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A mania da importância que nunca teve

por Manuel_AR, em 02.03.17

Cavaco Silva_7.jpg

Vale a bem apena divulgar transcrever este texto de Miguel Sousa Tavares publicado no jornal Expresso no passado sábado.  Apesar e não apreciar muito os artigos de opinião dele, talvez porque não me agrade a forma como ele brande argumentos contra tudo e contra todos, mas no meio de tudo alguns com alguma razão.

Há quem goste apenas de ler o que esteja de acordo com o que pensa e que lhe agrade. Quando não lhes agrada o que leem ou que esteja em desacordo com o seu pensamento e alinhamento politico ou partidário reagem mal e, não sabendo como argumentar, muitos há que estropiam a linguagem corrente com impropérios desajustados aos autores dos comentários. É o que mais se vê por aí no mundo das redes sociais.

Todavia não é este o caso de Miguel Sousa Tavares quando comenta sobre o livro dessa personagem sinistra que é, e foi, Cavaco Silva. Não utiliza impropérios, vai ao cerne da questão sobre o que ele sabe e nós não sobre Cavaco Silva. Assim, vale a pena ler o que Sousa Tavares diz sobre a adulteração feita por Cavaco. Apesar de já ter circulando por várias redes sociais e blogs vale pena a repetição.

«(...) Bem pode Cavaco Silva desfilar o rol de grandes do mundo que conheceu em vinte anos no topo da política portuguesa: nenhum desses grandes o recordará nem que seja num pé de página de memórias e a nossa história não guardará dele mais do que o registo de uma grandiloquente decepção.

Nos seus dez anos como primeiro-ministro, Cavaco Silva teve o que nunca ninguém tinha tido antes dele e não voltou nem voltará a ter depois dele: uma maioria, tempo, paz social, esperança e dinheiro sem fim, vindo da Europa. Fosse ele, porventura, um homem dotado de visão e de coragem e conhecedor da nossa história e dos nossos males ancestrais, teria aproveitado as circunstâncias para inverter de vez o funesto paradigma em que vivemos há décadas ou séculos. Em lugar disso, aproveitou o dinheiro e os ventos favoráveis para engrossar o Estado, fazer demasiadas obras públicas inúteis e cimentar a clientela empresarial que sempre viveu da obra ou do favor público. Ele lançou as raízes do défice e da dívida pública, que, depois, tal como as obras (de Sócrates), passou a execrar. Cinco anos volvidos, regressaria para outros dez de Presidência. Por razões que já nem adianta esmiuçar, acabaria por sair de Belém com uma taxa de rejeição recorde e com 80% dos portugueses fartos dele e do seu pequeno mundo. Muita da popularidade de Marcelo deve-se ao facto de os portugueses o verem em tudo como o oposto de Cavaco Silva.

Tive um breve mas arrepiante flashback deste pequeno mundo quando, na semana passada, Cavaco Silva lançou o seu livro de ajuste de contas. Pelas citações e declarações que li e ouvi, parece-me que a única coisa boa do livro é o título — (mas até esse li que não era original). No restante, Cavaco entretém-se a contar os seus “factos rigorosos” para“ informação dos portugueses”, e registados com base num método que diz ter inventado quando era estudante e que se presume não ser o do gravador oculto. A finalidade da história das suas quintas-feiras é atacar um homem já debaixo de todos os fogos — o que confirma a lendária coragem intelectual de Cavaco, tal como no seu discurso de vitória quando foi reeleito, atacando com uma raiva e um despeito indignos de um Presidente da República os seus adversários que já não se podiam defender. Parece que agora, com um absoluto desplante e tomando-nos a todos por idiotas, Cavaco Silva ensaia uma indecorosa falsificação dos tais “factos rigorosos”: a história de como ele e a filha ganharam 150% em dois anos com acções do BPN que não estavam cotadas em bolsa (jamais desmentida e bem documentada), não passou, afinal, de uma “calúnia”, vinda da candidatura de Manuel Alegre; e a célebre “conspiração das escutas” de Sócrates a Belém, engendrada entre o assessor de imprensa de Cavaco e um jornalista do “Público”, foi, pasme-se, ao contrário: foi o Governo que montou uma operação para fazer crer… que o Governo escutava Belém!

Ele (Cavaco Silva) que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá

Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.»

Miguel Sousa Tavares: "Sem sombra de grandeza". Texto publicado no Expresso de 25 de fevereiro de 2017.

 P.S.: Miguel Sousa Tavares não utiliza o atual acordo ortográfico pelo que mantive o texto original.

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publicado às 09:08

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O ano de 2016 que hoje entrou vai ser favorável para Marcelo Rebelos de Sousa e para toda a direita, graças aos votos que os portugueses cegamente lhe tencionam dar nas eleições presidenciais em 24 de janeiro. Uma espécie de lotaria em que eles pode acertar ou não, mas em que o não será o mais provável.

O candidato Marcelo Rebelo de Sousa está na ordem do dia ao darem-lhe a vitória com 52,5% de acordo com a Eurosondagem para o Expresso e SIC em 23/12 quando, em 20/11, tinha 48%.

Os portugueses estão a querer dar a vitória a um candidato lançado pela televisão, ou seja, o candidato da televisão que lhe proporcionou a redução dos custos da campanha, e faz disso anúncio, estando, na prática, a admitir que existe uma desvantagem para os restantes candidatos.

A entrevista da passada quarta-feira na TVI, conduzida por Judite de Sousa, foi mais do mesmo em que as respostas foram evasivas contrastando com alguns dos seus opositores mais diretos. Marcelo não acrescentou nada de novo, nem precisava, porque é o candidato sentado na cadeira da televisão, e quanto menos disser só lhe trás vantagem. Segundo o próprio Marcelo a sua campanha irá ter custos baixos. Qualquer campanha como a dele, feita a partir da televisão, facilitou-lhe a redução de custos, não necessita de cartazes, nem de nada, a sua presença na televisão ao longo dos anos foi suficiente.

Os sujeitos construíram representações da expressão e da interpretação do discurso político televisionado transformando-o no que se pode traduzir em opiniões ou em votos criados pela imagem.

A candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa é uma prova evidente da influência da televisão, uma espécie de onde sobre a qual faz surf, que funcionou como uma espécie de efeito de contágio sobre as preferências dos eleitores que poderão traduzir-se em votos resultantes dum processo da formação de opinião que foi construída através duma construção de representações nos telespectadores.

Televisão, presença, imagem, discurso, mensagem, foram e são os ingredientes deste cozinhado que serviu para lançar Marcelo Rebelo de Sousa. Poderá vir agora justificar os seus muitos anos de percurso político que todos conhecem e de que não foi a televisão o agente da sua popularidade. Ele sabe que não é assim, e, ao dizê-lo, sabe que não passa de mais uma mensagem persuasiva como todo conjunto de opiniões concebidas relativamente a certos assuntos (todo e qualquer assunto!) que são aceites pela maioria das pessoas seja qual for o quadrante político partidário. Naturalmente porque ele sabe como dar uma no cravo, outra na ferradura.

Em gíria popular, em conversas informais sobre qualquer assunto, ouve-se dizer "a mim ninguém me engana…", "eu não vou em cantigas…", "a mim ninguém me convence…" Quando alguém fala assim está a esquecer-se de que, ao nível subconsciente, pode num futuro pode vir a contradizer-se quando sujeito a receber repetidamente mensagens mediáticas de alguém, com grande probabilidade de estar a ser condicionado quanto mais tempo durar a essa exposição que vai atuar pela mudança de atitudes e comportamentos políticos e eleitorais persuasão.

Existe alguma dificuldade em provar que a televisão altere o ponto de vista político das pessoas a não ser através da chamada vox populi e de conversas informais de rua, mas há uma tendência para que contribua para tal. Os protagonistas políticos, "ao entrarem nas nossas casas" constante e regularmente via imagem televisiva produzem uma espécie de presença definida como uma sensação de "estarem presentes, uma sensação de realidade, de envolvimento, e, mais geralmente, uma ilusão de incluir sentimentos de empatia através de um meio, realismo e sensações de pertença e compartilha com o protagonista quando este tem capacidade comunicativa como Marcelo.

Podemos, assim, partir do pressuposto de que os efeitos sociais da televisão, neste caso, terão causado uma espécie de grau de presença social permitido aos seus utilizadores. A presença social, nesta situação é pode ser a importância da outra pessoa numa comunicação televisiva, isto é, uma espécie da consciência da presença do outro aquém do ecrã televisivo. Rebelo de Sousa teve ao longo de anos o privilégio de ter frequentemente uma telepresença que contribuiu para o seu sucesso não porque aja de facto uma consciência política por parte de todos os eleitores que eventualmente lhe derem uma maioria. Provavelmente, por entre a fraqueza da maior parte dos candidatos que, apesar de não terem tido as mesmas oportunidades, mas lutam contra um "monstro" mediático, venha o diabo e escolha.

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publicado às 21:51

Marcelo_marketing.png

 

Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

 

A comunicação social há tempo que andava sôfrega por lançar para o universo da confusão política a questão das eleições presidenciais, antes até da constituição do novo governo, Marcelo Rebelo de Sousa deu-lhes agora uma ajudinha oportuna.

As candidaturas para a Presidência da República foram transformadas numa espécie de corrida louca dada a enfase com que a comunicação social a começou a "trabalhar" e a lançar para o mercado jornalístico.

Quando se falou na potencial candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Presidente da República coloquei um "post", neste mesmo blog, onde ironizei com a possibilidade duma candidatura de Luís Goucha ou de Cristina Ferreira, também eles figuras públicas, mediáticas e comunicadores de sucesso.

Jornalistas e comentadores sorriem em estado de grande contentamento e tecem nas televisões discursos laudatórios à apresentação da candidatura de Rebelo de Sousa que foi o início da sua pré-campanha eleitoral e o primeiro passo para dar voz perfil para candidato, revendo-se como sendo um político com as condições mais do que suficientes para exercer o cargo de Presidente justificando assim as sondagens, prova indubitável da sua vitória logo à primeira volta.

Passos Coelho, em janeiro de 2014 no Congresso do PSD, traçava o perfil do que deveria ser o futuro Presidente da República: "protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Nem "deve buscar a popularidade fácil". Nestes dois pontos e apenas por uma questão de forma concordo com Passos Coelho,

Houve controvérsia sobre esta descrição, uns dizendo que se referiam a Marcelo Rebelo de Sousa e outros a dizer que nada tinha a ver com ele e que podia referir-se a qualquer um. A versão dos primeiros parecia ser mais verosímil

Coloquemos a seguinte hipótese: o candidato A. não é conhecido e não tem currículo político relevante e, por isso, não tem perfil para o cargo; o candidato B. não tem apoio de nenhum partido sendo quase nula a possibilidade de ser obter vantagens nas intenções de voto; por sua vez o candidato C. é muito conhecido pela visibilidade como comentador de televisão e pode vir a ter apoios alargados. O candidato C. é, de imediato, personificado por Marcelo Rebelo de Sousa porque todos o conhecem, não por ter funções políticas ativas mas porque tem uma visibilidade mediática permanente na televisão e faz comentários políticos semanais há anos e anos. Como poderia não ser conhecido? Quantos não haverá que, não sendo conhecidos nem tendo visibilidade mediática, podem ter perfil para Presidente da República.   

Rebelo de Sousa ao longo dos anos passou a ser um profissional da comunicação, um oráculo semanal da política. Não necessita de grande esforço para fazer uma campanha, mesmo sem falar muito. Despe a pele de comentador, vestindo a de candidato a Presidente comentador.

O segredo de Marcelo é ter-se "dedicando à comunicação social em jornais, na rádio e na televisão contactando milhões de leitores, ouvintes e telespetadores" como ele próprio afirmou no discurso de apresentação da candidatura que o jornal Expresso divulgou na íntegra.

