durão Barroso.

Ter votado num partido diferente daqueles que a "democrática" União Europeia pretendia tem contribuiu para que fosse exercido um terrorismo, uma tortura psicológica e, sobretudo a criação de uma insegurança que os solidários governantes europeus exercem como castigo pelo atrevimento que tiveram em escolher quem pretendiam para o seu Governo.

Para os países que controla a União Europeia, nomeadamente a Alemanha e os países seus mandatários aos quais se juntam os subservientes, a democracia é só uma, a deles, a do poder alemão, e a do poder financeiro e mais nenhuma. O princípio para onde a Europa está a ser conduzida é a de manutenção no poder de partidos de ideologia única para o exercício de uma de forma de poder com forte controlo ditatorial disfarçado por laivos de democracia.

A democracia nos países mais frágeis da U.E., como a nossa em Portugal, está também em perigo porque o seu exercício está sujeito a influências e interferências exteriores em países supostamente soberanos que não teriam receber quaisquer recomendações, boas ou más, por parte das instituições europeias ou internacionais sobre os seus atos de escolha política e partidária.

A vossa democracia tem que ser aquela como nós a entendemos e queremos que seja e, quanto isso, não há como escapar, é a mensagem que transparece e nos chega da europa alemã.  

Uma coisa são manifestações de a favor ou contra, levadas a cabo por organizações e povos de outros países sobre acontecimentos (a nível estritamente político e não interferentes), outra são os responsáveis máximos e líderes políticos de instituições da U. E. que deveriam ficar distanciadas, o que não é o caso.

A questão da Grécia sempre foi financeira e económica mas deixou de o ser a partir do momento em que um partido como o Syriza ganhou democraticamente as eleições. O referendo que se vai realizar deveria ser um assunto deveria ser discutido internamente e a decisão, fosse qual fosse, democraticamente aceite.

O que se vê são as interferências descaradas das instituições europeias ora com ameaças, ora com ofertas de cenoura à frente do burro para o levar para onde queremos, ora através do medo e do terror propagado através dos media. É um terrorismo político.

O media, nomeadamente em Portugal dão notícias veiculando mensagens de voto no SIM na Grécia como esta em que se diz que "líderes europeus, mas também os media gregos, continuam a pressionar pelo voto no “sim”. Varoufakis diz que "há demasiado em jogo" para que a Grécia saia do euro e que a União Europeia quer fazer do país um exemplo para Portugal e Espanha".

A pergunta que é efetuada ao povo grego para responder no dia 5 de julho, ao contrário do que as direitas por essa Europa querem fazer crer não é a saída ou não do Euro mas é simplesmente responder se SIM ou NÃO "Aceitam um documento projeto apresentado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, na reunião do Eurogrupo realizada em 25 de junho?". Se vai haver ou não consequências para a Grécia sair do Euro isso depende exclusivamente da União Europeia.

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publicado às 17:19

Em Portugal o problema da Grécia tem provocado comentários e análises motivados por preconceitos partidários e ideológicos que chegam ao ponto do irracional como os comentários de Luís Pedro Nunes, diretor do Inimigo Público, que pretende ter graça e satirizar mas que de graça nada tem. Em vez de distanciamento e isenção que se esperaria por parte de comentadores e analistas políticos, formando e informando, o que se vê é desinformação e tropeços em comentários emocionais, ideológica e tendencialmente partidarizados.

Os senhores que mandam na Europa não se dão bem com a esquerda, mas dá o seu beneplácito a governos de direita em coligação com sociais-democratas que lhe sejam fiéis e obedientes. É isto que está em cima da mesa, daí a teimosia dos dirigentes europeus que vêm com desagrado e querem fazer com que seja um mau exemplo para se no futuro chegarem ao poder partidos de esquerda mesmo que democraticamente eleitos. Chamam-lhe esquerda radical mas onde está a outra, a não radical? Essa já foi há muito absorvida deixando de ter representação significativa.

Há que reconheçer que a responsabilidade é de todos, políticos, governos, do povo, e dos líderes europeus mas parece que estes últimos não querem assumir as suas responsabilidades e centram-se apenas em arranjar formas de fazer cair um governo apenas por ser duma esquerda não-alinhada com as propostas que lhe querem impor.

O problema é, por isso, mais político do que financeiro e económico. Não é com vinagre que se apanham moscas diz o povo. A direita que toma posições radicais e que governa a europa, onde Portugal também se encontra, preferiu utilizar sprays fortíssimos para afastar uma espécie de moscas que lhe vieram cair em cima do prato.

