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Uma autocrítica não faz mal a ninguém

por Manuel_AR, em 28.05.19

PCP_autocritica.png

A CDU coligação PCP e PEV perdeu votantes e, consequentemente, deputados europeus comparativamente às eleições de 2014, e não foi uma pequena perda.

Já nas eleições autárquicas o PCP tinha perdido alguns bastiões importantes. A luta pelo povo e pelos trabalhadores e durante a campanha eleitoral para as europeias frases como “luta que vai prosseguir com tanta mais força quanto maior for o reforço da CDU – por um Portugal liberto das imposições que têm condicionado negativamente o seu presente e obstaculizam perspetivas e potencialidades de um futuro de bem-estar, desenvolvimento e soberania” foram muitas vezes ouvidas.

Porque o PCP terá baixando tantos votos é uma questão que merece reflexão e que, decerto, estará a ser levada a efeito dentro do comité central do partido.

Segundo os princípios daquele partido abordar a realidade e passa pela crítica e pela procura de uma perfeição também interior por intermédio da autocrítica. Em doutrinas políticas filosóficas, como o marxismo-leninismo a autocrítica é vista como um método científico e também enquanto exercício político constante. Nestes dias e a cumprirem-se estes requisitos o PCP estará já a proceder a uma análise crítica da situação e a fazer a sua autocrítica.  

Talvez não seja difícil fazer um exercício de reflexão a partir do que aconteceu nestes últimos meses recordando no que se refere aos movimentos sindicais de contestação e reivindicação a que a direita oportunisticamente chamava contestação social e que em alguns até apoiou.

Todos sabemos que as duas maiores centrais sindicais, a UGT e a CGTP, congregam a maior parte das associações sindicais. A CGTP, como qualquer organização unitária, afirma-se independente, mas todos sabemos que esta central sindical tem uma ligação muito próxima ao PCP, o mesmo acontecendo com a FENPROF.

As greves, protestos e manifestações de luta reivindicativa quer dirigidas ao privado quer à função pública foram promovidas na sua maior parte promovidas por aquela central sindical e por outras organizações sindicais suas aliadas. Em alguns destes protestos a UGT não ficou alheia.

Numa entrevista ao jornal Público, em dezembro de 2018, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, dizia não ter dúvidas: "É evidente que conflitualidade vai aumentar". A partir de janeiro, "vamos ter aí muita coisa a mexer, muitas lutas a fervilhar", explicava na entrevista. Não exclui convocação de uma greve geral e acusa o Governo de ter dado "uma prenda de 371 milhões euros" aos patrões.

É de plena justiça reconhecer que o PCP, segundo a minha convicção, tem sido alheio às manifestações de movimentos inorgânico e aos novos sindicatos ditos independentes à revelia de quaisquer centrais sindicais que têm aparecido nos últimos tempos, alguns com conotações à direita.  Desde o início de 2017 surgiram 24 novos sindicatos em Portugal. Só dois se filiaram na UGT e nenhum na CGTP, nesse aspeto o PCP tem sido uma força positiva no condicionamento desses movimentos e sindicatos quase inorgânicos, não se aproximando deles. Nomeadamente afastando-se da Ordem dos Enfermeiros que implicitamente incentivou greves, portando-se como um sindicato à revelia.

Contudo, foi uma constante o apoio e o incentivo dado pelo PCP, através da sua central sindical CGTP, à “luta dos trabalhadores”, à “defesa do povo português”, contra a “exploração do patronato” e pela “independência nacional”, “por uma política patriótica”, palavras de ordem que estão no seu ADN ideológico.

Penso que, no que se refere à sua política consequente das eleições legislativas de 2015 e das autárquicas de 2017, o PCP deve fazer a sua autocrítica e reconhecer que os líderes das centrais sindicais por ele controlados, incluindo a Fenprof contribuíram para as perdas eleitorais do partido. Enfim, todo o esforço reivindicativo e de protesto não lhe capitalizou votos.

O povo, classe que o PCP tanto gosta de evocar, começou a ficar farto de greves e reivindicações, sobretudo vindas da função pública e repare-se que o povo não são apenas os trabalhadores que o PCP diz defender, e mesmo algum deste povo, que em tempos terá colocado a sua cruzinha no partido, em nada se reviu, no atual contexto político, nestes movimentos reivindicativos.

 

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publicado às 16:31

Abstenção2.png

Os 29 Estados membros ficaram nos 50,5% de abstenção, a melhor votação dos últimos 29 anos, Portugal distinguiu-se pela negativa, sendo o país com o segundo pior registo de participação.

Responsabilizar os eleitores criticando-os pelo défice democrático ou pelos maus resultados é o mesmo que bater no cão que não fez o que o dono lhe pediu. Se a abstenção foi desesperadamente elevada e uma vergonha em comparação com a Europa quem deve ser responsabilizado são os próprios partido, todos, sem exceção, alguns com responsabilização acrescida.

Se há desinteresse dos eleitores pelas eleições para o Parlamento Europeu é porque durante os últimos cinco anos sobre política europeia e seus reflexos no país pouco se discutiu e falou. A comunicação social que se apressa a dar relevo às notícias da ascensão das extremas-direitas e agora à abstenção elevada em Portugal, fazendo dela o seu cavalo de batalha, levando à indução de que os ganhos ou perdas eleitorais dos partidos são a ela devidos. Mas abstêm-se a divulgar o quer que seja sobre o que se passa na Europa que diga respeito ao nosso país. O que nós defendemos o que votámos e quem e sobre o quê. Isso são temas de segunda ou terceira linha que não vende, nem rende! As televisões não dão relevância a questões tratadas no Parlamento Europeu com importância para o país. Aos partidos também não lhes interessa terem de prestar contas do trabalho dos seus deputados europeus devido a poderem ser postas em causa decisões tomadas, ficam-se por uma espécie de descomprometimento.

A RTP3 apresenta um programa com deputados dos diferentes partidos políticos representados no Parlamento Europeu, a partir da sede em Estrasburgo, mas cujo interesse para o comum dos cidadãos é irrelevante. Não se interessam porque são abordados os temas dirigidos a um segmento de população que se interesse sobre política.

O que sabemos, aqui em Portugal, sobre o que os deputados eleitos apresentados pelos partidos e que nos representam na U.E. fazem ou não fazem? E o que defendem ou não defendem?  

Se alguma coisa se conhece é quando há a recomendações emanadas do Parlamento Europeu que tenham de ser aplicadas em Portugal e, mesmo essas, pouco divulgadas a não ser as de pendor negativo.

Quando no Governo, os partidos que o apoiam preocupam-se mais em mostrar o contributo que deram para medidas que consideram positivas e que lhes possam dar créditos eleitorais. A oposição procura aqui e ali questões, por vezes irrelevantes, sem qualquer interesse para os cidadãos, chamadas de “lana caprina”, seja a que preço for.

Sobre o que se passa na Europa com o trabalho dos deputados, as decisões políticas tomadas que possam ter reflexo na nossa sociedade, os problemas importantes que lá se levantam para debater não é prestado esclarecimento satisfatório nem com clareza suficiente.

