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Milicias populares.png

Já escrevi várias vezes neste blog que a direita com os seus comentadores e colunistas de opinião que proliferam como cogumelos nas televisões e na imprensa, à falta de substância para fazer oposição, centram-se na infelicidade das catástrofes dos incêndios e em casinhos que vão descobrindo, aqui e ali, para fazer política de cariz partidário obsessivo, oportunista e reles.

Digo direita porque há só uma, igual, sem diferença no que toca a projeto político de governação. porque não o têm e nada têm para oferecer. A direita na sua atuação é una, construiu uma união partidária de interesses com diferenças que esmiuçada nada as distingue. Os seus interesses efetivos são os de captar uns votinhos e nada dizem à maioria dos portugueses. Apostou na destruição do país e não para de a forçar.

Manuel Ferreira Leite no seu comentário semanal na TVI24 já disse. mais do que uma vez. que fica contristada quando se referem ao seu PSD como sendo um partido de direita. Terá sido no passado um partido social democrata, mas já não o é, e não é de agora. Ela ainda vive no sonho de o seu partido não ser de direita, e posiciona-se como não sendo. Nem centro direita já é. A seta laranja, símbolo do partido, inclina-se perigosamente e cada vez mais para a direita se não houver dentro dele quem trave a escalada.

Não sou defensor dos ciganos, para mim são pessoas cuja atuação e cultura desagrada a muitos terão de certo razão para tal porque saem e ultrapassam das regras do sociável onde se inserem rejeitando alguns até a integração social.  Há razões para tal porque a comunidade cigana, não toda, oportunisticamente aproveita tudo o que o estado lhe possa garantir sem dar contrapartida, em alguns casos até trapaceando. Mas isso compete ao Governo detetar e pôr termo com os mecanismos legais que tiver ao seu dispor. Mas não é por isso não deixam de ser pessoas.

Passos Coelho veio a público fazer questão de considerar serem suficientes as explicações dadas pelo seu candidato, isto é, aceitou como boa a reprodução dos mesmos princípios discriminatório dos ciganos com que Ventura se foi enlameando atolando durante a semana, em diferentes tons e com variadas não pelo princípio, mas na forma.

Eis senão quando, André Ventura (que à falta de outro partido com suficiente visibilidade se filiou no PSD, e aqui está, Drª Ferreira Leite, como o partido se transforma) esse jovem debutante que o PSD lançou para a ribalta das autárquicas de Loures saiu-se com outra grande intervenção inspirada e eloquente que parece ter sido tirada das páginas discursivas de ditadores que dominam nos governos totalitários assume que  “se o Governo insistir em não dar à PSP os meios para Loures ser um concelho mais seguro” e não terá “outra hipótese que não criar um exército em Loures”. “A polícia municipal terá que ser um exército de proteção”. A leitura pode ser feita no sentido de “vamos criar milícias populares” e, porque não, uma legião lourense.  A conversa sobre “criar um exército em Loures” com a Polícia Municipal é de uma gravidade sem precedentes para qualquer candidato de um partido que defenda o estado de direito. O autor do despautério que dizem ser professor universitário e até parece que dá umas aulas de direito, sabe certamente disso (será que sabe?) deve estar já a preparar-se para dizer que as suas declarações devem ser só entendidas no sentido figurado ou qualquer outra “treta” do género.

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publicado às 10:16

A ameaça virulenta da direita

por Manuel_AR, em 17.07.17

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A oposição de direita está doente e, pior ainda, em vez curar as suas chagas internas utiliza-as para propagandear valores que há muito vimos varrer da face da Europa e que não são os nossos para obter mais uns votos.

O candidato pela PáF, PSD-CDS/PP, às autárquicas de Loures, André Ventura, provocou a indignação até na própria direita no seu partido devido a declarações proferidas sobre a etnia cigana. São estes os jovens na política, deserdados de valores, que se perfilam para liderar os partidos de direita e mais tarde a Nação.