É necessário ter em conta que não se trata de moscas mas de um país que foi enfraquecido por medicamentos que era suposto fortificá-lo mas que o colocaram num estado de tal depauperação que está em vias de não conseguir sequer levantar-se. No entanto, quem nos governa na Europa quer mostrar para a opinião pública que já reduziu o máximo que podia o princípio ativo do medicamento prescrito que estavam a obrigar os gregos a ingerir. Mas este princípio ativo não ajuda à cura da doença mas colocar o doente num estado de letargia durante anos.

Vamos ser objetivos, têm sido identificados na Grécia situações como evasão fiscal, a falta de agilização na cobrança de impostos, a corrupção, mau funcionamento dos tribunais administrativos, problemas de oligopólios, nas profissões, etc.. A quem devemos imputar a responsabilidade disso senão aos governos anteriores que fora socialistas, direita e de centro direita de coligação e outras fórmulas mágicas de coligações que nunca conseguiram por falta de vontade política, comprometimento com o status quo e porque nunca quiseram tocar em privilégios instalados durante anos.

A Grécia tem responsabilidades de estar na situação em que se encontra, mas a responsabilidade não é, por certo, do Syriza que nunca esteve sozinho no governo da Grécia nem sob a forma de qualquer coligação. O Syriza está no Governo da Grécia como consequência do que fizeram os governos antecedentes.

É bom recordar que em 23 de abril de 2010 o Governo da Grécia era liderado por Papandreou do partido socialista, altura em que foi pedido o primeiro resgate financeiro devido à crise europeia fazendo entrar 100 mil milhões de euros provenientes das três entidades internacionais (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI). Em março de 2012 recorre a um segundo resgate de 130 mil milhões que entraram até finais de 2014. O resultado das condições impostas pela troika ao governo de Atenas, com Samaras da Nova Democracia então no poder, não foram cumpridas e as que o foram também não resultaram apesar dos extremos sacrifícios a que sujeitaram o povo grego.

Ao aceitar o empréstimo da troika em troca de €245,6 mil milhões de euros de maio de 2010 a março de 2016, o Governo comprometia-se à da implementação de reformas económicas, privatizações e medidas de austeridade.

No momento de uma das avaliações a troika encontrou um desfasamento no cumprimento das metas do plano de cerca de 2,5 mil milhões de euros nas contas e pedia medidas acrescidas de austeridade mas o Governo insistia nas suas contas que eram as corretas e sujeitou-as ao parlamento que as aprovou.

Para Mariana Mazzucato do The Guardian o problema da Grécia não pode ser resolvido com cortes e mais cortes e acrescenta que "o problema da Grécia nunca foi um problema de liquidez mas de solvência, ou seja, a sua incapacidade para cumprir os compromissos com os recursos que constituem seu património ou ativo. Foi a crise da competitividade agravada pela crise financeira. A crise grega não aguentando mais cortes deveria ser direcionada uma estratégia de investimento sério, acompanhado por reformas sérias do Estado e da fiscalidade tendo em vista a competitividade. A insistência no status quo de mais austeridade produz uma Grécia cada vez mais fraca, com mais desemprego e mais perda de competitividade."

A Grécia tem problemas que quer resolver mas precisa do apoio da União Europeia que lho está a negar apenas, e só, por mero preconceito e receio de que outros países possam seguir-lhe o exemplo de se atreverem a votar em partidos que não são aceites por governos que pretendem ser dominantes e hegemónicos. A estratégia tem sido dominar e controlar pacificamente outros países mais fracos, através de governos subservientes que não lhes crie problemas, de modo a possam ficar no domínio da sua influência e da qual não se possam libertar. É uma espécie de colonialismo dos tempos moderno através da finança, isto é, uma forma de domínio económico, político e social, exercido por um país sobre outro, separado geograficamente dele.

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publicado às 00:04

 

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É preciso cortar mais 600 milhões de euros

 

 

 

 

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Força Coelho estás no bom caminho

Banquete eleitoral:

Portugal tem os cofres cheios;

A economia está a expandir;

No próximo ano vai chegar ao ensino superior mais dinheiro para mais bolsas de estudo;

22 Milhões de euros entregues aos hospitais, a pouco mais de três meses das eleições;

O ministro Poiares Maduro diz que vai dar 45 milhões de euros para projetos de modernização administrativa destinados a organismos públicos ou empresas privadas que prestem serviços públicos ou ainda privadas sem fins lucrativos;

O ministro da Educação, Nuno Crato, diz que não tenciona fazer mais cortes financeiros no setor, como sugere o Fundo Mundo Monetário Internacional (FMI) no relatório divulgado esta semana;

Antecipa-se o pagamento de dois mil milhões ao FMI, para poupar nos juros, o que acho bem. Mas não foi, como a ministra das finanças diz "porque, com o nosso trabalho, conseguimos que os juros que pagamos no mercado da dívida sejam efetivamente mais baixos" mas porque eles baixaram em todos os países. A mentira passou a ser para o Governo um vício.