Ao longo dos cinco anos do mandato dos deputados europeus no media entram num silêncio quase absoluto. Os partidos, quer os de que apoiam o Governo quer os da oposição, salvo raras exceções, nem falam sobre tal assunto. Uns porque talvez não encarem isso como um investimento para obtenção de votos em futuras eleições, outros, os do Governo, porque pode prejudicar os votos futuros devido às leis que, por imposição de U.E., podem criar sentimentos adversos por serem desfavoráveis.

Os partidos mais à esquerda, PCP, BE e Verdes, arrastam-se em intervenções contra a U.E. para a qual, no entanto, estão dispostos a eleger deputados dizendo que a pretendem modificar por dentro. Esse discurso parece ser idêntico ao da extremas-direita.

Aqueles partidos esfalfam-se a dizer que vão fazer e defender na Europa os mesmos pontos de vista que defendem cá dentro, como se tal fosse irrealista face à composição do Parlamento Europeu. Os partidos europeístas, como o CDS, o PSD e o PS digladiam-se com questões sem importância sobre a Europa não apresentando aos potenciais eleitores propostas credíveis para defender Portugal junto do Parlamento Europeu. Viu-se como a direita PSD e CDS orientaram a sua campanha eleitoral, difamando, ofendendo, inventando, distorcendo factos, recorrendo a um passado cada vez mais distante, passeando-se lançando para o ar frases bacocas, sem impacto significativo, por vezes até agressivas, frases sem substância no seu conteúdo.

Os deputados andam por lá cerca de cinco anos sem prestarem contas aos seus eleitores do que fizeram ou do que não conseguiram fazer para que eles possam votar em consciência. Estabelece-se um vazio completo. Não há condições para que se escolham os deputados europeus em futuras listas. Os partidos apresentam aos eleitores os cabeças de lista que a maior parte dos portugueses desconhece o que vão fazer fizeram durante o seu mandato.   São apresentados do mesmo modo que são apresentados os deputados nos circos eleitorais para as legislativas.

Sobre a U.E. os media dedicaram-se nos últimos meses à questão do Brexit porque tinha impacto, logo eram notícias vendáveis, se assim não fosse, seria também um vazio sobre o assunto.

Quando chegam as próximas europeias voltam ao mesmo: os partidos debatem tudo menos o que se fizeram,  o que não fizeram e o que irão fazer no Parlamento Europeu.

Estas eleições talvez tenham servido de lição para futuras campanhas eleitorais dos partidos da direita. Os eleitores já não apreciam a chamada conversa da treta, preferem saber com o que contam no futuro, porque o passado já eles conhecem.

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publicado às 16:36

Assunção Cristas_5.png

Com todo o respeito que tenho pela família e pela igreja o CDS/PP é o partido de algumas famílias, as ricas, e de alguma parte da igreja. E sempre foi assim desde que foi partido apesar de Paulo Portas ter tentado que fosse, e conseguiu em parte, um partido da direita democrática a sério.  

Aqui há algum tempo presenciei uma cena numa conhecida avenida de Lisboa, lá para os lados da Praça de Londres uma trica de rua entre uns sujeitos que passavam e um outro que me pareceu ser, numa rápida análise, uma pessoa de baixa condição social, isto sem qualquer sobranceria. Diziam os primeiros, «tá calado e vai-te embora ó comuna!», ao que o outro respondeu «Quem eu? Comuna? Eu sou do CDS pá» e seguiu o seu caminho. Ser o CDS para este personagem ser do CDS era sinal de estatuto social, de pertencer a uma classe alta. Pois é!

O CDS depois do 25 de Abril, ainda antes de ser CDS/PP, não tinha muito boa reputação democrática. Já que Nuno Melo e Cristas gostam muito do passado dos outros seria bom que olhassem para dentro de si próprios e sobre o passado do seu partido, muito pouco democrático e desprestigiante de um estado de direito e democrático como é descrito no livro de Miguel Carvalho, grande repórter da VISÃO, cujo título é Quando Portugal Ardeu. Escreve a certa altura o autor a páginas 141 que “… Enquanto isso, o apascentar das almas a favor dos partidos mais próximos dos valores cristãos, no caso o CDS e o PDC, é assumido pelo próprio D. Francisco: no programa daqueles partido, assume, «tudo nos parece, em teoria e de facto, em perfeito acordo» com a doutrina da Igreja. O CSD aproveita a bênção…”.

Não fosse a volta dada pelos partidos moderados do centro esquerda e centro direita para que houvesse em Portugal uma verdadeira democracia talvez o CDS fosse hoje um partido daqueles da extrema-direita populista como os que agora despertaram na União Europeia.

Não foi por acaso, nem por imprudência, que o Patriarcado de Lisboa colocou na sua página do Facebook um post que, após reclamações acabou por retirar, onde se associava à coligação Basta, o Nós Cidadãos e ao CDS no apelo ao voto nestas três forças políticas.

Que crédito e confiança poderá merecer a classe clerical portuguesa a um católico como eu, de visão aberta? Este tipo de atitude, em que se utiliza algo tão profundo como a crenças e a fé das pessoas para fazer propaganda partidária, apelo ao voto e intervenção partidária direta em favor de partidos políticos à associando partidos à religião!?  

Num comentário do blogue Estátua de Sal pode ler-se: “Cristas e Melo continuam com o Sócrates e com as “esquerdas encostadas”, mas as sondagens dizem que os portugueses adoram os “encostos” da esquerda”.

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publicado às 16:44

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Rui Rangel é um dos representantes de um passado triste do PSD e cuja estratégia errada nesta campanha eleitoral manteve sem qualquer mutação. Rangel é a personificação do liberalismo de Passos trazido para 2019 e a recusa da social-democracia que Rui Rio defendeu no início do seu mandato. Rangel quer manter-se à tona, mas a boia que usa parece já estar furada.

O PSD e Paulo Rangel tentaram envolver Cavaco Silva na campanha para as eleições europeias vindo para o terreiro fazer afirmações sobre familiares, tendo sido arrasado achou melhor remeter-se novamente ao silêncio.

Falhada esta tentativa foram buscar Passo Coelho para salvar alguma coisa que pudesse ser salva como pretexto para lançarem acusações ao PS de esconder o passado. De facto, o caso Sócrates foi um anátema que marcou o passado do partido. Passos Coelho por seu lado é outro anátema do passado do PSD que  a pretesto de salvar Portugal deixou marcas profundas na população e caso não se tivesse encontrado outra alternativa estaríamos na mesma, senão pior, dento e no âmbito da U.E.

Passos Coelho é, de facto, a cereja colocada em cima dum bolo estragado que serviu apenas para recordar e comemorar nesta campanha um passado triste. Portugal e a população não querem recordar nem um, nem outro passado, ambos tristes cada um à sua maneira.

Paulo Rangel será visto sempre como o mentor do plano péssimo que tem prejudicado o PSD nesta campanha eleitoral. Aliás, todos sabemos que Rangel é uma espécie de rolha de cortiça que consegue vir à superfície sempre que oportuno. Rangel também não é a flor que se cheire no passado do PSD. Ele mesmo foi um grande defensor das medidas de Passos Coelho no tempo da troika.

Se o PSD ficar abaixo dos 25% há dois culpados: o primeiro Rui Rio por ter escolhido Paulo Rangel para cabeça de lista às eleições europeias e o segundo o próprio Paulo Rangel por insistir em temas já desgastado ao longo dos último quatro anos. Rui Rio, em vez de um bolo fresco e bem decorado para mostrar renovação insistiu em oferecer a fatia do mesmo bolo já congelado.