O dirigente do CDS-PP Francisco Mendes da Silva chegou até a afirmar que já deseja que o candidato perca, e passo a citar: “Não há praticamente nada que André Ventura diga que eu não considere profundamente errado, ligeiro, fruto da ignorância e de um populismo que tanto pode ser gratuito, telegénico ou eleitoralista. Já o vi falar de tudo e mais alguma coisa, em muitos casos de assuntos que conheço técnica e/ou factualmente. Nunca desilude na impreparação e no gosto em ser o porta-estandarte das mais variadas e assustadoras turbas. Se perder, tudo bem: que nem mais um dia o meu partido fique associado a tão lamentável personagem. Apenas guerrinhas entre jovens do partido? Acredito na sinceridade de Mendes da Silva que se insurgiu face às declarações do seu companheiro de partido.

André Ventura sabe bem o que diz, e porque o diz. Para ganhar uns votinhos aqui e ali vai no sentido de interpretar o pensamento corrente de alguns setores da sociedade que estão a ser contaminados por certos vírus partidários, de cariz social racista e étnico, e que inoculam cada vez mais vírus em lugar de procurar antitudos para os eliminar.  Agora são os ciganos, seguir-se-ão os africanos e que mais haja. Para aqueles penduras da política serão todos eles causa dos males sociais.

Recordo-me (2009?) de Paulo Portas também se ter insurgido com um discurso idêntico, embora mais subtil, de forma mais contida e mais pensada, dizendo que "Este país avança com trabalho, avança com aqueles que contribuem para a riqueza da nação, (...) não avança com financiamentos à preguiça", e acrescentava existem "cada vez mais abusos, cada vez mais fraudes", por parte de beneficiários do RSI. "Gente que, pura e simplesmente, não quer trabalhar e quer viver a custa do contribuinte", acusava, numa ação de campanha num mercado local na Figueira da Foz. Mas Paulo Portas é Paulo Portas, sabe quando e como dizer. Não identifica, lança para o ar e quem quiser que apanhe.

Em 2013 também um elemento do PPD/PSD, Carlos Peixoto, deputado por aquele partido, num artigo de opinião publicado no jornal i, referindo-se ao aumento da população idosa, afirmou que “a nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha“.

Portanto, a direita, pela voz de alguns dos herdeiros ideológicos de famílias do passado, está, tendencialmente, caminhando para a criação de fenómenos de ostracização e de exclusão de setores da população.

Dirão alguns que estes são umas andorinhas e que uma andorinha não faz a primavera. Pois é, mas termino dizendo que grão a grão enche a galinha o papo.

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publicado às 15:40

Tesourinhos deprimentes

por Manuel_AR, em 23.03.17

Tesourinhos.png

Ultimamente tenho evitado persistir em comentar e dar opiniões sobre Passos Coelho, salvo algumas situações pontuais, mas, ao fim deste tempo não aguentei mais, tantas são as disfunções no exercício político na oposição que tem revelado.

Não queria comentar demasiado as preleções que faz para dentro do seu clube de amigos do partido que a comunicação social tem feito o favor de divulgar. Não, não estou ainda a referir-me à escolha da Teresa Leal Coelho para a Câmara de Lisboa.

O que ele anda por aí a propagar são autênticos tesourinhos deprimentes que ao mesmo tempo são reveladores duma amnésia política artificial e infantilizada, qual criança que pretende intrujar o adulto com medo de se sentir atormentada por ter feito uma maldade.

Diz aquela candeia que ilumina o PSD que o PS tem “uma retórica infantilizada” sobre a austeridade, dizendo que está a acabar quando, na verdade, está a ser redistribuída com um orçamento restritivo.”. Pois, até parece que sim, mas aqui a amnésia de Passos Coelho é muito evidente. Acusa outros de estarem a fazer o que ele esqueceu que fez, mas pior.

O líder do PSD acusa o PS de se “ajoelhar” perante a Comissão Europeia. Como como num sketch de Herman José, “fantástico Melga!”. E isso que dizes é verdade Melga? E, Melga, tu garantes-me que testaste isso na Comissão Europeia, Melga?

Passos, referindo-se ao tema do fecho dos balcões da CGD, afirma que, sendo pública, não pressupõe “até certo ponto” um nível de serviço público. “Até certo ponto”? Qual o sentido disto? Mas qual ponto? Quem fala assim não é gago e manifesta uma amnésia seletiva pois foi ele e o seu governo quem fechou mais serviços públicos. Passou a ser agora amigo dos trabalhadores da banca quando no tempo dele a banca privada fechou balcões em catadupa. E mais, foi quando o PSD esteve na governação que a Comissão Europeia aprovou o fecho de 150 balcões da Caixa Geral de Depósito.