Há suspeitas de que houve ajuda do Estado na encomenda por ajuste direto, no valor de 77 milhões de euros, de dois navios-patrulha oceânicos à West Sea, empresa do grupo Martifer, que ficou com a subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo feita pelo ministro Aguiar Branco;

Governo vai pagar até 500 euros por ações de formação aos desempregados. A este apoio acresce "uma bolsa de formação, subsídio de refeição e despesas de transporte, desde que a entidade formadora não atribua os referidos apoios", lê-se no projeto de portaria. Mais tachos para potenciais Tecnoformas.

Adivinhe quem é que vai pagar tudo isto?

 

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publicado às 09:55

Grécia: a outra realidade

por Manuel_AR, em 19.06.15

Não me tenho pronunciado frequentemente neste local sobre o problema grego mas começa a ser grave o que está acontecer naquela que, apenas de nome, se apelida de União Europeia.

Sempre pensei que a U.E. está a forçar a todo o custo a cedência da Grécia apenas, e só, porque um partido de esquerda que não é do seu agrado foi eleito democraticamente pelo povo grego.

Não sou simpatizante deste tipo de partidos mas aceito que, se foi a escolha dos gregos e se quiser ser minimamente coerente com os princípios democráticos que adoto, tenho que aceitar tal decisão. A questão que coloco é: e se fosse um partido de direita, a europa estaria a tomar a mesma posição? Vários partidos já estiveram no poder na Grécia, nomeadamente de direita e em coligação e nada fizeram, mas a U.E. e o FMI não se tiveram posições tão radicais. Como explicar então este facto?

Alexis Tsipras escreveu um artigo sobre o sistema de pensões grego que foi publicado no jornal alemão Der Tagesspiegel , para tentar dissipar o mito de que os contribuintes alemães estão a pagar as pensões gregas. Neste seu artigo argumenta que o " mito popular de que o contribuinte médio alemão tem sido levado a acreditar [...] que ele está a pagar para os salários e pensões do povo grego [...] é absolutamente falso".

Em baixo transcrevo o artigo na íntegra que vale a pena ler e comparar como o caso português:

 

"Durante uma negociação, uma troca de argumentos é legítima, desde que haja sinceridade e boa-fé entre as partes. Caso contrário, quando o diálogo está em curso sem fim à vista a consequência é que os métodos utilizados são semelhantes aos descritos pelo grande filósofo alemão Schopenhauer em "A Arte de estar sempre certo"!

Por exemplo, é injusto para utilizar seletivamente índices estatísticos - mesmo se eles são dotados com o prestígio de economistas de renome, tais como Olivier Blanchard - para produzir generalizações infundadas de que a realidade obscura.

Como tal, gostaria de desconstruir um mito popular de que o contribuinte médio alemão tem sido levado a acreditar. Ou seja, que ele está a pagar os salários e pensões do povo grego. Isso é absolutamente falso.

Eu não nego que o nosso sistema de segurança social tem problemas. Mas é importante ressaltar a raiz do problema e como ele pode ser resolvido. Houve muitos cortes nos últimos anos, que só serviram para aprofundar a recessão e tornar o problema ainda pior.

Pode parecer um pouco suspeito que 75% da despesa primária é usada para pagar salários e pensões. Se isso soa inacreditável-isso é porque ele é: apenas 30% das despesas primárias das pensões. Além disso, é importante notar que os salários e as pensões não são a mesma coisa, e avaliá-los juntos é um erro metodológico grave.

A comparação com as pensões da Alemanha também é um pouco enganadora. De acordo com o Relatório de Envelhecimento (2009, 2015), as despesas com pensões na Grécia subiram de 11,7% do PIB em 2007 (um pouco maior do que a de 10,4% na Alemanha) e chegou a 16,2% em 2013 (enquanto na Alemanha os números mantiveram-se praticamente estável).