Paulo Rangel, em 2010, foi candidato à presidência do PSD perfilando-se desta forma como primeiro oponente de Pedro Passos Coelho. Esta candidatura serviu para dar imagem de democracia interna porque, de facto, a linha, e a proposta de Paulo Rangel eram muto idênticas. Rangel foi uma espécie de peão para passar uma imagem de concorrência interna. Após o PSD ter ganho as eleições e durante toda a vigência de Passos Coelho ele foi um dos seus mais acérrimos defensores.

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publicado às 19:12

Extrema direita ataca UE..png

Os países do Sul e em particular Portugal devem temer as consequências da desagregação da União Europeia. Ao contrário do que os partidos mais à esquerda como o BE e o PCP, antieuropeístas que alinham com os eurocéticos de direita e nacionalistas da extrema direita, a desagregação da U.E. seria um desastre e conduziria a desmandos na economia e nas finanças. Não seria a estruturação da dívida, como aqueles dois partidos preconizam, que nos salvariam da catástrofe social, inflacionária e de desvalorização salarial do regresso ao escudo.

O surto de corrosão da base eleitoral pelos populista e nacionalista que emana sobretudo dos partidos da extrema-direita pretende mudar a Europa à sua maneira. Uma Europa fechando as portas de contacto entre países que rivalizarão e competirão entre si trazendo, mais tarde ou mais cedo, potenciais conflitos militares.

Os partidos centristas, quer de esquerda, quer de direita e também a esquerda mais radical estão em vias de redução da sua base eleitoral no que se refere às eleições europeias e até em alguns países do grupo onde a extrema-direita eurocética já ocupa posições relevantes.

Os mais velhos já experimentaram na pele o que é estar a ser governado por partidos daquela ideologia, os mais novos sempre viveram numa Europa democrática e livre e onde podem circular sem restrições não se iriam adaptar a uma outra Europa que lhes tirasse tudo a aquilo que avós e pais ajudaram a construir.

As mensagens dos partidos populistas com as suas cantatas encantatórias dirigem-se sobretudo aos jovens atraindo-os para a beira de um abismo que eles não vislumbram porque nunca se sentiram ameaçados. Se os jovens querem continuar a viver numa europa livre, humanista e onde a diferença cultural seja aceite como um padrão não pode ficar numa atitude de “Não penso, não existo, só assisto” e votar dando aos partidos tradicionais mais uma oportunidade para reorganizarem a nossa Europa.

Ao longo dos anos ficámos a observar que em cada país da U.E. os partidos populistas fossem conseguindo aqui e ali nas votações nacionais o que se considerava serem bons resultados  nas votações nacionais só que, desta vez, a União Europeia (UE) pode vir a confrontar-se como uma vitória dominada de partidos como o Rassemblement National (ex-Front National) de Marine Le Pen, da Liga Norte de Matteo Salvini e de outros partidos populistas nacionalistas o que pode mudar a face da política da U.E. que será prejudicial para todos. Serão os hereges da Europa a tentar arrombar as portas pensando que não vão derrubar a casa, mas as paredes são frágeis e o empurrão na porta pode mesmo derrubar a casa.

Os grupos parlamentares do PPE – Partido Popular Europeu e S&D – Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas onde se encontram o PSD e o CDS, e o Partido Socialista, respetivamente, são os únicos que poderão fazer frente aos nacionalistas e populistas, mas, para isso deverão ter uma maioria confortável que só uma votação em massa poderá dar, apesar de, no passado recente,  algumas votações daquele grupo as votações do PSD com Paulo Rangel, foram de apoio a países onde se encontra a extrema-direita, nomeadamente na Hungria.

Fredrik Erixon escreveu no The Spectator que “as eleições europeias deste ano deixarão o centro-direita sem uma voz confiante ou coerente. E parecerá um pouco perdido quando a principal batalha de ideias for entre liberalismo e nacionalismo. A estratégia política do centro-direita é defensiva; sua atitude é irritável. Os vários partidos que fazem parte do grupo PPE da U.E. não estão a ganhar muitas eleições e apenas elogiam o que ganharam no passado. Em novembro passado, na eleição primária do partido para escolher o seu candidato para liderar a Comissão Europeia, eles poderiam ter procurado substituir Juncker por Alexander Stubb. Ex-primeiro-ministro finlandês e atleta de Ironman, Stubb é um conservador enérgico e um enorme defensor de uma UE mais forte. Em vez disso, eles foram para Manfred Weber, que é praticamente desconhecido fora de sua região natal da Baviera. Seu principal trunfo? Weber não parece ter opiniões fortes sobre qualquer coisa.”.

Vê-se qual a desorientação da família PPE a que o PSD e o CDS pertencem e que ocupa no Parlamento Europeu 221 lugares.

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publicado às 19:33

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Ou a União Europeia e os moderados tomam juízo ou, então, estamos tramados. Este poderia ser um título para um artigo contra a abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu para evitar a ascensão dos extremistas de direita. Os extremistas de esquerda ainda não são o perigo para a U.E.

Digo isto porque o Brexit, as migrações sem controle e solidariedade, os interesses nacionais desnecessariamente amplificados e o populismo são as ameaças à UE, o projeto político mais relevante e bem-sucedido da História Europeia, que têm conduzido à ascensão de minorias extremistas de direita, graças a discursos populistas eloquentes, mas não realistas.

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Fotografia de France 24. Steve Bannon e Le Pen, Março de 2018 em Lille, França.

Não é por acaso que os grupos unidos da extrema-direita europeia têm ao seu lado Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump na campanha eleitoral, procura ser o mentor do vírus extrema-direita europeia e, por isso, se tem visto ao lado de Marine Le Pen e de outros.

Bannon, poucos meses antes de assumir seu papel como chefe da campanha presidencial de Trump, sugeriu que Salvini, vice-presidente da Itália e líder do partido da Liga, partido da extrema-direita, deveria começar a visar abertamente o Papa Francisco, que enfrentou a situação. dos refugiados como uma pedra angular do seu papado. “Bannon aconselhou o próprio Salvini a considerar o papa atual como uma espécie de inimigo. Ele sugeriu, com certeza, atacar, frontalmente”, disse um importante membro da Liga numa entrevista ao site SourceMaterial .

Salvini anunciou em março deste ano que queria trazer a extrema-direita de toda a Europa para uma aliança com o lançamento de uma nova coligação de direita para as eleições parlamentares europeias de maio. Salvini revelou este projeto apenas alguns dias depois de se ter encontrado com Bannon em Roma em março, o que leva a acreditar que Bannon escolheu pessoalmente Salvini como o líder informal das forças populistas eurocéticas na Europa.