Comunica como se estivesse perante o seu público da televisão, milhões de telespectadores, como afirma. Para salvaguarda do caso de alguns apenas o conhecerem apenas como comentador da televisão e como o professor encarregou-se de tecer a sua biografia profissional, diria antes um curriculum vitae, escusando assim que lha escrevam por ele. Diz-se "católico, influenciado pelo Vaticano II, concílio bem presente hoje no magistério do Papa Francisco" frase muito conveniente e convincente para captar votos de todos os devotos deste Portugal.

Para além de benemérito ao "devolver ao país tudo aquilo que Portugal lhe deu" segura também o discurso da estabilidade governativa que justifica através de argumentos de peso que apelam à fácil emoção quando revelou que para ele a "estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social." Palavras do agrado do governo e do ainda Presidente da República que serviram de mote à campanha da coligação PSD-CDS para gerar em parte da população um estado de temor.

Acrescenta ainda frases bem conhecidas e já pronunciadas pela direita e por Cavaco Silva quando diz "considero essencial que haja, como nas democracias mais avançadas, convergências alargadas sobre aspetos fundamentais de regime" de coloca ainda um toque de emoção: "a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social.". "Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam.". Pensamentos déjà vu.

É consensual que ninguém quer instabilidade, mas as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa são as mesmas da direita e de Cavaco Silva, divergindo apenas na forma e no tom que o traquejo de longos anos de comunicação televisiva lhe ofereceu.  

Com uma frente neoliberal, que diz ser agora social-democrata, a governar o país, Rebelo de Sousa, se for eleito Presidente da República, teremos novamente o lema "uma maioria, um governo e um presidente". Cabe perguntar o que fará diferente de Cavaco Silva nestas circunstâncias.

As posições defendidas à volta da candidatura de Marcelo por jornalistas e comentadores, conduziram-me à sátira "Elogio da Loucura" escrita em 1509 por Erasmo de Rotterdam.

Para finalizar transcrevo partes do texto de Erasmo com uma adaptação à atualidade política, livre e satírica, tendo, para tal, modificado e acrescentado umas poucas palavras.

 

Sei muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e desusada alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante deste numerosíssimo auditório. De facto, erguestes logo a fronte, satisfeitos, e com tão prazenteiro e amável sorriso me aplaudistes, que na verdade todos os que distingo ao meu redor me parecem outros tantos deuses de Homero, embriagados pelo néctar do vinho embriagante.

Se, agora, fazeis questão de saber por que motivo me agrada aparecer diante de vós com uma nova roupa, eu vo-lo direi em seguida, se tiverdes a gentileza de me prestar atenção; não a atenção que me costumáveis prestar enquanto comentador que era a dos charlatães, e pantomineiros.

De facto, que mais poderia convir a Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesmo? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesmo não reconheço? De resto, esta minha conduta parece-me muito mais modesta do que a que costuma ter a major parte dos grandes e dos sábios do mundo.

No entanto, esses insignificantes faladores a que atrás me refiro envaidecem-se com a sua vazia erudição e experimentam tanto prazer em ocupar-se dia e noite com essas suavíssimas nénias que nem tempo lhes sobra para ler ao menos uma vez programas e opiniões de outros. E o mais bonito é que, enquanto assim cacarejam nas suas escolas, imaginam-se os defensores do povo, que cairia na certa, se cessassem um momento de sustentá-la com a força dos seus silogismos, exatamente como Atlante, segundo os poetas, sustenta o céu com as costas.
Contam ainda os nossos discutidores com outro grande motivo de felicidade. A política e a governação são, nas suas mãos, como um pedaço de cera, pois costumam dar-lhes a forma e o significado que mais correspondam ao seu génio. Pretendem que as suas decisões uma vez aceitas por alguns outros devam ser mais respeitadas do que as leis de Sólon. Erigem-se em censores dos outros e, se alguém se afasta um pouquinho das suas conclusões, diretas ou indiretas, sentenciam oráculos: Essa proposição é escandalosa, esta aqui é temerária, aquela cheira a esquerdismo, aquela outra soa mal.

Para uma campanha eleitoral há que ter coragem, vamos! Dissimular, enganar, fingir, e apontar os defeitos dos adversário mas fechar os olhos aos defeitos dos amigos, ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura? Beijar, numa feira ou numa rua uma velhinha, sentir com prazer o fedor do seu nariz e, num mercado beijar peixeiras com cheiro a peixe e prometer atender um pai que o filho está desempregado não será isso uma verdadeira loucura?

Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

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publicado às 16:49

filomenamonica.jpg

José Sócrates e a Operação Marquês tornaram-se uma espécie de publicidade gratuita e intermitente que, quando surge, faz vender jornais e aumenta as audiências das televisões.

Nem neste, nem em outro espaço qualquer tenho escrito alguma coisa em favor ou contra o que se passa em relação a José Sócrates a não ser “en passant” e em determinado contexto.   

Há comentadores, cronistas e articulistas, uns contra, outros em defesa da figura mais polémica da política portuguesa que tem sido José Sócrates que aproveitam a onda, à falta de melhor, para explorar este filão para que alguém os leia.

O artigo, comentário ou crónica ou que seja de Maria Filomena Mónica publicado no sábado passado no jornal Expresso pode ser a demonstração do que acabo de dizer. O Expresso concedeu-lhe especialmente e de mão beijada um espaço alargado, dada a grande importância nacional do tema (?). Desta vez quase uma página completa, para dissertar sobre Sócrates. Não sobre a Operação Marquês, mas sobre, vejam só, a sua tese de mestrado em Teoria Política. Até por aqui pode confirmar-se a importância que se atribui a tudo o que diga respeito a José Sócrates. Apenas num sentido: o da negação e destruição a tudo o que com ele se relacione.   

Tendo já quase caído no esquecimento o tema da tese foi agora recuperado por Filomena Mónica que, com o seu douto saber e treino de investigação que um doutoramento lhe confere, deu-se ao trabalho de gastar tempo e ter trabalho em pesquisas Googlianas sobre a dita tese.