Acho que todos se recordam de quando lhe foi imputada responsabilidade no caso das transferências para offshores, o que considerou inaceitável. O líder do PSD parece sofrer de aterosclerose política de prognóstico grave quando se coloca no papel de virgem ofendida, por haver um primeiro-ministro que “não pede desculpa por tentar enlamear as pessoas que estiveram no seu lugar”. Esta frase é outra que faz parte dos tesourinhos deprimentes de Passos complementados pelas fugas para a comunicação social onde, numa reunião, chamou ao atual primeiro-ministro vil, soez, reles e outros mimos de boa linguagem política.

Para a Câmara de Lisboa foi escolher uma candidata que apesar de ter responsabilidades no partido, é vice-presidente, não passa ela própria também dum tesourinho deprimente que foi apenas escolhida pela confiança e amizade. A confiança não confere qualidade e a amizade muito menos.  Nem sempre as pessoas de confiança podem ser sempre as melhores escolhas. O PSD de Passos é um grupo de amigos que giram à sua volta e que ainda o apoiam sendo eles próprios tesourinhos deprimentes.

Passos Coelho pode falar muito bem, mas só convence quem se quer deixar convencer. Fala “como se um cangalheiro a tenter salvar o país com o discurso de um cangalheiro…”. Não sou eu que o digo, é alguém dentro do PSD que o disse.

Muitos mais tesourinhos haveria para recordar, mas não me quero alongar para não martirizar os seus amigos mais próximos do partido que eventualmente leiam este “post”.

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publicado às 17:32

Mão cheia de nada.pngTalvez não seja por acaso que a acusação de José Sócrates esteja a ser sucessivamente protelada justificada pelos mais diversos motivos. Vão adiando à espera de oportunidades que possam ser úteis em tempo para lançar para a opinião pública, a conta gotas, mais umas “coisitas” sobre as suas ligações.

Coube agora a vez do PSD se aproveitar do personagem Sócrates para tentar fazer campanha de baixa política à falta de algo para uma oposição eficaz que mostre ser alternativa, coisa que não conseguirá com a atual direção e sua envolvente partidária.

Desta vez está a cair no ridículo quando um tal Mauro Xavier da concelhia de Lisboa do PSD escreve a Fernando Medina sobre, vejam só, saber se um seu assessor político “terá sido pago por José Sócrates para criar a manter um blogue para defender” Sócrates e o seu governo sob pseudónimo. É o mesmo que dizer: olhem! Estou aqui. Não se esqueçam…!

A partir daqui fico preocupado e começo a pensar se o PSD, mais tarde ou mais cedo, não me virá a acusar, quiçá, processar-me, porque me terão encomendado a escrita deste blogue, utilizando um pseudónimo, para atacar Passos Coelho e o seu partido e defender o quer que seja sobre o atual governo.

Falta cerca de um ano para as eleições autárquicas e o PSD anda à deriva. Nada tem para apresentar ao país nem para as autárquicas. Recorre então à baixa política tentando manobras de distração, ofensas, ataques pessoais que são a sua estratégia preferida desde que Passos lidera o partido e se deixou enredar em manobras para a matriz essencial do partido. Com uma mão cheia de nada para oferecer o PSD tenta novas artimanhas e faz ligações de amigos de Sócrates a um assessor político de Fernando Medina.

A notícia sobre ligações de Sócrates com Medina vem em parangonas de primeira página no jornal i, parente pobre e seguidor do semanário Sol do qual aproveita a notícia. O jornal i que felizmente ainda não conseguiu despedir alguns bons jornalistas, continua a ser o braço mais pobre daquele semanário, mesmo depois de deixar de pertencer à Newshold que tinha ligações ao grupo Cofina detentor do Correio da Manhã e de outros órgãos de comunicação social. A orientação editorial é a mesma orientação do seu anterior dono apesar de, desde dezembro de 2015, ambos os jornais terem passado a ser pertença da Newsplex, SA, cujo administrador Mário Ramires foi administrador da Newshold.