Em “O Povo contra a Democracia”, livro de Yascha Mounk, Docente do Departamento de Governo da Universidade de Harvard, escreve que estamos numa era de populistas e que estes já não são periféricos, são uma força que começa a ser dominante. Escreve ele que “quando as pessoas percebem que as promessas dos populistas são falsas, que eles são tão ou mais corruptos do que os políticos que vieram antes deles, muitas vezes não voltamos a eleger um político mais moderado.”. Quando é assim as pessoas procuram esperança no populista que se segue. Quando sai o tiro pela culatra desabafam: Ai que Deus que eu não sabia!…  

Os eurocéticos e os populistas da extrema-direita andam em permanente guerrilha pelas atenções dos meios de comunicação tendo escrito na sua catecismo a instrumentalização pelo medo e sobre dúvidas em relação ao futuro culpando o problema da imigração e a U.E. por quase todos os males, aproveitam o descontentamento económico para prometerem o que sabem não poder dar e utilizam e abusam das redes sociais onde sabem que há incautos que podem cair na armadilha. Fazem uma espécie de governação pelo Facebook e pelo Twitter onde procuram ampliar as suas mensagens criando caos, mentiras e confusão. Serão a génese dos que poderão vir a iniciar, no futuro, uma nova guerra?

Afinal são os princípios da propaganda aplicados à comunicação política que não são novos e que são agora utilizados pelas extremas-direitas.  

- Princípio da simplificação e do inimigo único, escolher um inimigo e conseguir acabar com ele.

- Princípio do contágio, mostrar como o presente e o futuro estão sendo contaminados por este inimigo.

- Princípio da transposição, transferir todos os males sociais a esse inimigo.

 - Princípio da exageração e da desfiguração, que é exagerar as más notícias, deturpá-las e modo desfigurá-las para transformar um delito em mil delitos criando assim um clima de profunda insegurança e temor na população que se irá questionar sobre o que nos vai acontecer.  

- Princípio da vulgarização que consiste em tudo numa coisa torpe e de má índole.

- Princípio da orquestração que é fazer divulgar os boatos até que se transformem em notícias de modo a serem sendo replicadas pelos media.

- Princípio da renovação que consiste em lançar novas notícias (sobre o inimigo escolhido) para que o recetor não tenha tempo de pensar.

- Princípio do verossímil que é discutir a informação através de diversas interpretações de especialistas, mas sempre tendo em contra do alvo político escolhido para que o através desses debates o recetor não perceba que o assunto interpretado não é verdadeiro.

- Princípio do silêncio consiste em ocultar toda a informação que não seja conveniente.

- Princípio da transferência que se baseia em potenciar um facto presente com um facto passado. Sempre que se noticia um facto acrescentar com um facto que tenha acontecido antes.

 - Princípio de unanimidade que é a procura de convergência em assuntos de interesse geral apoderando-se do sentimento produzido por estes e colocá-los contra do inimigo alvo.  

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publicado às 18:13

Abstenção e dispersão.png

Há uma espécie de estado de emergência que justifica que deixemos de considerar as eleições para o Parlamento Europeu como sem interesse. Essa emergência é devido a tudo o que pode colocar em perigo a construção de uma Europa unida, democrática e aberta ao mundo. A U.E. foi considerada por outros povos ao longo de décadas como o melhor lugar do mundo e uma forte comunidade de povos diferentes com uma moeda única forte e credível em todo o mundo. A nova administração dos EUA chegada ao poder com as eleições de 2016 apontou como um dos seus tenebrosos objetivos a destruição da União Europeia.

Os fatores exógenos para a crise europeia são a nova geopolítica mundial com a emergência de novas potências. Os fatores endógenos foram os relacionado com a má gestão resultantes da crise financeira que fraturou a coesão entre países, nomeadamente os considerados ricos e os pobres, a crise das migrações e os sentimentos de raiva dos povos aproveitados e alastrados pelos partidos e movimentos populistas de extrema-direita e também por alguma direita que os aproveitaram para obterem dividendos eleitorais em vários países confirmados pela sua ascensão na última década.

Os sinais de perigo advieram do abrandamento da economia europeia, do aumento das desigualdades sociais e a retração da solidariedade. A solidariedade implícita nos países da União Europeia não só foi limitada como em alguns casos eliminada. A ideia do multiculturalismo abraçada e expandida durante os anos oitenta e noventa foi sendo lançada para segundo plano e até regrediu. As causas estão nas ideias lançadas por movimentos racistas e xenófobos aliados que aliados aos egocentrismos nacionalistas originados pela crise das dívidas soberanas que afetaram os países mais frágeis e com deficiente gestão das finanças públicas.

Outro dos fatores tem a ver com a dominância geoestratégica de lideranças nacionalistas em Washington, na China e em Moscovo. A União Europeia passou a ser cada vez um parceiro secundário a abater enquanto união. Os líderes europeus que viveram a Europa durante a crise de 2008, preocupados com o seu “umbigo” nacionalista que alimentaram a rivalidade entre os países do Norte e os do Sul, perdulários e despesistas, como alguns lhes chamavam. Ainda está presente a afirmação sobre Portugal quando o holandês Jeroen Dijsselbloem, em 2017, que acusou os europeus do Sul de gastarem dinheiro em “copos e mulheres”.   

Todos os cenários são agora alimentados por incertezas sobre o destino da U.E. que são aproveitados por aqueles que sempre a quiseram destruir e se encontram agora a caminho para uma possibilidade de vitória. O seu objetivo é o de, também em Portugal, contribuírem para a sua desagregação.    

“Em vésperas de eleições europeias, o cenário mais preocupante é o da fragmentação política da Europa, com a ascensão dos partidos populistas e nacionalistas, na sua generalidade fortemente eurocépticos, e a queda das velhas famílias políticas que construíram a União Europeia desde a sua fundação.”, escreve Teresa de Sousa no jornal Público.

Estou convicto que ninguém deseja para a U.E. uma força unida de partidos da extrema-direita cujo lema é a destruição do projeto europeu que venham a ser Cavalos de Troia na Europa. Estes são os mesmos partidos que têm discursos de populistas e de mentiras que pretendem destruir a Europa. Com este tipo de discursos já existe um, embora de sinal contrário, que destruiu a Venezuela  

Ao contrário do que diz o candidato Nuno Melo da direita CDS, (que agora parece também ser de extrema-direita), não é a extrema-esquerda que está a pôr a U.E. em perigo, que o está a fazer são os partidos como aquele que ele passou a defender.   

Em Portugal não parecia existirem partidos da direita democrática que direta e ostensivamente se opusessem à Europa e se identificassem com a extrema-direita. Parece ter chegado o momento dessa aproximação da direita a esses partidos. Tal é o caso de Nuno Melo, cabeça de lista do CDS-PP às europeias para quem o partido espanhol Vox não é um partido de extrema-direita e admite que venha a integrar a mesma família política europeia do CDS e do PSD. Para Nuno Melo o Vox é um simples partido de Direita, que cabe perfeitamente na mesma família política do Partido Popular Europeu a que pertencem o CDS e o PSD.

Esta posição de Nuno Melo foi comentada por Ana Sá Lopes num editorial do jornal Público cujo título é “Vox, o partido amigo do dr. Nuno Melo” onde escreve que Nuno Melo “Tem medo que o sr. Ventura de Loures lhe vá tirar votos? Mesmo sendo o CDS o partido mais à direita do espectro nacional, esta colagem ao Vox e ao orgulho franquista não deixa de ser uma aberração.”.

Na véspera de um encontro de líderes das principais formações europeias de extrema-direita, realizado no sábado, o vice-primeiro-ministro e ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, proferiu declarações perante jornalistas estrangeiros em Milão, em que diz ser "Mais pró-europeu do que os pró-europeus” acrescentando que "Os eurocéticos são quem domina a Europa neste momento. Os antieuropeus são os socialistas o Partido Popular Europeu. Converteram um sonho num pesadelo, numa prisão.”. É este tipo de inversão de valores que os populistas da extrema-direita utilizam para captar apoiantes, sabendo eles que, se tiverem maiorias absolutas nos seus países revertem tudo quanto defendiam, como aconteceu por exemplo na Hungria e na Turquia, este último país não pretendendo à U.E.