Filomena veio também dar eco e acompanhar, ao seu modo, os jornais sensacionalistas que, valendo-se de fugas de informação, lançam condenações públicas antecipadas mesmo antes de sentenças. Aproveita a oportunidade e embala também contra Sócrates ao seu modo. Será Sócrates intocável? Com certeza que não.Será Sócrates culpado de tudo o que o acusam publicamente apesar do processo estar em segredo de justiça(?) ?  Não sei.

O que escrevo não é em defesa nem contra Sócrates é, antes de mais, contra os que escrevem neste momento sobre Sócrates. Falar, aobardia

Filomena Mónica não encontrou, agora em época de eleições, nada de mais importante senão perder tempo a pesquisar e a fazer história sobre um caso que, pelos vistos, lhe merece mais importância do que outros, porque, simplesmente se trata de José Sócrates. Pensei se não teria sido melhor ignorar o que Filomena escreveu, mas decidi que não já que mais não fosse por prazer pessoal. Nada tenho contra a articulista, contrariamente a certo rancorzinho contra a pessoa em questão que implicitamente ela deixa transparecer no que escreve.

Para falar sobre Sócrates e contribuir para a sua descredibilização não fala de política mas faz história e o mote foi a tese de mestrado. A douta Maria Filomena resolveu repescar tudo quanto à formação e à vida privada e académica a José Sócrates dissesse respeito recuando trinta e nove anos.

Diz não querer falar sobre as suspeitas que impendem na “Operação Marquês” mas no seu estatuto como Mestre em Teoria Política. E justifica que não está em questão o grau académico “que pode ser criticado” mas “por, ao longo dos anos, nos ter mentido.”.  

Sentiu-se enganada por ter mentido. Não gostou. Eu também fui enganado porque alguém também mentiu. Ninguém gosta que lhe mintam, eu também não. Mas muitos portugueses foram-no por este Governo e por quem também mentiu e estão calados. E, quando se mente ou se perde a memória sobre factos como Tecnoforma, impostos pagos, não pagos, que deviam ser, mas não foram, mas que o foram depois, o que dizer?

Falar sobre a tese de mestrado de Sócrates não foi mais do que um pretexto para fazer política.

Vejamos o caso das defesas de tese de mestrados e doutoramento

A doutoral Maria Filomena de formação académica conservadora e elitista pretende fazer acreditar que a sua crónica não é política mas vai-se recorrendo de escutas telefónicas da Polícia como suspeição de que a tese não teria sido escrita por ele para fundamentar o que diz.

Filomena Mónica sendo professora universitária doutorada diz ter sido encarregada “de avaliar pedidos de equivalência de teses de mestrado e de doutoramento feitas no estrangeiro” e conclui que havia gente que tentava aldrabar as instituições portuguesas, declarando ter dissertações obtidas em faculdade que não tinham frequentado e teses medíocres aprovadas em universidades obscuras”. Mas o primeiro documento a pedir às pessoas que apresentam essas teses não seria a comprovação da frequência e da realização do ato académico efetuado à universidade que diziam ter frequentado? Mas defende-se. Eram universidades obscuras. A avaliadora, sem nunca lá ter estado, adjetiva as universidades como obscuras. Entregam-me uma tese para avaliar, o que faço, concluindo que, não tem qualidade, não é original, é de uma universidade que não frequentou, é uma universidade obscura.

Será que para escrever um livro ou um tipo de tese para publicar temos que defender teremos que apresentar uma tese e defendê-la? Ah, já mês esquecia é por ter sido enganada. Quantas vezes já o não fomos? Olhe veja-se o caso de Relvas. Para esse que de facto em conluio com uma universidade enganou todo os portugueses. Mas esse não lhe veio à memória. É a chamada memória seletiva.

As minhas teses foram apresentadas e defendidas em universidade portuguesa, pública, logo sou o maior. Ou será que não passaria pelo crivo seletivo de Filomena e arrisco-me a que seja uma universidade obscura.

Se algum dia eu quiser publicar a minha tese que a minha orientadora, leu, rascunhou, releu, voltou a rascunhar e eu acedi prontamente à suas correções que, em muitos aspetos, não ficaria pedra sobre pedra, lá teria eu à perna a Filomena a dizer que foi escrita por outro embora a tivesse defendido.

Muito mais haveria para comentar. Estou a perder o meu tempo. Isto da tese e não tese, apresentação e não apresentação, publicação, não publicação não merece tempo nem espaço a não ser por questões estritamente políticas. Filomena Mónica continua na sua crónica a fazer quase um pré-projecto de dissertação duma história pessoal académica recente. Talvez, quiçá, publicar um livro sem ter defendido a tese da história da vida académica de Sócrates.  

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publicado às 13:58

A única verdade é a que a direita deseja

por Manuel_AR, em 06.07.15

Pereira Coutinho.pngO comentador maestro da direita neoliberal

mais radical de Portugal

É extraordinário como os comentadores e jornalistas dedicados a argumentos dedicados em defesa da direita enganam, omitem, distorcem, deturpam para confundir, com os seus comentários, os que, menos atentos, podem deixar-se confundir mesmo que os factos desmintam os que defendem as causas que lhes pode trazer a prazo vantagens para sua tabanca.

Quando uma votação coincide com o que eles esperam é sempre uma votação de responsabilidade, na estabilidade, na competência e de clareza no caminho desejado, caso contrário é a votação na irresponsabilidade, na insegurança, etc., etc.. Ao longo dos anos é sempre o mesmo.   

Dou apenas dois exemplos de colunista de jornais e de comentadores de televisão cujas opiniões e a credibilidade, mais do que uma vez já foram contraditadas pelos factos. São um tal de Pereira Coutinho, do Correio da Manhã e da CMTV e Henrique Monteiro colunista do jornal Expresso que, quando bem calha, e por interesse de opinião, surge nos canais de televisão da SIC que pertencem ao mesmo grupo do Expresso.

Eduardo Monteiro está sempre com um meio sorriso (será de escárnio?) que mais parece estar sempre a "gozar" com tudo o que comenta e outras vezes parece estar zangado com a vida. Pois este dito jornalista que, pensa ele, ser isento nos comentários que verbaliza diz coisas tão atabalhoadas que ninguém percebe.