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publicado às 18:13

Condicionamento pré-eleitoral

por Manuel_AR, em 27.09.13

Uma coisa é certa, a abstenção não é solução, votar na manutenção dos que têm conduzido e vão continuar a conduzir o país para o abismo também não é. A mudança por vezes é necessária até ao nível do poder local afeto ao regime.  

 

Os partidos da coligação, nomeadamente o PSD o CDS e o chefe do executivo Passos Coelho, têm vindo a fazer dos portugueses parvos e, mais uma vez, tentam manipulá-los com a tática do medo, da insegurança e da instabilidade.

Nos períodos que antecedem atos eleitorais proliferam as agências de rating e personalidades cimeiras de organismos internacionais que fazem comunicados, “press releases” e outras formas de intervenção tentando dar uma ajudinha através do condicionamento pré-eleitoral que possa ir de encontro aos interesses da direita. Apareceu em Portugal há poucos dias, por coincidência (?), o secretário-geral da OCDE que fez declarações, muitas delas num registo de elogio à ação do governo. O mesmo acontece com a esquerda que, a maioria das vezes, produz ideias contraditórias à semelhança do governo, repetindo até à exaustão as mesmas propostas pouco claras, causando confusão e ruído nas mensagens.

Estamos no âmbito da teoria do condicionamento social segundo a qual o ambiente social como a família, o emprego, e outros, que incluem formas de manipulação como a publicidade e a propaganda política, influenciam e modelam o comportamento dos indivíduos.

Condicionar os eleitores é objetivo fundamental para os enganar induzindo-os a uma opção de voto que mais convenha ao manipulador. Todos os partidos tentam o mesmo, mas, o caso mais paradigmático tem sido o do governo de coligação PSD/CDS que a utiliza para atingir os seus fins, centrados na manutenção do poder a todo o custo, e tentando evitar o mínimo abanão possível nas eleições autárquicas.

Preferem suscitar reações afetivas fortes na expectativa de, não só captar a atenção, mas também de mudar a atitude e o comportamento político dos eleitores de forma captar o sentido do voto em vez de sobrecarregarem os recetores das mensagens com argumentos intermináveis. As mensagens persuasivas que são emitidas, especialmente durante a campanha eleitoral, apelam aos sentimentos e às necessidades das pessoas têm um objetivo óbvio.

De acordo com estudos efetuados provou-se que os sujeitos gostam tanto mais de um estímulo quanto mais vezes o vêm ou ouvem. É a teoria da exposição simples segundo a qual, uma maneira simples de modificar as atitudes das pessoas consiste em apresentar-lhes o mesmo estímulo muitas vezes.

Vamos então ver como poderá ser feito o referido condicionamento pelo que é necessário esclarecer alguns conceitos no domínio da psicologia social. Quem já ouviu falar no cão de Pavlov e do reflexos condicionados sabe à partida o que isso significa. Contudo, o condicionamento pré-eleitoral de uma sociedade já não tem origem em reflexos mais ou menos condicionados, é mais sofisticado, vai mais longe e tem outros objetivos. Entra-se então no domínio do instrumental ou operante.

É uma espécie de engenharia eleitoral em que, através de um esquema de reforços, se podem arquitetar alterações comportamentais de modo a poder fazer infletir, em certa medida, o sentido do voto dos eleitores. O propósito seria então moldar os indivíduos para melhor refletirem sobre os objetivos determinados por um partido, um governo, um grupo ou uma pessoa.

O que se pretende é condicionar a votação através do chamado condicionamento instrumental ou operante cujas respostas denominadas operantes, que dependem do sujeito mas que operam no ambiente para realizar uma mudança que leva à recompensa. Deste tipo de ambiente exterior ao sujeito fazem parte, entre outros, a difusão pelos órgãos de comunicação, em especial a televisão através da emissão de comunicados, reportagens, entrevistas, intervenções e até notícias que poderão servir de estímulo para a obtenção de uma determinada resposta.

Nos casos que se irão abordar e que têm estado mais presentes são que se pode designar por medo condicionado. Os estímulos puxam por um lado à racionalidade e, por outro, às emoções. Neste último caso é a fragilidade que é utilizada. Com o receio de perderem ainda mais regalias ou direitos sociais e cortes nos seus rendimentos, colocam de lado a racionalidade e votam tendo presente o medo como suporte.