A abstenção e a dispersão de votos nas eleições da próxima semana para o Parlamento Europeu podem resultar numa vitória da extrema-direita que critica e está contra tudo, e diz, ao mesmo tempo, tudo poder resolver. Não sabemos é como!

A extrema direita populista não faz parte da solução é a parte do problema.

Pode também ler aqui sobre a extrema-direita.

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publicado às 16:26

Extrema direita_lideres_eleições.png

A decisão destas eleições encontra-se em muito na mão da população mais jovem que terão de escolher entre uma União Europeia construída em liberdade e com sacrifício e a sua destruição a troco de nada. Uma das respostas é evitar a abstenção.

As eleições europeias apresentam-se mais importantes do que as do passado. Quem preza a democracia no seu país deve contribuir para a preservar também no contexto europeu onde nos inserimos e só há uma forma: votar.

Isto por causa do atual contexto político, e da possível saída do Reino Unido e, ainda, devido a problemas regionais, como é o caso da gestão das fronteiras externas da União Europeia.

A abstenção nas eleições não é a saída para os problemas da U.E., bem pelo contrário, eles apenas se resolvem com a votação em massa nos candidatos que os podem resolver para não deixarmos os que fazem afirmações populistas prometendo modificá-la por dentro criando entropias no seu funcionamento com objetivos tendentes à sua desagregação.

Os jovens que circulam livremente pela Europa, quer através do programa Erasmus, quer através de qualquer outra forma com motivações várias, devem ser os primeiros a tomar consciência da gravidade da situação que pode advir do Parlamento Europeu vir a ter maioria dos partidos que pretendem limitar essa liberdade de circulação ao conseguirem impor nacionalismos exacerbados e outras limitações à liberdade dos cidadãos.

O resultado destas eleições encontra-se muito na mão da população mais jovem que terão de escolher entre uma União Europeia construída em liberdade e com sacrifício, que, de certo, deve ser melhorada, e a sua destruição a troco de nada. E a única forma é evitar a abstenção.

Os mais velhos que viveram a nossa adesão à comunidade das nações europeias se forem honestos podem ver quanto o nosso país progrediu e as melhorias lhes lhes trouxe apesar de alguns saudosistas do passado , à esquerda e à direita, pretenderem que Portugal volte à política do orgulhosamente sós com a saída da U.E. 

O referendo que trouxe o Brexit ao Reino Unido é o exemplo paradigmático do que aconteceu com um país rico e que está a braços com uma aguda crise política onde as sondagens dão a maioria a um partido o Brexit de Nigel Farage que nada tem para oferecer e que apenas aposta nos problemas que o Brexit tem trazido ao Reino Unido. E depois do Brexit que partido passa a ser este? O de oferecer soluções enganosamente simples para problemas complexos?

Passou a ser moda a imitação de Trump. Farage imita-o fazendo crer que vai tornar a Grã-Bretanha grande novamente. Um elevador direto da cartilha de Donald Trump.

Aquando do referendo “os mais jovens, 70% votaram pela permanência. Os eleitores mais velhos, que votaram pela saída, não estarão vivos para ver as consequências”. A decisão destas eleições encontra-se assim na mão da população mais jovem e de mentalidade aberta.

Os que tendo responsabilidades políticas falam contra aqueles a que chamam burocratas de Bruxelas, dos défices democráticos na U.E. e contra os que lá se encontram, dizem, não foram eleitos democraticamente são tudo mechas demagógicas e populistas. A estes, quando se lhes perguntam quais as alternativas atuais para alterar a situação nada dizem ou, então, dizem que concorrem às eleições para modificar por dentro a U.E. Sabemos bem o que significa, para eles, modificar a U.E. por dentro! O partido Brexit lança um fluxo de mentiras sobre traição e humilhação.

A desvalorização e a abstenção nas eleições europeias é como perdermos o nosso cartão de débito ou crédito com o código PIN escrito no próprio cartão. Mais tarde ou mais cedo alguém se irá aproveitar. Neste exemplo não sabemos que poderá vir a utilizá-lo, no caso das eleições sabemos bem que são os que se irão aproveitar. Não votar nas eleições europeias é uma espécie de cheques em branco passado aos partidos que se irão sentar no Parlamento Europeu.

O que temos de fazer é, com as eleições ajudar a bloquear a tentativa através dos meios democráticos disponíveis para que partidos radicais de direita se coloquem em maioria no Parlamento Europeu.

Em Portugal há dois partidos europeístas com representação relevante que poderão estar em linha para ganhar as próximas eleições são eles o PSD e o PS. O CDS será apenas uma ajuda à mão do PSD.

Na U.E. existem vários grupos ou famílias políticas onde os partidos europeus se incluem. Os grupos onde os dois partidos portugueses mais influentes estão incluídos são o PPE – Partido Popular Europeu* onde estão incluídos o PSD e o CDS e o S&D - Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas** onde se inclui o Partido Socialista.  

Para contrabalançar o peso da extrema-direita e do populismo no Parlamento Europeu que é o órgão legislativo da EU e é diretamente eleito pelos cidadãos europeus de cinco em cinco anos  só o grupo dos partidos do centro-esquerda como em Portugal o PS - Partido Socialista poderão, para tal, contribuir, já que o PSD, em algumas circunstâncias, aproxima-se de algumas das posições tomadas no Parlamento Euroipeu estando do lado dos partidos da extrema-direita

______________________________________________________

*Reúne, no essencial, Eurodeputados do centro-direita, favoráveis ao aprofundamento da integração europeia, mitigado pela subsidiariedade na repartição de poderes (isto é, seguindo a máxima “a Deus o que é de Deus, a César o que é de César”, o PPE é favorável a que os Estados mantenham na sua mão a atuação numa série de domínios sobre o quais a UE não tem ação exclusiva) e ao equilíbrio das contas públicas. Sendo o maior grupo político – e partido – há muito tempo, o PPE tem dominado e direcionado grande parte das questões europeias fundamentais deste século. Internamente, o partido tem vindo a lidar com críticas pela “tímida” condenação das políticas de Viktor Órban, Primeiro-Ministro Húngaro e membro do partido. Manfred Weber, líder do grupo parlamentar, é o candidato do partido à presidência da Comissão. São membros os MEPs do PSD e do CDS-PP e ainda José Inácio Faria (inicialmente no ALDE).

**Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) – representam o contraponto do PPE à escala europeia e em grande parte dos Estados-membros, tendo conseguido a maior representação no Parlamento Europeu até 1999. Inclui membros de partidos sociais-democratas, principalmente de centro-esquerda. O partido político europeu a que pertencem é o Partido Socialista Europeu (PES). As principais prioridades são o aumento do emprego, a aplicação de um modelo redistributivo da economia e o desenvolvimento sustentável. Juntamente com o PPE formam o grande bloco decisor – e decisivo – das principais políticas europeias ao longo dos tempos. São membros os MEPs do PS.