Ontem, no canal SIC Notícias, ao comentar o referendo na Grécia onde ganhou por larga maioria o NÃO disse no momento em que no ecrã passavam imagens dos gregos a festejar a vitória que os gregos estão a festejar mas nem sabem o quê. Pois, para Monteiro, os gregos são uma cambada de estúpidos que não sabem em que votaram nem para quê. Ao falar-se do número de votantes da fraca abstenção e da percentagem conseguida pelo NÃO lança outra, dizendo que ali até os mortos estão a votar.

Como é possível que dum sujeito, enquanto jornalista, se esperava seriedade, lança para o ar estas "bacoradas". Será isto um contributo para a credibilidade dos comentadores que andam por aí a enxamear e a encher a cabeça dos cidadãos que os escutam, contribuindo para o descrédito da comunicação social.

Temos outro espécime requintado, esse, declaradamente da direita extremista que pretende enganar quem o ouve utilizando a técnica do medo que é um tal Pereira Coutinho. Este, lança para o ar a ideia de que o não pagamento de salários e pensões na Grécia pode também acontecer em Portugal, como se o Governo que ele pretende apoiar não o tivesse já feito.

Mas confunde e deturpa a realidade quando associa, sem qualquer prova do que diz o problema da Grécia ao aumento de impostos, cortes de salários e de pensões que Portugal poderá ou poderia sofrer por causa dos gregos terem optado pelo NÃO.

A direita pretende passar a mensagem de que os problemas da Grécia foram devido ao atual governo democraticamente eleito, o que é falso. Não foi o Syrisa, no poder há cerca de seis meses apenas, que levou os gregos à situação em que se encontram, foram as coligações de direita que o precederam.

A causa final para o Syrisa estar no poder foi ao estado a que a direita conduziu a Grécia. É evidente que a austeridade excessiva, a difusão da pobreza, a perda de poder compra, os cortes nos rendimentos, o desespero, os impostos que as grandes empresas não pagam por culpa da direita que esteve no poder resultou numa viragem para o extremo, por mais que a direita diga o contrário.

Os gregos no domingo passado deram uma lição de inconformismo apesar de todas as vicissitudes, sacrifícios, ansiedades, dúvidas, não recebimento total de reformas, fecho dos bancos e a impossibilidade de poderem levantar mais do que 60 euros, como se a grande maioria tivesse a necessidade ou a possibilidade de levantar diariamente aquele valor (1800 euros mês!). 

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publicado às 20:02

Enganados outra vez só se formos otários

por Manuel_AR, em 23.03.15

Tretas.png

 

Na passada semana a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ouviu novamente Ricardo Salgado horas a fio. Mais de dez. Não queria estar na pele dele e muito menos na dos deputados da comissão. Consideremos que é fatigante. Não é sobre isto que me vou debruçar mas sobre a mensagem enganosa mais as tretas do costume que, desde algum tempo atrás, o Governo e os comentadores por sua conta têm vindo a fazer passar  sempre que oportuno 

A questão prende-se com a ideia de que a solução encontrada para o BES, agora conhecido por Novo Banco, foi a melhor porque poupou dinheiro aos contribuintes. O Novo Banco teve vários tipos de gás a enchê-lo para evitar perdas.

Em primeiro lugar o Estado emprestou 4400 milhões de euros ao Fundo de Resolução (linha da troika) para capitalizar o Novo Banco. Diz-se que vai receber juros de 2,95% pelo empréstimo. Se assim for nada a dizer. Por outro lado, para este banco apenas passaram os ativos do BES (o que não eram prejuízos).

Tudo quanto eram dívidas à Goldman Sachs e a clientes do papel comercial (aqueles que se têm manifestado para que lhes paguem) foram transferidas para o chamado banco mau (?). Mas que raio de nome arranjaram! Até se escreve com letra pequena!  

Mas a questão é quem vai perder este dinheiro. Será o Novo Banco? Seremos nós através dos nossos impostos? Serão os clientes que agora reclamam o seu dinheiro? Quem souber que responda.

Outros `mas´ se colocam: se for o Novo Banco a pagar este ficará desvalorizado, perderá valor para a sua venda, o que não interessa. Mas disseram aos clientes do tal papel comercial que receberiam, mas depois que não.  

O Novo Banco beneficia de 2,87 milhões de euros de impostos diferidos que é o valor referente ao pagamento de impostos sobre os rendimentos, neste caso ISR (Imposto Sobre Rendimentos), recuperáveis em períodos futuros, o que valoriza o banco. E os juros sobre esse capital, quem os paga, será o novo comprador do banco? É uma espécie de crédito fiscal que é concedido. Isto é, os lucros futuros que o Novo Banco possa ter após a sua venda não pagarão impostos sobre eles. A transferência dos ativos do BES fizeram perder ao Estado 300 milhões de euros em imposto de selo. Foi um download fiscal grátis.

Se isto não vem dos meus, teus, seus impostos donde veio?

Veremos ainda quem vai pagar os passivos na posse do banco mau.

Isto mais parece o castelo fantasma como aquele que existia nas Feira Popular mas com esqueletos guardados nos armários por Passos Coelho e pela ministra das finanças, Maria Albuquerque.

Para uma opinião mais técnica e desenvolvida ver Pedro Santos Guerreiro, jornal Expresso.

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publicado às 19:04

Os trapalhões

por Manuel_AR, em 03.03.15

Com a coligação PSD/CDS que está no Governo já não sabemos onde acaba o PSD e começa o CDS/PP e vice-versa. O CDS/PP perdeu a sua identidade. De vez em quando Paulo Portas, para dar um ar da sua graça costumeira, como que a dizer olá, eu estou aqui, mostra em escassos pontos que tem opinião diferente estando sempre presente em eventos que lhe deem visibilidade.

Qual é o projeto político e de governo do CDS/PP? Não existe, é o mesmo do PSD. Se o CDS for a votos sem ser em coligação como saber qual o seu programa eleitoral? Atualmente, tirando as respetivas lideranças, são uma e a mesma coisa. Cada um deste partidos tornou-se albergue de várias direitas sem expressão que por aí proliferam onde se incluem apoiantes da sempre esperançada causa monárquica.