Meter medo para convencer ou avançar com ilusões efémeras de crescimento ao mesmo tempo que faz cortes sociais e aumenta a austeridade é uma das táticas utilizadas por este governo ao mesmo tempo que fala num segundo resgate. Por sua vez para Paul Portas o ténue crescimento deve ser apenas um exercício de fé. Nada mais fácil do que encontrar exemplo nas declarações do primeiro-ministro por vezes até contraditórias com as que prestou em momentos anteriores dependendo das circunstâncias. Os exemplos que pendem agora são os da ameaça do segundo resgate, de medidas mais gravosas que serão tomadas se determinado diploma não for aprovado, ameaças de bancarrota para atemorizar parte da população, etc..

Outro exemplo caricato, como antítese à do medo, é o caso do candidato da direita para a Câmara de Lisboa que, através de cartazes espalhados pele cidade, oferece tudo no que respeita à proteção o que, em princípio, qualquer cidadão não acredita ser possível, nem mesmo em tempo de vacas gordas, quanto mais em tempo de vacas magras.

É a teoria da motivação aplicada dirigida ao instinto de proteção dos indivíduos. Isto é, as pessoas estarão mais motivadas para tomar determinada opção se a ameaça é real, criando a ideia de que fica em perigo se não fizer nada e que existem comportamentos que estão ao alcance que permitem reduzir os riscos de modo substancial. Assim, provocando sentimentos negativos, pode-se contribuir de muitas formas para reforçar o impacto de uma mensagem.

A exploração dos sentimentos de insegurança e instabilidade na população tem sido óbvia com este governo desnorteado que, à falta de argumentos claros e sólidos, utiliza a tática do terrorismo comunicacional. O que pretende é despertar na população emoções negativas sobre determinados grupos sociais ou profissionais que possibilitem justificar medidas impopulares que dirige apenas a alguns grupos alvo mais frágeis, sempre os mesmos, ou, até, para justificar decisões ou leis que foram rejeitadas por colocarem em causa a lei fundamental do país.

Veja-se, por exemplo, os seguintes casos: o primeiro-ministro menciona o perigo de um segundo resgate caso não sejam aprovadas medidas, mesmo que inconstitucionais e rejeitadas pelo Tribunal Constitucional, culpabiliza o Tribunal Constitucional por não deixar passar diplomas que vão contra a Constituição, utiliza argumentos para colocar os cidadãos contra aquelas decisões, lança para a opinião pública a ideia de que a Constituição é um estorvo e noutras declara que ela não é em si mesmo um problema, mas sim a sua interpretação.

A questão da interpretação da Constituição merece umas linhas porque não se percebe se, o que alguns senhores pretendem é que a lei fundamental possa ser interpretada conforme os interesses, a ideologia e as páticas mais ou menos democráticas, de quem está no poder. Segundo os argumentos dos iluminados dos partidos da coligação, num ano, porque A está no poder e quer implementar uma medida, faz-se uma interpretação, no ano seguinte, ao ficar B no poder far-se-ia outra interpretação. Fará isto sentido? Parece caricato mas pensamento idêntico tem o senhor bem-falante do PSD, Paulo Rangel, que tem a convicção de que a Constituição pode ter várias interpretações. Então se ela deve ser interpretada ao sabor dos governos qual a razão para a sua existência? Mas aquele senhor disse mais, que o Tribunal Constitucional da Alemanha, cujas decisões são por todos respeitadas e não postas em causa são, para ele, um exagero.

As opções que tomamos em situações eleitorais pode ser resultado de um conjunto particular de estímulos que nos foram sendo impingidos. Atualmente, a difusão de informação pelos órgãos de comunicação, muitas das vezes confusa e contraditória, controla o nosso comportamento. Muitas das pessoas já não são dirigidas pelos seus ideais, emoções pessoais fortes ou por ideias profundas mas pelo que diariamente lhes oferecem as televisões, órgão envolvido por excelência no condicionamento de atitudes e comportamentos através de reforços proporcionados. Técnicas de comunicação que produzam mudanças de comportamentos eleitorais significativos são utilizadas sem que o cidadão comum se aperceba que está a ser manipulado. Outras, são tão evidentes que cheiram a manipulação a distância, caso já anteriormente referido da campanha da coligação de direita à Câmara de Lisboa.