O que causou esse aumento? Foi devido a um aumento dos pensionistas ou um aumento no montante das pensões? A resposta é: Não. O número de pensionistas permaneceu essencialmente inalterado e as pensões têm diminuído drasticamente devido às políticas implementadas.

Aritmética simples é suficiente para chegar à conclusão de que o aumento das despesas com pensões em percentagem do PIB é inteiramente devido a um declínio no PIB (denominador), e não a um aumento das despesas (o numerador). Em outras palavras, o PIB declinou mais rapidamente do que as pensões.

No que diz respeito a idade de reforma, pode ser que em funcionários da Grécia se aposentem muito mais jovem?

A verdade é que a idade da reforma na Grécia é de 67 anos para os homens e mulheres, ou seja, dois anos mais do que na Alemanha.

A idade média de saída do mercado de trabalho para os homens na Grécia é 64,4 anos, ou seja, oito meses mais cedo do que os 65,1 anos na Alemanha, enquanto as mulheres gregas se aposentam aos 64,5 anos, cerca de 3,5 meses mais tarde do que as mulheres alemãs que se aposentam em 64,2 anos.

Eu quis destacar a -novamente acima, para não negar os males de nosso sistema- segurança social, mas para provar que o problema não é das supostas pensões generosas.

A rutura mais significativa para os fundos de pensão é devido a receitas mais baixas dramaticamente nos últimos anos. Estes foram causados ​​pela perda de bens devido à PSI (haircut de títulos gregos detidos pelos Fundos de Pensão, totalmente cerca de 25 milhões de euros), bem como - e mais importante - pela forte queda nas contribuições que resultou de aumento do desemprego, e a redução dos salários.

Em particular, durante o período 2010 - 2014, cerca de € 13.000.000.000 foram removidos do nosso sistema de segurança social por meio de uma série de medidas com uma redução correspondente em pensões e subsídios a uma taxa de cerca de 50%, o que esgotou qualquer margem para novas reduções sem prejudicar o núcleo operacional do sistema.

Além disso, temos de compreender que o sistema está sendo pressionado principalmente do lado da receita e menos em despesas, como é muitas vezes implícito.

Gostaria também de chamar a atenção de um assunto que é exclusivo da crise grega. O sistema de segurança social é o mecanismo institucionalizado de solidariedade entre as gerações, e a sua sustentabilidade é uma preocupação principal para a sociedade como um todo. Tradicionalmente, esta solidariedade tem significado que os jovens, através das suas contribuições, financiam as pensões dos seus pais. Mas durante a crise grega, temos testemunhado esta solidariedade está sendo revertida como pensões dos pais financiar a sobrevivência de seus filhos.  As pensões dos idosos são muitas vezes o último refúgio para famílias inteiras que têm apenas um ou nenhum membro trabalha em um país com desemprego de 25% na população em geral, e 50% entre os jovens.

Diante de tal situação, não podemos adotar a lógica de cortes cegos e horizontais, como alguns no têm pedido para fazer, o que resultaria em consequências sociais dramáticas.

Por outro lado, não somos indiferentes à condição atual do nosso sistema de segurança social, e estamos determinados a garantir a sua sustentabilidade.

O governo grego apresentou propostas específicas em matéria de reorganização do sistema de segurança social. Nós concordamos com a abolição imediata da opção de reforma antecipada que aumenta a idade média de aposentação, e estamos comprometidos em avançar imediatamente com a consolidação dos fundos de pensão, reduzindo as suas despesas de funcionamento e restringindo o regime especial.

Como analisámos em detalhe durante as nossas discussões com as instituições, estas reformas funcionar de forma decisiva em favor da sustentabilidade do sistema. E como todas as reformas, os seus resultados não serão aparentes de um dia para o outro. A sustentabilidade requer uma perspetiva de longo prazo e não podem estar sujeitos a critérios fiscais estreito, curto prazo (por exemplo, a redução das despesas de 1% do PIB em 2016).

Benjamin Disraeli costumava dizer que existem três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas. Não permitamos que um uso obsessivo-compulsivo de índices para destruir o acordo abrangente que nós preparamos durante o período anterior de negociações intensivas. O dever recai sobre todos os nossos ombros."

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publicado às 01:01

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Pétain foi o chefe do regime que executou as ordens de Hitler na França durante a ocupação militar da 2ª guerra, é o símbolo de uma humilhação, uma cicatriz na consciência nacional francesa. Philippe Pétain é condenado à morte por um tribunal de guerra francês, por colaboração com a Alemanha nazista, pena depois comutada em prisão perpétua. O colaboracionismo é assim uma política de colaboração com forças ocupantes.