 

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publicado às 18:00

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As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importante, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

(Continuação)

Extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos

 Extrema direita: conotações

Alguma extrema-direita, com algumas exceções, está, por vezes, para a maior parte dos eleitores, marcadamente conotada com as trágicas experiências do nazismo e do fascismo e, ainda hoje, continua a apresentar muitos traços originais do seu início como o irracionalismo, nacionalismo, defesa de valores e instituições tradicionais, intolerância à diversidade — cultural, étnica, sexual — anticomunismo, machismo, violência em nome da defesa de uma comunidade/raça considerada superior. Distancia-se das direitas tradicionais pela intolerância e pela violência de suas ações.

A extrema-direita populistas desde que se organizou em partidos, movimentos ou associações públicas, diz recusar por parte de seus membros as práticas atrás referidas. Desconhece-se ainda a evidência das características do recente partido “Chega” do ex-autarca André Ventura do PSD que, após algumas peripécias, acabou por ser aceite pelo Tribunal Constitucional (TC) como partido político do Chega, que recusou, contudo, o nome de coligação Europa Chega terminando por ficar registado como a coligação “Basta”. O Chega, de André Ventura, vai coligar-se com o Democracia 21 para as eleições europeias. As declarações públicas de André Ventura contrastam com a declaração de princípios do seu partido.

Robert Paxton escreveu um livro “A Anatomia do Fascismo” editado em Portugal  pela Paz e Terra à venda na livraria online WOOK, onde se refere à inviabilidade de reedição do fascismo como experiência particular do contexto entre as duas grandes guerras mundiais, ou seja, um fascismo com as mesmas características, mas não invalida práticas fascistas possíveis na atualidade embora com outros matizes, porque segundo ele não foram superadas, as determinações económicas e políticas que contribuíram para sua emergência e ascensão ao poder.

 Extrema-direita na Europa e as novas tendências

Há inúmeras expressões da extrema-direita na contemporaneidade. Algumas, organizadas em partidos, outras em associações, movimentos ou grupos, muitas pulverizadas em práticas violentas e inorgânicas dirigidas a imigrantes, negros, homossexuais. O perigo é que eles estão a recuperar os seus valores mais arcaicos.

A ascensão dos atuais movimentos de extrema-direita, principalmente na Europa, não é episódica. Essa ideologia nunca deixou de existir mesmo após a sua derrota na Segunda Guerra Mundial dos fascismos e nazismos.

Em França, a extrema-direita vem crescendo com o fortalecimento do Partido da Frente Nacional. A atual presidente do partido é Marine Le Pen, filha de Jean Marine, conseguiu triplicar não aceita que o seu partido seja identificado como sendo de extrema-direita. A Frente Nacional influenciou a criação de novos partidos da extrema-direita na Europa, em função de seu desempenho nas disputas eleitorais na década de 1980.

Um jornalista, alertava em tempo para a extrema-direita em França e Marine Le Pen escrevendo em 2013 que os franceses andaram três décadas a equivocar-se sobre a caracterização da extrema-direita dizendo que era um fenómeno passageiro, um voto de protesto, uma crise da representatividade, desconfiança conjuntural, abandono dos setores populares por parte das grandes formações políticas, antieuropeísmo.

A Frente Nacional, segundo o mesmo jornalista, “deixou de ser um partido de uma minoria para se converter no partido de todos: jovens, trabalhadores, votantes comunistas, eleitores oriundos da direita clássica, do Partido Socialista, executivos e agricultores. A época na qual só os fascistas votavam em Le Pen era uma anedota porque as suas ideias racistas tornaram-se banais e sem crédito na França rica, onde se vive com um conforto quase inigualado, onde as férias são extensas, os direitos infinitos, o Estado um protetor consequente, a educação gratuita, a saúde subvencionada pelo Estado e o seguro desemprego um benefício global”.

Plataforma ideológica da extrema-direita

A plataforma ideológica das várias extremas-direita é invariável: racista, anti-elites, antiglobalização, ultranacionalista e antieuropeia. A suas armas estratégica são já bem conhecidas ao longo de décadas são a exploração do medo nas sociedades traumatizadas e cheias de medos por acontecimentos emocionalmente dolorosos como o terrorismo que as torna particularmente sensíveis em situações similares.

São o medo dos árabes, do islamismo, dos africanos, dos imigrantes, da Europa, dos bancos, dos ciganos, da bolsa de valores ou de qualquer outra coisa imaginária capaz de encarnar o medo.

Recordemos os casos de ataques terroristas, não apenas vindos do radicais islâmicos mas também os ataques com motivações da extrema-direita como foi o ainda recente caso na Nova Zelândia, que provocou pelo menos 49 mortos e 48 feridos entre os quais crianças. Estes ataques correspondem a uma sucessão de ações violentas por elementos da extrema-direita, de entre os quais se destacam atentados contra muçulmanos e judeus praticados em vários países por inspiração supremacista e xenófoba.

O lançamento do medo na sociedade, por vezes sem fundamento, são matizes que alimentam certa aproximação de parte das populações à extrema-direita, e, às vezes até, a partidos de direita, com vocação racista e xenófoba dissimuladas, que surgem em momentos sensíveis.

No contexto contemporâneo a extrema-direita, e alguma direita mais conservadora, defende os valores, princípios e conceções duma sociedade através do princípio das crenças irracionais e do sagrado para justificar os seus discursos face a condições de profundas desigualdades, insatisfações, medo e insegurança. Embora com novas tonalidades e rejeitando através do discurso o sistema de ideias fascista e nazista, contudo, há uma latência que nos lembra uma aproximação das suas convicções e ações com aqueles ideários.

O enraizamento e a ampliação deste tipo de campo ideológico são riscos que a Europa está a correr e que já vimos nos EUA e no Brasil, embora aqui com outras embora muito diferentes.

 

 Ação mimética da extrema-direita

O mimetismo é uma das características da transformação e adaptação ao meio que é utilizado pela extrema-direita populista. De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem o fim da União Europeia e da moeda única que consideram responsáveis pela perda da soberania e da identidade nacional. Ao culparem os imigrantes pelo desemprego e pelo aumento da violência pretendem impor o controle mais rígido à imigração.

Apesar de defenderem a extinção da U.E. as candidaturas para as eleições ao Parlamento Europeu têm como objetivo obterem visibilidade política e, também, como alguns líderes de alguns desses partidos já afirmaram, para destruir a U.E por dentro.

Comentadores políticos afirmam que alguns desses novos partidos que compõem a chamada nova extrema-direita das direitas, tentam distanciar-se da extrema direita fascista. Contudo as suas propagandas têm atingido um endurecimento generalizado de atitudes em relação à diversidade cultural e étnica que nos deixa com a sensação de que quer através de atitudes e expressões de extremismo violento, quer quanto a movimentos políticos populistas assumir um papel visível e influente de grandes proporções.

A contradição está entre os que defendem e o que fazem. Na prática mimetizam a sua ideologia. Se, por um lado, na agenda económica, esses partidos não são muito diferentes do que propõem os partidos da direita clássica, por outro diferem em alguns pontos no que se refere às propostas político-sociais. Isso torna-se evidente na propaganda feita por esses partidos ao negarem o racismo e ao reforçarem que são a favor da pluralidade racial.

Quem vota nos populistas?