A manutenção duma coligação como esta que nos governa é possível apenas e só, por interesse onde conta, sobretudo, a distribuição de pastas e de outros lugares à mesa do orçamento e nada mais.

Passos Coelho e os seus “vuvuzelas” partidários e governamentais continuam, por aqui e por ali, a lançar para o ar e para as mentes menos atentas os benefícios da austeridade a mata-cavalos elogiando os sacrifícios dos portugueses (em calão significa passar a mão pelo lombo) que souberam ser meninos bem comportados durante estes anos de governação. Agora vai tudo mudar devido ao crescimento económico auxiliado pelo turismo, à descida de desemprego, blá, blá…

Para a maioria que sustenta o Governo qualquer variação para melhor de 0,1% nos índices macroeconómicos é uma festa como dizia a outra, a da educação.

Eu tive um professor na Universidade que costuma dizer e cito que mais vale ter mau hálito do que não ter hálito nenhum. É sinal de que estamos vivos. É isso que o Governo faz, tentar mostrar que está vivo. É o mesmo que dizer “Ouçam!... Ouçam!... Ouçam!...”, como aquela canção portuguesa que foi à eurovisão muito antes do 25 de abril, estamos no bom caminho. O único problema é que a realidade não alinha pelo mesmo diapasão.

Mas vejamos:

O que poderá está a acontecer aos portugueses que falam, por tudo quanto é sítio com algum receio, não lhes vá acontecer pior, sobre cortes nas pensões, nos salários, no grave problema na saúde, na educação, no aumento do custo de vida, apesar da deflação, nos despedimentos liberalizados de milhares de trabalhadores a meio da sua vida profissional que ficarão condenados para sempre ao desemprego?

O sinal da mentira e da mistificação dum falso sucesso está a pegar de novo como no passado mas com outras nuances. Mistificações que, tal como nas eleições em 2011, levaram os portugueses a acreditar em promessas e mentiras.

A direita pode pensar que os portugueses são ingénuos, sofrem de medo atávico e gostam de estar metidos no seu cantinho que lhes destinaram para sempre e que, portanto, serão um alvo fácil para a burla política. Mas podem desenganar-se porque o povo desesperado não se deixa mais enganar.

Surge agora um medo que se apossou desta direita hostil para com os portugueses, são os gregos sem medo que apostaram na subida ao poder do Syriza na Grécia e os espanhóis com a subida nas sondagens do Podemos em Espanha. Não admira pois que Portugal e Espanha tenham manifestado os mais radicais contra o apoio à Grécia. Passos e Maria Albuquerque que o acompanhou, quiseram mostrar que são germanistas por convicção política, arrastando com eles o nome de Portugal. Para os nacionalistas radicais, isto, seria uma traição lesa Pátria. Para os portugueses mais moderados que acham que não devemos perder a nossa soberania na íntegra foi também uma traição.

Vejamos então a imagem de sucesso que Passos e companheiros de partido e de Governo nos apregoam e o que nos reservam se ganharem as próximas eleições.

O ir para além da troika pressupunha atingir determinadas metas como a descida dos custos do trabalho para atrair investimento nacional e estrangeiro, o que dinamizaria as exportações, a poupança das famílias que levaria à descida da dívida equilibrando as contas públicas (como se cortes em salários e pensões, aumento de impostos e população desempregada sobrasse alguma coisa para poupar), a redução da despesa do Estado que iria travar a dívida pública criando excedentes orçamentais para controlar as contas do Estado. O milagre esperado por esta direita de incompetentes e incultos que nos governa (talvez até incompetência propositada, caso dos vários chumbos do T.C.) seria a descida dos impostos, e a economia atingiria o crescimento de 4% do PIB ao ano. Seria o país da direita de sucesso.

Após anos de sacrifícios vemos o realismo dos números do país virem à superfície, mas o das pessoas é muito pior e não é visível. As exportações abrandaram significativamente porque o investimento foi escasso; a economia está a ser puxada pela procura interna com o consequente aumento das importações; segundo as estatísticas os automóveis, nomeadamente vindos da Alemanha, estão novamente no seu auge (prova de algum germanismo subconsciente?) esvaindo-se pela porta grande tudo o que se poupou com os sacrifícios; a dívida externa aumentou; défice orçamental acima dos 3%, mas dizem que vai baixar; as rendas excessivas, tão apregoadas pela troika, não reduziram, são estrangeiros a usufruir delas.

Tudo está bem neste país, com Paulo Portas a fazer parte do coro como mandam as boas regras da convivência política. Todavia, relatórios atrás de relatórios vindo de Bruxelas e do FMI dizem o contrário, ao mesmo tempo que determinam completar a tarefa com o receituário das medidas atá aqui tomadas e, se possível, com mais uns pozinhos.

Dizem o primeiro-ministro e o seu vice, juntamente com o badaleiro ministro da cervejeira, que, graças a isto e mais àquilo, agora é que vai ser, 2015 a crescer. Rima como poesia mas, como ela, é romantismo ficcional a entrar pelos nossos ouvidos, infelizmente para mal da maior parte dos portugueses.

As reformas estruturais, as que atingem gravosamente os portugueses (leia-se cortes à moda PSD/CDS) tais como reformas, pensões, educação, saúde, segurança social, despedimentos, aumentos de imposto, continuação das rendas para a energia pararam ou abrandaram, por enquanto.

O orçamento geral do estado para 2015 conseguiu, miraculosamente, uma elasticidade orçamental para dar aqui e ali umas benesses tendo em vista as eleições legislativas.

Passos Coelho passa o mesmo filme de 2011 reconstruido, e desta vez com o “dolby system”, onde prolifera a imagem ficcional de que o pior já passou. “O país está a crescer, e vai crescer mais este ano, as marcas de um período recessivo existem e a mais visível são os quase 14% de desemprego” apregoa. E confirma que “não é possível ter uma receita radicalmente diferente”.