O projeto da construção de uma união europeia teve como objetivo inicial criar uma relação forte entre a Alemanha e a França e reunir os restantes países europeus a fim de se construir uma comunidade com um destino comum. Isto foi o projeto que, a partir aproximadamente 2008, começou a ter um enviesamento que partiu do poder e dos interesses alemães na europa aos quais se associaram países do norte ricos e excedentários.

 

Após setenta anos encarregaram-se, alguns países, de fazer em paz o que não conseguiram fazer com a guerra. O colaboracionismo do tempo da guerra deu lugar ao seguidismo, procedimento daqueles que seguem uma ideia, teoria, autoridade ou um partido sem questionar ou fazer qualquer juízo crítico. O seguidismo pela solução política e financeira radical germânica para a gestão da crise veio da parte daqueles que cooperaram e cooperam por afinidade ideológica, simpatia, coincidência nos objetivos, medo ou, até, por coação de quem quer impor, com proveito próprio, políticas de quebra da soberania a países que devem ser livres e independentes.

 

O seguidismo é também traição porque tende a colaborar voluntariamente com quem impõe uma ordem, regras e normas contrários aos interesses de um país, seja por que forma for.

Por esta ótica e do ponto de vista político e social pode exemplificar-se em Portugal com o "grito" do primeiro-ministro, Passos Coelho, quando afirmou que queria "ir mais longe do que o imposto pela troika".  

 

Este tipo de seguidismo político, ideológico e económico tornou-se  mais evidente ao longo dos últimos anos. Basta recordarmos declarações do secretário de Estado dos Assuntos Europeus Bruno Maçães quando da visita deste germanista à Grécia em 30 de novembro de 2013 e lhe valeu o epíteto de "o alemão" na imprensa helénica. Isto é uma vergonha. É necessário que o povo deixe de ter a fama de memória curta.

 

No atual contexto da União Europeia, confrontada com uma quase declaração de guerra económica e financeira contra países que, encontrando-se numa situação de fragilidade financeira, foram, apesar disso, aceites na U.E. e na adesão ao Euro. As posições alemãs e dos seus aliados do norte eram mais do que evidentes: submeter à força da austeridade e de enormes sacrifícios sociais povos soberanos retirando-lhes força e vitalidade para os poderem subjugar à sua vontade. Os próprios tratados europeus são os contratos assinados da submissão. O caso português é um dos casos mais evidente de seguidismo, o caso da Grécia é outro caso especial porque a partir do momento em que em eleições livres laçaram um grito de libertação para contrariar as políticas seguidas pela Alemanha estão a ser cercados por um círculo de fogo lançado pelos seus parceiros europeus.

 

Pode sempre dizer-se que, no nosso caso, ninguém nos obrigou, nós é que, por força das circunstância, fomos pedir socorro e, daí, vir a troika tão desejada e elogiada pela direita. Isso é um facto, daí ao seguidismo de Governo subserviente como tem sido o atual foi um passo. Uma coisa é necessitarmos de ajuda numa emergência, outra é a intromissão abusiva sobre o que devemos fazer para podermos cumprir os compromissos assumidos. Obrigarem-nos a tomar medidas para, dizem, cumprir compromissos assumidos é a passagem de um certificado de desconfiança, incapacidade e incompetência de quem nos governa e nisso fomos iguais à Grécia.  

 

Baseiam-se no cumprimento dos acordos e compromissos para a imposição de condições unilaterais. Quem conhece alguma coisa sobre as máfias e sobre os compromissos referentes a empréstimos sabe que o não pagamento de dívidas, sem ser nos termos e condições impostas inicialmente, corriam o risco de lhe partirem braços, pernas e não raras vezes ameaçavam com a morte os devedores.

A morte física é um processo irreversível num ser vivo quando finalizam as atividades biológicas que caracterizam a vida. Um morto não paga dívidas por isso há todo o interesse em não matar o devedor.

O que está a acontecer na europa é uma morte lenta das economias mais frágeis com dívidas a aumentar a cada mês que passa e sem crescimento económico devido à austeridade férrea e teimosa com a intervenção opressiva de uns, a cumplicidade ativa de outros e, ainda, a complacência de mais uns tantos, fazendo com que a recuperação seja difícil e o retorno a uma dinâmica económica de crescimento torne ainda mais difícil e tardio o cumprimento dos compromissos assumidos.