Com rigor não se pode saber quem vota em determinados partidos, mas há estimativas que nos permitem conhecer as tendências em função e características dos grupos sociais tais como variáveis ​​sociodemográficas sexo, idade (<25 anos, 25-34 anos, 35-44 anos, 45-54 anos, 55-64 anos, > 64 anos), educação formal (ensino primário, ensino médio, educação universitária) e classe social.

Várias investigações têm sugerido que existe a expectativa de que, quem têm posições socioeconómicas mais baixas possa votar em partidos radicais de direita populistas, assim como tem sido demonstrado que aqueles que votam em partidos de direita populistas radicais tendem a ser menos instruídos. Têm ainda demonstrado que os eleitores radicais da direita tendem a vir de classes sociais mais baixas (Carter, 2006).

Os populistas sejam de esquerda, de direita ou do centro dizem defender os "cidadãos comuns", o povo que, segundo eles, é negligenciado e traído pelos políticos / ou por uma elite económica condescendente. Os que têm posições socioeconómicas mais baixas provavelmente identificar-se-ão com aquela categoria de "cidadãos comuns" ou de "homem comum" e, portanto, sentir-se-ão atraídos pelas mensagens indutoras de que são vítimas do comportamento dos políticos.

A que chama atenção nas projeções efetuadas em investigações é a crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas, principalmente através da internet. Preocupados com o futuro (emprego e educação), a identidade cultural e a influência islâmica na Europa os jovens revelam-se cada vez mais críticos para com os seus governantes e a União Europeia.

Esta inclinação pelas extremas-direitas pode dever-se ao facto de as faixas etárias compreendidos entre os 21 e os 40 anos terem nascido em momentos da história da Europa em que a fase mais aguda da reconstrução do pós-guerra já tinha sido superada. Em 1989 deu-se a queda do muro de Berlim a que se seguiu, em 1991, a dissolução da União Soviética, pelo que essas faixa etária viveram sempre em democracia e não desconhecem o que é viver sob o poder ditaduras onde os tribunais são controlados pelo Estado, a comunicação social é limitada e controlada, a liberdade de expressão é censurada, existem perseguições étnicas e religiosas, proibição de greves e de manifestações e em que as perseguições políticas são constantes. Estes são os paradigmas das políticas da extrema-direita e também das extremas-esquerdas mais radicais, mas, de momento, o perigo destas não está iminente.

O que está a acontecer na Hungria com Viktor Orban e o seu partido, o Fidesz, que é acusado de ter restringido a ação de alguns órgãos de soberania de fiscalização como, por exemplo o Tribunal Constitucional que perdeu autonomia. Outro alvo de repressão, segundo os relatores do Parlamento, é a imprensa húngara que passou a ser controlada por um órgão regulador que pode sancionar veículos de informação que difundam notícias consideradas por Orban como "falsas". Deve ler-se neste caso aquelas que sejam contrárias aos interesses do seu governo, do partido, do "cristianismo" e da "família tradicional". Sendo um partido de ideologia conservadora e considerado de centro-direita, após ter ganho as eleições aproximou-se de posições da extrema-direita com um forte carácter nacionalista e populista.

Sob a liderança de Orban a Hungria procedeu a uma reforma eleitoral realizada para beneficiar o seu partido, o que lhe permite dispor hoje de dois terços do Parlamento o necessário para mudanças constitucionais. É assim que funcionam os partidos extremistas populistas quando chegam ao poder que lhes é dado pelo povo. Ou seja, deturpação total do que se entende por democracia para se manterem no poder por largos anos. Basta lembrarmo-nos de que a Hungria foi um dos países que esteve sob o jugo da ditadura ex-União Soviética.

Instituições de ensino como a Universidade da Europa Central, financiada em parte pelo bilionário americano George Soros, tiveram a liberdade académica restringida, segundo a U.E. Por fim, ONG’s são com frequência classificadas como "agentes estrangeiros" e têm sua atuação limitada no país - como acontece na Rússia.

Não bastasse a reforma eleitoral realizada sob o comando de Orban que terá beneficiado o seu partido permitindo-lhe dispor hoje no Parlamento de dois terços - o necessário para mudanças constitucionais -, mesmo tendo 49,3% dos votos na última eleição.

Relatora da acusação, a eurodeputada holandesa Judith Sargentini (Partido Verde) apelou aos congressistas a posicionarem-se em maioria de dois terços contra Orban - o necessário para a aprovação. Segundo Judith Sargentini, Orban "Perseguiu migrantes, refugiados e minorias como os ciganos. Há indivíduos no governo que beneficiam dos fundos europeus e dos contribuintes. Infelizmente nada melhorou desde que o relatório foi votado em junho na Comissão Europeia."

Foi a primeira vez que na União Europeia que o Parlamento Europeu elabora e aprova um relatório sobre a ativação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, que prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto a um Estado membro.

A extrema-direita populista aproveita-se da democracia para poder tomar o poder e, quando o consegue através de maioria confortável ou coligações passa a executar o seu programa ideológico.

 A ascensão e a atração de eleitores

Segundo alguns estudos, os principais motivos que têm dado origem à ascensão dos partidos da extrema-direita estariam na crise económica e financeira que assolou por contágio a U.E..

Há, no entanto, uns estudos que têm verificado que os desempregados e os que têm rendimentos mais baixos também são suscetíveis de apoiar ideologias de esquerda radicais populistas (Kraaykamp, Jaspers, 2013) e outros que mostraram que as populações das classes mais baixas são mais propensas a votar em partidos populistas de esquerda do que em outros partidos. 

Não raras vezes a educação exerce um efeito positivo na votação na esquerda radical.  Outros autores mostraram que, quando se trata de votar em partidos populistas na Bélgica, na Alemanha e na Holanda, a educação não exerce um efeito negativo geral

É provável que a condição socioeconómica, e não a educação, seja preponderante e tenha um efeito negativo sobre o voto populista. Uma possibilidade é a de que os partidos populistas possam ter em comum o facto de ser mais provável as suas bases eleitorais consistirem em indivíduos que ocupam posições socioeconómicas mais baixas, isto é, virem de classes mais baixas, estarem desempregados e ter rendimentos mais baixos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Uma pergunta que se pode colocar é porque é que uma posição socioeconómica mais baixa poderá levar à votação num partido populista. Haverá alguma relação entre a posição socioeconómica de alguém e a sua inclinação para votar em partidos populistas?

Nas questões que a extrema-direita levanta estão presentes atitudes populistas de euroceticismo daí que andem intimamente relacionados. Respostas justificativas poder ser dadas pela relação entre a posição socioeconómica, o euroceticismo, e a votação populista devido à ameaça de que a abertura das fronteiras por temerem que imigrantes de países da Europa Oriental, e outros, lhes "roubem" empregos. Outro aspeto é que, sendo eurocéticos, podem sentir-se atraídos por este tipo de mensagem populistas.

Os eurocéticos tendem a votar em partidos populistas da extrema-direita por acharem que os políticos dos seus países transferiram poder demais para a U. E. Como se sabe, vários partidos populistas posicionados à margem do espectro político tradicional tendem a expressar atitudes eurocéticas que atrai bases eleitorais pelo de consistirem em indivíduos que são mais propensos a serem eurocéticos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Não é apenas a condição socioeconómica e a atitudes negativas em relação U. E. que está na origem do voto em partidos populista, mas também a desconfiança em relação à política e aos políticos em geral e é aqui que também incide a mensagem desses partidos muitas da vezes veiculada por alguma comunicação social. Não é por acaso que muitos dos que estão desempregados e os que têm rendimentos mais baixos são mais propensos a estarem politicamente insatisfeitos, provavelmente porque tenderem a culpabilizar o sistema político pela sua situação económica.