Votar nas eleições, segundo as convicções e valores pessoais e sociais de cada um, é um dever, com a devida distância do que possam dizer os arautos da propaganda para a sua manutenção no poder. Há que filtrar sempre o que nos dizem os detentores do poder e os órgãos de comunicação. Uma coisa é certa, a abstenção não é solução, votar na manutenção dos que têm conduzido e vão continuar a conduzir o país para o abismo também não é. A mudança por vezes é necessária até ao nível do poder local afeto ao regime.  

 

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publicado às 22:47

Armadilhas e cantos da sereia

por Manuel_AR, em 31.07.13

 

 

A última crise política causada pelo governo e agravada pelo Presidente da República foi fértil em tecer armadilhas ao Partido Socialista para o seu envolvimento pleno no desastre que já existia, mas agravado por Passos Coelho. A primeira caixa da armadilha continha uma cenoura para atrair António José Seguro para uma dita salvação nacional em que o PS deveria estar envolvido.

Tudo se tem passado como se alguém, segundo a própria vontade, deitasse fogo à casa e, não conseguindo sozinho apagar o incêndio que alastrava cada vez mais, chamasse tardiamente os bombeiros para o ajudar a deter o que ele próprio tinha provocado ao mesmo tempo os culpabilizava por lhe terem colocado em casa os fósforos. Recordam-se? A tal história do queremos fazer mais e ir para além da “troika”.

Numa primeira tentativa para atrair o Partido Socialista para a armadilha, Cavaco Silva mostra a José Seguro uma cenoura que só não mordeu porque se apercebeu, à última da hora, onde estava a entrar.

Após aquele primeiro esforço várias outras tentativas têm vindo a ser feitas de vários quadrantes para que o PS dê o aval às políticas que, dizem eles, ser de um governo e um de novo ciclo. Mais armadilhas e engodos serão colocados para atrair o PS a aderir ao que agora Passos Coelho passou a chamar de união nacional. O que será para ele, politicamente falando, união nacional? Seria bom que os mais jovens se informassem junto dos seus avós ou procurassem informação através de livros ou outros meios sobre o que era de facto a união nacional. A união nacional que pretendem em termos políticos é uma espécie de associação de confrades onde se pretende incluir o Partido Socialista, a UGT associações patronais e outros parceiros sociais.

O Presidente da República que começou agora a sair da sua zona física de conforto onde se tinha acomodado há muito passou agora a fazer declarações com fundinho eleitoralista de apoio ao atual governo. Volta a mencionar e a fazer apelo a um consenso, que não seria mais do que uma união nacional, onde todos seguissem em uníssono os pontos de vista que ele acha serem o interesse de todos. Onde caberiam então as divergências que caracterizam as diferentes correntes de opinião e as diferentes sensibilidades políticas, sociais e económicas? Só falta agora defender uma nova concordata com a igreja idêntica à do tempo do antigo regime de Salazar. Como dizia Ribeiro Sanches, médico e intelectual português do século XVIII “que dificuldade tem um reino velho para emendar-se…”.  

A estratégia do governo, sugerida e apadrinhada por Cavaco Silva, não tem outro objetivo que não seja o de captar o PS para este círculo de medidas impopulares que o governo prepara para o orçamento para 2014, após eleições autárquicas, comprometendo-o e, com isto, obter posteriores vantagens eleitorais para os partidos do governo, especialmente para o PSD, já que o PS ficaria no mesmo saco.

A minha leitura de novo ciclo é muito linear. As eleições autárquicas estão próximas, há que convencer alguns eleitores desertores e esperar que alguns dos ingénuos que acreditaram nas promessas feitas e não cumpridas de quem atualmente nos governa, acreditem agora na reviravolta prometida. Com as más experiências que temos desta coligação e dos seus embustes, seja ela com estes ou outros elementos do governo, há apenas uma coisa em que se deve acreditar, é que, após as eleições, tudo voltará à mesma senão piorar. Gostaria de me enganar.

Para mostrarem a terra prometida do crescimento procuram agora nos números das estatísticas os mais pequenos indícios, como se tratasse de pequeníssimas sementes dispersas, para agitar como bandeira nos seus discursos encantatórios, quais sereias que conduzem os marinheiros para os recifes e aí naufragam.  

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publicado às 23:56


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