 

Alguns, "furiosos", outros, desorientados, outros ainda receosos pelo que se passou com as últimas eleições na Grécia desejam que falhe redondamente qualquer política que possibilite o crescimento da economia naquele país e acrescentam, repetidamente, que Portugal não é a Grécia. É a única verdade que dizem. De facto não somos a Grécia. Somos um povo medroso, oprimido, temeroso, encolhido e incapaz de tomar posições perante quem nos pretende impor a sua vontade sem atender mais nada. Se é difícil para a Alemanha recuar na sua política porque seria admitir, perante os seus eleitores, o seu falhanço da política de austeridade imposta até agora, em Portugal é satisfação do "ego" de quem nos governa que está em causa, o seguidismo acrítico e a intenção de demonstrar falaciosamente aos outros a eficácia da receita que matou o doente. Veja-se o último relatório do FMI que, apesar das contradições, insiste na aplicação da mesma receita, se possível agravada. 

 

Há comentadores, destituídos de qualquer espírito crítico e seguidistas de algo que falhou, que tudo aquilo que fazem não é mais do que espalhar mensagens negativas sobre o processo grego com o intuito de, por cá, amedrontar o povo. Lá fora o processo é idêntico mas com as mais altas individualidades europeias no sentido de atemorizar o povo grego e boicotar quaisquer alternativas mesmo que tenham em vista possibilitar o cumprimento dos compromissos assumidos.

É uma espécie de vingança porque a Grécia não quis votar de acordo com que aqueles, os outros, queriam.

 

Nota: Em maio de 2013 era a seguinte posição de Schauble:

Quinta-feira, 16 de maio, durante um fórum europeu em Berlim, Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças – próximo de Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional -, criticou fortemente o trabalho da Comissão Europeia. A fragmentação das responsabilidades em Bruxelas teria, segundo ele, estado na origem dos bloqueios do dossiê grego.

Talvez seja uma forma de este responsável político tentar contrariar a escalada do sentimento anti-alemão. Mas também é uma tentativa de encontrar os culpados da falha de um resgate que, três anos depois, está a deixar Atenas de rastos e cada vez mais atolada em dívidas.

Qualquer que fosse o objetivo, as afirmações de Schäuble fizeram eco da exasperação cada vez maior do FMI em relação a Bruxelas. “O FMI está farto e acha que na Europa é sempre tudo “too little, too late” (muito pouco, tarde demais)”, resumiu uma fonte próxima da liderança das conversações acerca do resgate de Chipre, em março.

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publicado às 15:20

Milagres leva-os o vento

por Manuel_AR, em 18.04.14

 

Quem vê noticiários nas televisões e lê jornais facilmente se apercebe que surgem de todo o lado, como que por milagre, instituições internacionais, a par de outras nacionais, a fazer prognósticos macroeconómicos positivos sobre Portugal. Em pouco mais de mês e meio tudo se transformou passando do mau a muito boas perspetivas. Parece, de facto um autêntico milagre.

Agora, até o Banco Morgan Stanley que, tanto quanto eu saiba, ainda não tinha sido referido pelos canais de televisão e jornais generalistas, vem fazer previsões sobre a economia e o crescimento de Portugal mais positivas do que as do FMI.

Divulgou o referido banco que prevê em alta as suas estimativas de crescimento económico em Portugal, para 1,4 por cento este ano e 1,6 por cento em 2015.

O curioso é que os noticiários apenas alinharam esta última parte do que foi divulgado por aquele banco, descurando outros pontos do comunicado que são mais importantes do que este que é apenas um possibilidade.

Para captar votos surgem, a cada dia que passa, mais promessas do atual governo apregoando melhorias que ninguém sente, promessas confusas, vagas e elegias aos amanhãs que cantam (frase utilizada por Constança Cunha e Sá). Até se podem estar a verificar, apenas em números estatísticos, algumas melhorias ténues, mas tudo o resto não passa de pura ficção.

Sendo eleições para o Parlamento Europeu há que aproveitar para mudar a correlação de forças dentro da UE e, se assim for, a orientação poderá passar a ser diferente.

Atualmente, com o aproximar das eleições para o Parlamento Europeu, muita coisa se está a passar com medidas a serem prometidas, nomeadamente estratégias expansionistas e de menos austeridade para que o eleitorado europeu vote no sentido dos conservadores neoliberais que, a par da crise internacional, contribuíram para colocar a Europa no estado em que se encontra.

Após eleições se não houver uma derrota significativas dos partidos do Governo arriscamo-nos a que tudo fique ainda pior.

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publicado às 20:11


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