A economia precisava de uma mudança estrutural mas ela não se viu, antes pelo contrário, o crescimento volta a ser pela procura interna e a balança comercial voltou estar numa situação instável a esta questão o primeiro-ministro dá respostas evasivas sabendo ele que o grande causador deste descalabro está na insistência das políticas de direita neoliberais e radicais que aplicou.

À questão do projeto para um futuro Governo que nunca mais anuncia, diz que quer continuar o projeto que tem em mão e escusa-se a responder dizendo que não é uma prioridade porque este é o tempo de governar e de garantir a recuperação.

Como é que Passos e os seus acólitos acusam António Costa de não apresentar um projeto mais detalhado para o país, nem um programa de governo se está bem claro que ele também não o quer apresentar já? Portanto, não se percebe porque estão os seus arautos e apoiantes continuamente a pressionar António Costa para definir a sua estratégia de governo.

O que se pode concluir é que o programa de governo caso Passos Coelho ganhe as eleições será o mesmo que seguiu até aqui e agravado porque o que iria muito para além da troika ainda não está cumprido. Ele próprio o confirma quando diz que “…há muita coisa que precisa ser feita… Há reformas por completar que não cabem nem no memorando nem numa legislatura. As próximas eleições são muito importantes para que este projeto possa ser completado…”.  Fica então claro o que pretende.

Sobre o último relatório da troika que foi crítico e acusou o Governo de ter parado com as reformas Passos admite que “algumas foram ajustadas em termos de calendário” e conclui que “as reformas estão a prosseguir”. Claro que o ajustamento de calendário a que ele se refere tem a ver com a proximidade das eleições para conseguir captar todos aqueles incautos que apesar de terem sido enganados uma vez possam novamente cair na armadilha. Portanto, os portugueses das classes médias e, em suma, todos aqueles foram massacrados por não terem qualquer hipótese reivindicativa e sobre os quais ainda não conseguiu completar os seus intentos já sabem o que os espera.

Não duvido que o próximo governo que sair das eleições, seja ele qual for, tenha que manter algumas das medidas mas seguindo outras vias que não a sejam a destruição abrupta do país.     

Dar com uma mão e “surripiar” com a outra é uma das estratégias já bem conhecida por todos. Passos, agora, como gato escaldado, promete sem prometer, dá sem dizer que retirará.

 

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publicado às 20:08

  1. A privatização da ANA-Aeroportos de Portugal

Não perceberam porquê? Eu faço um desenho.

 

 

 

 

 

Fontes:Expresso e MST

2. EDP-Aumento de preços

 

Também não percebeu? Então aqui está o desenho.

 

 

 Fontes:Expresso e MST

3. E sobre a Banca?

 

Não percebe? Então veja mais um desenho

 

 

 

 

 

 

 

4. A descida dos salários do setor privado? Pois! Veja mais este boneco

 

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publicado às 19:52

 

Não vou fazer comentários sobre uma parte do editorial do Jornal i deste último sábado, escrito pelo seu diretor, sobre um dos últimos despachos de Vítor Gaspar antes de fugir do descalabro económico e financeiro que ele próprio criou e confirmou. Passo apenas a citar a negrito para evidenciar a gravidade da situação, o que foi também validado pelo suplemento de economia do Jornal Expresso que também cito abaixo.


Vítor Gaspar, o exterminador de reformados (Jornal i 13 de julho)

O último despacho de Vítor Gaspar é de uma gravidade enorme. Confortado certamente pelo facto de a sua futura pensãozinha estar dependente do fundo do banco de Portugal, a criatura deu ordens para a segurança social comprar em massa dívida pública, através de um simples despacho. A medida põe em grave perigo o pagamento de prestações sociais, nomeadamente pensões, reformas e subsídios de desemprego, se houver um novo resgate. Foi um acto deliberado e feito praticamente às escondidas, que pode destruir a vida de milhões de portugueses. Gravíssimo! Só por ter-lhe ocorrido uma ideia semelhante, José Sócrates foi quase crucificado.


Quem está na Segurança Social quem é? Mota Soares do CDS/PP)


Não foi apenas o Jornal i a comentar esta decisão, no caderno de economia do Jornal Expresso, sob o título O Último ato de Gaspar” também dizia Nicolau Santos (o negrito é meu):


“No dia em que se demitiu das Finanças, Vítor Gaspar assinou um despacho que força o fundo de reserva da Segurança Social a comprar até €4,5 mil milhões de dívida pública nacional nos próximos dois anos e meio. O FEFSS é a reserva de dinheiro que serve para pagar pensões e outras prestações sociais caso o sistema entre em colapso. Neste momento, terá autonomia para pagar apenas oito meses, quando a lei de bases da Segurança dois anos. E a sua carteira corresponde atualmente a 55% de investimento em dívida pública portuguesa, 25% em dívida de outros Estados e 1% em ações de empresas estrangeiras.

Ora Gaspar obriga o fundo a subir muito o risco das suas aplicações, ao concentrá-las em 90% na dívida pública portuguesa. É tudo o que qualquer gestor de fundos medíocres sabe que não se deve fazer. A não ser que Gaspar estivesse, num derradeiro esforço, a maquilhar o descalabro do resultado das suas políticas e a mostrar mais uma vez o seu desprezo por desempregados, reformados e pensionistas.”

 

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publicado às 15:43

O caso do memorando mal desenhado

por Manuel_AR, em 17.03.13
Imagem de: http://sergeicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_10.html

Miguel Frasquilho ao comentar frente as câmaras de televisão o resultado da conferência de imprensa de Vítor Gaspar sobre a 7ª avaliação da “troika” proferiu publicamente o maior disparate ao dizer que tudo o que se está a passar com o memorando é porque ele foi mal desenhado no seu início. Desculpa mais inconsistente não poderia existir. O Deputado Frasquilho veio apenas demonstrar que tem memória curta e que a desorientação em que se encontram os deputados que apoiam o governo estão sem controle já que recorrem a argumentos insustentáveis. Embora já comece a não ter qualquer impacto estar continuamente a recorrer ao passado como desculpa para o presente, fazer afirmações como aquelas apenas comprometem o PSD e o CDS.