Uma outra possibilidade é a tendência para os que votam em partidos de direita populistas desconfiarem da política, desconfiança alimentada por aqueles partidos que expõem a população a mensagens populistas em que criticam os políticos e a política.

Há um aproveitamento da direita radical populista em relação a todo o sistema político para obtenção do voto pelo recurso à desconfiança em relação aos políticos dentro do sistema democrático que dirige a mensagem populista não contra o sistema, mas contra as elites corruptas fazendo parecer que a responsabilidade dos fenómenos adversos que existe são os próprios políticos. Como os populistas levantam suspeições aos políticos e às instituições representativas exigem frequentemente inovações institucionais como a restauração da primazia do povo através de iniciativas populares e referendos como afirmou Paul Webb, num artigo publicado em 2013 aplicado ao Reino Unido e cujo título em português é “Quem está disposto a participar? Democratas insatisfeitos, democratas furtivos e populistas no Reino Unido”. Do meu ponto de vista estes populistas da direita radical estão a aplicar os mesmos métodos há muito utilizados pelas esquerdas radicais com algumas diferenças como sejam a aplicação de referendos aplicados indiscriminadamente a todos os atos políticos, porque sabem que dessa forma poderão manipular os povos de forma rápida e facilmente.

Basta conferirmos sobretudo nas redes sociais na Europa e em Portugal, para se confirmar que elas estão repletas de discursos de alienação política e de apatia por parte dos cidadãos. A culpa é a maior parte das vezes atribuída aos políticos, partidos políticos e outras instituições e processos importantes da democracia representativa.

Estes partidos populistas tentam criar um regime de negatividade e de deceção democrática artificiais aproveitado pelas próprias características do sistema democrático cuja possibilidade de alternância promove a crítica “favorecendo o discurso político que normalmente é caracterizado pela negatividade”. Diariamente verificamos isso na política em Portugal pelos discursos negativistas dos partidos quando se encontram na oposição. Não é também é por acaso que nas ruas não raramente escutamos comentários como o de “eles não de entendem!”. Pois é isso mesmo a democracia, ainda que às vezes nos custe, mas sempre é preferível a discursos uníssonos que esses partidos radicais de direita populistas mimetizados de democratas que no querem impor logo que consigam utilizar a democracia para chegarem ao poder.

As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importantes, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

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publicado às 20:53

A União Europeia pode estar em perigo - II

por Manuel_AR, em 17.04.19

(Continuação)

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A extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos

Primavera europeia? Qual primavera? 

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Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e líder da extrema-direita italiana, repete-as cada vez com mais enfase à medida que se aproximam as eleições de 26 de maio para o Parlamento Europeu.

Diz o líder da extrema-direita italiana querer uma “primavera europeia” contra “o eixo franco-alemão” dominante, um “renascimento dos valores europeus” contra os burocratas, uma rede pan-europeia de partidos nacionalistas. Segundo o jornal Expresso estas que não são ideias novas, são enunciadas pelo menos desde que o Governo italiano de coligação entre a Liga, partido de extrema-direita, e o Movimento Cinco Estrelas (M5E), populista, foi formado, em junho do ano passado.

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Na Grécia o partido da extrema-direita neonazi consegui 18 lugares no parlamento nas eleições de 2015 apesar de ser um partido de características violentas. No final da campanha o partido neonazi grego Aurora Dourada fez uma afirmação insólita: aceitou a “responsabilidade política” do assassínio do rapper e ativista de esquerda Pavlos Fyssas, quase exatamente no segundo aniversário da sua morte e argumentou que “Enquanto falarmos de responsabilidade política, aceitamo-la, mas não há responsabilidade criminal”, disse o líder do partido, Nikos Michaloliakos, numa entrevista radiofónica. “Só porque um membro do partido teve uma ação errada, isso não quer dizer que todo o partido deva pagar”.

Até finais do século XX e princípio do século XXI o sucesso eleitoral dos partidos da direita radical autoritária e populista dependeu da combinação de nacionalismo com o neoliberalismo e com uma postura culturalmente autoritária, mas também com políticas que visavam menos redistribuição, menor tributação e redução dos gastos sociais.

As clientelas tradicionais atraídas por esses partidos eram a pequena burguesia que se dizia anti estado e a classe trabalhadora, tradicionalmente de esquerda. Nos últimos quinze ou 20 anos, aproximadamente, as suas estratégias eleitorais foram mascaradas de democratas e os partidos da extrema-direita autoritária e populista conseguiram estar representados no Parlamento Europeu e em alguns dos governos de países da U.E., alguns deles em coligação com a direita moderada. As suas posições sobre os reais pontos de vista ideológicos revelam-se e tornam-se muito mais difíceis de obscurecer quando, nos parlamentos, as leis têm de ser votadas e os orçamentos aprovados no espaço parlamentar.

Para apresentarem trabalho preparam então estratégias de distorção da sua posição político-ideológica que traduzem em propostas de reformas políticas socioeconómicas inconsistentes. Por exemplo, misturando liberalização geral com medidas protecionistas específicas (não raras vezes puramente simbólicas) e novos programas para grupos selecionados (proprietários de pequenas empresas, famílias com crianças e assim por diante) consideradas vitais para o sucesso político do governo que são um disfarce para o povo acreditar nas suas boas intenções, basta ler as intervenções dos seus líderes nos respetivos países.

Outras vezes muitos dos partidos da extrema-direita populista apresentam-se às eleições como sendo novos partidos da classe trabalhadora e, em alguns casos, estes eleitores já são, em alguns países da U.E., o grupo mais importante destes partidos. Afirmam então que o apoio da classe trabalhadora à direita radical está a aumentar constantemente, isto porque, aqueles partidos, abandonaram as suas antigas posições liberais de mercado em favor de agendas mais centristas, em consonância com as preferências de seus apoiantes mimetizando-se e virando um pouco para políticas mais à esquerda.

O caso português do recém-constituído partido “Chega”, que é agora a coligação “Basta” pode ser visto com um caso de contradições entre o que é dito pelo seu líder André Ventura e o que a sua declaração de intenções diz: “o partido Chega declara como fundamental “proteger a dignidade da pessoa humana, contra todas as formas de totalitarismo”, assim como “a promoção do bem comum”, a “defesa do Estado laico” e de “uma justiça efetiva”. O Chega defende “um Estado mais reduzido”, rejeita o “racismo, xenofobia e qualquer forma de discriminação”, quer “igualdade de oportunidades” para os portugueses e aposta no “combate à corrupção” e “numa economia forte”. Contradições e populismo verbalizados por André Ventura que até chega a defender a pena de morte.

Os partidos radicais da extrema-direita populista reorientaram-se para se expressarem de forma mais favorável, especialmente em relação às políticas sociais redistributivas, porque a classe trabalhadora, à qual pretendem conquistar votos, ainda tem um forte interesse na preservação de esquemas tradicionais de segurança social (Röth, Afonso, Spies ; 2018).

(Continua...)

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publicado às 16:44


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