Senão vejamos, cronologicamente, através da imprensa ao tempo das negociações do memorando, quem esteve envolvido nessas negociações e quem as reivindicou como tendo tido grande influência nas mesmas.

Depois de se lerem estas declarações não vale a pena fazer maios comentários. Cada um tirará as suas ilações.

 

12 de Abril de 2011

Jornal i

Passos Coelho disse ontem em entrevista à TVI que vai esperar que o governo assuma a sua responsabilidade de negociar com o FMI, mas deixou um alerta a José Sócrates: "Não há acordo sem o PSD."

Passos Coelho confirmou que será a equipa que está a preparar o programa de governo dos sociais-democratas, liderada por Eduardo Catroga, que irá depois negociar o acordo de ajuda externa a Portugal, que deverá passar por uma "verdadeira austeridade para o Estado, mas não mais para os cidadãos".


19 de Abril de 2011

Jornal i

A equipa do PSD que está hoje a discutir com o FMI, BCE e Comissão Europeia as condições do resgate financeiro de Portugal é composta pelos economistas Eduardo Catroga, Abel Mateus e Carlos Moedas, disse à Lusa fonte do partido.

A 'troika' do FMI, Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia chegou à sede do PSD cerca das 09:30.

 

3 de Maio de 2011

Jornal SOL

Catogra negociação foi essencialmente influenciada' pelo PSD.

 

O economista Eduardo Catroga afirmou hoje que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal «foi essencialmente influenciada» pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

Afirmou ainda que o PSD terá autonomia, se for Governo, para substituir eventuais «medidas penalizadoras para os portugueses» do programa de ajuda externa a Portugal por outras que cumpram os mesmos objetivos

 

3 de Maio de 2011

Jornal Público Economia

O economista Eduardo Catroga afirmou esta terça-feira que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal "foi essencialmente influenciada" pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

Numa declaração aos jornalistas, em nome do PSD, na sede nacional dos sociais-democratas, em Lisboa, Eduardo Catroga considerou que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" dos sociais-democratas.

Segundo Eduardo Catroga, o primeiro-ministro, José Sócrates, agora apresenta-se "como vítima e como vencedor de uma negociação que foi essencialmente influenciada pelo principal partido de oposição".

 

3 de Maio de 2011

Diário de Notícias


O economista Eduardo Catroga afirmou hoje que o PSD terá autonomia, se for Governo, para substituir eventuais "medidas penalizadoras para os portugueses" do programa de ajuda externa a Portugal por outras que cumpram os mesmos objetivos.

Numa declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas, na sede nacional do PSD, em Lisboa, Eduardo Catroga referiu ter defendido este princípio de autonomia junto da "troika" composta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), "independentemente dos objetivos que vierem a ser definidos para o período 2011-2014".

"E houve uma adesão a este princípio de que o PSD, se for Governo, fica com autonomia para propor um novo 'mix' de políticas, se por acaso aparecerem amanhã [quarta-feira] surpresas de medidas penalizadoras para os portugueses", acrescentou o antigo ministro das Finanças.

"Negociação foi essencialmente influenciada" pelo PSD

Eduardo Catroga considerou que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" dos sociais-democratas.

 

4 de Maio de 2011

Jornal Público


Eduardo Catroga, que lidera a equipa do PSD no encontro desta manhã com atroika, afirmou à entrada para a reunião que o acordo alcançado ontem entre Governo e a Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) “é preferível ao chamado PEC 4”.

Mesmo com a assinatura de um acordo, o economista sublinhou que não deixará de “fazer reservas técnicas” ao documento.

Depois de conhecidas algumas das medidas que fazem parte do acordo de ajuda financeira anunciadas na noite passada pelo primeiro-ministro, José Sócrates, Eduardo Catroga afirmou que estas são melhores do que algumas das inscritas no PEC 4. “O modelo é preferível ao chamado PEC 4”, considerou, acrescentando que este será “um processo mais interessante do ponto de vista estratégico para a economia portuguesa, cujo principal problema o crescimento económico”.


4 de Maio de 2011

Diário Económico


Governo diz que conseguiu "um bom acordo". Catroga garante que posições do PSD foram cruciais para o resultado final.

Ontem, quando Sócrates anunciou o acordo com a ‘troika', começou por dizer que o governo tinha conseguido "um bom acordo." Minutos depois, Eduardo Catroga puxou para o PSD o resultado das negociações. "A negociação foi essencialmente influenciada pelo principal partido da oposição"


4 de Maio de 2011

Jornal Expresso


Eduardo Catroga disse que a revisão da trajetória do défice foi uma "grande vitória" do PSD, sendo que o acordo entre o Governo e a troika é "melhor que o PEC IV"

O economista Eduardo Catroga afirmou que a negociação do programa de ajuda externa a Portugal "foi essencialmente influenciada" pelo PSD e resultou em medidas melhores e que vão mais fundo do que o chamado PEC IV.

O antigo ministro das Finanças alegou que a "troika" composta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela Comissão Europeia (CE) percebeu a "estratégia diferenciadora" do PSD "quanto à qualidade da consolidação  orçamental, quanto à necessidade de virar agora a austeridade, não para as pessoas, mas para o Estado, quanto à necessidade de a austeridade ter mais justiça social".

"O Governo perdeu a batalha de querer convencer que as medidas do PEC IV eram as melhores para o país, de que a trajetória do défice o público era a melhor para o país, perdeu a batalha de não considerar conjuntamente com as medidas de austeridade do Estado", defendeu.

De acordo com Eduardo Catroga, as "informações gerais" que foram hoje conhecidas sobre o programa de ajuda externa a Portugal mostram que "o chamado PEC IV estava ultrapassado e que as medidas nele constantes eram insuficientes, na medida em que há um  reconhecimento de que o défice para 2011 é bastante superior".

"Como também se conseguiu demonstrar, como, aliás, o presidente do PSD em tempos já tinha dito, que era necessário rever a trajetória do défice que o Governo, inconscientemente, tinha acordado com Bruxelas", disse.

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publicado às 17:16


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